quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

DADAISMO E ANTI CULTURA

Acredito no acaso, no caos e na desordem porque desisti de todas as crenças e verdades.
Acredito na descrença corrosiva e agressiva dos futuros bárbaros,
Na decadência da civilização ocidental.
Advogo o arcaísmo mais primitivo contra a falácia do humanismo, do iluminismo e do Cristianismo.
Falo demais por não ter nada a dizer.
Minhas palavras são pedras jogadas contra as vidraças da História.
Todo futuro está perdido!
O tempo agora é tempo-estade

CONTRA TODOS OS AJUSTADOS

Não agradarei os que que se fartam de mundo,
Aos amantes do consumo
E da banalidade da vida comum.
Também não despertarei a simpatia
Dos esnobes e dos eruditos.
Escrevo apenas para os anjos caídos e pobres de espírito,
Aos que desprezam a humanidade
E a cultura de botique
 dominamando a arte de escrever o riso.

SENTIMENTO DE TEMPO E INCERTEZA

Sinto em mim um tempo onde ainda não nasci,
Outro onde já estou morto,
E duvido deste momento no qual ainda existo.
Tudo é duvidoso.
Nenhum momento goza de maior realidade do que a de um sonho febril.
Mas fomos educados para jamais perceber a existência como uma paradoxal incerteza,
Como uma ilusão pueril....
 

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

MANIFESTO DE UM ANTIPÁTICO

 


Que nunca me defina a tirania da finitude.

Não quero ser mais um corpo seco de vontade

rolando na terra e no tempo

a espera do mais corriqueiro e banal desaparecimento.


Quero fazer o mundo do meu jeito

inspirado por todas as formas de embriagues,

por todos os modos de me perder ,

na contramão das disciplinas e racionalidades

que ainda inspiram a vida comum.


Não quero ser exemplo para ninguém

e muito menos apodrecer na prisão dos modelos.

Não me curvarei diante de qualquer imperativo ou moral.

Logo, não esperem que eu seja interessante ou simpático

para qualquer um de vocês.

Prefiro se quer ser notado.



A MISÉRIA DA VERDADE

A verdade não passa de uma falsa promessa de realidade,
Uma normatividade vazia que, ao tentar disciplinar a vida, nos confrontam com sua total falta de sentido ou propósito.
Os que advogam qualquer forma de verdade o fazem para escapar ao desespero, a percepção da insignificância da existência e da miséria de nossa condição humana.

sábado, 19 de dezembro de 2020

O AVESSO DO MUNDO ( FILOSOFIA DA LOUCURA)

No avesso do mundo
Há algo sem nome,
Que atravessa a linguagem,
O corpo e o significado.

Algo que traz vertigens de morte,
Limites de abismos e sonhos.

Algo que é sempre futuro, obscuro e sem sorte.

O avesso do mundo
Transborda a realidade,
Escapa a qualquer valor,
Ou definição de verdade.

É natureza informe,
Movimento e primórdio,
De nossa aberrante pós humanidade.

O acesso do mundo,
É esquizo,
Caos e primórdio.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

CONVERSAÇÃO

 


Escrever para quebrar o dizer,

desfigurar palavras,

subverter gramáticas,

perverter conceitos,

e desafiar todo entendimento.


É preciso plantar um uivo

no interior da frase e do verso,

Despir o livro da biblioteca,

Começar, através de pequenos diálogos,

um grande incêndio.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

O DIABO NO CORPO

Tenho o defeito de não me conformar ao possível,
De querer algo mais do que o oferecido
Pelos limites do tempo presente.

Meu ofício é reinventar palavras, novos gestos e modos de sentimento e existência.

Sou inimigo da civilização e do progresso.
Meu tempo é incerto.

Não tenho medo de ser violento,
De me opor a tudo que é sensato,
Domesticado e normalizado.

Grita em mim o porvir de uma grande mudança.
Pois dentro do meu rosto , não há tradição,
Ordem ou conhecimento,
Que seja maior do que a minha vontade de abismo,
Que meu delírio de esperança
E fome de suicídio.

Amo a incerteza das ruas escuras,
A embriaguez noturna,
Que reinventa o mundo como labirinto,
Que gesta em mim um protesto,
Uma raiva de ser gente,
Que me acende um fogo por dentro,
Uma intensidade dos sentidos
Que esclarece o mundo,
Na profundidade da pele
Que reduz o corpo
A um passageiro feliz do absurdo.

Contra toda a humanidade
Eu sou um animal 
Que lambe a terra no céu,
O mal que eu da falácia
De todo ideal moral. 






quarta-feira, 16 de dezembro de 2020

OS LIMITES DA POESIA

Os limites da poesia está no dizer pequeno de todos os dias.

Nossas conversas ocas de hora de almoço,
Confissões idiotas de amor ou sonhos,
Palestras, aulas , promessas, orações,
Raciocínios lógicos e inúteis,
Dizem os limites da poesia
No mais raso do dia a dia.

Não surpreende que a maioria de nós
Não goste de poesia.
Ela nega o dizer rasteiro
Quê tão grosseiramente sustenta nossas vidas
É diminui a arte das palavras ditas.

sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

CONTRA A HUMANIDADE

Nada sei sobre a humanidade.
Talvez nem exista de verdade
Tal coisa que os civilizados
Chamam orgulhosos de humanidade.

Que espécie de animal ridículo
É esse que reivindica as alturas?
Como levar a sério tal disparate?

Eu que me banho na lama,
Que prefiro o arroto a palavra,
Me recuso a ser parte
Deste patético espetáculo
Chamado humanidade.



DUALIDADE

 


Um lado do meu rosto

é sonho,

outro delírio.


As duas metades do meu olhar

Fazem do mundo

um intimo outro e um estranho.


Toda nudez da consciência

cabe na dualidade do desejo

que me enfeita o rosto

como um enigma

que atravessa os olhos.


quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

INJUSTIÇA

 

Não são mais felizes os honestos,

os equilibrados, solidários ou justos.

A felicidade não tem caráter

e a natureza não sabe de qualquer moral

como princípio existencial.


Também não funciona qualquer punitivismo

contra os rotulados de maus.

No mundo atual, premiados são os injustos

que vivem de todos os absurdos que definem o normal.


terça-feira, 8 de dezembro de 2020

QUANDO SER É NÃO SER

 

Viver para ser

não me interessa.

Prefiro desaparecer na experiência.

