quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

A REVOLTA DA PALAVRA ESCRITA



Escrava do sentido
A palavra se revolta
E grita o absurdo
Contra o autor
Produzido pela escrita.

Escreve a dor que habita
O leitor
Contra todas as possibilidades
Da vida

Atenta contra a gramática,
A linguagem culta,
E a própria poesia.

Desafia sem pudor
todos os limites da escrita!

segunda-feira, 27 de janeiro de 2020

NUDEZ



A nudez é uma vivência tão intensa
que a escondemos uns dos outros.

Não suportamos a natureza,
o corpo desaculturado,
reduzido ao imediato de si,
decifrável e exposto

O pensamento não suporta 
A terra nua na febre dos atos.
Usa a cultura para nos esconder
de nós mesmos,
dissimulando o desejo,
negando a carne,
através da abstração de um etéreo eu.



OPUS




Mesmo que as mãos de um artesão
não hajam sozinhas,
que todo corpo seja parte
dos ritos do artífice,
que a matéria que ele transforma
seja sua própria essência,
ou micro cosmos do mundo,
tudo começa através das mãos...

O que posso fazer com minhas mãos?
Conquistar, criar, saber...
Talvez algo além?

O que podem, afinal, minhas mãos?
O que ainda permanece incriado
Através do silêncio de nossas mãos?




O RIDÍCULO DA VERDADE


Não raramente a verdade corteja o ridículo.
Como levar a sério a retórica do absoluto,
a pretensão a objetividade plena
e a autoridade incontestável?
a verdade é autoritária
e cheia de vaidade,
incompatível com o  dialogo,
inimiga da pluralidade.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

A SACRALIDADE DA NUTRIÇÃO



A fome é o mais intenso dos instintos,
o mais básico de nossos  sentimentos de mundo,
pois  comunica o intimo
como exterioridade vital.

Nutrir-se, ser nutrido
é aprender a paisagem e os dias
como extensão de si mesmo,
é saber o elo indeterminado
entre corpo e ambiente
através da Grande Mãe
como um modo de existência
e indiferenciação.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

META EXISTÊNCIA


Tenho dito que sou um estrangeiro,
um passageiro deste existir pequeno
que se confunde comigo.

Sei que sou qualquer outra coisa
que existe dispersa na paisagem humana,
uma não consciência entranhada na pele da realidade.

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

A GRANDE PRISÃO



A grande prisão não tem muros,
não tem grades ou vigias.
ela é feita da matéria abstrata
das convicções,
dos valores e da verdade.

A grande prisão não tem portas.
É sem entradas ou saídas.
Sua matéria são nossos atos
e pensamentos,
nossos sentimentos e emoções.

Nossa sentença foi nosso próprio nascimento
em bizarro arremedo de pecado original.
E nossa revolta é nosso protesto,
Como o niilismo é nossa rebelião.


domingo, 19 de janeiro de 2020

DIVERTIMENTO LIBERTÁRIO

Não  me interessa o que é  verdadeiro,
Correto ou sagrado.
Gosto do que é sujo, desprezível, 
E me proporciona o gozo
De qualquer liberdade.

Eu bebo e danço 
A bagunça universal,
Eu canto o caos fora do tom, 
E estou sempre na contramão da História .


sábado, 18 de janeiro de 2020

A DOENÇA DA CIVILIZAÇÃO

Nossa inominável fonte de tristeza é  o vazio da civilização,  a prisão  estabelecida pelos séculos de fantasia cosmogonicas , que nos roubaram o corpo , que nos arrancaram da alma da natureza.

A razão  é  a mais severa de nossas doenças. 

quinta-feira, 16 de janeiro de 2020

ESPIRITO LIVRE

Não  estou do lado da verdade
Nem do futuro da humanidade.
Sou avesso a iluminismos e industrialismos.
Sou franco inimigo do progresso e da ordem,
O mais perigoso entre os  niilistas,
Um espírito póstumo e pós  moderno,
Alguém a além do bem e do mal
No intenso da natureza e do chão. 

A POTÊNCIA DA REBELDIA

Do lado de fora do dia
Eu era um outro
Terrivelmente atrevido.

Um inimigo da ordem pública,
Da moral e da rotina.

Doente de realidade,
Cuspia no tempo
E nas autoridades.

