FOGO E SILÊNCIO

Onde foge a palavra e a razão, 

escuto a imaginação 

de todas as radicais possibilidades

da existencia. 

Imagino tempestades,

caos, e abismos,

onde o fogo faz arder

o segredo do sem sentido da vida

na filosofia de Heráclito. 

VIDA TRÁGICA

vivendo sob o signo do desastre,

tenho sofrido pequenas catástrofes,

e resistido.

Talvez, eu sobreviva,

a próxima tempestade....

O ABISMO DA REALIDADE

 A realidade foge na frase,

no dizer que vomito

em cada palavra

que busca sentido

no ouvido do outro.

A realidade é o que em silêncio 

define meu corpo, meu tempo,

e o abismo eterno do meu silêncio. 

A realidade nunca cabe no ato,

na consciência , ou no gesto,

que traduz um afeto,

ou qualquer carência que me preenche como sentimento.

A realidade é inconsciente,

decifrado enígma que não  compreendo nos fatos

que decoram o dia e a rotina.

Ela é além do mundo,

em qualquer parte 

onde o ser escapa,

mad a nós se oferece

na sombra  dos sonhos

em dobras e desvios

de caos e loucura.

CORPO E VIDA

 

No beijo da pele e do vento

o corpo liberto

da prisão da alma

reinventa o dentro

no fora

da consciência do mundo.

A vida alucina e verdeja

entre os sinais fechados

da realidade de concreto e asfalto

e a respiração define o desejo.

Viver transcende o quarto,

a janela e a cidade

nas ciências da Terra e do espaço.

A MARCHA DOS CONFORMADOS

 

Todo dia agora é fim do mundo.

Contemplamos contentes

as vísceras da manhã semi morta.

O cotidiano cheira a ovo podre,

mas ninguém se importa.

Todos carregam flores.

Apesar, de tudo,

há muita esperança,

uma confiança quase infinita

no futuro de nossas catástrofes.

Seguimos conformados a realidade,

enquanto o céu desaba sobre nossas cabeças.

ROMPER O SILÊNCIO DA COMUNICAÇÃO

Romper o silêncio que nos conforma a rotina de rasa comunicação  midiática exige criatividade.

Tal esforço se confunde com o desafio de inventar palavras novas, de saber em tudo um sentir outro e imprevísivel, que nasce no corpo aberto a paisagem, inspirado por mil desassossegos e segredos.

 Inspira à ruptura um sentimento de mundo fundado no prazer do ato mudo de fazer, criar, a si mesmo, como espelho das coisas em composições e multiplicidades.

Produzir sentido é um artesanato da existencia, um calar-se ou um dizer sem palavras que nos reduz a coisa entre e através de coisas que seduzem a imaginação e acorda inéditas infâncias.

Romper o silêncio é redescobrir o mundo, tornar estranho o que nos parece demasiadamente familiar. É preciso desaprender, reapreender tudo que aprendemos a ser, dizer e  sentir, até saber na pele uma extra existência onde tudo se confunde como virtualidade e potência de um devir natureza.

Romper o silêncio, transfigurar todos os enunciados, é deseducar os sentidos, a consciência e o corpo. Afirmar a ignorância de uma sabedoria selvagem e instintiva que reduza o mundo a experiência do assombro e do sublime.

ENQUADRAMENTO

O enquadramento é a coincidência dos gestos,

dos sentimentos,das roupas,

dos pensamentos,

e da consciência,

que nos reduz ao lugar comum do humano.

É um ser outro mais do que si mesmo,

é existir junto na angústia de uma mesma época

através de diferentes mundos.

O enquadramento é a igualdade

que nos faz diversos,

como as personagens de um quadro de Juan Genovés Candel.

O DEUS DAS COISAS

Tento escapar do mundo

através do raso profundo sentir das coisas.

Mas sou eu próprio 

a verdade das coisas

na mentira de ser um eu

que cria a ilusão do mundo.

Quando é contra mim

que as coisas existem.

EDUCAÇÃO NOTURNA

Sabe-se melhor o mundo

com os olhos fechados, 

quando estamos despidos das evidências 

de um dia claro,

E provamos a intensidade

das noites mais densas.

É preciso tatear no escuro,

adivinhar o futuro,

como um território novo e incerto

onde revelam-se inúteis

os lugares comuns da experiência.

Criar o inédito

exige a astúcia dos cegos

na orquestração dos sentidos

através da virtude da ignorância. 

PALAVRAS PERIGOSAS

Use a palavra como uma faca,

como um instrumento de defesa pessoal.

Não se deixe enganar pelo pacifismo dos livros.

As palavras são as armas da imaginação,

um instrumento de agressão

a serviço da revolução. 

CONTRA TEORIA DO CONHECIMENTO

O objeto fez-se, pela sedução, sujeito,

Coisificando o observador,

subvertendo o entendimento,

desconstruindo consensos

e pondo em dúvida todo processo de conhecimento.

O olhar inventa o observador

tanto quanto o observado

no delirio coletivo de uma realidade partida.

Somos objetos de um mundo que nos pensa inconsciente de si mesmo.

FUTURO SUICIDA

Para onde foi o futuro?

Saiu derrepente,

em silêncio,

pela porta dos fundos do tempo,

ignorando o presente

e o passado que lhe faziam acenos.

Fugiu pela tangente,

com cara de preocupado,

sem deixar esposa ou filhos

depois que mirou-se no espelho.

JANELAS & PORTAS

As ruas estão fechadas ao futuro.

Mas há janelas e portas entre abertas

para o dia seguinte.

Que a inércia das coisas inertes

nunca provem o gosto

dos nossos pés alados.

Mesmo que nossa sorte

tenha a cara da morte...

VIDA SELVAGEM

Tenho a calma dos animais selvagens

que vagam livres pela paisagem,

mas guardo nos olhos a raiva das tempestades.

Sou bicho ferido,

não acredito em livre arbitrio.

Sigo movido pela lei do desejo,

como um corpo utópico e sem orgãos reinventado pela necessidade. 

Minha liberdade é a realidade do instinto,

a intuição do finito no movente da fome de precipícios.

EXPERIMENTAÇÃO

Onde a humanidade fracassa a natureza semeia ensaios de liberdade na intensidade da imanência. 

Viver é ser experimental, finito e banal na gratuidade das coisas que se discuidam.

Por isso brincar é um ato revolucionário .

REI MORTO

Descobri no mendigo o sembrante de um rei que renunciou a si mesmo

e se fez senhor do silêncio

descobrindo nas ruas

o labirinto de um castelo infinito.