Não ser em tudo que sinto e toco,

me confundir com a árvore que me olha

e com a pedra que me prescente.

Quero viver para não ser nada

e me surpreender em tudo

que me afoga a consciência.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2020

MIRAGEM

 


Abri os olhos pro mesmo mundo de sempre.

Uns olhos que quase não enxergam,

não sabem o fundo da realidade,

e buscam ver qualquer miragem

de outra melhor verdade,

onde não há qualquer profundidade.


Abri os olhos.

Mas não quero ver,

Saber o delírio das imagens,

dos simulacros,

que me gritam qualquer paisagem de sonho e vida.


terça-feira, 1 de dezembro de 2020

EU SOU A MORTE!

Dentro de mim
Mora um sonho sombrio
Que guarda um grito
Conta sua ilusão  de realidade.

Sou íntimo do seu assombro,
Do não  lugar do seu futuro.
Eu sou a morte,
O silêncio,
Quê sempre te ronda,
Na contra mão  de todos os significados,
Significantes,
Na caosmose da sobrevivência, 
Contra tudo aquilo que se diz
Pra sempre.


quinta-feira, 26 de novembro de 2020

SOBRE O ISSO DO CONTRA SENTIDO

Um dia vou me perder no impossível,
Serei ininteligível aos inteligentes 
Aos eruditos, as autoridades,
E a todos os tipos de donos da verdade.

Serei senhor e escravo do meu chão,
Indecente e impertinente
Frente aqueles que vivem no céu 
De abstratas certezas de ordem,
Progresso e finais felizes.

Serei imprevisível, subversivo,
No riso louco dos piores adjetivos. 

Serei quem não  faz sentido,
Um terremoto interpretativo
No contra dizer do dito
Quê inventa a eterna infância 
Dos mais perigosos entre os malditos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2020

NÃO BASTA EXISTIR

Não...
Este maltrapilho existir
Que hoje nos define no tempo
Não cala  nossa fome de vida.
Queremos pisar no céu, 
Saber o centro quente da terra. 

Estamos dispostos a inventar outros mundos,
A morrer felizes
E não de tédio,
Na soma de mil  primaveras. 

sábado, 14 de novembro de 2020

CORPOS HUMANOS

Vejo nas ruas corpos humanos.
Eles se movem, agem, interagem,
seja uns com os outros  
ou com os artifícios ou apêndices 
De sua existência.
Celulares, bolsas, roupas, e ferramentas diversas ,
Definem seu comportamento.
Não  são  diferentes de formigas, baratas ou moscas em seu movimento.
Os corpos humanos só  são  mais horrendos em seus atos insanos
e  na mitificação  dos seus esforços  por sobrevivência.  





sexta-feira, 13 de novembro de 2020

DES RAZÃO

O mundo segue sempre em desatino,
Realiza a orgia da ordem,
Do grito e da morte,
Em nome da verdade e da razão.
Mas seguimos sempre sorrindo,
Dançando a terra,
A festa do corpo em subversão,
Contra todo logocentrismo
E teleologia pós  iluminista.

quinta-feira, 12 de novembro de 2020

OS PÁRIAS

 

 

Os que não cabem no mundo

partilham o tempo todo

frases e versos

para re-significar velhas palavras

e acordar miragens e conceitos

ainda inéditos.


Tudo fazem e inventam

para dizer nosso estado de emergência,

 nosso viver doente e pós industrial 

 e expor sua justa perplexidade diante do caos da humanidade.


Em tempos de tragédia humana global

os párias são os que mais falam,

Os que melhor compreendem um mundo

onde a vida se perdeu da existência.


RECEITA DE DELÍRIO

 


Só é possível sonhar

mergulhando no tempo presente

até o limite do afogamento.


Pois só se transcende aquilo que embriaga,

que nos consome,

que nos faz desaparecer

na indefinível concretude da realidade

que transforma o aqui e agora

em qualquer forma de lugar nenhum.

quarta-feira, 11 de novembro de 2020

ALÉM DO SER E DO ESTAR

 

 


 

 

Sinto saudades de um sonho de infância

Onde eu não era humano,

Mas qualquer outra coisa imprecisa

entre o orgânico e o inorgânico,

Algo que  me desfazia

entre o animal e a pedra

como impreciso acontecimento

entre os quatro elementos

sem qualquer traço reconhecível  de vida

ou existência.



terça-feira, 10 de novembro de 2020

A SOMBRA DO FIM

 


 

 

Vivemos a fantasia da realidade como se o mundo existisse além  de suas representações, 

achando que palavras espelham as coisas,

que a ordem governa o caos

e que há um bem e um mal 

Sudtentando nossos delírios morais.


Mas,talvez,

Contra toda certeza possível,

o fim da humanidade

seja o próximo grande evento global.

NOVO QUIXOTE

 


 

Posso tocar o intangível

através das palavras jogadas

na tela,

Saber o encanto de moinhos de vento

na imaginação de um Quixote.

Basta dobrar na próxima esquina.


A realidade não tem mais substância.

Sei que sonho o dia

e a verdade da vida.


Minha existência

não passa de uma verossímel ilusão

dentro de alguma insana distopia.



segunda-feira, 9 de novembro de 2020

NÃO PRECISAMOS DE SOLUÇÕES

O mundo atual não  é  a resposta.
O "eu" não é  a resposta.
A sociedade e a história  não  são  respostas.
Simplesmente, 
Não  existem respostas.
Apenas siga em frente
Sangrando em gritos silêncios.
Não  precisamos de respostas
Ou soluções.


IRRAZOÁVEL

 

Tenho o direito de ser insensato,

inconsequente e irresponsável,

no exercício da existência.


Quero da vida muito mais do que o possível

oferecido pela ordem estabelecida.


Sou movido pelo desejo,

pela potência da criação de outros lugares de ser,

viver verdades e afetos,

que não cabem nos lugares comuns

do conformismo dominante.


Não me digam como viver,

como querer.

