quinta-feira, 31 de janeiro de 2019

ROTINA DE ESCRITÓRIO



Era sempre tarde demais para qualquer coisa.
Faltava tempo para fugir das horas.
Imperava a rotina,
As tarefas tolas e ordinárias.
Tudo era sempre igual e banal,
Quase insuportável.
Apesar disso,
As paredes eram habitadas por sonhos
E delírios enfeitavam a vista das janelas fechadas do escritório.

terça-feira, 29 de janeiro de 2019

REFLEXÃO QUASE ESTOICA


Eu me vejo como objeto do não sentido e não como sujeito de um enunciado de verdade.

Sei que estou contido no silêncio de grandezas impessoais que me ultrapassam.

Abraço por isso o silêncio como experiência de liberdade, o inativo como forma de expressão desta ação muda e natural que há em mim enquanto corpo imerso no mundo sensível.

Saber pertencer a natureza é tudo que importa. É uma questão de superfície.

A ILUSÃO DO HUMANISMO


Na exata proporção da morte de deus, que fez do homem, para si mesmo,  a medida de todas as coisas, "a humanidade", elevada a condição de fantasia absoluta, foi reduzida a paradoxal objeto do homem particular.   

Um homem sem essência, abstrato e sem ideal, que já não compreende o mundo em que vive, perdido nas alturas de suas próprias abstrações e projeções.


O que é, portanto, "a humanidade", além  do  delírio do mais imperfeito dentre todos os animais?

Apenas a "natureza" existe, não como objetividade sensível, mas como miragem cognitiva.

MIMETISMO SOCIAL



Somos copias de copias de modelos ideais, de idealizações narcisistas e funcionais em uma sociedade de diferentes iguais.
Seguimos replicando enunciados, verdades e formulas prontas até a saturação. Redizemos sempre qualquer ladainha, cultuamos a ilusão de verdades eternas, uma suposta  essência das coisas que inventamos, como se toda a realidade coubesse no oco de nossas cabeças .

REVOLTA

É preciso desafiar o inaceitável,
Alimentar revoltas,
Desconstruir certezas e mundos.
Respirar o tempo,
Inventar futuros.
Nunca aceitar o inevitável,
O peso morto do cotidiano.
Dentro de nós grita o impossível.
A vida é algo ainda por vir.

sábado, 26 de janeiro de 2019

CORPO E CIVILIZAÇÃO

O corpo em seu  buscar constante de prazeres pequenos produz a vida. Todos os esforços e atividades que nos envolvem buscam a garantia de um bem estar permanentemente, de uma paz ( harmonia) com o mundo.

O esforço de sociedade, entretanto, impõe ao corpo a ditadura do pensamento. Inventa o rebanho, os sistemas de crenças, contra o corpo e seu hedonismo naturalista. É neste sentido que todo empreendimento civilizacional constitui uma tragédia.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

CORPOS ERRANTES



Há todos os tipos de corpos errantes a deriva nas paisagens múltiplas da cidade.  Desde mendigos, viciados, punks a aposentados nas praças. Há todos os tipos de desajustados que fazem de qualquer parte um lugar onde se perder de si mesmo.

Derivas e errâncias são praticamente um modo de vida contra o jogo sedentário da existência em rebanho. Há sempre desviantes, aqueles que não suportam vestir personas, viver como um número.

Há sempre um desespero subterrâneo se insurgindo contra as acomodações e conformismos. Ele nasce de uma necessidade instintiva de viver de acordo com a natureza da vida, fora dos artifícios civilizacionais.

São muitas as tribos urbanas  que demarcam um território existencial que lhes permite uma fuga, seja relativa ou absoluta, das regas do jogo social hegemônico.

A cidade está cheia de corpos errantes. Eles nunca se rendem ao sedentarismo.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

A TEIMOSIA DO EFÊMERO

A Inatual atualidade do tempo de agora, como um instante absoluto que nos devora, é uma ilusão pragmática, uma espécie de miopia cronológica.
Já não sentimos mais o peso do passado e estamos longe demais de qualquer futuro.
É a profundidade do superficial, os abismos do efêmero, que nos define uma experiência de mundo onde o cotidiano se converteu em deserto, em silêncio.
Neste contexto a vida se converte em processo, em um estar em movimento sem sentido, sem direção ou propósito.
Estar a deriva é o que a Inatual atualidade do tempo de agora nos oferece como experiência.

terça-feira, 15 de janeiro de 2019

A VONTADE CONTRA O EU


Do que me serve a vontade se ela não escapa ao condicionamento dos meus limites? Se ela não passa de uma força cega que me obriga a ser eu mesmo e não nenhum outro? Precinto em meu intimo inúmeras possibilidades latentes, dezenas de outros que se insurgem cotidianamente em busca de um pouco de sol. Eles me perseguem através da sombra das minhas palavras. Inventam há todo momento um grito abstrato que me faz um labirinto de possibilidades perdidas. Eu sou apenas a agonia deste impasse, desta confusão. A vontade é uma força que me arde, que me faz agir. Mas sempre existe um quase transbordamento que aponta para outra direção.

ELOGIO A IGNORÂNCIA


Por onde foge minha vontade?
Como acontece o vazio deste desânimo,
Este ceticismo que corrói o valor de tudo que é humano?
Como a existência se torna tão desinteressante?

Só sei que quero fugir de todas as convenções,
Recusar verdades, diplomas e convicções.
Não serei mais um entre tantos tolos.

Quero a liberdade de não pensar em nada.
A felicidade de não ser coisa alguma.
Estou farto daqueles que vomitam conhecimento.
A sabedoria conhece mais o silencio do que o discurso público.