O SOBREVIVENTE

O sobrevivente é aquele que grita, esperneia, morde, e resiste.

O sobrevivente reage, briga, e sabe que a vida não se negocia.

O sobrevivente é eticamente intransigente em sua necessidade de ser e permanecer gente.

TERRA SELVAGEM

Quero que a terra que me viu nascer,

seja sempre coberta de bicho e de mato,

indiferente a cidade podre de gente e modernidades.

 Minha terra cultiva a cidadania das árvores. 

Que não lhe firam

 bandeiras de Estados e Reis.

Que ela permaneça livre dos séculos e da história, 

um território selvagem e sem lei, 

por onde  passeiem  deuses antigos

e os mortos governam os vivos.

Quero que a terra que me viu nascer

preserve meu corpo inerte

no jardim das almas

onde os pássaros descansam do céu.

BICHO

Dentro de mim 

existe um bicho.

As vezes ele é anfíbio,

outras mamífero.

Mas sempre é mais humano

do que eu,

sendo radicalmente

apenas um bicho.

Afinal, é preciso ser profundamente bicho

para se inventar gente,

para descobrir em si

o inumano,

a natureza,

e a radicalidade do mundo.

PARADÓXO ATEMPORAL

Ainda não é tarde

para o anteontem.

Ainda é cedo 

para os primeiros dias

do mundo.

Pois o passado

ainda não  aconteceu,

Ainda não  o inventamos

no futuro.

Nada está consumado,

nada é definitivo.

Tudo é perpétuo

e inconcluso vir a ser.

É sempre de novo,

há sempre um outro,

 no quase acontecer

da consciência

que nos inventa o viver.

A VISÃO DO LONGE

Tenha visão para o distante,

para o inalcansável. 

Veja onde a vista foge,

onde o chão é incerto.

É preciso ter a astúcia dos cegos

para provar a visão do invisível. 

Pois todas as coisas fogem

na embriaguez das imagens

e imaterialidade do longe.

SOBRE A CONSCIÊNCIA

A consciência não é uma certeza imediata do pensamento,  uma afirmação do sujeito, mas uma duvida que se expressa através do anti natural da linguagem, da unilateral valoração da vigilia contra o sonho.

A consciência é uma experiência do corpo, que oscila entre a vigilia e o sonho na construção da realidade como afeto do mundo.

DICAS DE ESCREVIVÊNCIAS

Jamais confesso verdades.

Sempre invento a realidade,

vivendo intensamente a desconstrução do eu

nas desventuras das coisas no raso fundo da pele.

Passageiro de mim mesmo,

exteriorizo o em si

do mundo, dos outros,

no sopro de uma linguagem selvagem.

Dou voz as minhas ausências 

até alucinar a existência

como um animal doente de tempo. 

IMENSIDÕES

Há dias em que o céu 

parece sonhar no corpo

das núvens,

Fazendo a gente esquecer

do pesadelo do mundo.

Os olhos voam pelo firmamento,

adivinhando cenários absurdos,

retratos de deuses antigos,

além do tempo da terra

e das agonias dos homens.

Tal fantasia ganha vulto

na imaginação revoltosa dos abismos do mar,

conjulgando as três imensidões

em um delírio profundo.

na estranha lucudez

de um sonho diurno

revela-se, intensamente,

a insignificância do humano.

A INCERTEZA DE SER

Ser uma pedra,

uma árvore,

ou, simplesmente,

um canto de mato.

Ser qualquer coisa,

além de mim.

Até mesmo um pedaço de pão.

Não  cabe nisso nenhuma razão, 

nenhuma identidade,

ou dúvida sobre ser ou não ser.

O que importa é ir e vir  de si,

transitar entre as coisas,

saber a vida em movimento,

derrubando as paredes da realidade,

transcender os limites entre o corpo e as coisas,

atravessando o devir

sem o peso de qualquer verdade.

DISTOPIAS NO QUINTAL

Distopias passeiam pelo quintal.

Justo lá, onde enterramos os mortos, 

onde pisamos em futuros,

e nossa pele apodrece ao sol.

Amanhã  será um inferno.

Mas o fim dos nossos dias

não virará notícia

para as crianças semi mortas

da nova era da terra ignota.

ORDEM DO DIA

 

Torne-se o que não és.

Pois o ser é um eco,

uma miragem,

presente em todas

as coisas

como simulacro.

A aparência é essência

e constante mudança .

NOITE ENCANTADA

A noite é clara

quando o corpo sonha

inventando mundos

através do mundo

dilatando a realidade.

A imaginação acorda

quando a razão dorme

e velhos deuses passeiam

dentro de nós.

RENÚNCIA

Desistir hoje,

desistir sempre,

e tão profundamente,

que o mundo nunca seja o suficiente.

Fracassar  intensamente,

até ser livre de si, 

dos outros e da sociedade,

desvelando com radicalidade,

o inumano delírio de existir,

a vontade de tudo explodir,

de criar contra a obrigação insana de produzir e se fazer humano!

REVOLUÇÃO DOS BICHOS

Há de chegar o dia

no qual a humanidade, finalmente, regressará ao uivo.

Serão, então,  destruidos todos os consensos e entendimentos,

distituídos todos os poderes,

queimadas todas as razões e certezas,

até que ninguém mais se entenda,

que o mundo desabe sobre nós,

em um misto de caos e inocência,

conduzido por cães e gatos.

 

COSMOLOGIA DO CAOS

Mal cabemos nos dias,

mas nos iludimos

com as falsas certezas do pensamento,

ignoramos as descontinuidades das coisas,

os labirintos do instante,

a imensidão e vertigem,

da natureza em movimento,

dentro e fora de nós. 

Mas no transitório de nossa existência banal,

o mundo é sempre novidade,

aventuroso tédio de um acontecimento incerto

produzido por seus desdobramentos.

Os efeitos criam suas causas,

como os fatos produzem os atos,

em sincronias e paradoxos.

Nada sabemos da existência

em seus devires e metamorfoses

que embriagam a razão

nas transmutações do atemporal.

Como é relativo o Ser das coisas!

Nada tem essência. 

Tudo é borboleta!

Não importa a sua opinião. 

PALAVRAS SILÊNCIO

Tenho a  intuição de invisíveis palavras sem voz.

Sei que há algo indizível no dito

que escapa,

pois não descreve o mundo,

nem segue o pensar.

Não cabe no concebível

da ordem de todos os discursos.