Sou preso ao meu tempo,

mas contra ele

tenho toda liberdade

oferecida por algum incerto

e subversivo futuro

Quê me ofusca a imaginação.


domingo, 8 de novembro de 2020

REBELDE

Minha vida é  triste.
Minha imaginação  é  torta.
Em todos os meus atos
Qualquer loucura transborda.
Sou inapto ao viver deste mundo.
Respiro rebeldia, revolta e agonia.

domingo, 1 de novembro de 2020

O ABSURDO DA VIDA

Mesmo domesticada,
Reduzida ao pragmatismo das civilizações,
Razões e  teleologias,
A vida segue através de nós 
Como um vento selvagem,
Como uma vertigem
Ou um delírio,
Onde nos falta chão.
A vida é uma espécie de pesadelo
Ou delírio.
Não  se enganem!
Viver não tem solução. 




quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O AVESSO DA NORMALIDADE

A delinquência e a loucura sempre serão alternativas a normalidade ordeira que nos mata aos poucos.
Viver exige subversão,  sensibilidade ao caos e a possibilidade de criação. 
Além disso, dizer e pensar é  um ato de desconstrução  e destruição  de tudo aquilo que nos prende a segurança das grades de qualquer verdade.

VIVENDO COMO UM LOUCO

Sou um filho do absurdo,
Um inimigo do mundo
E do eu,
Que vive do dizer louco,
Da visão  dos outros 
Como um grande susto,
Onde toda possibilidade de realidade
Se fudeu.


terça-feira, 27 de outubro de 2020

DESAFIO

Antes que o mundo acabe,
Respire e se embriague
Com um pouco de liberdade.

Tome um banho de lama,
De vinho ou de infinito,
Contra toda ilusão  de razão  e humanidade.

Não  pense, aconteça,
Contra a convenção  vigente
De realidade.

A vida só  faz sentido
Quando o mundo se torna ilegível,
Quando nos surpreendemos perdidos.

MUNDO TRISTE

É  triste o modo como o mundo existe,
Como a vida segue
Na reprodução  de uma sociedade sem sentido.

Somos como mortos vivos
No vazio dos signos
Que nos ferem a consciência inquieta.

Somos quase loucos,
Prisioneiros do absurdo
De uma existência incerta.

Existimos no raso da existência 
Afogando na pele de verdades supremas,
Sem saber que a vida nos espera
Sempre do outro lado do hábito,
Das rotinas e dos fatos.





LIVRE PENSADOR

Não serei enquadrado e mutilado
Pela prisão dos discursos vigentes.
Não repetirei os ditos e escritos
Dos autores mais lidos,
Dos formadores de opinião. 

Não  serei mais um iludido 
Pelo mercado das letras,
Pela autoridade dos juízes da razão e do bom pensamento.

É meu corpo quem pensa, 
Quem sabe o afeto
Que bagunça a palavra,
Que transfigura o verbo
Em grito, danças  e vento.

Sou indigno das bibliotecas,
Inimigo dos sistemas,
Da ordem dos discursos vigentes.

A matéria das minhas letras
É  a loucura da vida,
O excesso e a morte
De um existir desmedido e incerto
Na vertigem do intempestivo.





segunda-feira, 26 de outubro de 2020

NA CONTRAMÃO DO MUNDO

Existo para o nada e para ninguém. 
Sei que não  sou
No exército de mim alguém.

Nada me interessa ou prende a existência.
Minha consciência lamenta o mundo.

Sou no acontecer das coisas,
Dos animais e do grito
Que mora no fundo da palavra
Contra a miséria das intenções  humanas.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

AOS MEUS CRÍTICOS

Aqueles que me julgam e criticam não sabem o tamanho silêncio  dos meus gritos, a vastidão da covardia e o ridículo da normativa de seu juízo domesticado, da miséria moralista e conformista que inspiram seus atos.

A MISERIA DA VERDADE

A irrealidade da verdade sustenta nossa realidade. 
Somos escravos de uma consciência imperfeita de nos e dos outros,
De uma rede de fantasias coletivas que nos conformam ao ardil da verdade, do julgamento e da disciplina.
Somos escravos do certo e do errado,
Dos falsos poderes do céu  e do inferno.

CORPO SONHO

Respirar,
Falar,
Comer,
Cagar,
Dormir,
Suar...
Isso é a vida.
Não  importa o pensar,
O sentir ou o querer.
Viver é o corpo em ato
Que sempre precisa de um banho
Para ser suportável.
Mesmo que o corpo,
Está composição orgânica,
De natureza estranha,
Seja apenas um sonho mágico da matéria. 



segunda-feira, 19 de outubro de 2020

DESAFIO PÓS CIVILIZACIONAL

Preciso encontrar o ponto certo de sincronia entre o nada do não  sentido e o abismo do indizível 
Fazer gritar a existência no corpo fundo do impossível,
Romper com a alma e o pensamento,
Na descoberta do afeto,
Transmutado na delicada e civilizada expressão destilada de um uivo mais do que primitivo.

A TELA E A ANTI POESIA

Por todos os cantos vejo anti poesia,
O corpo rasgado em cotidiano,
Em palavras que gritam dançarinas 
Delírios  que desfazem o onírico,
Explodem a realidade,
Criando um duplo da tela,
Um outro da imagem, 
No avesso do tele móvel 
Que  escapa a nervosa fala dos dedos em desvarios.

O MUNDO E A TELA

O mundo de hoje quase não  é  mundo.
Não  tem substância.
É dado e tela 
Até  o limite da informação, 
Da atualização do nada
Contra o real  simulado 
Das redes e fake  news. 
É  um mundo pasto
Onde vagam virtuais rebanhos
Em tendências pré maldades
De sensibidades e opiniões.
Tudo se consome,
Tudo se vomita e recicla 
Até  o limite da exaustão. 

O MUNDO E O UNIVERSO

O mundo sonha o pesadelo da vida humana.
É  indiferente a nossas agonias,
A falência da civilização. 

O mundo, na verdade, 
É  tão  real em nós, 
Quê se quer existe.

O universo segue na harmonia do caos,
Entre a indiferença e o silêncio.  

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

SOBRE A VIDA

 

 


O que me transborda é este estar vazio,

este nada que me preenche de tudo

e que me grita na consciência.


O que me transborda é o que me sufoca,

o que me acorda e me faz delirar.

Trata-se aqui, simplesmente,

desta coisa insensata que chamamos de vida.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

CONTRA MUNDO

É  preciso saber rir do mundo,
Sublimar seus absurdos,
Suportar suas grades,
Nossa impotência...

A existência afinal, 
Não passa de um susto
Quê dentro de nós 
Ultrapassa o mundo
E os signos e símbolos 
Quê definem nossa consciência 
Como linguagem do si mesmo,
Como radical exercício  de imanência .

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O NÃO FUTURO DO PRESENTE

O tempo não  passa como antigamente.
Agora o presente persiste
Contra o futuro
Em atualizações quase infinitas da desordem das coisas
Onde o novo é sempre o  outro do sempre igual.

