domingo, 30 de novembro de 2014

CORPO E CONSCIÊNCIA

A consciência da minha existência se desvanece no sentimento concreto de que minha vida é essencialmente meu corpo. Este pequeno finito espaço de mundo e realidade que me dói as vezes.

Afinal, alma e espírito não passam de abstrações vazias, mentiras da metafísica tola e arcaica que ainda nos define em sociedade.

Pessoalmente, entretanto, me defino humano pelo desejo e pelo gozo do meu corpo.
Apenas o erotismo justifica minha existência.


sábado, 29 de novembro de 2014

UM POEMA DE GRAUCO MATTOSO

Glauco Mattoso integrou  nos anos 80 o coletivo “Movimento de Arte Pornô” no Rio de Janeiro de vida bastante breve mas representativo da herança viva da poesia marginal dos nos setenta e da cultura de vanguarda.
Para o deleite dos libertinos que eventualmente  ofereço este poema do autor  para o deleite  e gozo dos olhos:

SONETO 673 FIMOSADO
“Boquete especialista exige a estreita
Fimose, pra que a glande não atrite.
A pele se arregaça até um limite
Que a língua, na faxina oral, respeita.

Ao bico da chaleira se sujeita
Quem chupa, sem direito a dar palpite.
Sebinho que no vão se deposite
Vai sendo removido, e a boca aceita.

Bombeia a rola, lenta, sob o lábio.
Abrindo-se o prepúcio no vaivém.
A mijo ou sêmem sabe, e o sebo sabe-o.

Humilha-se uma boca muito além
Da suja felação,e, até que acabe-o,
Seu ato animaliza onde entretém.”

GRAUCO MATTOSO

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

ELOGIO AO SEXO

O pleno prazer sexual tornou-se hoje em dia um sincero ato de liberdade contra os cotidianos lugares comuns da moral suja de nossa sociedade hipócrita.

Em outras palavras, a qualidade de nossas fantasias sexuais, de nossos jogos íntimos de prazer e afetividade crua, quando é o que expressa a autenticidade de nosso caráter quando despidos de tudo e na inocência da carne.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

BEIJO

O beijo é um bailado nervoso de duas línguas.
Um prenúncio do coito
Que acorda um fogo no corpo.

Um beijo é o extravasamento
De toda  palavra,
É um estar junto
Em carne viva.

Mas do que vale dizer
O beijo
Que já não mais sei vivo

Em meus lábios frios?

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

SURREALISMO

Tenta acordar a manhã bizarra
Onde o tempo escorre do espaço
E as ilusões dançam sobre as realidades.
Busca abrir a porta
De um antigo sonho
E colher risos no raso abismo
Das vertiginosas sensações do vento.
Amanhã será tarde.
Este é o seu melhor momento.
Pois teu pensamento
Já está em qualquer outra parte
Onde nada se submete

A qualquer princípio de verdade.

QUARTO DE HOTEL BARATO

O quarto não me  reconhece,
Mas a vista para o nada
Na janela aberta
Me cumprimenta como a um velho amigo.

As rotinas continuam lá fora.
Mas aqui dentro
Existe apenas o tumulto
De mil silêncios.

Sou  em  meu eu desfeito
Nas entranhas das coisas
Entre a janela e o espelho.
Pois tudo é raso e provisório.


segunda-feira, 17 de novembro de 2014

A SOLIDÃO DA LUA

Guardo janelas abertas
Em meus olhos fechados,
Mergulho de asas
Em meus pensamentos.
Talvez o céu seja um limite necessário
A cega alegria dos pássaros.

Talvez o mundo não caiba,
Na simplicidade da madrugada,
Enquanto algum infinito me espalha
Pela onírica luz aleijada

Pela solidão da lua.

