domingo, 25 de novembro de 2018

ENLOUQUEÇAM!

Seguimos atravessando cotidianamente o abismo da vida civilizada sobre a corda bamba do simples cotidiano. Aceitamos e naturalizamos o inaceitável e não questionamos sua banalidade. Nada nos parece suficientemente horrível. Nossa educação nos adoeceu.

Mas para onde nos leva esta cotidiana travessia sob o abismo? Naturalmente ao ainda distante fim da espécie. Um dia tudo será pó. Eis nosso maior consolo contra todo este desespero que chamam cultura. Mas enquanto ele não chega, divirtam-se! Enlouqueçam! 

sábado, 24 de novembro de 2018

ESCUTE O CAOS!

Não acredito em narrativas de poder, saber e amor.
Não acredito no dito ou escrito de sua consciência engajada e positiva.
Venero a confusão,
O caos me esclarece.
Minha palavra é o grito.
Quem pode escutar minha abstrata confusão?
Basta que não acredite,
Que não busque o conforto de qualquer discurso,
Que não aceite soluções ou conclusões.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

AS PESSOAS DA GRANDE CIDADE



Sei conversar com a terra, os animais e as pedras.
Mas não me entendo com as pessoas da grande cidade.
Não me interesso pelos seus jogos mentais,
Pelos seus hábitos e normas abstratas.
Elas são como pássaros que nasceram em gaiolas.
Não sabem seu corpo,
Não percebem suas asas.
Se quer identificam as fronteiras de sua prisão.
Acham que todos  lhe frequentem a gaiola,
que o  mundo é povoado por prisioneiros.
A grande cidade lhes roubou a alma.

O DUPLO


Todos os medos e mentiras que tomei como verdade não me sustentam mais. Meu mundo se tornou vazio e transparente. Já não tenho rosto, identidade. Sou feito apenas de apetites e vontades. Não tenho forma ou conteúdo. Sou apenas uma coisa que se desfaz em mundo.

Não tenham medo e nada esperem de mim. Eu sou apenas aquele que te inventa no espelho.   


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A MISÉRIA DO CONHECIMENTO


Todo conhecimento de todas as épocas foi reduzido à banal condição de informação.  Todo conteúdo é vazio e já não provoca significativo efeito sobre nossa consciência.  


O conhecimento foi reduzido aqueles saberes sem vida exigidos em exames de faculdade, em provas de aptidão profissional ou palavras cruzadas.


Qual a utilidade da sabedoria em um mundo de consumo absoluto? Não há mais  diferença entre um livro é um vestido. Ambos podem ter o mesmo valor . Vista o livro é leia o vestido na arte de inventar sua persona, de ser alguém entre os outros.
Conhecimento não é redenção....

DA IMPOSSIBILIDADE DE ESTAR SOZINHO

Despido de todos e de tudo não passo de um corpo isolado entre quatro paredes. No entanto, muitos mundos me habitam. É impossível estar sozinho. Minha consciência é povoada pelos outros que lá fora seguem indiferentes à minha existência. Sou no mundo e o mundo é em mim através dos meus outros mundos. A existência é uma fantasia coletiva onde o próprio isolamento é uma forma de companhia, de presença de um eu que inventa todos os outros.

sábado, 17 de novembro de 2018

A VIDA É UM DELÍRIO!

No fundo eu nunca vi um ser humano na vida. Para mim humanidade não passa de um conceito sem substância. No plano da existência concreta somos apenas um amontoado provisório de moléculas. Só isso. Mas temos a ilusão de que existimos. Na verdade tudo não passa de um sonho absurdo. A vida nãome contagia. Sei que o que convencionamos chamar de realidade não é nada além de um delírio.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

ANIMALIDADE

A fronteira entre o animal e o humano não existe. Ambos são corpos na paisagem.

As civilizações são acidentes existenciais contra os artifícios  biológicos. Mas não passam de ilusão pueril como a falácia do processo histórico.

O animal que há em nós extrapola a linguagem, as convenções e nossas pretensões ao infinito.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

CONTRA A REALIDADE



A realidade nunca será para mim suficiente. Seja lá o que for que seja convencionalmente compreendido como real em qualquer época ou contexto cultural. Tenho imaginações selvagens, vontades insanas e apetites monstruosos que jamais serão contidas por modelos e normas de verdade.

Meu coração é selvagem e minha mente tão simples e perversa como a de uma criança que se lambuza com sorvete de chocolate e bolo de baunilha.

CONTRA DISCURSO



O tom solene ou pretensamente verdadeiro de uma narrativa tenta nos impor uma consideração respeitosa. Como se qualquer palavrório rotulado de científico, de pesquisa, fosse merecedor de nossa devoção e submissão.

