sexta-feira, 31 de maio de 2019

O DESEJO




O desejo é urgente,
Ativo e insurgente.
Ele não tem rosto,
Não é pessoal.
Não opina ou argumenta.
Apenas persiste em estrondoso silêncio.

O desejo é fato, ato e movimento.
Agenciamento coletivo e abstrato.
Engendrado pela arte que nasce das  afecções.

O desejo é aquilo que nos inventa
Reinventando mundos e consciências
No deslumbramento do caos.

quinta-feira, 30 de maio de 2019

DA CIVILIZAÇÃO A NATUREZA


O retorno do humano ao animal,
do corpo a natureza,
Define novas texturas, sabores,
Imaginações, saberes e potencias.
Provoca uma verdadeira vertigem de experiências.

A vida escapa a civilização.
É imersão na paisagem.
É Silêncio,
Uma aventura bruta,
Que escapa a palavra.
O inumano é o passado
Que nos aguarda no futuro.
Já estamos fartos da humanidade!

terça-feira, 28 de maio de 2019

RISO LOUCO



O riso louco e gratuito diante do absurdo do simples cotidiano é tudo que temos. Ele é nossa expressão elementar de resistência contra a normalidade da ordem miserável das coisas.
Segue a sociedade contra a existência. Mas nós permanecemos ombro a ombro com os loucos. Eles não produzem sentido, atentam contra a linguagem.

Estamos despostos ao nada, a indeterminação ontológica.
Não somos capazes de viver sobre a linha da razão de Estado.



quinta-feira, 23 de maio de 2019

O NIILISTA

O niilista é aquele que sabe que o tempo já não define os dias,

Que convicções e valores não sustentam mais nossas gramáticas de mundo, que nenhum discurso seduz consciências para ilusão de uma  verdade inequívoca.



Não há mais qualquer distinção entre o verdadeiro e o falso quando a pluralidade define a possibilidade do discurso. Tudo é uma questão de perspectiva. 



Mas como é vã a pretensão dos discursos de reduzir a realidade ao pueril exercício de um enunciado.Nada mais ingênuo do que a aposta na sabedoria em um tempo em que desconfiamos de tudo que é humano. 



O conhecimento é apenas uma ilusão, um artifício para lidar com o absurdo que define nossa miserável existência. No que diz respeito ao trato da vida (corpo e ambiência que nos define como presença)  estamos ainda engatinhando.

quarta-feira, 22 de maio de 2019

O INUMANO DA HUMANIDADE

O  adjetivo inumano é normalmente utilizado como sinônimo de insensibilidade ou crueldade. Remete a falta de empatia e afeto. Revela mais um preconceito ou idealização do que é o humano do que propriamente esclarece a inumadidade.


O não humano ou inumano, entretanto, é a própria natureza. É a existência em sua diversidade de formas, é a nudez do mundo sem as representações humanas. Quanto a crueldade e insensibilidade atribuída ao não humano, ela é ironicamente humana, demasiadamente humana.... 

A SABEDORIA DAS PEDRAS

Há um niilismo noturno
Que torna o sonho uma anti realidade,
Uma experiência contra a verdade,
Avessa a tudo que é claro e diurno.
Na contra mão da psicanálise,
Ele considera o sono mais importa do que qualquer estado de consciência,
Elevando  a arte acima de toda ciência.


É um niilismo de preguiças e inercias,
Uma desvalorização tão profunda da vontade humana,
Que  elege como ideal de existência o silêncio das pedras.


Tudo desaparece e se perde.
Tudo é sono, ilusão e sonho.
Deixem a noite dizer o inorgânico,
A paz das rochas, pedras e lascas.

terça-feira, 21 de maio de 2019

ANATOMIA DA MUDANÇA

O que é a mudança a não ser uma anomalia contra a ilusão de progresso?


Evolução se tornou uma palavra conservadora. Serve hoje às transformações previsíveis e controladas que perpetuam a ordem e a novidade do mesmo.

A mudança acontece a partir do que é marginal, desprezado e condenado. A mudança começa através daquilo que é despido de qualquer valor.

sexta-feira, 17 de maio de 2019

FILOSOFIA DE MERGULHO ( OU CRITICA RADICAL DO TEMPO PRESENTE)


Uma busca fugaz se faz através de nós.

Uma busca que recusa a teleologia de um sentido univoco, que na vertigem do plural se desfaz nos corredores de um novo labirinto.

É uma busca que não é procura. Trata-se de um mergulho, de ir em direção do desconhecido, do caos e do incerto.

Inquietos seguimos a deriva ao encontro do inédito.
Somos inspirados pelo intempestivo, movidos pelo devir, orientados pelo por vir.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

A MORTE DO HOMEM ( DE NIETZSCHE A FOUCAULT)

O homem não é mais a medida de todas as coisas, como pretendido pelos modernos. Ele agora é apenas um vulto, uma sombra de si mesmo. 

