Na literatura de Sade o deboche e a volúpia se encontram de
forma tão radicalmente associados que se
tornam a grande expressão de uma critica radical dos costumes e da virtude que busca contaminar o imaginário da republica francesa
engendrada pela Revolução. Falo de uma transgressão da própria revolução.
Diferente de Rosseau Sade esta distante de qualquer
positivização da natureza humana que dê abrigo aos decadentes ideiais cristãos
de amor ao proximo e retidão moral em qualquer formatação secular.
Em sua literatura a idéia de Deus é claramente substituída pela
idéia de natureza. Como ressauta Contador
Borges em A REVOLUÇÃO DA PALAVRA LIBERTINA, excepcional posfácio a sua tradução de A
FILOSOFIA DA ALCOVA:
“ O século XVIII tem
uma idéia ambigua de natureza. O que seria ela afinal? O conjunto das
realidades do mundo? O principio da organização da matéria, como acreditava
Diderot? O ser intimo do homem? A força produtora do universo? Para Sade, a
natureza é um principio criador
oniciente, que tem metas traçadas para as suas criações. Ocupa, portanto, o
lugar de Deus. A natureza, em Sade, é Deus
destituido de divindade. Quando fala de natureza, ele com freqüência a trata em termos como “esse
grande agente universal”. Levando-se em conta a importância do movimento
em Sade, que para Hubert Juin, é
o traço mais marcante de sua obra, deve-se observar que, por trás de todo o movimento,
de toda ação humana boa ou má, estão as intenções da natureza que as
determina..”
( Contador Borges. A REVOLUÇÃO DA PALAVRA LIBERTINA in Marques de Sade. A Fiolosofia na Alcova ou os Perceptores Imorais. SP:
ILuminnuras, 2008, p. 220-221.)
Em Sade é a natureza, ou melhor, o retorno a natureza, o
caminho para a felicidade humana, justamente na contramão da tradição
pactualista liberal então hegemônica no pensamento republicno.
Os libertinos
tornam-se assim os mais autênticos cidadãos, os únicos a por
efetivamente por terra a essência do antigo regime.