Mas cria o não lugar

de  ditos

indigentes e vadios, 

que inventam afetos,

imagens,

e modos outros de existência.

Contra todas as gramáticas

que governam o mundo,

tais palavras silêncio 

escrevem mudas outras realidades.

Elas não representam coisas,

nem raciocínios ocos.

Elas não dizem nada.

Apenas passeiam

e sonham

reinventando a voz

enquanto um texto dorme na boca

escapando a toda identidade.

GATO ENIGMA

O gato não está contido na palavra gato.

O gato é algo mais que 

a  imagem viva em linguagem

que nos diz o gato como conceito.

Há um gato dentro do gato

que nos escapa como experiência

e nos torna o gato.

O gato não sabe a palavra gato,

mas sabe o som do seu nome.

O gato é um corpo fechado um seu próprio mundo

e desconhece o acontecimento de um  enunciado.

ENVELHECER

A velhice mata o ego

e refaz passados

envelhecendo futuros.

Tudo que importa

é saber o mundo

além da ilusão do humano

e, talvez,

tornar-se uma árvore.

UMA HORA O MUNDO VAI PARAR

Uma hora o mundo vai parar.

Não se sabe quando,

mas tudo irá transbordar,

congestionar,

A terra há de gritar,

nos despir da humanidade,

reinventar o animal, 

até que a natureza seja novamente possível. 

Uma hora o mundo vai parar.

CONTRA JUVENTUDE

 

Hoje são os jovens que governam um mundo envelhecido.

Em tempos de hiper tecnologia e capitalismo de catastrofe, eles andam mais caducos do que os nossos pais.

Não sabem que a época  se desfaz,

que o vento é mais forte do que a verdade,

que já é tarde demais,

que ainda seguimos em 1968,

contra atemporais miragens  distópicas.

Os jovens agora só pensam em dinheiro e sucesso.

INSANOS E LOUCOS

Há uma enorme distância entre a loucura e a insanidade. A loucura é evasão, desconstrução, incerteza do eu e do mundo. A insanidade é a embriaguez da verdade. Um delirio, uma afirmação radical do logos e do poder. Se esta última é uma indigestão racional, a primeira é uma contra razão. Os insanos são filhos da realidade como verdade, os loucos arautos da perplexidade. Enquanto os insanos buscam a ordem, os loucos tem sede de liberdade.

SEJA UM DESAJUSTADO

Vivemos ao sabor da sobrevivência possível, 

da miséria cotidiana da vida comum,

das obrigações vazias,

e valores duvidosos,

que nos sustentam em sociedade.

Diante de cenário tão deplorável,

só nos salva uma boa dose de caos, loucura, e liberdade.

VIDA, CULTURA, E ABSURDO

O absurdo é o traço mais saliente da cultura humana. Sua marca mais séria. Até quando misturado ao humor ou a  ironia do paradoxo, ela permanece profundamente séria.

Mesmo assim, pode despertar um riso descreto e nervoso em quem não se leva demasiadamente a sério, e percebe o caos como a raíz de toda expressão cultural.

Todo ato ou produção de cultura,  guarda um mal estar, uma inquietude, ou desespero quase inconsciente , diante do assombro que a vida provoca. A cultura é um artifício contra a banalidade e insignificância da existência. Ela nos transcende e ilude, tornando suportável a vida.

SONHO E METAFÍSICA

O sonho é mais importante do que a vida. Pois a consciência não passa de um delírio que adivinha o mundo como virtualidade e potência. 

Acredie: Tudo só é real quando não existe.

Tudo é fluxo, tensão entre forças.

Tudo muda,

Tudo é incerto além do bem e do mal.

A vida é imaginação, a mais convincente das ilusões.  Mas você ainda pensa e acha que é real. Mas o real não existe.

A verdade é apenas uma ilusão moral.

SEJA O RIO

Há muita filosofia no correr incessante das águas de um rio.

A natureza , em seus infinitos arranjos,

é pura metafísica sem transcendência,

onde nada é sagrado ou definitivamente legível .

É natural  sentir o rio fluindo,

pulsando nas veias como uma vontade ou necessidade...

Saber o correr e poder das águas   como o sangue no corpo, como um devir que se intensifica na iminência do imenso de um mar urgente e imprevisivel. 

Há mais realidade no rio do que no perecível arranjo de um corpo humano, de um dizer  afogado nas folhas de um tratado de filosofia, nos conceitos que não deságuam em intensidades de outras formas de vida, que não levam a um caos não verbal de gestos em convulsão.

Não leia.

Pule no rio. 

Seja na corrente

que leva embora.

FUGA E IMAGINAÇÃO

Fugir, evadir,

debandar,  

no bem sucedido esforço de implosão do mundo atual.

Mesmo que isso seja apenas

um delírio, 

um golpe de imaginação,

Sei que há outros mundos possiveis,

sempre acordando

dentro de nós.

Um dia eles serão visiveis. 

CAOS E MUDANÇA

A verdade é a prisão dos fracos,

dos que negam o caos como fundamento da vida,

dos que se apiquenam curvados

diante da duvidosa razão dos atos, embriagados de teleologias,

e recusam a aventura do abismo.

Só há liberdade onde impera a vertigem,

onde a incerteza e a indeterminação

tornam a mudança a condição elementar da existência .

NOTA SOBRE O FIM DO HOMEM

Nenhum ideal humano mererecerá  no futuro alguma afeição. Pois estamos próximos daqueles dias de terra firme onde o homem e sua razão será considerado, contra todos os juízos, o mais patético equivoco da tradição ocidental. 

 Um animal, afinal, nunca será mais que a natureza, jamais será imortal ou digno da vertigem do chão das estrelas.

Todo platonismo será superado, toda espiritualidade desfeita, no intenso devir do corpo.

Somos extensão, matéria, processo aleatório de misturas orgânicas e inorgânicas, formas sem alma de desejo.

O homem é um sono da consciência.

CONTRA A CIVILIZAÇÃO

Recuso o tédio dos assuntos humanos,

os sentimentos e consciência de humanidades,

para ser bicho.

Tudo que preciso é devir natureza,

sentir/saber  no irracional & selvagem,

para adminstrar o domesticado caos da existência.

Tudo que é civilizado é maldito!

Tudo que é natutal é livre!

DEFINIÇÃO DE ESTUDANTE

O estudande nada aprende.

Ele é, tão somente,

aquele que se ocupa do outro,

de todos os outros,

humanos e inumanos,

que habitam saberes e linguagens

na invenção do mundo

como processo.

