sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

ANONIMATO

Todas as sortes já foram vividas.
Nada me resta para viver
que não tenha o requentado gosto
do passado de alguém.
Meu rosto é como o de todos
banal e sem expressão.
Não importa o que eu faça,
o que eu sinta.
Serei apenas mais um
me debatendo contra fatalidade
do anonimato e do silêncio

de minha modesta existência.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

POEMA NIETZSCHEANO


O ser humano não passa
de um animal deformado,
derrotado pela moral
e pela sua cambaleante razão.

Francamente debilitado,
é incapaz de buscar o remédio
da liberdade.
Permanece ali,
enterrado no moderno,
esmagado pelo próprio peso,
e acorrentado as suas caras ilusões.

Mas além do norte,
a vontade cria agora
uma nova aurora
e o futuro se debate
contra a ilusão das humanidades
prometendo relâmpagos
na escuridão de um céu futuro
que anuncia o além do humano.

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

SENTIMENTO DO TEMPO

Não tinha qualquer expectativa com relação ao futuro.
Estava voltado para a irracional recusa da irrealidade do meu passado.
Diversas nostalgias me apertavam o peito.
Precisava viver tudo de novo para ter certeza
Do quanto eu havia acontecido no tempo
e existido de modos tão diversos
daqueles que me definem no agora.

Tudo que sabia era minha fome
de passado,
minha vontade imensa de regresso
para o  princípio de mim mesmo.
Queria reverter às perdas,
reinventar os ganhos,
Apagar o peso do desabar dos anos.

Precisava reinventar meus dias primeiros.
Restaurar o tempo como radical sentimento
de pessoas e  coisas enraizadas
em minha  consciência dos fatos.

Queria unir todos os meus rostos e idades
em um só sentimento ,

afogar em minha própria vida.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

AFORISMA SOBRE A IDEIA DE VERDADE

O  sentimento de uma convicção, de uma verdade, traz sempre a consciência atenta  um certo desconforto frente  as condições formais  dos discursos possíveis. Há algo de artificial nos implícitos acordos que nos permitem socialmente construir qualquer imagem da realidade vivida.

Nossas estratégias de subjetivação através de qualquer discurso de mundo esbarra constantemente no limite da norma, no lugar comum da objetividade como destino de nossas imaginações mais ousadas.

A consciência se julga tão evidente a si mesma que inventa a objetividade da verdade como sua mais essencial fantasia. Não há fronteiras entre o eu e o mundo, apenas o auto engano metafísico de uma racionalidade escrava de seus próprios delírios.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A INCERTEZA COMO CAMINHO

Sei que muitas pessoas irão considerar tal formulação um desatino inconsequente ou um gratuito exercício retórico. Mas estou de fato convencido de que o mundo só pode ser objeto de reflexão ou codificado por qualquer estratégia de racionalidade, na medida em que nos enganamos sobre ele.

Afinal, o que é a verdade além de uma convicção vazia que não considera nosso desconhecimento como princípio de convicção?

O veneno da fé esta na equivocada certeza de qualquer afirmação possível sobre “a natureza” das coisas. Convenientemente, inventamos nosso próprio universo e o transformamos em uma espécie de “destino”.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

MINHA SÁBIA IGNORÃNCIA

Sou dos que nada sabem da vida,
Dos que se recusam saber
e viver como aqueles
que a entendem.

Quero ser eternamente
um ignorante
dos assuntos humanos,
um inapto aos fatos.
Aquele que não nasceu para isso,
que não aceita,
que protesta e se isola.
Não quero saber disto tudo

que andam agora chamando de vida.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

CONTRA AS VIRTUDES

Penso que os meus defeitos são aquilo que de melhor guardo dentro de mim.

Um dia aprenderei a usa-los, sem pretenções ou  vaidade, contra este estado de mundo que me impôs virtudes, ,mas nada falou  sobre as virtudes do vício e o quanto a vida é propícia apenas aos loucos e desajustados.


Somente os desesperados tem alguma chance contra a existência comum, pois eles são feitos de pura vontade de poder e ser.

terça-feira, 19 de janeiro de 2016

CONTRA VERDADE

Tenha sempre poucas certezas,
convicções duvidosas
e questionamentos ilimitados.
Não se engane com o provisório
de qualquer verdade.
Todos estamos,
de alguma forma,
enganados
e tudo não passa

de uma grande ilusão.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

CIVILIZAÇÃO E DECADÊNCIA

Vejo a civilização como um grande deserto onde nossas frágeis consciências se debatem enquanto deliram a realidade.


O social, o coletivo, não passam de um grande abismo diante do absurdo de nossa incerta condição humana. Não passamos de projeções abstratas de uma civilização em agonia e que sucumbe a sua própria mitologia. 

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

ESQUIZOFRENIA

Tenho tristezas que não conheço.
Pouco posso falar sobre elas.
Pois elas vivem do outro lado
de mim.
Lá sou diferente e independente,
quase um avesso.
Não me procurem por lá.
Pois não simpatizo comigo.
Me procurem do outro lado da rua

e fiquem longe daquelas tristezas.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2016

DELÍRIO EXTREMO

Liberdade sempre me pareceu um abdicar constante de mim mesmo, visto que sou volúvel, provisório e incerto em tudo o que faço e sinto em meu acontecer vazio.
Afinal, não estou de fato no imediato dos meus atos.
Me espero, paradoxalmente, em algum amanhã perdido
onde resido incerto.
Ou, talvez, a verdade, é que eu nunca tenha existido,
Visto que a vida dura tão pouco que a própria existência
não acontece. Mas apenas certas categorias de loucos são capazes de perceber isso.
Não existimos...
Tudo é um grande delírio.


quarta-feira, 13 de janeiro de 2016

MEUS EUS ABSURDOS

Moro ainda no passado
em outros eus marginalizados
que se inventam futuros.
Por isso não tenho coerência
e exijo o absurdo como principio.

