quinta-feira, 31 de março de 2016

SEXO MAL FEITO

Ela me fez vomitar toda a minha auto estima
e vaidade.
Bastou meia hora de sexo
para descobrir o inferno através dos  seus olhos.
Ela não era do tipo
que suportava uma boa conversa,
 não era sincera
e nada tinha a oferecer
além daquele sexo  mal feito,
daquele prazer imperfeito
que não estava a altura
do mais ordinário desejo.

Ela era apenas silêncio...

UMA RUIVA

Após vencer uma garrafa de uísque
e tomar banho de sonho,
comi a rua, a lua
e aquela ruiva
que me embaralhou os sentidos.
a felicidade simulará sempre a loucura
enquanto a existência se render
ao tedio e ao banal.
Todo o sentido da vida
agora se resumia

no sexo com aquela ruiva.

terça-feira, 29 de março de 2016

A PRISÃO DA MODERNIDADE

O  moderno se tornou a tradição mais perversa de todas, pois nos impôs  o sempre igual como a única novidade ainda possível. 

Não podemos ser transgressores como antigamente e, entretanto, não vivemos em um mundo esteticamente melhor ou no qual nossos vazios e inquietações tenham perdido o sentido. Apenas não somos mais capazes de re-apresentar o mundo através de qualquer nova  estética de existência.



segunda-feira, 28 de março de 2016

SOB O SIGNO DO DESEJO

No reino do desejo
nossos corpos se encontram
dentro da escuridão do quarto.
Já não importa
quem  nós somos lá fora.
Aqui dentro a lei é o desejo.
O hoje e o gozo
definem a norma.
Não temos pudores,
limites ou decências . T
Tudo será permitido
durante o reinado da noite
e das sombras.


segunda-feira, 21 de março de 2016

SOBRE MEUS MEDOS

Tenho uma predisposição inconsciente ao medo. 
O mundo me desperta  qualquer difuso sentimento de catástrofe e de absurdo que parece configurar a própria vida cotidiana.
 O acontecer coletivo é definido pelos apetites individuais em constante luta contra os imperativos culturais. As pessoas andam cada vez mais famintas de vida  contra a própria existência. É difícil prever do que são capazes em tal estado de inanição.

sexta-feira, 18 de março de 2016

INFERNO E SOCIABILIDADE

Cada  um deve enfrentar o seu próprio inferno,
deixar sangrar suas ansiedades, desejos e frustrações
enquanto se debate inutilmente contra a realidade.
É preciso que o sofrimento se torne um grande espetáculo,
algo a ser compartilhado por todos.
Apenas o sofrimento nos torna iguais.
Somente os desesperados ainda são capazes
de autênticos gestos de solidariedade.


segunda-feira, 14 de março de 2016

O EU DOS SONHOS

Do ponde de vista do eu dos sonhos
cada um de nós não passa de um delírio.
O existir não cabe em nosso acontecer confuso,
vago e sem propósito.
Assim me dizia o eu dos sonhos.

Tentava não ouvi-lo.
Mas a verdade é que o mundo
ainda não aconteceu
e a realidade era apenas
um tipo de pesadelo

do qual não se acorda.

quinta-feira, 10 de março de 2016

FÉRIAS EXISTÊNCIAS

Preciso esquecer um pouco de mim,
provar o exílio do nada
e o vazio das coisas
em qualquer canto de não sentido.
Preciso me lavar no onírico,
apagar o tempo e o dia
em algum estado desconhecido de ser e estar

em avessos do mundo.

AGONIA

O chão é como um céu
quando os pés descobrem
o abismo.
O sono escreve o sonho
e a incerteza inventa vertigens.
Queime a realidade no fogo das imaginações.
Não se iluda com o futuro.
Todo o tempo do mundo

está na agonia do agora.

quarta-feira, 9 de março de 2016

CONTRA A REALIDADE!