DECLARAÇÃO DE PRINCÍPIOS DE UMA REVOLUÇÃO LIBERTINA


Advogo a polemica tese de que o amor deve ser reduzido ao sexo.
Foi ao longo de anos no doce desfrute da companhia de prostitutas que reaprendi e refiz minhas sensibilidades e afetividades físicas. Falo aqui que o afeto é essencialmente demonstrado fisicamente. Pois sentimos e pensamos com nossos corpos e devemos a eles a dignidade de nossos sentimentos.
Apenas os moralistas de primeira e última hora seriam capazes de afirmar hipocritamente que as prostitutas “vendem seus corpos”. Os mais consequentes frequentadores destas nobres mulheres de alcova sabem que elas vendem “fantasias sexuais”. E o que é a gramatica erótica além da liberdade das fantasias que a sociedade partriacal nos diz condenável em nome de uma afetividade amorosa  cinicamente “espiritualizada” e esvaziada de todo erotismo e saudável tesão?!
Quantas vezes, contrariando os protocolos senti uma prostituta empalidecer de prazer entre meus braços contrariando os lugares comuns da profissão... Sim. Pois o amor ali estava na dança de nossos corpos. Amor físico e concreto também traduzido em carinho, sintonia pessoal e outras formas de compartilhamento de subjetividades e afetividades das quais, segundo os bons manuais de etiqueta sexual, só seriam possíveis as mulheres destinadas ao “bom casamento”.
Pois é contra toda conservadora moral idealizadora de nosso amor e prazer contra a qual devemos nos insurgir. Os que ainda caem sob o falso encanto do enamoramento, do apaixonar-se vazio aos quais foram adestrados a sentir, nada sabem sobre os mistérios de Eros e Afrodite.
Bravatas a parte, aqui afirmo apenas que na corte de Eros, amor, sexo e prazer libertino ocupam um único altar consagrado à plenitude de nossa humanidade.
Sejam livres irmãos!

Ousem a liberdade!

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

BREVE MANIFESTO EM DEFESA DO CRIME DA POESIA ( UM ELOGIO AO MARQUES DE SADE)

Em Sade são questionados, evidentemente, de maneira muito clássica, os feitiches sociais, reis, ministros, eclesiásticos, etc., mas também a linguagem, as formas tradicionais de escrita; a contaminação criminal chega a todos os estilos de discurso: o narrativo, o lírico, o moral, a máxima o topos mitológico. Começamos a saber que as transgressões da linguagem possuem um poder ofensivo no mínimo tão forte quanto o das transgressões morais e que a poesia, que é a linguagem mesma das transgressões da linguagem, é assim, sempre revolucionária. Desse ponto de vista não só a escrita de Sade é poética como também Sade tomou todas as precauções para que esta poesia seja inflexível: a  pornografia não poderá nunca recuperar um mundo que só existe em proporção a sua escrita e a sociedade não poderá nunca reconhecer uma escrita que está ligada estruturalmente ao crime.”
ROLAND BARTHES


Aprendemos nos porões do iluminismo, com o velho Marques de Sade, que a poesia é o crime perfeito que desafia as virtuais leis que sustentam nossa pobre realidade cotidiana socialmente estabelecida.
A poesia, para ser digna de si mesma, deve transgredir de todas as formas e modos o que até agora foi estabelecido acriticamente como “bom senso”.
O campo poético é um universo onírico e evasivo a ser percorrido pelos errantes adeptos da liberdade, da critica e do riso.
Nenhum limite deve lhes impor direções ou falsas escolhas de ocasião frente ás imposições das estabelecidas gramaticas coletivas.

Tenhamos de uma vez por todas a coragem de nos transformar radicalmente em plenos indivíduos.

terça-feira, 11 de novembro de 2014

SEXO ORAL

Há mais sentido em sentir tua boca
A brincar com meu pênis
Do que em qualquer tratado de boa filosofia.
Então, não me diga nada.
Apenas me chupe querida.
Me faça esquecer do mundo
E saber todo o universo
No carinho da tua boca.
Fala com tua língua
Tudo aquilo que foge
Aquelas palavras loucas

Entre as quais nos perdemos

TEMPO E SEXO

Nossas coxas encaixadas,
Nossas peles misturadas,
Minha mão na tua vagina,
E o tempo desbotando
Entre a gente.
Não queremos dia seguinte.
Nos basta esta noite
Para sempre.
Nos basta o prazer
Compartilhado e intenso

De um coito.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

DESVARIO AMOROSO SOMBRIO

Contemplei teu vulto
Dentro dos meus pensamentos
No quarto escuro da melancolia.
Sentia tua falta em meu corpo faminto,
Em meu desejo quebrado e exposto
No chão
Como qualquer lixo esquecido
E abandonado a desrazões.
Perdoe a intensidade dos meus desvarios.
Não sou responsável pela agonia

Que tua falta acorda em minha errante imaginação.