O mundo não é dos bem resolvidos,
dos que deram certo.
Todos nós estamos errados
e buscando sonhos concretos
de mera sobrevivência.
Mas meus eus não me permitem

coerências.

terça-feira, 12 de janeiro de 2016

RISOS E ERROS

Em que pese o que desconheço
existo contra mim mesmo.
Não espero nada,
não quero nada.
Mais vale a morte,
do que uma vida
feita de reticências,
tédios e rotinas.
Prefiro o incerto,

o risco e o erro.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

FELICIDADE FISIOLÓGICA

Em que pesem
as peripécias das minhas vontades,
sigo sem grandes novidades
em busca de paisagens virgens
de pensamento quente.

Aguardo dias em febre
e desejos indomados
que me acordem
sempre novamente
as necessidades do meu corpo
em fogo.



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

ULTRAPASSANDO A SI MESMO

Em que pesem
os desatinos,
ainda penso contra
os transbordamentos dos dias
onde me faço insano
contra os fatos.

Penso em releituras possíveis
da realidade em que me enterro,
dos meus limites e quimeras.

Penso em ser outro,
acordar em algum dia

que me ultrapasse o tempo.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

O ANTI ÉDIPO COMO PROVOCAÇÃO


Evidentemente compartilho aqui as primeiras linhas  de  O ANTI EDIPO de Gilles Deleuze e Félix Guattari como uma provocação, como um atentado de pensamento critico contra os lugares comuns da razão.
Espero que os mais desesperadamente lúcidos façam bom uso disso contra os absurdos daquilo que consideramos a “realidade”.


“Isto funciona em toda parte, ás vezes sem parar, ás vezes descontínuo. Isto respira, isto esquenta, isto come. Isto caga, isto fode. Que erro ter dito isto. Em toda parte são máquinas, de maneira alguma metaforicamente; máquinas de máquinas, com seus aclopamentos, suas conexões. Uma máquina-orgão é ligada a uma máquina fonte: uma emite um fluxo que a outra corta. O seio é uma máquina que produz leite, e a boca, uma maquina aclopada a ela.”

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

ANONIMATO

Tentava me deixar em paz.
Não ter grandes sentimentos pela vida,
Grandes envolvimentos com aquela existência
Que todos habitavam satisfeitos
E inertes em seus significados e possibilidades.
Precisava  subtrair da realidade
Aquilo que aos outros parecia precioso.
Não era do tipo que frequentava festas,
Ou que se levava para o almoço.
Era apenas o rosto opaco
Entre os demais.
Mas não estava realmente
Preocupado com isso.
Só queria ficar em paz e em mim mesmo

Enquanto as coisas aconteciam.

sábado, 2 de janeiro de 2016

SOBRE O LUGAR DO DIABO NA MITOLOGIA CRISTÃ

O diabo é sempre mais honesto do que um religioso e do  que qualquer deus.
Pois é pragmático,
 E se nega as grades das leis e da fé.

O diabo é aquilo que nos diz a virtude dos curiosos.
Projetam nele a imagem do vaidoso e do orgulhoso os que sofrem da neurose e do egocentrismo da fé. Afinal, vivem da fantasia de um deus narcisista e cruel.

O diabo é a imagem/fantasia chave do mito cristão e o que dentro dele nos revela seus limites e o caminho para a libertação.

O diabo é a mãe da sabedoria...

A solução do neurótico  dualismo cristão . 

A DESRAZÃO DO HUMANO

O ser humano é uma criatura estranha e perversa que faz de tudo para afirmar suas fantasias de boa consciência. Por isso afirma a razão contra o absurdo de si mesmo, como se tivesse direito a uma condição especial entre os mamíferos pelo seu cérebro mais desenvolvido.

Mas a verdade é que o humano contradiz o humano. Humanos não são humanos....Ultrapassam o ideal abstrato de sua própria humanidade.

Elementar concluir que o humanismo nunca  fez sentido...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

METACONSCIÊNCIA E VERTIGEM RACIONAL

A consciência que define para mim quem eu sou e me diz o que o mundo é , não passa de uma engenhosa fantasia de nossa condição de animais perdidos entre a natureza e a cultura. Tudo aquilo que para nós existe não passa um ato de linguagem, um artifício. Nossa condição humana é produto de artifícios e, talvez, um dia, considerando o avanço tecnológico, possa finalmente ser ultrapassada por eles.

Não estou certo sobre coisa alguma. Chego a a pensar que não existo se quer em mim mesmo, que há algo de assustadoramente artificial em minha própria fala, gestos e sentimentos. A própria ideia de realidade é para mim um jogo complexo de significantes e significados que não encontram qualquer correspondência exterior a nossa codificação do mundo e, por mais sofisticadas que sejam nossas abstrações, permanecem presa ao crivo de nossa experiência sensível das coisas.
Considero, apesar de seu caráter absurdo, a fantasia do inteiramente outro de nós mesmos, a vertigem do pensamento, como um desafio instigante e revelador sobre a fragilidade de tudo aquilo que nos parece dado e “natural”.