sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

DEVIR REVOLUCIONÁRIO

Lá  fora a vida me chama
No eterno do vento de maio.
Não quero ir ao trabalho,
Não posso viver de salário.

A rua me diz liberdade
através de afetos que me atravessam.
entre o onírico e o ordinário
Meu corpo se faz libertário.

Mãos se encontram na praça 
Para destruir o progresso. 
Amanhã será outro dia
Em um devir revolucionário e plural.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

CONHECIMENTO E EMBRIAGUEZ


A sobriedade nos desconecta afetivamente da realidade  e limita nossa capacidade cognitiva. Afinal, ela nos aprisiona na ilusão da dicotomia sujeito/objeto. 
na contramão de todo objetivismo,  relacionar-se com o mundo é supera-lo como representação e descobrir-se como manifestação do próprio mundo que tomamos como objeto. 

Toda consciência, enquanto ciência de alguma coisa, é uma modalidade de dialogo, de transformação mutua do observador e do observado. Conhecer é, pode-se dizer sem meias palavras, uma relação afetiva. Ninguém conhece realmente alguma coisa com sobriedade. Há intensidades no processo de conhecimento/envolvimento. Pois conhecer é experimentar, é embriagar-se  com alguma coisa a ponto de confundir-se com ela.

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

DEVANEIOS DE VARANDA

Quero ficar na varanda.
Fora de casa
Mas longe do mundo.
Como se fosse parte
De algum filme antigo,
Qualquer coisa perdida
Entre o real e o desejo,
Que ensina a vida
Como alucinação. 

Quero existir naquela música, 
No baile  no quintal do vizinho,
Depois que a rua me roubar da varanda,
contra a casa que não me abriga.

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

O LIVRO DOS LIVROS

Imagino um livro que jamais será escrito.
Seu conteúdo é  incerto,
seu objeto impreciso.
Comporta diversas interpretações. 
Cada uma contradiz a outra.

Dele não  se tira conclusões, 
Nenhuma verdade para a vida,
Nenhuma moral ou saber 
Que nos conforte a consciência.

Trata-se de um livro niilista.
Uma obra contra as ciências,
Religiões e toda ilusão de cultura. 
Um tratado contra a Humanidade.

Todos os possíveis leitores
O desprezam.
Sabem que é  um livro 
Contra todos os livros.
Ele contém a intuição  do segredo
Da experiência de uma folha em branco.






terça-feira, 18 de fevereiro de 2020

A ILUSÃO DAS CONVICÇÕES

A ilusão  de uma certeza não basta contra o caos da realidade.
Mesmo assim, buscamos conforto na prisão  de qualquer verdade.
Tememos a loucura da liberdade.
Nossa paz reside no cativeiro.
Impomos as coisas um sentido
Contra nosso desmedido sentimento íntimo de deserto.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

ECOLOGIA RADICAL


Mesmo que a cada nova geração
torne-se outra,
A humanidade é sempre velha e infeliz.
Não vale um sonho,
não merece um futuro.
Bem lhe cairia um fim
para a felicidade do mundo
E da natureza.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020

ABSURDO ABSURDO



O absurdo do absurdo,
O absurdo absurdíssimo,
O absurdo da absurdidade,
contra a liberdade e a alogia,
é a própria razão
no autoritarismo de sua teleologia,
Na loucura de sua verdade.

terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O MODERNO QUE NOS CONSOME



É berrante a inatualidade do moderno!
É ridículo buscar o progresso
em tempos tão distópicos!
É risível querer o novo
quando o futuro ficou caduco!
Mesmo assim, é o que todos querem,
é o que todos dizem
e consomem felizes
no hiper mercado das ideias canônicas.


EDUCAR PARA O CONFORMISMO


Somos educados para desejar aquilo que odiamos.
Assim nos resignamos ao absurdo cotidiano,
nos voluntariamos ao conforto gregário,
abdicando da vida como  processo indeterminado
da mistura de todas as coisas.
Somos educados para negar a nós mesmos,
Para recusar nosso mais natural instinto de preservação
e recusar a VIDA.

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

O INCOMUNICÁVEL


Entre o eterno retorno da vida
e a linear ruptura que a morte anuncia,
tudo que digo contem um silêncio,
um conteúdo clandestino e  incomunicável.

Assim, sigo a sombra de qualquer loucura
tentando roçar a concretude do des sentido.
Mas ninguém me escuta,
ninguém percebe.
Todos se acostumaram ao superficial de palavras desertas
entupindo sempre nossos ouvidos.

AS VIRTUDES DA ALIENAÇÃO

Pouco me importa a lua
Ou o céu estrelado de cartão  postal.
Quero inventar em meus olhos
O meu próprio sol.
Quebrar o encanto da tela,
Da internet e da televisão. 

A realidade não existe.
É uma invenção social que transcende as coisas.
Nos tendemos a quimera de qualquer ordem inventada, 
Tentamos desinventar  nossa loucura coletiva.

Eu apenas quero reinventar meu corpo
Na anti matéria da minha imaginação  mais íntima.


quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

APESAR DO EU


Ainda habito,
mesmo que sem querer,
a prisão de um ego.
Mas sou corpo,
apesar do habito
e da marca de um eu.

Minha alma é corpo,
terra e natureza.
Existo desfeito entre as coisas
Na matéria viva da experiência.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

A BURRICE DAS CONVICÇÕES

Existe uma distancia entre a intenção e o ato, geralmente medida pelo unilateral da convicção. 

Pessoas convictas não sabem o que fazem. Não  raramente são  surpreendidas pelo óbvio do inesperado.

A ação demanda uma abertura para o novo, o imprevisto. A orientação teleologica, o plano da intencionalidade, dificulta qualquer relação com aquilo que sempre nos foge ao controle. 

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2020

BREVE MANIFESTO CONTRA A CIVILIZAÇÃO


Em tempos tão pragmáticos e utilitários
Onde reinam novas tecnologias
em meio ao caos pós industrial
afirmamos, ainda, a utilidade do inútil
e a virtude do desvalor.
 Também denunciamos,
 contra toda falácia do progresso e do humanismo,
a nulidade do Hommo sapiens,
esse animal estranho e alucinado
que se sonha mestre de todo universo.
Afirmamos contra a objetização do mundo
o ócio natural de nossa condição de viventes
e insignificância da razão frente a natureza.



CAOS CORPO

Sou nervo, sangue, osso
E vontade.

Nas metamorfoses da insistência do agora
Tudo em mim é  urgência, 
Quase desregramento.

Sei a intensidade das coisas
No limite do pensamento.

A  consciência me ultrapassa
Na experiência diária do caos.

Viver é  saber vertigens
Na alma do corpo.

Sou nervo, sangue, osso
E vontade.
Quase não  sou humano.