domingo, 31 de maio de 2009

SOBRE A DOENÇA E O DOENTE


Vivemos em uma sociedade cujo imaginário é definido pela afirmação da saúde, narcisismos e utopias de vidas e corpos perfeitos. A morte e a doença são relegadas a margem do acontecer humano.
Confinado ao degredo do espaço hospitalar, templo sombrio da razão e da técnica, o moribundo nos é invisível, um párea cujas emoções, sofrimento e opiniões nos são indiferentes. Ele apenas nos surge como o objeto da doença, o portador de um mal que tememos e ameaça nossas ilusões de biografias felizes... Assim lhe arrancamos a própria humanidade já comprometida pela sua condição. Em outras palavras, morrer em nossa sociedade pode ser absurdamente cruel...

sexta-feira, 29 de maio de 2009

AVESSO


Do outro lado
Do meu rosto,
Dentro do espelho,
Inventam-se mundos.

Mudo os contemplo
Para enganar a vida
E respirar a existência
Até o limite
Do meu tempo intimo...

Em breve
Serei esquecido...

MARGINÁRIA

Prefiro os moribundos,
Os de sorte incerta
E vidas esquecidas
Sob as ruínas do tempo
Aos belos rostos vazios
E saudáveis
Que decoram
O passeio público.
Há mais humanidade
No enfermo
Que no empregado do escritório
Mergulhado em rasas rotinas,
Mais virtude no inferno
Do que nas ilusões de um céu de fé.

sábado, 23 de maio de 2009

A EXPERIÊNCIA DO IRRACIONAL


O irracional é o avesso do absurdo significado que atribuímos ao mundo de todo dia. É a vida elevada a condição de arte; sem razão, propósitos, sociedades, certezas e teologias.
O irracional é o dionisíaco movimento da vida em desesperado e urgente exercício de si mesma...
O irracional é o embriagar-se de alegria no circo racionalista.

THE DOORS

A idéia de morte certa
Me traça o caminho torto da vida,
O dia a dia em grito
Em busca
Do silêncios dos outros
E de imaginações intimas...

Invento-me em singularidades

de absurdos
Diante de uma porta
Que não se abre,
Em puro e empirico

Psicodelismo...

terça-feira, 19 de maio de 2009

COSMOLOGIA

A alma existe sem os átomos
Que compõem o corpo
Virtualmente material
Nas ilusões de tempo e espaço?

Quantos universos
Existem no Cosmos?

Quem ainda ingenuamente
Acredita
Que a vastidão ilimitada
De possibilidades
Do acontecer das coisas
Pode ser reduzida
A falácia da criação?

segunda-feira, 18 de maio de 2009

ARTAUD E O TEATRO DA CRUELDADE

O teatro metafísico de Artaud e seus labirintos ainda nos fascina nos dias de hoje não pela sedução da utopia, mas pelo apelo ao mais concreto grito de acasos no jogo de caos e liberdade que nos define como indivíduos em dolorosas ilusões de sociedade...


“Vocês conhecem algo mais ultrajantemente fecal
Do que a história de Deus
E de seu ser : SATÃ,
A membrana do coração,
A leitoa ignominiosa,
Do ilusório universal,
Que com suas mamas babosas
Jamais nos dissimulou
Senão o Nada?
Diante desta idéia de um universo preestabelecido
O homem até agora não conaseguiu estabelecer sua superioridade
Sobre o império da possibilidade.”


(Alain Virmaux. Artaud e o Teatro/ tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. SP: Perspectiva, s/d, p. 378.)

domingo, 17 de maio de 2009

PÓS PATOLOGIA

O que vai alem
Do patológico
É o normal absurdo
De todos os dias
Onde seguimos perplexos
Contemplando
Os horrores do mundo
Tropeçando em nós mesmos.

sábado, 16 de maio de 2009

Homenagem a Jim Morrisson II


O fim terá gosto de
Amanhã perdido,
De hiato,
Grito,
Ou perda de mim
Na absurda continuidade
Do mundo
Alem do psicodélico momento
do agora do meu rosto estático.

Mas tento sobreviver a morte
No anonimato do fogo
Desafiando o normal
Além do /
patológocico...

Homenagem a Jim Morrisson I

A Absurda morte certa
Me traça o caminho torto da vida,
O dia a dia em grito
Em busca
De silêncios dos outros
E de imaginações intimas...