Por definição,  um estudante,

é um explorador de possibilidades e horizontes.

Tudo para ele é estranho,

um território novo e incompleto.

Pois estudar é escutar, assuntar, as coisas,

Inventar com os olhos,

e pensar o pensamento que nos pensa,

recusando mimesis e receitas

no esforço de um esboço.

O estudante é um devir outro,

é quem se faz caminho de si mesmo

ao se perder para sempre da norma e da tradição na invenção do outro. 

DADALIBERDADE

“Dadá é a nossa intensidade: ergue as baionetas sem consequência a cabeça samatral do bebê alemão; Dadá é a vida sem pantufas e paralelas, que é por e contra a unidade e decididamente contra o futuro; sabemos de ciência certa que o nosso cérebro vai transformar-se em almofada confortável, que o nosso antidogmatismo é tão exclusivo como o funcionário, que não somos livres e gritamos liberdade; estrita necessidade sem disciplina e moral e cuspimos na humanidade.”

(trecho do “Manifesto do Senhor Antipirina”, de Tristan Tzara)

A liberdade é um ato de destruição/criação,

de bagunça universal e infância.

Ela é tempestade 

desastre,

Festa contra todas as ordens,

normas, regras e representações.

A liberdade é o que muitos evitam

apodrecendo enterrados em rebanhos,

Pois não sabem sobreviver ou prosperar

sem o voluntário julgo da podridão de qualquer relação de poder e dominação.

A liberdade é uma  saúde DADA,

 insubmisa,

uma festa dionisíaca

  apolínia ,

para dias quentes de primavera,

onde tudo é indeterminado processo,

 devir e consciência grávida de fecunda indecência contra toda escravidão. 

A QUEDA DO ROSTO

Meu rosto derreteu

sob o calor de um sol de meio dia.

Ficou ali perdido no asfalto.

Em seu lugar ficou um buraco,

um vazio cheio de melancolia.

Mas agora eu sei

que eu não era eu,

que ninguém é ninguém. 

A vida é uma estranha fantasia.

O SILÊNCIO COMO OBRA DE ARTE

Fazer do silêncio 

uma obra de arte

é o desafio Supremo. 

É o mesmo que parar o mundo,

para reinventar a vida,

e depois seguir em frente.

Todo o resto é tagarelice,

digna de esquecimento

ou da mais radical indiferença.

Afinal, vivemos todos

no anonimato,

em segredo,

e margem de todos os enunciados,

de todos os barulhos

do mundo.

O AMANHECER DA NOITE

 

São tempos em que a noite amanhece

e o efêmero define nossas urgências

e prioridades.

Tempos de sobrevivência,

de vida nua e crua,

onde não se pode sonhar,

e seguimos indiferentes,

sem grande inspiração para lutar.

Ha morte nos olhos

que contemplam mudos

o horizonte.

Há noites acordando

contra o futuro.

CONSCIÊNCIA CÓSMICA

Além do rosto,

da persona e do eu,

habita em mim um outro,

algo inumano

que grita no corpo

como um sintoma,

como uma afronta,

a civilização e a história.

Algo que me faz natureza,

potência e liberdade,

contra a moral e a norma,

que me reinventa criança,

animal e estrela,

no delirio de uma consciência cósmica.

VOCAÇÃO REBELDE

Nasci torto 

num dia infeliz de agosto.

Um sarcastico daimon socrático

disse ser meu caminho

a desventura dos loucos

E me fez viver solitário e feroz contra o mundo.

Por isso provei  inconformismos,

cuspi em leis e verdades,

cometi  desatinos,

 seguindo sempre maldito

até o último dia

do meu destino.

AUTORITARISMO

Onde a imaginação falta,

onde nada se inventa 

contra as diárias  certezas mofadas

da moral e da igreja,

onde a ordem é respeitada

e jamais questionada

por contra-verdades,

a realidade sufoca,

a palavra desorienta,

e a vida se torna doença.

Onde a mudança é impossivel

ou condenada

a portas fechadas,

estamos todos fadados

a qualquer precipício de rasa consciência a céu aberto.

VIRAMUNDO

O mundo tem gosto de sono

e sabor de sonho.

Nele, todo concreto é abstrato,

superfície e intensidade,

na vertigem de afetar e ser afetado

através de imagens que dançam

ao sabor do sopro das palavras

em movimentos musicais

cadenciados pela percursão do sentido e do não sentido

na arte do corpo vira mundo

e virá....

ELOGIO AO FOGO

As luzes da razão estão apagadas.

Jáz morta a beata vela do velho iluminismo.

Viva agora , em eterno retorno,

o roubo de Prometeu,

o fogo de Herácrito

no altar de Dionisio!

Há focos de incêndio

em todas as partes.

"Tudo que é fixo é ilusão."

A VIDA COMO INDETERMINAÇÃO E POTÊNCIA

Não veremos o futuro.

Pertencemos a um passado

que nos esmaga contra o presente.

Mas a vida persiste,

apesar de nós

sem saber o tempo.

A vida, afinal,

não é humana ou divina;

é natureza, imanência e transformação.

Ela não cabe em definições,

ciências ou valorações morais.

A vida é irredutível a palavra vida

que entre nós circula vazia

sem afetar consciências

ou inspirar grandes ações.

A vida não cabe em nossa existência

ou se resume a nossa sobrevivência.

PERIGO DE INCÊNDIO

Queima através de mim um desejo

contra a lei e ordem do absurdo das coisas,

contra todos os absolutos e abusos

em criativa  agonia insolúvel.

.

Sei que a vida é outra coisa

que nos arrancaram  no parto,

que ser no mundo  é um morrer sem morte,

 uma existência de morto vivo

e uma luta inutil contra a sorte.

Sou o finito de apenas um grito.

Mesmo assim arde em mim

a eternidade de um fogo definitivo, agressivo.

 Sei que respiro o futuro de um grande incêndio

contra o infinito das dores do mundo.

Um dia ele será visível.

POR UMA CONTRA HISTÓRIA DA NATUREZA

O Homem não passa de um animal fracassado e condenado pela natureza.

Mas a contra história da Natureza será o fim da História e dos delirios das civilizações que por séculos violaram a Terra.

DEVIR NATUREZA

No acontecer do corpo, o "eu" é tão absurdo como a idéia de deus.

A matéria existe em natureza,

como multipla nanifestação de si mesma

sem fronteiras entre o orgânico e o inorgânico.

A natureza não conhece a vida ou a morte,

ela é indiferente a si mesma em seu movimento, no totnar-se sem fim de todas as coisas em eterno retorno.

