SOBRE AS PESSOAS E AS COISAS

O que realmente modifica às pessoas, não são pensamentos, sentimentos ou conhecimentos....são vivências, experiências, que transcendem em muito o estreito conceito de experimentação. 

As pessoas não são racionais.... muito menos "o mundo" ou a  incerta "natureza" das coisas que em nós existem como projeção.

SOBRE A ARTE DE PENSAR

A arte de pensar deve produzir perguntas que não contenham em si mesmas uma resposta. É preciso subverter a lógica, desfigurar a verdade através dos jogos de linguagem. 

Boas perguntas ocupam uma vida inteira através do vazio de um vir a ser perpétuo. Assim, a aventura de pensar vale mais do que a tranquilidade de qualquer resposta. 

É por isso que a morte é a mais natural ocupação do pensamento.

REVELAÇÃO

Estou distante da ilusão da realidade,
Dentro do vazio através de simulacros.

O fantasma do pensamento assombra a consciência,
Mas algo de inumano me observa
Através do espelho.

Tudo de repente é tão longe
Quando sei que existe
Algo diferente
Do outro lado do instante.

DADAÍSMO E CONHECIMENTO

Desde Pitágoras odeio Filosofia analítica.

Também odeio os dinossauros desde os sapos.

Quem disse que precisamos de logicas?

Sócrates, Platão e Aristóteles,

Toda a História da Filosofia,

É um desperdício linguístico.

O Dadaísmo é o marco zero

De todo conhecimento possível!

O MITO DA VERDADE

A esmagadora maioria leva por demais a serio a realidade.

Acredita que tudo que é sensível e concreto é objetivo.

Chegam mesmo ao ponto de acreditar na supremacia da verdade,

No idealismo platônico banhado de materialismos contemporâneos.

A razão, esta sucessora do divino, assombra os cérebros famintos

Pela segurança dos fatos.

DEVIR POESIA

Poesia não é retórica,

Não é metáfora...

Não tem conceito.

É expressão que escapa

Ao habitual da linguagem,

Ao lugar comum da vida.

É multiplicidade, movimento...

É o que treme, o que range,

Dobra e quase quebra

A própria existência.

Poesia é o sem nome

Que transcende o poeta.

Acontece como devir,

Liberdade, jardim e vento.

RAZÃO E FANTASIA

A fantasia não é o contrário da realidade, mas o seu complemento, sua sombra,  onde o pensar se desdobra lucidamente em seu duplo. 

Em sua expressão mais espontânea, o pensamento pressupõe uma boa dose de fantasia. Por isso as artes são a mais autêntica expressão do pensamento. Uma música é capaz de nos dizer mais coisas sobre a existência e o mundo do que qualquer conceito. 

A razão nunca superou o mito como estratégia de codificação do real. Ela apenas foi convertida em uma meta física linguística. 

SABOREIE UM POUCO DE COR

Prove um pouco do sabor desta cor.

Também experimente sua textura,

Escute-a.

As cores parecem vivas,

Puro movimento.

Teu corpo percebe mais

Do que sua consciência.

A imaginação é a realidade

Levada as últimas consequências.

BANALIDADE

O que há de mais intenso na superfície do dia é justamente a inércia dos instantes, o não acontecer nada, além da banalidade de estar prostrado. A saciedade é uma experiência rara, instável, que raramente experimentamos. É a inquietude, o desassossego, nosso estado habitual da existência. Eis porque somos tão facilmente seduzidos pelo encanto de qualquer verdade que nos diga o mundo e nos estruture na ilusão de ser. Não suportamos nossa instabilidade ontológica. Pensar exige a embriaguez sem proposito dos sentidos, dos acontecimentos pequenos, através dos quais nos percebemos menores do que qualquer imagem de pensamento.

A MEDIOCRIDADE DO QUERER

O querer imposto e formatado pelas circunstancias, não traduz o irracional do desejo. É experiência pequena e artificial de uma carência construída. Falta-lhe o recheio suculento das imaginações, das fantasias e maquinações do absurdo e gratuito de um  acontecer infantil. 

Mas dentro de cada um de nós sempre persiste uma distancia entre o eu e o mundo, qualquer forma de desajuste, de busca.

Tudo que vivemos até hoje foi a ilusão da verdade e a prisão de abstratos conceitos que normatizam a experiência. Nada mais fácil do que um eu que se inventa como um outro do corpo.

A VIRTUDE DA IGNORÂNCIA

O desconhecimento e a ignorância são grandes virtudes. Afinal, são o que nos impedem de sucumbir ao entendimento como domínio abstrato de experiência de algum “enunciado-verdade” que pretenda reduzir o mundo aos seus termos. O não-saber ou o “estar a margem de” nos afasta do feitiço da convicção, da sedução  de um significado totalizante. Aquilo que nos escapa ao entendimento sempre nos defronta com a multiplicidade dos significados como uma espécie de lado de fora do entendimento, ou, ainda, um antídoto a toda forma de dogmatismo.

DA ARTE DE VER E PENSAR

Tudo é um modo de ver e pensar,

Uma imagem inacabada e mutável

Sempre reinventada pelo ângulo novo

Do olho que se move com o instante.

Tudo é o que parece,

Mas é sempre diferente

No visível ao olhar

Em múltiplas perspectivas.

Talvez o pensar anteceda o ver,

Ou a visão esclareça o sentir da razão

No sensualismo de saber.

O PENSAMENTO

O pensamento me atravessa.

Mas não me define

Mediante um eu que pensa,

Que esquece e erra,

Que se perde em suas ilusões

Enquanto o mundo acontece.

O pensamento é apenas lugar comum,

Despersonificação, multiplicidade

Que me ultrapassa,

Que me aliena em linguagem.

FUGA VIRTUAL

As possibilidades possíveis são utópicas.

Meus gestos materializam o impossível,

O imaginado contra o pensado,

Talvez  escapando para o passado,

Contra a aridez presente

Que desenha o deserto do futuro.

Linhas de evasões desviam minha atenção.

Adivinho fugas....

Quase desapareço.

TOPOXISTÊNCIA

Espaços abertos,

Imensidões sem fim

Onde desapareço como um inseto!

Não há mapa possível que me caiba nos olhos!

Apenas essa vastidão indomável,

Este ilegível material que me apaga!

Sei toda a filosofia de um grão de areia,

Sua indiferença a um mundo

Que de tão grande

Não lhe contem.

DES REALIDADE

Sou através desta caótica mistura de coisas, de espaços e tempos, que de um modo abstratamente concreto inventam a consciência; este etéreo campo de mistério que me permiti compor meu corpo no sentimento de tudo que existe a minha volta. Mas todos os fatos rasos que me definem a existência comum não cabem em qualquer enunciado. Posso mesmo dizer que a ilusão do pensamento é o que define a realidade e que em mim mesmo n]ao há realidade alguma.