Tudo que importa 
É a urgência do efêmero
Contra a intuição de iminentes catástrofes.
Tudo é  questão  de embriaguez e informação... 

Celebramos nossa impotência,
O desespero de nossa época, 
Todo absurdo que tornamos possível,
Como se fosse uma grande festa
Do progresso e da civilização. 

Como se nos inspirasse alguma razão,  
Algum propósito,
Ou convincente ilusão valorativa,
Que fosse mais forte 
Do que nossos medos
E angústias,
Do que a falta de qualquer solução ou sentido das coisas.

Apenas a morte  nos sorri
Na janela do caos,
Mas somos pragmáticos, resignados,
Estamos acostumados ao pesadelo do mundo atual,
Ao lixo da vida pós industrial.
Viva as novas tecnologias!
O dinheiro investido!
O celular de última geração!

O que mais importa?!

 O tempo  não  muda os anos,
Não  temos mais futuro.
Nos condenamos a ser como somos
Até  que a vida morra de vez
Nos salvando da mansa agonia 
Da sobrevivência de nossa infinita insensatez.






sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A DERROTA DO HUMANISMO

Sonho com o inumano de um mundo possível onde a vontade não  existe, onde a vida, desvencilhada da antropologia de nossas sensibilidades domesticadas, sabe a terra contra a civilização, o corpo e o chão , no eterno retorno de uma existência incerta, dentro da intensidade da imaginação. 
Há algo de profundamente primitivo nisso que ainda permanece vivo no fundo obscuro de tudo aquilo que nos tornamos, que nos é  possível no além do humano.

A PAIXÃO PELO IMPOSSÍVEL

Não  espero nada da vida.
Esmagado pelo passado
Enterrei todo futuro possível 
Na liberdade intempestiva do uivo.

Recuso o presente,
As possibilidades do agora,
Toda certeza e segurança da ordem estabelecida,
Todo absurdismo do bom pensamento,
Os ridiculos delírios de progresso e prosperidade
Que circulam e nos desinformam
Através da magia das telas,
Dos sites e redes sociais
E seu otimismo tosco e banal.

Não espero nada da vida.
Só me contento com a realidade
Do mais radical do impossível.






quarta-feira, 30 de setembro de 2020

REBELDIA SEMPRE

Não  sei o que faço  com a vida.
Então  bebo  fumo,
Escarro e cago,
Na privada do tempo e dos dias.
Eventualmente falo.
Mas na maior parte das vezes
GRITO.

terça-feira, 29 de setembro de 2020

O ENÍGMA DO SER E DO NÃO SER

 


Tento fugir do olhar do outro no espelho

Para me desvencilhar de mim mesmo.


Preciso escapar a essa consciência

Que me tem,

A esse corpo que é algo

Mais do que eu sou alguém.


Preciso dormir para acordar de mim.

Não ser em todas as coisas,

Estar em todas as partes

na transgressão do corpo,

Na afirmação da minha ausência

como consciência absoluta da matéria,

Como presença do múltiplo e do indeterminado.


Preciso ser incompreensível,

vazio e invisível.

Preciso não existir

para finalmente saber de mim,

ir além da vida e da morte.


segunda-feira, 28 de setembro de 2020

SOBRE A MISÉRIA DO ANTROPHOS


Tudo que a autoconsciência nos ensina é  o absurdo da existência humana.
O caos rege a natureza com maestria, contra a estagnação  moral e a vontade de verdade que nos faz demasiadamente humanos e inimigos da vida, exteriores ao devir das coisas vivas.

domingo, 27 de setembro de 2020

A VIDA NA TERRA DE UM PONTO DE VISTA NÃO HUMANO

Caso fosse possivel a uma hipotética forma de vida alienigena, auto consciente e não  baseada em carbono, contemplar o ecossistema terrestre, não  causaria espanto, se ela interpretasse  a vida na terra como um mero acidente de consequências inesperadas.
Não  seria igualmente surpreendente caso, desdobrando sua análise, também considerasse o animal humano uma anomalia nociva a tal ambiente diverso e dinâmico.  Uma anomalia que nos últimos séculos , através de seus artifícios  anti naturais de sobrevivencia, pôs  em risco o equilíbrio de tal ecossistema .
Para tal forma de vida alienigena, a evolução  humana não seria prodigiosa ou relevante, mas uma lamentável realização do acaso que rege os arranjos da matéria.
Quê dentre milhões de planetas  a Terra tenha sido amaldiçoada com a vida complexa  e a  humanidade, é questão sem resposta ou sentido. Mas, do ponto de vista terrestre, trata-se de um problema provisório e passageiro na longa duração das eras cidades geológicas.  
O homem há de desaparecer antes do planeta e do sistema solar. Todos os seus vestigios serão apagados confirmando sua evidente irrelevância..como poderia ser o homem uma questão relevante no universo? A  própria Terra  é  insignificante, assim como o sol que orbita entre outros astros mais interessantes, como, por exemplo, o majestoso Saturno?
Tais alienígenas, evidensetemte, estariam cientes do desvelo e da vida é da complexidade dos ecossistemas.

sexta-feira, 25 de setembro de 2020

A PELE

A pele é  um órgão  de revestimento,
Uma roupa que arruma o corpo,
Que organiza sensações 
E sentimentos,
Contra o silêncio 
De ser e viver 
Estabelecendo uma fronteira
Entre o corpo e o mundo.



A SUBVERSÃO DO RISO

Através da palavra livre que provoca vertigem,
Fugi as regras e realidades do simples vivido
Através de um riso insano e subversivo. 
Fui tudo aquilo
Que em segredo podia ser feito
Contra as grades do nosso absurdo cotidiano
Nesse  mundo maldito.
Fiz de mim o experimento
De outros futuros e mundos loucos
Que estranhavam o possível da vida 
Quê através de todos nós 
Banaliza a morte
No limitado  acontecer dos dias sem sorte.
Tudo isso ocorreu nos labirintos de um riso
Louco e imprevisível
Quê apagava as luzes
Da razão.,
Toda verdade e iluminação
É lançava  ao fogo da sorte
Qualquer outra ordem escondida
Nas entranhas dos fatos perdidos.



quinta-feira, 24 de setembro de 2020

MISÉRIA EGOCÊNTRICA

A Europa pouco me importa.
Sou indiferente as revoluções permanentes do Ocidente,
As disciplinas da modernidade,
E a insanidade dos civilizados.

