domingo, 31 de dezembro de 2023

SIMPATIA PELO DIABO

Não serei escravo de dogmas e certezas,
um zé ninguém reduzido a obediência e a fé
na prisão de qualquer igreja.

Não serei vítima do poder pastoral,
uma nulidade de rebanho,
submetida a falsa autoridade
de qualquer poder universal.

Sou livre para desobedecer,
para recusar o determinismo
da mentira do livre arbítrio.

Jamais seguirei mandamentos
ou cartilhas.
Pois só eu sei o que diz minha lei.

Apenas  escravos se curvam a senhores
ou servem ao despotismo natural  dos reis.

Quanto a mim,
tudo que sei
é que serei livre e intenso
como uma chama
que não  se conforma se quer
a própria existência.

Como diria o divino Lúcifer 
no Paraíso Perdido de Milton,
Serei senhor do meu inferno
mas jamais um servo do céu.







sábado, 30 de dezembro de 2023

RENUNCIA NIILISTA

O que  me interessa 
é a liberdade de ficar a margem,
de não querer,
de não dizer,
de não gostar,
de não saber,
de não fazer nada,
de não ser parte de nada,
de viver unicamente para nada
quando nada mais importa.

Advogo o desengajamento absoluto,
a radical renuncia de um mundo
que sobre nós desaba
em todas as suas decadentes formas de expressão e desgraça.

Só me interessa 
o devir suicida dos condenados,
o alheamento dos enlutados
e o definitivo silêncio dos meus mortos.




segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

ALÉM DO HORIZONTE

Depois de amanhã
a vida será outra coisa
muito além da fantasia do sagrado
e da ilusão do humano.

A realidade das coisas
nos levará a outra parte
de nós mesmos
em uma radical transformação da matéria
e de todas as nossas expectativas.

Depois de amanhã
seremos ultrapassados
pelo nosso próprio horizonte.



sábado, 23 de dezembro de 2023

NO INFERNO COM RIMBAUD



Compartilho da infernal juventude de Rimbaud
oferecendo minha alma ao fogo e ao sol.

Despido de convicções e esperanças
contemplo as peripécias do último homem,
o cadáver  do deus morto
 e a agonia da humanidade moribunda
de uma civilização em extinção.

Reinvento-me na incandescente ilusão de um eu urgente,
no caos impessoal da natureza selvagem,
fazendo do corpo,
inspirado por uma luciferiana determinação,
prima matéria da grande revolta universal.

Trago, assim, do inferno
novos provérbios e iluminações
contra as divinas ilusões
de sua fé e sentimentos cristãos.




terça-feira, 19 de dezembro de 2023

CONTRA A REALIDADE

A realidade nunca me bastou.
Jamais me conformei a ilusão de nenhuma verdade,
autoridade ou divindade.

Recusei mestres, santos e reis.
Desconfiei dos doutos, moralistas
e senhores da lei.
Nunca acreditei na escola, na igreja,
na retórica ou no uso hierarquico da força.

A realidade é o que nos sustenta ilusões, conformismos e convicções.
Ouso buscar, criar e imaginar
qualquer coisa intensa
cuja potência extrapola
a bolha de nossa vil realidade.
Ouso o confronto como estratégia de auto descobrimento e invenção.

Pois estou farto de tanta razão,
mansidão e realidade,
da prisão a qual foi reduzida
nossa domesticada  consciência das coisas.

Queimem o quanto antes toda realidade
antes que seja demasiadamente tarde,
antes que a morte
sobre nós desabe
sem a menor piedade.












quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

PELO FUTURO DA HUMANIDADE


Somos animais miseráveis
que levam demasiadamente a sério
o patético fenômeno de sua auto consciência.
Graças a ela reduzimos nossa própria existência
a um desastre,
a um lamentável atentado contra a natureza.
Tudo em nome da racionalidade,
do progresso e do futuro da humanidade!


terça-feira, 12 de dezembro de 2023

NIILISMO E ANTI POLÍTICA

Nenhuma opinião ou convicção política
vale a lucidez inútil
de uma crise existencial.

Afinal, o mundo
é regido pelo absurdo,
por tudo que não faz sentido
e não tem solução.

Estamos prefigurados
para o desastre.
Programados para a ruína,
para o fracasso,
na consumação de nossa finitude,
de nossa mortalidade.




A PARTE MALDITA

Parte de mim sobrevive
a margem da lei e da ordem.
Quer mudar o mundo
ou fugir de tudo.
Pretende, qualquer dia desses,
de um jeito desesperado, 
perder de vez  a medida, o rumo,
e semear absurdos
contra o mais previsível
do nosso futuro.

Parte de mim é marginal, 
livre , subversiva e amoral,
se afirma além do bem e do mal,
contra tudo que nos assujeita e domina.

Parte de mim
goza do orgulho
de não ser racional.





quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

A PALAVRA MALDITA

Reivindico a palavra impura,
maldita,
que nada reivindica,
significa ou glorifica.

Ouso a palavra
que repudia a verdade,
que nega toda autoridade,
resgatando o grito,
o uivo e o grunido
contra a civilização e o feitiche dos discursos e dos livros.

Ouso a palavra que repudia a escrita,
que desaparece em imagens e oralidades,
e que através da transgressão,
do vazio do ser da  linguagem,
rompe todos os limites da imaginação.

Reivindico a palavra
que debocha de nossa vaidade,
que confunde o silêncio,
que se perde na morte da escrita
enquanto  repudia o triunfo da informação.



OUSE UM MUNDO QUE DANÇA

Ouse o outro mundo
que dança 
dentro da sua cabeça.

Tente se perder
entre suas próprias frases,
no meio do pensamento,
ou, mesmo, através da soma de alguns pequenos atos de terrorismo poético.

Seja outro, muitos e ninguém,
através de si mesmo,
pois é sempre o anonimato do nada
o que melhor nos define intimamente.
Prove o doce sabor de algum coquetel de liberdade e loucura.

Invente  silêncios, 
 desobediências e resistências,
até que o mundo se torne outra coisa
além do inferno da mera sobrevivência.

A imaginação é um território fértil 
para sonhos, delírios e versos 
que nos transformam o desejo,
os afetos e micro infinitos
na contramão do possível de nossa macro existência.

Ouse o mundo outro e bailarino
que dentro de ti redefine
toda ilusão de realidade
através da recusa da lei,
da ordem vigente
 e de toda ilusão de verdade.

 Ouse o que desobedece,
o que incomoda,
nega, briga,
brinda, transforma
e nos faz dançar
movidos por uma febre alegre
contra toda forma de inércia e obediência.
















sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

A VIDA É O QUE NOS ESCAPA

A vida não está no que eu faço,
no que eu quero, sinto ou gosto.
Não tem haver com o que penso,
aceito a contragosto,
ou finjo que não existe.

A vida não está em nada que imagino.
É delírio e imaginação,
como meu próprio corpo,
enquanto matéria que me transcende.

A vida é, simplesmente,
aquilo que define o morto.
É o que não está mais alí,
o que não se pode dizer.