ALUCINADO JUÍZO

Hoje em dia tudo extrapola.

O amor,

o ódio,

a convicção,

a dor,

a ambição,

o saber,

o prazer e a alegria,

tudo é excesso e generalização.

Tudo alucina,

da vida à morte,

da festa à catastrofe,

do certo ao errado,

na mais absurda desmedida!

Ninguém mais tem bom senso!

COISA ENTRE COISAS

 

Reduzido aos atos cotidianos

e produção da vida como linguagem e  artifício,

Sou apenas um corpo que funciona,

algo que respira,

que come, que fala,

que morre como persona

na equivalência de todos os rostos e vazio de alma.

Tenho um nome 

que não diz minha vida,

que nada representa ou significa

no além do impessoal de qualquer identidade compartilhada.

Sou, simplesmente,

uma coisa que persiste

no meio das coisas,

um corpo que resiste

e provisoriamente sobrevive

na afirmação do nada.

ILUMINADA IGNORÂNCIA

O corpo transbordande

na intensidade das sensações

realiza o contra mundo do sonho.

A pele é  porta,

os olhos são mãos.

Agarre a realidade exposta

e a devore como um suculento

pedaço de carne crua.

Esqueça a cultura.

Liberte o animal.

Há uma sabedoria crua

na ignorância

que nos alimenta com a potência da selvageria futura.

O REAL

O real não é o atual,

não se confunde com o normal,

  ele é o virtual, 

como potência e qualidade do devir das coisas.

O real é relacional,

verdade inventada no jogo das sensações, 

representações é imaginações. 

O real é um ato sublime de criação, 

de transformação permanente 

de nós mesmos através das coisas.

O real é o dentro e o fora da porta.

POESIA INDIGENTE

Busco palavras que assustam

para ferir o tempo da angustia,

do injusto e do absurdo

que nos matam aos poucos

em silêncio. 

Quero palavras que gritem,

afirmando o limite das representações, 

o ridiculo das autoridades,

a caduquice das estéticas,

a decadência das gramáticas.

Abrigo em meu canto

a precariedade do dizer selvagem

de uma escrita  indigente.

Não frequento  banquetes no palácio da boa consciência e da transcendência. 

Sei a fome das ruas no beco sujo da iminência. 

A ORDEM DO CAOS

A ordem é a ilusão  do caos

que tudo move nas artimanhas da imaginação

Enquanto o mundo segue sempre de mal a pior

no jogo das oposições.

Não espere justiça,

progresso ou equilibrio.

O mundo não  faz sentido.

A natureza é uma batalha sem tregua ou regra

pela realização do possivel.

Mas o animal humano é filho da morte e do caos.

A desordem sempre será seu destino entre o passado e o futuro.

ARREPENDIMENTO

Sinto saudades dos sonhos

que nunca sonhei,

dos desafios que nunca abracei,

e do louco que não tive coragem de ser

diante do abismo das minhas madrugadas mais loucas.

Transgredi foi pouco

neste mundo te tanta injustiça e absurdos!

CONTRA OS ERUDITOS

 Jamais serei cúmplice da prepotência dos eruditos,

do pedantismo dos sábios

e da falsa superioridade dos moralistas.

Eles desprezam a vida

e são indígnos

da inteligência de qualquer criança.

No que depender de mim,

os esnobes do espírito

descursarão ao vazio.

A MISÉRIA DO CONHECIMENTO

Em tempos de hiper informação  todo saber tornou-se banal, inútil para vida, performático, instrumental ou, simplesmente, mercadoria a adornar personas no simulacro de um bom desempenho pessoal. É justamente quando se torna poder que o conhecimento se torna estéril, um dispositivo tacanho de assujeitamento.

Do que me servem os saberes todos do mundo quando minha existência é pequena,  ilegível e absurda diante de todo conhecimento?

QUASE FIM DO MUNDO

O mundo segue

cada vez mais injusto,

absurdo, e tosco.

Viver é dificil,

ser feliz impossivel,

nos tempos do virtual,

nova face perversa

do nosso circo social.

Esqueçam o futuro,

amanhã  nos espera

qualquer novo absurdo,

qualquer catástrofe 

inerente

ao progresso da emergência climatica.

Somos os filhos de um mundo morto

vivendo os últimos dias da humanidade.

SOBRE PODER E VERDADE

Todo mundo tem opinião.

Toda opinião  reivindica razão, 

certeza, paixão  e convicção. 

A verdade é uma questão de exclusão,

afirmação arbitraria do real

na ditadura do universal,

invenção do falso

contra a diferença,

contra o plural.

A vida não é algo dado,

é luta inconclusa entre vontades é imaginações

iredutivel a qualquer enunciado.

Todo mundo existe pelo poder de dizer a vida.

INCÊNDIO

A casa está em chamas.

Mesmo que ninguém perceba,

Tudo arde no fogo de nossas certezas.

Pisamos nas cinzas do futuro

caminhando entre as ruinas

de um defasado passado sempre presente.

A casa esta em chamas.

Não respiramos,

entre a iminência da morte

e o silêncio do esquecimento.

A casa esta em chamas

e desaba sobre nós 

com o peso de toda nossa conservadora ignorância

em lastimável  progresso.

MOVIMENTO ABERRANTE

 

Vi a chave engolindo a porta,

reinventando o espaço

na extensa intenção de uma linha reta.

Todos os lugares são iguais.

Nenhum canto de mundo

é melhor que o outro.

Cada chão esconde, afinal,

um segredo de abismo.

Pouco importa onde estou

ou para onde vou.

Neste exato momento milhares de ausência

sustentam a singularidade da minha presença

aqui e agora.

Mas a verdade é que não estou realmente em lugar algum.

O MUNDO

O mundo não  tem fim

ou começo.

É  um vazio cheio de tudo,

entropia e caos.

O mundo não  cabe na gente

E pouco sabemos do mundo.

Mas vivemos nele,

mesmo que no fundo,

não exista o mundo

no ponto cego de nossas vidas perdidas.

onde cada um é seu próprio mundo.

VIDA É CORPO!!

Vida é corpo!

Existir é imanência, 

acontecimento do eu e do outro,

dentro e por fora do mundo

na criação de sentido,

através de composições e encontros.

Vida não cabe na palavra vida. 

Vida é  corpo!

RAZÃO SELVAGEM

A morte de deus e o fim do homem

nos faz novamente indistinta natureza.