Eu era o futuro que morreu prematuro,
A criança que não  sobreviveu ao mundo adulto.
Eu era a potência de algum futuro perdido.
Mas apenas do lado de fora do dia.
Do lado de dentro,
Eu era apenas alguém  controlado pelos imperativos da rotina.






DOS FUTUROS IMPRÓPRIOS

Exploro a complexa  paisagem
De uma existência incerta
Através de futuros de faz de conta.

Nada é  o que parece ser
No dizer que inventa a realidade.

Todos sabem verdades, normas e soluções. 
Mas ignoram o caos que sussurra ventos
Contra os castelos de areia da felicidade.

Nossa alucinação  coletiva de um mundo comum se perde em impasses, 
Desregramentos e delírios de totalidade.

Não  somos o passado de um amanhã iminente, 
Que inventa o cenário de um inesperado presente.


quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

VERDADE E IMAGINAÇÃO

A imaginação  tem a estranha habilidade de ser mais verdadeira do que a realidade nos levando a questionar a noção de falsificação .

Afinal, é verdadeiro aquilo que se impõe  como norma , que se inventa como realidade, contra todas as alternativas e outras possíbilidades da tabulação. 

sábado, 11 de janeiro de 2020

DES COTIDIANO

O corriqueiro embriagado de extraordinário,
Alucinou na via pública,
Quebrou a vidraça  e a norma,
Desfazendo Copérnico
E a revolução das orbes celestes.

Crepusculamos as luzes da razão 
No delírio sóbrio dos afetos
E composição das multidões. 

A natureza inventa a pele, 
O virtual e o atemporal 
No fundo do instante
Que transborda o copo.

Tudo é  alucinação 
E anti civilização .

quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

CONTRA A VIDA COTIDIANA


A vida cotidiana é o plano da despersonalização, da sobrevivência pessoal e da rotina social. É onde nos anulamos como indivíduos singulares na realização abstrata de nossa humanidade através das praticas sociais correntes. Logo, a vida cotidiana é formatada pela inautenticidade, pelo comportamento mimético e normalizador.

A vida cotidiana não tem virtude, fomenta o tédio e nos defronta com a falta de sentido da existência. Nela, existir não é viver e viver não é ser, mas  fazer-se em conformidade com as inercias e protocolos de sociabilidade. Ela nos reduz a personas e nada mais do que isso.

Somente através da fuga do ordinariamente estabelecido, através do exercício lúdico de criação, seja ele artístico ou  simplesmente recreativo, que acessamos formas de existência não pautadas pelo pragmatismo existencial.

Existir contra o cotidiano, geralmente, nos leva ao vicio ao desregramento da vertigem de todos os sentidos, pois o banal da existência ordinária, na maior parte do tempo, nos parece insuportável.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

TRANSBORDAMENTO

Enunciar o intolerável, o absurdo, do mais imediato e banal da caduquice humana, é  hoje em dia o grande desafio do pensamento.

Estamos cansados do peso morto das tradições, das memórias de chumbo das civilizações. Precisamos avançar para trás,  resgatar as infâncias selvagens do corpo, rasgar o progresso, as tecnologias de produção e reprodução  de Estados e territórios, corporificando afetos através  dos atos transfigurado em movimento abstrato de criação. 

SOBRE A ARTE DA OBSERVAÇÃO


A observação modifica o objeto que ela mesma inventa. É  um ato de imaginação linguística que sustenta o filtro- delírio de qualquer condição cultural que configura a fantasia de um sujeito cognoscente.

Quem observa é objeto de si mesmo, da ilusão  de uma realidade verdade estabelecida pela falácia objetivista de ver e dizer.

Quem observa desconhece a essência da arte de olhar, de criar paisagens existênciais, povoando o mundo de sentidos e significações transcendentais.

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

PALAVRA E LOUCURA

Acho lindo o modo como o silêncio grita onde tento dizer o impossível,
Quando a palavra explode na pele do vento
E transforma o falar no encanto de um canto.

O que eu conto aqui não tem sentido,
Sepulta razões no caos de um engasgo,
De um modo gago de escrever o insondável.

Há  muito caos enterrado no corpo torto de nossas verdades,
Na virtude das grandes mentiras que sustentam o mundo.
Não  tenha pena de fazer sangrar toda realidade.

Toda esperança possível tem o sabor do improvável
Guardado no peito de qualquer insanidade.