Minha pele morena conhece a terra,
Desertos , florestas,
E inumanos saberes
De híbridas existências 
Imateriais e concretas.

Nada em mim é  suficientemente humano.
Nada que sinto me prende a definições, 
Razões ou intenções.

Sou matéria viva de mitos e alucinações, 
Instante impreciso de tempo e mundo 
Quê não  se conforma a qualquer explicação histórica e genética. 

A Europa é o pesadelo do peso 
De um existir que agoniza
Entre a verdade e a natureza.

A Europa é a  vida reduzida
A um vazio que asfixia todo planeta.

A Europa é a doença de uma geografia sem alma,
Desfigurada pela antropologia e a palavra
No pesadelo da pós  industrialização.




CIDADE E MOVIMENTO

A cidade é  móvel e instável,
Barulhenta e quase insuportável,
Enquanto consome pessoas e coisas.

Não há  liberdade na cidade, 
Mas necessidade de movimento,
 Obrigação  de ir e vir
Entre lugares que nos levam sempre 
A parte alguma.

Da casa ao trabalho, 
Do bar ao mercado,
Sempre a mesma rotina,
A mesma agonia,
De se perder em geografias.

A cidade é  movimento.
Nela nos locomovemos constantemente
Sem tempo para viver. 

domingo, 20 de setembro de 2020

O POETA DO FIM DO MUNDO

Dentro dos dias
E fora do mundo
Estou sempre em fuga,
Ausente de mim e dos outros. 

A imaginação é  meu território,
A palavra minha casa.
A revolta minha língua,
E  a angústia meu enunciado.

Escrevo contra todos os livros 
E verdades.
Minha tese é  o delírio.

Não tenho apreço  pela humanidade.

domingo, 13 de setembro de 2020

TERRAPLANISMO

O peso do céu 
Prende meus pés a terra,
Aos quatro pontos de um mundo plano
Composto por quatro elementos.
Um mundo que não  existe,
Mas é  dito, sentido e vivido,
Na invenção  da ordem das coisas,
Contra a desordem da terra geoide 
Destruída pelos primatas
Em nome do doentio delírio
De uma terra plenamente humana
E sem natureza
Vestida de industrialismo e progresso. 
O agro negócio,
O nacional desenvolvimentismo,
São definições racionais do terraplanismo.

sábado, 5 de setembro de 2020

AS TAREFAS DO NIILISMO

Desvalorar o mundo,
Afirmar a insignificância, 
A nadificação absoluta 
E a falência de todos os discursos,
De toda ilusão de Ser,
Poder e possível  viver.
Eis o desafio do niilismo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

A SOMBRA DO ILUMINISMO

No delírio do esclarecimento,
A escuridão  elucida
As ofuscantes luzes da razão. 

Tudo que é  raso
Se faz profundo
Na magia da imaginação
E as luzes ofuscam
No absurdo do sol.




quarta-feira, 2 de setembro de 2020

ILUMINAÇÃO

Um dia espero alcançar 
A subjetividade das minhas entranhas,
Apagar a dor,
O corpo,
E  qualquer ilusão  de alma.

Romper todos os limites do pensamento,
 Ser digno da sabedoria dos loucos.
Talvez, então, 
A vida se torne possível
E deseja capaz de bem lidar com o mundo.




VONTADE DE POTÊNCIA

Afirmo exceções contra a nivelação gregaria e o instinto do rebanho.
Afirmo contra o ressentimento a força dos destintos.
Afirmo contra o instinto de conservação  a potência criadora da vida.
Afirmo os fortes, 
Os que se fazem pedra,
Os que abraçaram o trágico como caminho e destino.

EXISTENCIALISMO TECNOLÓGICO

Os artefatos tecnológicos tornam-se cada vez mais espaços existenciais que dilatam o corpo reinventando a experiência de si.
O inumano no homem ganha, assim, uma nova profundidade de superfície através  da tela como uma segunda pele projetada no fora da experiência. Surge uma nova condição de presença,  de imanência. Existir é  cada vez maus acontecer como simulacro , na concretude da não presença insistente que cria acontecimentos.

segunda-feira, 31 de agosto de 2020

O ENIGMA DA REVOLTA

Entre vazios e infinitos
Os abismos nos chamam,
Provocam delírios,
Risos,
Impossíveis destinos,
Inspirando a loucura
Da raiva de alguma esperança.

A IRREALIDADE DE TODOS NÓS

A  vida dos outros
Nunca será a vida de todos,
Como dentro da minha vida
Existe sempre
O vir a ser de um outro.
Não  há em nós 
O universal  de nenhuma humanidade,
Somos múltiplos, incertos,
Ingovernaveis,
No devir do desejo,
Na sombra dos loucos,
Que acorda em nós o múltiplo
Na não  identidade de muitas irrealidades.
Não  somos feitos apenas
Daquilo que existe,
Temos fome de infinito.


LATENTE ABSURDO

Há  um quase do ser
Que me transcende o viver.
Algo invisivel,
Indefinível,
Que não  cabe no pensamento,
No sentimento do mundo.
Há algo esquisito,
Uma intuição  de infinito,
Que diz através da natureza,
Do inconcebível do universo,
Qualquer processo,
Qualquer intensidade,
Que supera a presença 
E o ato de ser.


sábado, 29 de agosto de 2020

O DELIRIO DO OLHAR

Desfocado,
Desvairado, 
Transformado,
Transfigurado,
O olhar transcende os olhos
E mata a paisagem em miragens .
Inventa imagens no desmaio da visão,
Cria no delírio das imaginações 
Mundos virtuais ,
Quase possíveis no não  lugar de mim, 
Através  do apresentar-se do mundo.
Já  não  são os olhos que enxergam,
É  o cérebro que vê  na composição dos corpos.
 

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

DURAÇÃO E VIDA

Persisto contra o tempo
Nos lampejos de outros mundos,
De outros dias,
Onde já não existo,
Me sabendo desfeito
No acontecer de outros rostos.

Sei que não  estou contido
Em meu próprio corpo
Na terra que meus pés pensam,
Onde percebo a vida
Na inconstância de todas as coisas.

O QUE É O PENSAMENTO?