A tarefa da ficção deve ser desacreditar o real e impor a fantasia  como uma condição mais autentica de existência. A evasão deve ser considerada uma estratégia  de sobrevivência, como o ultimo refúgio da consciência humana diante da constatação de que todo ideal de sociedade. Mas, vale lembrar,  toda  utopia não passa de uma falácia perigosa contra a má vontade dos fatos e os absurdos da realidade. Mas não propõe outra coisa além de uma realidade ideal e corrigida. A fantasia , em sua selvageria irracional, ao contrario, encontra apenas no prazer hedonista sua meta. Ninguém mais é capaz de suportar o real. Precisamos escapar dele sem as amarras de qualquer ideal.


terça-feira, 8 de março de 2016

DISCURSO CONTRA OS LACAIOS DA MORAL VIGENTE

Contra os tratados de teologia é preciso que se diga de uma vez por todas que a imprudência é uma grande virtude.  A vontade apaixonada e ousada é o que nos conduz a novidade, ao sopro fresco de situações inéditas contra as inercias vitais. Dedico-me a busca irrestrita do meu prazer mais intimo e pouco me importo com as obrigações coletivas que procuram me  jogar nas costas o rebanho dos lacaios do comportamento comedido e obediente.

Contra estas  caricatas criaturinhas inúteis embriagadas por falsas morais, afirmo acima de tudo o compromisso com meu próprio juízo e a lucidez da minha vontade.  Não preciso de suas falácias sobre verdades ou balelas universais. Sou um espirito livre. Tomo as rédeas da minha existência e penso e vivo como bem entendo.  Todo indivíduo só é digno de si mesmo quando leva as ultimas consequências sua condição de ser humano livre e capaz de criar e reinventar a si mesmo em pleno estado de liberdade.



segunda-feira, 7 de março de 2016

DO MEDO AO MEDO

Nossas ansiedades tendem a se converter em insegurança e medo. Percebemos o perigo como um sentimento difuso de insegurança, algo que não corresponde necessariamente a  um risco real sob o qual nos encontramos em determinada circunstância. Assim, o medo é mais do que um mecanismo de defesa, mas um fantasma que nos leva a redimensionar e fantasiar situações e sentimentos. Podemos viver em dois mundos: um primeiro definido pelos fatos e um segundo definido por nossa insegurança, pelo nosso sentimento de desabrigo. Mais preocupante é quando, em resposta ao medo, nos amontoarmos em algum acordo coletivo de identidade artificialmente construída. O medo gera medo, e o medo que leva ao medo conduz ao caos...



sexta-feira, 4 de março de 2016

A ANGUSTIA E O VERSO

Gosto de palavras tortas
e versos insanos.
Pois tenho por meta o absurdo,
o uivo.
Não digo o que sinto.
Eu grito,
deliro.
Mas acreditem:
Estou farto de tudo isso.
Do outro lado de mim
mora um futuro que chora
entre vontades apavoradas.

O resto é angustia.

quinta-feira, 3 de março de 2016

ADEUS RAZÃO


Deu em nada este dia.
A noite enfeitou o vazio,
o tédio e o impasse
de um existir  sem nervo,
sem vontade.
Tudo é sempre quase...
Pouco me diz a realidade.
Adeus sonhos,

adeus razão.

quarta-feira, 2 de março de 2016

EU E O TEMPO

Caso eu fosse o outro do meu passado
faria perder meu  futuro
no eventual descaminho do delírio de um porvir.
Quem disse que eu seria?
Que eu poderia?
Nada depende do meu querer.
Sou pouco, nada e talvez
neste inútil esforço  de seguir
em frente,
de desdizer todas as coisas

contra as razões cotidianas.

terça-feira, 1 de março de 2016

BIFE ACEBOLADO

Quero o sabor de um bife acebolado
contra a metafisica da hora do almoço.
É simples:
o mundo inteiro é o bife no prato.
Todo o resto abstração vazia
de fatos desencontrados.
Apenas o bife existe
e nada farei depois do almoço.
Sei que o tempo esta morto.

MUITO ALÉM DA RELIGIÃO

A religiosidade representa uma simplificação do universo  em termos demasiadamente humanos, pois o reduz a significações teleológicas e propósitos que pressupõem a primazia do humano e de uma intencionalidade metafisica e abstrata na natureza. Deste ponto de vista, nossa cultura contemporânea, profundamente formatada pela tecnologia e por representações de mundo cada  vez mais complexas, representa “um desvio”, um desafio a qualquer imagem teológica de mundo que,  coerentemente, toma como premissa uma visão teocêntrica de mundo.

O universo, em sua complexidade, contrariando a tradição, é indiferente ao fenômeno humano. A própria vida não passa de um acidente sem  qualquer sentido. Toda nossa vaidade, sustentada por mitos e mais mitos sobre a origem de todas as coisas, mostram-se cada vez mais risíveis.

Já não precisamos da ideia de deus ou deuses para imaginar o universo.