Diante de uma porta
Que não se abre,
Invento-me em singularidades
E absolutos absurdos....

sexta-feira, 15 de maio de 2009

SALTEBANCO

Escrevo-me no saber
Das coisas que correm
Ao contrário do pensamento
Em busca de silêncios
E sobras de dia.
Tudo que sei
É que percorro destinos
Incertos.
Transcendências explicam
O princípio do riso,
A improvável certeza
De um golpe de acaso
Perante o qual me desfaço
No nascer de um outro
Vestido de saltebanco.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

INFERNO VIVIDO...

Visto diariamente
A máscara
Do anonimato
Para perder-me
Em dias de labor abstrato
Como quem perde a alma
Em prazeres de inferno.

Toda realidade
É naturalmente infernal...

MASSIFICAÇÃO E INDIVIDUALIDADE

O que define
O abstrato acontecer
Em ato de olhares e voz
Nos rostos cotidianos
Imersos em multidões?

Em tudo fala
Um vazio infinito,
Um des-sentido,
Que nos conduz
A abstração
De todas as coisas ridículas
Perdidas em ilusões de realidade.

COTIDIANO FILOSOFADO

A verdade é uma mentira em que todos acreditam por conveniência, hipocrisia ou pura ignorância da incerteza ontológica do fato existencial...
A verdade é a fé transposta ao plano das certezas virtualmente racionais de dia a dia...
A revelia disso, existimos apenas como constrangidas duvidas de personificação de vidas em singularidades múltiplas.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

ARTAUD E NIETZSCHE


No texto intitulado “Alienar o ator” de Antonin Artaud, escrito em 12 de maio de 1947 e publicado originalmente em L’Arbalète ( Marc Barbezart) n. 13, verão de 1948, pp.7-14, o autor revela sinteticamente uma apropriação curiosa e heterodoxa de Nietzsche :
“P.S.- O intempestivo carvão lenhoso do esqueleto não carnal do homem, o do super-homem começado um dia e que logo será para sempre inteiriço, quando não houver mais sol nem lua, mas dois artelhos de brasa iluminada para responder às línguas vazias, às duas cavidades de línguas vazias do crânio da Dança Macabra como um farol
Perpetuamente
Incandecido.”

(Alain Virmaux. Artaud e o Teatro/ tradução de Carlos Eugênio Marcondes de Moura. SP: Perspectiva, s/d, p. 328.)

A SELVAGEM VIDA DA HUMANIDADE

A vida tornou-se
Agora
Abstração vazia
Vagando no tempo
E imprecisões de momentos,
Corpo concreto
De silêncios
Que buscamos preencher
Imaginando verdades
No anti verdadeiro
Da imaginação
De nossa humana condição...

terça-feira, 5 de maio de 2009

CONTRA O HUMANISMO

O homem é um animal delirante
A sonhar razões...
O homem está
Além das humanidades
Alem das incertezas
Como enigma de si mesmo
Em tempestade de existência.

Minha alma
É matéria,
Carne que sonha
E se faz mundo.
Contra o sagrado e o profano
Em meta cotiano...

sábado, 2 de maio de 2009

SEGUNDO MANIFESTO SURREALISTA: UM FRAGMENTO

Embora não deva ser interpretada ao pé da letra, mas como uma metáfora que muito bem traduz o “espírito” do movimento surrealista, esta singular passagem do Segundo Manifesto Surrealista de Andre Breton ainda inspira uma estética da liberdade..., a desconstrução radical de nosso mundo socialmente vivido. É surpreendente o quanto os “velhos escândalos surrealistas” ainda chocam e escandalizam em nosso mundo contemporâneo... A verdade é que o movimento surrealista, em que pese a assimilação de sua linguagem estética, ainda nos desafia...

“O mais simples ato surrealista consiste em ir para a rua, empunhando revolveres, e atirar ao acaso, até não poder mais , na multidão. Quem não teve, ao menos uma vez, vontade de assim acabar com o sisteminha de aviltramento e cretinização em vigor, tem seu lugar marcado nessa multidão, barriga à altura do cano da arma. A legitimação de um tal ato, a meu ver, não é de modo nenhum incompatível com a crença nesse clarão que o surrealismo busca revelar no fundo de nós. Quis somente incluir aqui o desespero humano, aquém do qual nada poderia justificar essa crença.”

André Breton in Segundo Manifesto do Surrealismo ( 1930)

DELÍRIO DO PÁSARO VERDE

Vejo um pássaro verde
A correr chão adentro
Pela natureza da natureza.

Um pensamento explode
Desfazendo todas as coisas
Em sensações.

Exploro o céu de chumbo
Por onde se espalham
Minhas emoções...