Toda historia humana nos conduziu a ausência de nós mesmos,

ao abismo ético e moral

dos limites do ser e do compreender.

Na natureza tudo é  estranhamento ,

deslumble e participação. 

Tudo é selvagem, 

além da forma e da norma

além da ilusão dos deuses e homens.

INUMANIDADE

Habita em mim o inumano,

o incomunicável, 

o irrepresentável,

o desassossego,

que revela o intenso

do tempo fora do tempo,

no provisório arranjo do corpo.

Há em mim um bicho

que brinca a natureza e o caos,

que não tem história,

e saber ler nas estrelas

o eterno retorno e o cosmos.

Minha alma é  um animal 

enterrado na intuição de um mundo novo,

material e intenso,

que em minha forma

anuncia o irrazoável

de uma vida outra e atual.

A ALQUIMIA DA ARTE

Os sentidos e a consciência 

transfigurados no corpo

são  a essência da arte

como um movimento aleatório 

do humano ao inumano.

A arte é o ato de criar corpos

através do corpo

até o infinito da transfiguração.

A Arte é fundamentalmente uma agonia alquimica,

um devir natureza.

A MENTIRA UNIVERSAL

Que ninguém  mais hoje em dia duvide disso: Toda verdade é  uma mentira que deu certo, uma ficção  bem sucedida.

Os críticos do relativismo não esperavam por isso: Em tempos de redes sociais a mentira é  universal no mistério  da retórica que devora e se nutre da própria  razão. 

O real de cada um é uma afinidade afetiva com certos enunciados, uma questão  de valor resistente ao tribunal de qualquer racionalismo regulador e normativo.

QUASE FIM DO MUNDO

Não importa o que eu pense,

o que diga, faça,

vomite ou replique nas malditas redes sociais,

Nada muda no mundo.

 

Tudo vira informação, registro,

dado e banalidade.

 

Não importa a angustia,

as mortes gratuitas,

o câncer inerente a todo poder

que nos amansa e oprime,

ou trabalho que nos degrada,

tudo segue no mesmo rumo.

apesar de todos os conflitos,

 o mundo não acabará em bombas atômicas,

nem  a emergência climática culminará

 em uma grande onda de extermínio e massa.

O definitivo e último amanhã da humanidade,

o grande eclipse da civilização branca ocidental,

há de chegar calado e sem anúncios,

repentino e fatal.

 

 

IRRACIONAL

Todos os meus problemas não  tem lógica.

Não podem ser resolvidos pela matematica, pela razão dos dados, e suas abstratas verdades de ordem e ilusão. 

Nada em mim leva a nada.

Não  faço sentido.

Sou aleatório e nego qualquer objetivo.

Tudo em mim é  embriaguez e delírio.

DIGA NÃO A CIVILIZAÇÃO

É  sempre tempo do NÃO!

Diga não a norma,

ao que chamam normal.

A vida é  uma coisa desconhecida

enterrada no fundo de nós.

Diga não ao poder e ao narcisismo ocidental.

Diga não ao humanismo,

a ilusão do eu e do outro.

Diga não a mentira nacional

E ao engodo da razão universal.

ALÉM DO HUMANO

Além da ordem que sabe o olho, 

a inteligência,  e a imaginação, 

o mundo é um abismo de cego movimento e mutações.

No fundo de tudo impera um caos ininteligível e selvagem.

É  o dominio do inumano, da crua natureza em sua imanência. 

A MISÉRIA DO CONFORMISMO

Toda autoridade é  cômica.

Todo rito de poder é  ridiculo.

Todo mando é  autoritário.

Toda ordem é  coercitiva,

castradora e elitista.

Mas, mesmo assim,

seguimos obedientes

e conformados,

em vergonhoso exercício 

de servidão voluntária

e desconcertante covardia.

A SOCIEDADE NOS FAZ FILHOS DA PUTA!

Em todas as partes não  vejo pessoas  honestas, mas mediocres escravos doentes do poder e do vazio da vaidade.

 Me deixa feliz vislumbrar o futuro de todos os justos e injustos na morte e no esquecimento.

Como poderiam animais tão hipicritas e anti naturais perpetuar o absurdo de si contra a natureza?

nenhum ser humano suporta a chama da honestidade....

todos são dispresiveis....

Viva Diogenes!

Longa vida aos Cínicos!!!

Foda-se a sociedade

e o absurdo da humanidade!!!

O CAOS E O MOMENTO

O caos é um bom travesseiro.

assim como o chão 

é a melhor das camas.

A vida pressupõe certo desconforto,

incerteza, e um pouco de angustia.

É isso que nos conduz de um instante ao outro

na composição do momento,

na contramão do tempo,

através da falta de sentido

de todas as coisas.

E a vida não  é em nós

nada mais que a efêmera

duração de um momento.

PEQUENO MANIFESTO DIONISÍACO

Contra todos os consensos,

dissensos, fé,  verdades,

certezas e absolutos,

bebo ao inspirador Dionisio

e ergo contra o vento

o estandarte

de um elefante cor de rosa

com guarda chuva roxo.

Desfilo o nonsense

contra os rebanhos,

contra os sedentarios partidarios

da moral e da ordem.

A todos ofereço aos gritos

a liberdade de um bom bucado de vinho!

A AGONIA DA FELICIDADE

A felicidade 

hoje parece

qualquer coisa semi morta ,

gritando lá fora,

depois da porta e do mundo,

como expressão metafisica

dos restos das minhas certezas

de infância e juventude perdida.

DESERTOR

Não  farei parte do futuro do mundo,

do ocaso da humanidade,

do espetáculo midiatico da informação e do consumo universal. 

Não serei mas uma consciência  perdida no deserto da vida possivel,

nos simulacros da pós realidade e do virtual.

Cabe aos mais jovens padecerem

nas paisagens de um amanhã impossivel.

A NOIVA DO CÉU

Dormia com o sol

todas as noites

para parir passarinhos

pela manhã.

O amor a liberdade

transformava sua realidade.

Sabia voar sem ter asas,

não estava presa aos limites

de qualquer verdade.

ESPAÇO LISO

Percorro errâncias na extensão do delirio.

O corpo é um segredo

aberto em desatinos

onde cada palavra nada no assignificante do intepestivo

onde a palavra é nada.

Emoções se debatem

contra a realidade.

O mundo onde respiro

ainda não existe

na presença unívoca

onde o tempo é espaço

e o que sei é ainda desconhecido

na carne do pensamento.

VIDAS PRECÁRIAS

No mundo de hoje

a vida  quase não cabe.