Nenhum livro há de me resolver a vida!


segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

SOBRE A EXPERIÊNCIA ARTISTICA


A arte produz a metamorfose dos fatos através da ficção.  Somos afetados pelo seu poder de evasão, de promover um reencontro com nossas sensações mais profundas através da experiência imagética. Neste sentido, a ficção não é um apêndice da realidade, mas sua dimensão mais intensa. A experiência artística é um modo de experimentar o real. Ela organiza símbolos e signos na consciência que temos de nossa época, do conjunto de nossas experiências e  de nossos limites.

sábado, 12 de janeiro de 2019

A VIDA DAS ÁRVORES

O tempo de vida de uma árvore desconhece o próprio passar do tempo. É feito de ambiências. O meio é sua própria existência. 


Por isso as árvores existem na fronteira entre o orgânico e o inorgânico. Não fazem distinção entre o animado e o inanimado. Tudo é natureza na diversidade de sua expressão. Para elas não existe o tempo...

sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

PÓS INCONSCIENTE

Há algo de clandestino em nós.
Algo que nos insinua o caos,
A vertigem da existência.
Este algo não tem nome,
Não conhece lugar e tempo.
É informe.
Pré existe a nós mesmos,
Como uma fome que nos consome.
É tudo aquilo que o rosto esconde.
É o que não se vê,
Nem se percebe.
É o que nos contém e nos acontece.

A VERDADE DA FICÇÃO


Um discurso portador de algum valor de verdade não necessariamente possui pretensão ao verdadeiro.  Pode muito bem tomar-se como ficção, como construção de uma perspectiva sobre determinado assunto sem qualquer pretensão de esgota-lo ou de esclarecer sua “natureza”.

Desta forma, há algum valor de verdade na ficção. Mas este não se identifica com uma valoração do verdadeiro no sentido racional ou objetal. O que era evidente a qualquer sofistas e tão corriqueiro no exercício da arte retórica. Mas o que importa a ficção não é a astucia do convencimento, é sempre a criação de algo novo, de um dizer desassossegado, que nos arranca do cotidiano das palavras.  A mudança é sempre uma possibilidade de expressão, uma transgressão da norma, dos comodismos gramaticais.

O HIBRIDO


O hibrido não é o ambíguo.
Não faz da ilusão um artifício.
Apenas recusa nossas classificações,
Todas as explicações possíveis.

Existe em puro imediatismo
Entre o isso e o aquilo
Sem tomar partido.

Ele habita sempre entre mundos.
Onde somos um,
Ele é múltiplo,
Interseção e incerteza.

O hibrido é o que sempre foge,
Aquilo e aquele que escapa.



quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

ACONTECIMENTO


O que fiz de mim?
O que me fizeram?
O que aconteceu?
Há tanta coisa nos fatos
Que já não creio no tempo.
Tudo confirma minha agonia.
Já não posso ser o mesmo.
Não mais me conheço.
E quase não sei o que foi feito dos outros.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

POLUIÇÃO INFORMACIONAL


Quantos segundos dos seus olhos merece aquele longo texto de internet elaborado por algum vaidoso acadêmico? Afinal, entre tantos escritos, que diferença ainda faz a leitura? Estamos saturados de informação e discurso. Eles não tem qualquer lugar na memória, no cotidiano, nos corações e mentes da juventude! Todos falam demais e pouco tem a dizer. Tudo é informação... Nada nos informa na grande Babel do conhecimento. Quantas vezes você digeriu aquilo que leu?...


segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

A VIRTUDE DE NADA DIZER


Não esperem sobre o fundo branco desta página qualquer leitura útil. Nem mesmo agradável ou capaz de fazer fugir do tédio, do cansaço ou da incerteza sempre constante de informação e conhecimento.

Não esperem nada destas letras. Se delas pode ser deduzido qualquer objetivo é o de meramente servir contra o tempo. Para os dedos tolos e cegos que digitaram estes breves parágrafos sem brilho, não há nestas linhas ralas outro proposito do que o vazio de um dizer perplexo, efêmero.

Aqui a palavra se lança contra o conhecimento, contra o próprio ato de dizer. Contra a possibilidade de parecer útil ou inteligente.  Ela se reduz a sombra de uma experiência. Uma experiência nua, crua. A experiência de estar aqui e agora entretido com este exercício tolo de tentar comunicar qualquer coisa, de lutar contra a própria necessidade de comunicar, de dizer, de corresponder a expectativas.

No fundo há um silencio oculto nestas palavras, um protesto. E é exatamente aquilo que vale a leitura: a ausência de respostas, de questões e até mesmo de discurso.  

sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

DIZER O SILÊNCIO


O essencial é dizer o silêncio contra os tagarelas da verdade.
Para que, afinal, tropeçar em discursos com tanta vida para nos calar?
A existência embriaga contra as sóbrias verdades dos que buscam as alturas.
Tudo que nos importa tem chão e gosto de terra ou de mar.
Então se calem para que eu possa escuta-los.
Deixem-me saber o que não pode ser dito.
Depois falaremos sobre o silêncio....

quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

SEGUIR...



Seguir a estrada,
Sofrer o momento,
Até o transbordar da existência.

Que a vida nos ultrapasse,
arraste! 
Que tudo seja sempre intenso!

Amanhã será outro dia.
Mas nem sempre sofreremos o depois.

Tudo é apenas movimento,
Ausências.
É a falta que nos preenche.

Somos os apetites e fomes indescritíveis
que nos consomem.