Pensar é  corpo,
Natureza e artifício
No cérebro que se faz
Sujeito do mundo,
Criação e consciência,
Da vida como atividade incerta,
Como uma realidade que sempre nos escapa,
No acontecer de signos e símbolos,
Na ciência da terra,
Na aventura do mar.


domingo, 16 de agosto de 2020

CAOS E VIDA

Não vivo de certezas,
Não  existo em nenhuma verdade
Ou imaginações do mundo.
Aconteço  na intuição  do caos,
Na sutil desordem das coisas,
Onde tudo nasce 
Tudo morre,
E nada é  digno de porvir
No devir absoluto de um trágico vir a ser inumano.



domingo, 2 de agosto de 2020

FILHO DO CAOS

Quando nasci
Sei muito bem
Que passados antigos
Renasceram  no mundo.
Pois minha existência 
Tem o gosto dos ventos e tempestades,
Do caos dos primórdios do mudo,
Do absurdo e do intempestivo .

quarta-feira, 8 de julho de 2020

O INIMIGO DO MUNDO

Em todos os sentidos sou um miseravel ,
Um inclassificável,
Um anormal.
Sou inimigo da sociedade atual,
Da vida banal,
Das dominantes tendências do pensamento,
Das prisões do desejo domesticado.
Sou o mais deplorável dos homens,
Amigo dos monstros,
Amante do novo e do Por vir.

NOVO SURREALISMO

É preciso provocar irrealidade,
Criar paradoxos,
Absurdos,
Contra a cotidiana prisão  dos fatos.

É  preciso libertar o desejo
Da fome de mundo,
Espalhar a loucura,
A ruptura entre significante e significado.

É  preciso matar a razão da ordem,
Sepultar o "último homem".

O CORAÇÃO DO ABISMO

Há  uma outra vida
No coração do abismo,
Um existir intenso
E indeterminado
Onde impera o uivo.

Apenas os loucos e perdidos
Frequentam o coração do abismo, 
Conscientes de nossa ausência de mundo.

terça-feira, 7 de julho de 2020

MISERIA HUMANA

O ser humano é um animal paradoxal, algo indigno da natureza. Um míseravel que se afirma contra a materialidade do corpo na ilusão  do ser.
O ser humano é  um inimigo da vida, do mundo e de si mesmo.

domingo, 5 de julho de 2020

SER TRISTE

Sou feliz pela minha tristeza.
Sou grato a dor que me rouba
Do mundo comum,
Que me obriga a sonhar,
Delirar,
Revoltar  & criar,
Contra o limite da vida possível.

Ser triste é a melhor maneira de viver felicidade,
É  libertar -se de si,
É  reinventar-se como potência, 
Como corpo dentro de corpos,
Num plano de imanência. 

sexta-feira, 26 de junho de 2020

SER LIVRE

Quero ser livre
No saber da vertigem  do abismo,
Ser onde  me livro de mim mesmo,
Onde me torno singularidade, 
Estranho... 
Paradoxo...
Impreciso...
Multiplo e Intempestivo.

Onde não há  julgamentos,
Verdades,
Na transcendência do ridículo de toda moral,
De qualquer definição  do bem e do mal.

Quero ser livre onde algo em mim respira,
Onde me reconheço
Na impossibilidade do possível,
No enigma do outro 
Que através de mim
Inventa a vida.


quarta-feira, 24 de junho de 2020

O MALDITO

Eu sou um maldito.
Estou entre aqueles
Que não são amados,
Que provam a oposição 
E o ódio dos bem resolvidos e aventurados.

Sou do tipo absurdo,
Inclassificável,
Incorrigível.

Sou de todas as formas
Intempestivo, solitário 
Inadequado e louco.
Sou o portador da peste. 
Mas tenho orgulho disso.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

ABSURDO

Há  um absurdo,
Algo dentro do insólito
Das paredes concretas
Do simples cotidiano.

Algo que não se diz,
Nas redes tristes dos inocentes.

LIMITE

O limite da vida
É  a morte,
Mas o sentido da existência 
É uma aposta,
Uma sorte,
Uma neurose.

CONTRA MUNDO



Não.  Eu não quero saber do mundo.
Eu odeio todos os mundos.
Sou inimigo do possível, 
Do impossível é da vida.

Não  esperem de mim palavras ao mundo, 
Boas respostas e receitas de felicidade.

Eu sou a morte.
A morte que escreve sua última palavra,
Contra suas certezas e esperanças .
Não  esperem que eu diga o mundo,
Seu otimismo  de mortos vivos.

sexta-feira, 12 de junho de 2020

O SUBVERSIVO

Não sou comportado,
Pragmático
Ou amante da razão. 

Sou louco,
Transgressor
E apaixonado por escândalos.

Sou destes que se negam a obedecer,
Recuso o bom senso,
O juízo e o ponderado .

Abomino a ordem vigente.
Guardo dentro de mim um caos criador.

DESPERTAR

Hoje acordei ausente de mim mesmo,
Revoltado com o mundo
E indiferente a qualquer palavra.

Hoje acordei lúcido e desesperado
No limite da existência. 
Abri os olhos cego de vida. 

quarta-feira, 27 de maio de 2020

MEU DESEJO

Meu desejo não cabe no agora,
Na caduquice do mundo contemporâneo.

Meu desejo é  maior que o tempo
Na intensidade do corpo.

Ele é  soberano, anárquico
E intempestivo.

Meu desejo é  debochado,
Indomável e imprevisível.

Meu desejo é a aurora
De um acordar dionisíaco. 

sábado, 23 de maio de 2020

CONTRA A REALIDADE E A VERDADE

A realidade não  me comove.
Sou feito de sonho e afeto,
Sou pura vontade,
Entre a imaginação e o corpo.
Existo como palavra
No mistério da poesia
No diário exercício
De superação do humano.
Seja natureza
Contra qualquer ilusão de um mundo verdade. 


UM INSTANTE



O instante não me diz nada
No passar do tempo
Quando a vida revela apenas
A ausência de mundo,
O silêncio das coisas,
E o vazio do pensamento.

O instante é deserto
No vazio deste momento
Em que o sentido dos atos escapa. 




quinta-feira, 21 de maio de 2020

TEMPOS DE LUTO

Não leia jornais.
Todas as notícias estão  caducas
E anunciam a morte do futuro.

O presente é  urgente,
Pois a vida existe
Onde não podemos mais viver.

É tempo de luto,
De velório sem cadáver.
Um minuto de silêncio pela humanidade.




MEU FUTURO

Meu futuro não cabe nos dias do mundo,
Nas misérias cotidianas das incertezas contemporâneas.

Meu futuro é ser livre na imaginação das coisas,
Na produção de mim mesmo
Na contra mão do tempo.