Mas já faz tempo que aprendemos a duvidar de todos os discursos emancipatórios ou simplesmente atestadores de qualquer autoridade.  Reivindicamos a mais radical liberdade gramatical, o mais sincero e franco nonsense. Não pretendemos dizer a verdade. Nossas palavras são como fumaça, pretendemos a dissonância  cognitiva, a confusão verbal e todas as formas de terrorismo linguístico. Jamais seremos enganados pelos defensores do sentido e da representação. Joguem a fogueira todos os seus livros!

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O CAVALO


O cavalo é um animal estranho.
Ele nos sugere a ideia de movimento,
De passagem e de deslocamentos.
Há algo de  pássaro na elegância do cavalo,
Algo que transcende o animal,
Como pegasos ou como unicórnio,
Ou ainda como um fauno.
O homem e o cavalo seguem juntos
Inventando seu próprio destino.
Mas o cavalo é um animal estranho.
Que discretamente insinua a superioridade do inumano.

O LEGADO DADAISTA


O dadaísmo surgiu em Zurique (Suiça) como um movimento contra cultural ou como a mais radical das vanguardas artísticas. Seu niilismo visceral atacava as bases de toda a civilização ocidental então mergulhada no drama sem precedentes da barbárie de uma primeira grande guerra europeia. Sua virulenta retorica de destruição absoluta possui uma inspiração pacifista, já que tem como cenário a veemente condenação do conflito que então devastava o velho mundo.  O dadaísmo foi um filho direto da crise moral e civilizacional europeia de inicio de século XX.  Trata-se de um “movimento-grito” sem qualquer horizonte positivo. O surrealismo foi de certa forma seu direto continuador, mesmo que abdicando de seu niilismo apolítico e apontando para uma transformação politica radical da vida através da arte, das pulsões e dos abismos irracionais de nossa condição humana.

O ideal dadaísta é a liberdade total, o agenciamento da imaginação contra toda forma de linguagem e confissão de verdade. Seu objetivo é provocar vertigens, desafiar e destruir toda norma, todo principio ou hábitos pré concebidos  que sustentam o já arruinado edifício da civilização ocidental. Podemos encontrar seus ecos na contra cultura dos anos 60 e 70 e em toda forma de resistência e contestação cultural que ainda hoje nascem como erva daninha em meio ao jardim pomposo das certezas de manada e das flores da ordem e da razão dominante.

sábado, 10 de novembro de 2018

LITERATURA BARATA

O eu que escreve não sabe o que é dito. É apenas réplica de tantos outros eus perdidos dentro do texto.

Mas o que se escreve que ainda não foi dito? Somos agentes e vítimas de conservadorismos linguísticos, de um dizer gregário que nos conforma a rebanhos.

A palavra é um dispositivo de adequação às ficções de nossa existência coletiva.

A vida não passa de  literatura barata.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ESPAÇOS NORMATIVOS


Em muitos lugares estive por muito tempo em fuga. Eram como prisões onde meus pés tocavam por simples obrigação. Nestes lugares eu não era nem mesmo um ponto na paisagem.

Lugares comuns, públicos e solenes que nos cospem sua funcionalidade, seus códigos e regulamentos de postura. Seus percursos são pré definidos e todos os passos já foram dados antes mesmo de nossa chegada.

A escola, o hospital, a cadeia, a repartição pública, a casa da família, etc. são todos espaços que nos conformam a suas atmosferas, que nos roubam qualquer sinal de autenticidade, qualquer suspiro de vivacidade.  

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

MENSAGEIRO DO CAOS

Não trago boas palavras de auto ajuda.
Não faço literatura.
Não gosto de religião.
Não prego o amor,
A paz e a felicidade entre os homens.
Não digo sabedorias,
Filosofias ou ciências.
Tudo é falso.
Tudo passa.
Nada nos define.
Eu me alimento daquilo que morre.

O GRANDE INCÊNDIO

Há fogo no jardim frontal.
O quintal já não é mais seguro.
Fiquem dentro de casa.
Evitem o mundo
Até a próxima primavera.
Esqueçam os sonhos,
A iminência do futuro.
Amanhã é sempre tarde demais.
O fogo consome tudo que somos,
Fomos e seremos.
Nada mais nos será familiar,
Reconhecível ou íntimo.
A casa desaparecerá no incêndio em curso.
Digam adeus as margaridas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O TRANSBORDAR DO MUNDO



Aprendo o meu lado de fora escapando a experiência interna do mundo.
Experimento a grande saúde de estar a margem de tudo.
Apenas me percebo imerso na pluralidade das coisas
Despido de signos e interpretações.

Não passo de um corpo perdido na paisagem
Onde tudo existe ao ar livre.
Existir, afinal, é estar sempre exposto.
Não há significado que nos abrigue,
Que nos oriente.
A experiência de viver nos transcende.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DESERTO SOCIAL



Os ecos do mundo me conformam a palavra.
Todo dizer é saber conformismos,
Reinventar arquivos.
Não sou mais do que uma função da realidade.
Ela nos inventa na medida em que a produzimos.
Não há saída.
É assim que tudo funciona:
Como um grande simulacro.
A autenticidade é o vazio,
O deserto despido de pensamentos.