Há genocidas por todas as partes

vivendo da precariedade e banalidade

de nossa existência comum.

Somos todos descartáveis,

números exatos e rostos borrados,

numa tela infinita.

DEVANEIO NIILISTA

 Não há qualquer beleza num por do sol,

nenhuma razão no universo

ou sentido da vida.

Há apenas a ilusão e vaidade humana

inventando palavras e enunciados

com a convicção de uma criança.

A vida é apenas um ato lúdico de livre imaginação.

 

DEFINIÇÃO SUBVERSIVA DO POETA AMADOR

Ser poeta é  lutar contra a linguagem,

desafiar a moral, a tradição, 

o poder , o Estado,

a retórica e a vaidade

dos que veneram a boa escrita.

Todo verso livre é  prosa,

 um escarro de cotidiano 

contra o lirirismo, concretismos, parnasianismos,

e metáforas  dos letrados de boa índole.

todo poeta é  insurgente,

um cidadão da sarjeta

e aprendiz do fogo,do grito,

e do vinho,

no inventar para si insurgências, 

barricadas do desejo,

no respirar da liberdade

e da loucura das letras tortas.

Todo poeta é  corpo,

vidente , louco,

e coisa!!!

Todo poeta é um aprenduz da vida

no espanto da natureza 

no adivinhar de insurgências. 

DO ABSURDO DA VIDA

Aprendi a vida como um estado  domesticado de espanto e perplexidade.

Como posso ser eu

quando viver é ser nos outros

a ausência de todos?

O corpo é mundo,

mas o mundo não é o meu corpo.

Precuso saber a lua

como os lobos e os loucos.

A ARTE DO ESQUECIMENTO

Hoje existo para esquecer.

Esquecer tudo que aprendi,

vivi ou senti,

intorpecido por qualquer artimanha do pensamento.

Preciso esquecer o passado,

desaprender o futuro,

até  que tudo se faça imprevisivel.

Preciso reinventar o possivel,

ousar o inédito e o inpensável,

antes que tudo se acabe em rotinas.

DUSTOPIA E FINITUDE

Pegue uma bebida e esqueça o mundo.

Tudo sempre  vai mal.

Ninguém  sabe o futuro

no presente que nos rasga o tempo. 

Qualquer dia estarei morto

e o fundo do eu é  lodo,

lembrança que busca esquecimento

onde o amanhã  definha

sem  saber o silencio do meu rosto.

A NATURALIZAÇÃO DO TÉDIO UNIVERSAL

Não  são  apenas  as obrigações sociais que governam nossa existência vazia. O tédio  dita nossas rotinas, nosso cansaço e agonia.

Somos crias do nada e do desencanto de cada dia. Sabemos que viver não passa de trabalho inútil, destinado a indiferença e ao esquecimento.

Mas saber disso não  nos leva a outros modos de vida. Naturarizamos o tédio, nossa descreta agonia.

TEMPOS DE MEDO

O MEDO é  hoje o grande acontecinento.

Temos medo do ontem,

do hoje e do amanhã. 

Temos MEDO de respirar,

de viver e de morrer.

MEDO de sentir, de querer, 

ser feliz ou sofrer.

Temos MEDO vencer ou

perder.

Temos MEDO de acordar,

dormir,

lembrar e esquecer. 

O MEDO está dentro de nós 

e em todas as partes.

Mas,talvez, qualquer hora,

algum desespero nos salve do MEDO,

E qualquer desatino nos acorde a coragem.

CINISMO

O animal é  meu espelho.

Meu semelhante em natureza.

Desprezo os valores humanos

e caminho entre os lobos.

Viver é para mim

Comer, beber e cagar.

Saber o céu e a terra

protegido da chuva e do frio.

Tudo mais não me importa

na cela da razão e da civilização. 

A PELE

A pele revela as coisas,

a materialidade nua de uma realidade concreta e banal.

Inventa um mundo mudo,

vivo em um turbilhão de sensações.

Nenhuma mancha de significação estraga a paisagem.

Tudo é  transparente no jogo das afetações.

A pele sabe um mundo de formas e superfícies.

DA CONTEMPORÂNEIDADE DO PRIVITIVISMO ANTI OCIDENTAL

Na contramão  do progresso,

arrancamos o futuro da contemporaneidade do arcaico,

destruimos os sonhos de desenvolvimento infinto,

e duvidamos das belas letras,

dos artigos cientificos

e do consumismo futurista.

Condenamos,

através  da simplicidade de nossa existência

qualquer panacéia tecnologica

pós industrialista.

Nosso tempo escapa as épocas,

é  feito de necessidades e sobrevivências.

Nunca fomos ocidentais ou modernos.

Mas filhos da terra  e do vento

re-existindo contra a razão  e a história. 

O SUBVERSIVO DO SONHO

As vezes,

a fantasia de um sonho

é mais intensa 

do que a concretude da vida cotidiana.

E a existência 

se mostra  tão  fragil

que a própria realidade

parece fugir do corpo num desassossego,

numa embriaguez que nos acorda em imante vertigem,

em desejo de impossivel,

que não  cabe no sentir da gente .

NÃO PENSE

Qualquer interpretação  racional do mundo é obscenidade,

Toda valoração da vida

não  passa de insanidade.

Viver é  ser mundo,

mendigo de natureza,

através  do inumano do corpo e das coisas.

A MISÉRIA DA LEI

A ordem nos forma

e nos conforma.

É alma do corpo

que aprisiona mundos.

O poder é seu rosto.

A lei sua roupa.

Somos apenas seus espelhos quebrados,

seus cacos espalhados

pelo caos e o tempo

na marcha viva das distopias

de um futuro sem alma.

CONTEMPORÂNEIDADE

Nossos corpos semi mortos,

enterrados na cidade enferma,

contemplam a falência do progresso,

o fim dos tempos históricos,

e do  velho Ocidente das verdades de jornal.

A rua agora é bidimensional,

É parte da tela e do virtual,

no faz de conta da razão pós moderna.

Os conservadores de qualquer ordem das coisas

Revivem o fim do Império Romano,

enquanto os filhos da precariedade respiram os ventos

da nova barbárie. 

Futuros ardem em chamas 

a margem dos desertos dos anos seguintes.

Mas nossos corpos semi mortos 

sabem apenas o presente da agonia urbana,

onde não  é  mais possivel habitar o tempo e o mundo.

FLORES PARA BAUDELAIRE

Faz alguns anos 

que leio Baudelaire 

enterrado no lado turvo da cidade,

embriagado de haxixe e vinho,

ignorando as passantes, os amantes e o porto.