Meu futuro é a posteridade do trágico,
O impossível tão necessário. 

terça-feira, 19 de maio de 2020

MEUS SONHOS

Meus sonhos buscam o absurdo,
Recusam o precipício de um cotidiano raso,
O homicídio do mercado e do sucesso,
O ridículo de ser um bom cidadão. 

Meus sonhos tem o amargor da morte,
O desespero da coragem que nega a sorte,
E a raiva da liberdade.

Meus sonhos não cabem em sociedade.
São de um tempo futuro
Em qualquer outra linha de tempo
Dentro do multiverso.

sábado, 16 de maio de 2020

DEVIR E NATUREZA

Indiferente aos dilemas humanos e aos absurdos da civilização,  a natureza segue em devir no mais amplo sentido da vida.  A Terra gira e nada é para sempre no desvalor  absoluto das coisas na imensidão do universo.
Tudo acontece sem qualquer privilégio entre o orgânico e o inorgânico,  o animado e o inanimado, o macro e o micro. A natureza sempre prossegue em sua multiplicidade irredutível a qualquer unidade  na poesia silenciosa da leveza do caos.
Imersos no ilegível da natureza os dilemas humanos pouco importam, não interessam. Não interferem em seu movimento de ser e não ser.
Tudo desaparece em natureza e devir além de qualquer conceito de história, este ridículo artifício humano, demasiadamente moderno e humano.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

VIDA NÔMADE II

Para onde vamos
Quando tudo se foi?
Onde estamos?

Todos os lugares 
Tornaram-se estranhos.

Sem abrigo,
Sem território, 
Sem mundo,
Nos abandonamos em qualquer canto.
A própria terra nos ignora.

VIDA NÔMADE

Não há mais céu  sobre a vida.
Apenas a terra e o chão
No coração de uma grande noite.
Nenhum abrigo,
Nenhuma esperança. 

Seguimos em bandos pelas mil direções do possível.
Somos os filhos dos tempos sombrios
Engulidos pela terra mãe. 
Nenhum tempo nos pertence,
Lugar algum nos abriga.
Nada é para sempre
No ermo de nossas vidas.

Somos apenas viventes
Descrentes,
Seguindo com o vento
Sem encontrar paz ou descanso.
Mas antes de tudo
Somos sobreviventes
Que transcenderam a esperança. 

segunda-feira, 4 de maio de 2020

A VIDA DESCABELADA

A vida descabelada dança o caos
Na bagunça dos dias.
O tempo provoca vertigens
E toca piano nas janelas.
A música é dodecafonica
É esclarece paisagens de abismos.
Nosso momento é  uma porta para um novo aburdo
Onde futuros desaparecem na boca aberta do passado em surto.
O caos dança  a vida descabelada
Anunciando crianças aladas e embriagadas.
É tempo de movimento no silêncio das horas,
De ânsias desesperadas,
De verdades despedaçadas. 






domingo, 26 de abril de 2020

TOTALIDADE

No fundo oco do eunaon
Me tornei ninguém.
Encontrei apenas o mundo,
O suspiro indeterminado das épocas,
O tempo sem história da natureza,
Desfeito em eterno retorno.

Minha voz era silêncio
Na impessoalidade dos enunciados.
E  eu tinha diante de mim
Os restos mortais da eternidade.

Tudo era tarde,
Inatual e definitivo.



sexta-feira, 24 de abril de 2020

SEJA MARGINAL

Tenha a determinação  de um criminoso,
A imaginação de um louco,
a coragem de um amante,
E a irresponsabilidade de uma criança. 
Seja marginal,
Não viva como um morto.

OS FILHOS DA REVOLTA

A revolta que acorda o sistema nervoso,
A revolta visceral, animal, instintiva,
É o que redime todas as vítimas da civilização, 
Dos belos raciocínios da razão  de salão. 

A revolta é nossa estética, 
Nossa falta de pão,
Nosso desprezo pelo pacto social.
Ela é  nossa arma e nossa dignidade.
Vivemos para fazer da revolta 
O vírus de uma grande peste.

quinta-feira, 23 de abril de 2020

O PARADOXO DA EXISTÊNCIA

Não sou o sujeito que define um nome.
Sou o vazio de um corpo vivo
Antecipando a própria morte.

Sou a vida que me habita
Mas que só  é  possível
Onde me ultrapassa.

Sou a sorte,
O destino e o acaso,
De uma consciência incerta. 

Eu não  existo onde penso
Pensado pelo pensamento 
Que me inventa.


domingo, 19 de abril de 2020

SOBREVIVÊNCIA



A sobrevivência,  sempre renovada,
Da espécie humana,
O desenvolvimento das civilizações 
E suas invenções contra a natureza,
Povoam as delirantes  linhas 
Das narrativas históricas,
Que apresentam nossa miséria,
Nossa angústia diária,
Como  progresso e glória, 
Quando só  existe o absurdo,
de nossa condição 
De degenerados primatas.

Inventamos a nós  mesmos 
Contra a  simplicidade
De todas as formas de vida.

Sobrevivemos,
Diariamente,
Reinventando a morte.


Quase não existimos
Resistindo a nós mesmos.




sexta-feira, 17 de abril de 2020

ESQUIZOFRÊNICO

Livre de mim,
Não  sabia ser outro,
Aprendendo a ser ninguém. 

Eu era aquele que dizia sim,
Um segundo que gritava não,
E um terceiro sempre silencioso.

Tudo era uma questão  de momento,
Una variação da ilusão 
De sempre estar com a razão
Com um caco de verdade na mão. 








segunda-feira, 13 de abril de 2020

RAZÃO E TOTALITARISMO


Nosso racionalismo ama o totalitarismo,
A ditadura de qualquer verdade universal.
Não  admite, assim, divergências,
Vendo na liberdade a semente de um grande mal.
Há  sempre o certo, o errado,
E o castigo,
No caminho do bem e do mal.





NOVA BABEL

Há  discursos demais,
Explicações demais,
Informações demais.

Atingimos o ponto da convulsão do significado,
Do colapso da enunciação, 
Onde o óbvio se tornou incompreensível.

Agora,
Só nos resta 
Re-significar o mundo como experiência do impermanente
Através dos cinco sentidos. 



domingo, 12 de abril de 2020

DEPOIS DO FIM DO MUNDO


As paisagens 
Estão livres de nossa humanidade,
Do pandemônio da civilização. 