Cansado de si,  ele sucumbe ao seu próprio peso, se afoga em  silêncio no oceano do caos, da indeterminação, de um mundo em agonia. Um mundo que é o segundo corpo do homem.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

A FARSA DA IDENTIDADE


Não cometo o erro de me levar a serio.
Sei que não passo de uma casca oca,
De um simulacro de mim mesmo.

A existência está na linguagem 
Como um jogo do eu e do outro.

Mas toda filosofia ainda possível,
Escapa ao tédio da babel dos livros,
dos tantos tratados do saber formal.

Viver é um ato filosófico contra todas as filosofias.

segunda-feira, 13 de maio de 2019

PONTO DE RUPTURA


Há um ponto necessário a ser atingido.
Pode ser o instante de um grito,
Ou de um sufocante ataque de riso.
Falo de um instante de existência
Onde tudo é suspense.
Onde nada acontece
Enquanto a vida segue.
Um momento onde o eu não existe,
Onde o silêncio dança
E a loucura canta.
É um ponto de desequilíbrio,
De desaparecimento de si,
Onde não há verdade ou esperança.
É quando tudo se reinventa
Na ausência de convicções
E embriaguez das certeza.
É preciso sempre atingir este ponto
Onde o desespero nos ensina o absurdo de algo novo.

domingo, 12 de maio de 2019

A MÚSICA MISTERIOSA

De algum modo silencioso, o mundo inteiro canta. Apenas não temos ouvidos para escuta-lo e não podemos dançar a música estranha que anima a natureza. A cultura fez de nós animais surdos e tagarelas. Que triste desperdício de existência nós nos tornamos!

sexta-feira, 10 de maio de 2019

O CAMINHO


 um caminho
onde as pedras falam
e a imaginação caminha.
Ele é frequentado por loucos e alguns artistas.

Ninguém sabe onde começa,
nem onde leva.
Mas quem o percorre o faz com grande alegria.

É apenas um caminho...
mas nele cabem mil direções.
Ninguém sabe onde termina.
Todos que o percorrem se tornam o próprio caminho...






O RETORNO DO MITO

Grito dentro de um sonho.
Grito de horror
Perante a realidade que inventaram.

Grito contra todo juízo
Que aprisiona nossas imaginações.

Grito minha fome de delírio!

Grito até mesmo dentro de um sorriso!

Sei que um dia redescobriremos o mito
Contra os absurdos da razão.

terça-feira, 7 de maio de 2019

AGRESSIVIDADE LITERÁRIA


A autonomia dos enunciados
Faz da linguagem um jogo de esconde- esconde
Entre o dizível e o pensado.
Mas o que pode, afinal, ser expresso?
A imaginação é a condição da expressão.
Pois a transgressão da norma define a função de escritor.
O propósito do escrito é sempre ir além do dito.
Ele é  um ato de agressão.

sábado, 4 de maio de 2019

A VIDA QUE NOS INVENTA

Criamos a vida que nos inventa através de cada ato de imaginação e sentimento. Transformamos o faro em acontecimento na medida em que somos movido pela  indeterminação do desejo.

Não há razão. A existência é o devir do caos. Neste exato momento tudo pode acontecer, tudo é viver, se perder no devir das coisas. Não há controle. Só movimento. 
Criamos a vida que nos inventa, mas ninguém tem controle.

quinta-feira, 2 de maio de 2019

A ESCRITA COMO EXERCÍCIO FÍSICO



É preciso dizer as coisas como quem come,
Anda, ou escuta musica.

É preciso escrever afetos, agenciamentos e experiências.
As ideias devem ser pintadas, construídas com a cor e com o cheiro da experiência de uma imagem viva e concreta.

É preciso que o texto extrapole o signo, o risco abstrato do significado.
É preciso escrever com a simplicidade e imaginação de uma criança.

Não se pode muito diante do branco da folha.
Qualquer texto é sempre o rascunho de uma narrativa impossível.
Por isso é necessário fazer com que a escrita transcenda o texto.

Escrever é subverter convenções, inventar realidades.
Toda escrita é ficção, ação,
Atividade física!

O OBSCURANTISMO DA VERDADE


Há sempre respostas.
Mesmo quando nenhuma indagação foi feita.

A razão nos impõe o esclarecimento,
A verdade e a certeza
Como um exercício permanente de linguagem.

Discernimento leva a segurança
Que, por sua vez, inventa poder.

Somos constantemente ofuscados
Pela luz do verdadeiro.

O CAOS CONTRA O COTIDIANO



Um dia o suportável transbordará e alcançaremos o intolerável.

Tudo se tornará incontrolável e o futuro poderá ser visto em todas as suas faces, em todas as partes da cidade, assassinando o presente, espalhando-se como um grande incêndio sobre o cotidiano.

Nesse dia a coragem será maior do que o medo, mesmo que inspirada pelo desespero. O que importa é que nada mais será como antes. Todos pagarão o preço....