Sonho Satan coroado,

soberano e trimegisto nas encruzilhadas,

ouvindo Thanhauser em Paris.

A alma das coisas

alimenta meu olhar delirante,

minha maldição e meu segredo.

Minha poesia é  suja

e fede como o mundo atual.

Meus versos

são tristes  flores do mal.

AFORISMO CONTRA A VERDADE

Existem muitas formas de falar para não dizer nada, mas confirmar aos ouvidos dos surdos as mudas razões  de suas verdades.

POEMA PUNK EXISTENCIALISTA

já não  me basta

diante do absurdo do mundo

contrapor  qualquer forma de desobediência civil.

Reivindico agora

a condição de insubordinação mental,

de resistência  existêncial,

aparentada a loucura , ao paradoxo,

e ao desregramento mais radical.

Quero o direito de não  fazer sentido,

de ser maldito,

de não  contribuir para o futuro

e abominar todo ideal social.

CONTRA TODA ESPERANÇA

Nos resta agora

vomitar a vida nas coisas mortas

e estáticas que afirmam a ordem.

Criar novas éticas e estéticas

de liberdade,

fazer a tradição arder em chamas,

ser a potência dos afetos e do corpo,

na festa de outros modos de vida

que nos atualizam o tempo de agora da embriaguez.

Só nos resta o grito e o ato do mais sublime desespero

contra a passividade e conformismo 

que nos oferece a esperança. 

Sorria: o futuro está morto!

QUASE UTOPIA

Na imaginação selvagem

da  terra nua

de um país sem nome

Inventarei tempestades,

lutas e festas,com toda a intensidade, 

de um céu  rasgado em guerras.

 Todas as mazelas da vida serão  desafiadas,

todas as injustiças denunciadas,

nenhum poder merecerá respeito.

Nada será como antes

nas ruas e praças deste lugar sem rosto

onde  um povo espera

inventar sua propria realidade

em radical liberdade.

HADES

Ir ao fundo do fundo

do mais profundo de si.

Cavar um buraco na consciência,

descer do corpo e dos sentidos,

até  a infância  da percepção

que antecede o pensamento.

Ser na escuridão uma orda primitiva

em estado de total confusão.

Descobrir o pânico do primeiro animal.

Tocar o caos, 

o ilegivel e inexpressivel da existência  nua

onde é impossivel ser.

PALAVRA CEGA

A palavra cega e nervosa

quer gritar a existência. 

Tenta dizer o sangue,

a carne,

o afeto e o suor.

Ela inventa a alma das coisas,

as intensidades,

onde só cabe o silêncio,

tateando no escuro do pensamento,

enquanto a gente vê 

tudo que não  enxerga.

MÃO DE OBRA

Não  serei o último,

nem o primeiro.

Nem vencedor,

nem vencido.

Estou vestido de ninguém 

em um mundo de bem sucedidos

e derrorados

que justificam qualquer tolo objetivo existencial auto imposto.

Não  me queiram util ou inútil 

em um mundo de descartaveis,

de aparencia e consumo,

onde ninguém mais vale

a letra do próprio  currículo.

PICHAÇÃO

Seguimos em frente 

violando o espaço  em branco 

com palavras de abismo e fogo.

Nosso dizer não  representa, 

não  busca a realidade,

como máscara da ficção de qualquer verdade.

Exibimos palavras nuas e indecentes,

inocentes,

livres do rigor de toda ordem discursiva.

Seguimos em frente sem qualquer pudor.

Pois nada vai bem

desde o principio dos tempos.

lutamos contra palavras armadas,

bem vestidas e engomadas, 

que vivem da sorte das boas letras e dos engodos juridicos e politicos.

Nosso poema é  desenhado no muro dos fatos

como um desafiafor protesto.

Somos os muros pichados pela vontade livre.

DEUS ESTA MORTO!!

"Não ouvimos o barulho dos coveiros a enterrar Deus? Não sentimos o cheiro da putrefação divina? - também os deuses apodrecem! Deus está morto! Deus continua morto! E nós o matamos! Como nos consolar, a nós, assassinos entre os assassinos? O mais forte e o mais sagrado que o mundo até então possuía sangrou inteiro sob os nossos punhais - quem nos limpará desse sangue?" (NIETZSCHE, Gaia Ciência, § 125)

A criatura que mata o criador supera a si mesma, torna-se mundo, demiurgo, produtor e instrumento da vida,  regressa a natureza, a existência e a morte, ao caos e a ordem, no jogo incessante dos opostos e do multiplo em devir.

A criatura desaparece no inumamo uma vez dissipada a ilusão  de um mundo verdade. A vida se faz tempetade e aprendemos a acontecer na intempestividade do relâmpago.

SERVIDÃO

servidão é obedecer,

aceitar contra o próprio querer

as razões da autoridade,

das identidades, 

moral e verdades 

que diariamente

nos fazem lentamente morrer.

servidão não é  apenas 

a ignorância da liberdade,

é  uma ciência do conformismo 

do medo e da tradição .

É  desconhecer a si mesmo

no desprezivel oficío de viver

para sobreviver.

É  não  imaganar horizontes

além  das grades da propria prisão. 

METAS METAFÍSICAS

 

Reinventar a voz,

o corpo e a imaginação

até que o mundo se torne outro

no olhar e sentir das coisas.

Extrapolar os fonemas,

os gestos.

Explore as texturas do grito,

a pele das cores.

Acontecer como uma outra coisa

muito mais que humana

entre o reino animal e vegetal.

Ser plenamente o ambiente

interno e externo.

TEMPO DE PESTE

 

Em tempos de peste

não há lucidez.

Toda razão é loucura.

A vida não é mais administrável

e toda rotina é morta.

Tudo que importa é a sobrevivência

quando nada mais será

como sempre foi

apesar de toda insistência

em formas de existência

que já não contemplam mais

nossa falta de realidade

CONTROLE

O controle  é  algo que nos atravessa,

que nos comunica em acordos de mútua sobrevivência.

 

Ele nos limita e faz produzir a vida

a sua imagem e semelhança.

 

Ele nos torna prisioneiros do certo e do errado,

da busca de um mundo verdade

onde tudo não  passa de simulacro.

 

O controle pressupõe sua própria recusa,

a subversão como estratégia de dominação. 

 

Ele é o poder que se faz em nós 

através  da prisão do ser e do sentir

nas grades de todo e  qualquer auto controle.