O futuro transborda em todas as partes.
Todos os lugares respiram eternidade
No sem tempo da natureza. 

Torna-se evidente
A mais óbvia das verdades:
A vida não é
E nunca foi humana.





sábado, 11 de abril de 2020

PRÉ REVOLUÇÃO

Amanhã, 
Antes do café, 
O futuro há de desabar sobre nós, 
Apesar de todos os protocolos de segurança, 
Do absurdo das autoridades
E este estado de vigilância.

Vamos nos embriagar de esperança,
Rasgar decretos e mandamentos,
Libertar todas as infâncias. 

Acordaremos mil fins do mundo
No casamento do céu e do inferno.
Há  de ser uma grande festa.

domingo, 5 de abril de 2020

SEJA COMO AS ÁRVORES

Nós  aprendemos a pensar com o vento,
A existir com as pedras,
E sentir com a terra.

Já  não  somos humanos
E ignoramos o tempo.

Habitamos o silêncio 
Na confusão do orgânico e inorgânico.

Imitamos as árvores
Enquanto nos reinventarmos em silêncio.  

sábado, 4 de abril de 2020

SER E MITO

Apesar de todos os artifícios,
Metáforas, gramáticas de existência
E civilizações, 
Existimos em eterno estado de natureza.

Somos movidos pelo desejo
Onde o tempo é  eterno retorno
No ciclo das quatro estações do corpo.
Corpo que é  terra,
Sol e lua
Entre a floresta e a aldeia. 

Um animal é  meu guia
Na cosmogonia de ser 
Através  do passado
E do infinito de todas as coisas.

A vida segue como um rio,
Enquanto escuto velhas histórias 
Lendo constelações e mitos
Ao romper de uma nova aurora.

quarta-feira, 1 de abril de 2020

VIRTUALISMO

O feitiço do Virtual,
Da eternidade do póstumo,
Do impertinente impossível 
É o que nos faz seguir em frente.

Nos oprime o possível,
O objetivo,
A queda no tempo.
Mas algo dentro de nós 
É  intemporal,
Incondional e intempestivo.

Somos feitos daquilo
Que não tem nome.

segunda-feira, 30 de março de 2020

NOSSO SILÊNCIO

Estamos engasgados com nossos silêncios. 
Quanto mais falamos mais ele 
se inscreve na ordem das coisas ditas,
fazendo crescer a angustia do quase indizível.

O silêncio é  feito de palavras novas,
da carne de alguns delírios
que fugiram a prisão da gramática cotidiana,
que escaparam das celas semióticas da academia,  da Razão de Estado dos eruditos.

Nosso silêncio é  barulhento
E engravida gargantas
com a semente de um  grito.






sábado, 28 de março de 2020

POESIA E BARBÁRIE

Não é  o belo que define a poesia. Mas o barbarismo que desterriteoriza a linguagem, que perverte todos os valores, normas e verdades. 
A poesia é  filha do mito e da alquimia,
A sabedoria dos xamãs que transfigura a existência.
A poesia é o que nos inspira a queimar o caderno de versos e reaprender a uivar na invenção de uma nova e redentora barbárie.

segunda-feira, 23 de março de 2020

DESUMANIDADE



Os dias lá fora
já não nos habitam.
E as ruas parecem felizes
Vazias de gente.

Quem sente?
Toda beleza da natureza
Presa no fundo da cidade
Reside no fato de não ser humana.

domingo, 22 de março de 2020

MUDANÇA

Tudo segue em permanente mudança, 
Acontece contra nossas certezas,
Contra a economia, O Estado,
A lei e a ordem.

Tudo muda a revelia dos tratados e vontades 
De todos os tipos de sabições,
Contra a opinião pública,
Países, consensos globais
E religiões. 

Tudo acontece contra nossas inércias, 
Contra nosso mísero progresso,
Contra a ilusão  de sucesso de toda civilização. 



MUDANÇA E COTIDIANO PERDIDO

A  angústia, a incerteza,
O descalabro da ordem cotidiana,
Nos libertam das ilusões e prisões 
De realidades medíocres.
Nos obrigam a tempestade,
A liberdade e  ao intempestivo
De qualquer outra forma de vida.
A intuição do caos 
Sempre nos lança a vertigem 
De qualquer novidade. 

POEMA PÓS CIVILIZADO

Por estes dias tenho estado vazio de idéias, 
Abominando certezas e convicções,
Além de surpreso por ainda estar respirando
Em meio a catástrofe da vida civilizada.

Tenho estado isolado,
Com o mundo inteiro gritando,
Dentro de mim e do tempo.

Já não me reconheço.
Desraizado das coisas do agora,
 imune a qualquer ilusão de futuro,
Invento o infinito de um mísero instante
Perdido na pós história da humanidade.

quarta-feira, 18 de março de 2020

CONTRA O HUMANISMO

Sobre o cadáver da metafísica, a moral moderna inventou o triunfo do homem como medida de todas as coisas.  Nos impôs  a história como processo civilizatório e triunfo do progresso técnico e existencial. ´

Mas quão  miserável é  esse humanismo e suas ilusões,  sua vontade de verdade!

Em dois séculos ele materializou barbáries nunca antes sonhadas revelando, através da sua vontade de saber e controlar, um desejo velado de morte é deserto. 

O homem como ideal moral é pura apologia ao suicídio coletivo, uma patologia do poder  no seio de um eco sistema que não  comporta mais seu delírio civilizacional.

terça-feira, 10 de março de 2020

A DOENÇA DA VERDADE

A febre da verdade
Inventa o certo e o errado,
Quando todo enunciado
Não passa de um delírio,
Da dor da consciência que vaga louca
Entre a razão e os abismos do nada.

A certeza adoece o juízo 
Na selva da biblioteca. 
Boas leituras
São  somente aquelas
Que de alguma forma
Restaura em nós 
Algum brilho de selvageria.



segunda-feira, 9 de março de 2020

CONDIÇÃO PÓS HUMANA




Sigo perdido entre o humano e o inumano,
Entre o orgânico e o inorgânico
Em qualquer estado de pós natureza.

Sou artifício,
Corpo,
Composição de diversas coisas,
Um quase objeto
Sujeitado a linguagem,
Em estado de transição permanente
Entre o mundo e o rosto.

Sou biopolítico artifício de sociedade,
Simulacro e sujeito,
Na duvidosa existência de mim mesmo
Em meus atos de fala 
e incerta consciência de mundo.