sábado, 30 de abril de 2022

REBELDIA E MITOLOGIA

 Eu,
que não  me acerto com o mundo,
que não me conformo à vida,
aos outros, e ao universo,
vislumbro futuros
que a imaginação desvela
contra toda ordem das coisas.

Sei absurdos forçando a porta da consciência, 
qualquer conteúdo mais fundo
do raso de nossa existência,
que anuncia o retorno
de Prometeu e seu fogo.

Existir é um ato futuro.
Ainda não sabemos nascer
e fazer acontecer o grande incêndio de ser.

sexta-feira, 29 de abril de 2022

LOUCURA E LIBERTAÇÃO

Meu corpo é deserto,
meu mundo silêncio. 
Meu cotidiano prisão. 

Mas minha vida
é o intenso da imaginação 
que sobre a paisagem avança
em furioso movimento.

Quero espalhar espanto,
criar confusão, 
na exigência imediata do impossível. 

A humanidade, para mim,
tornou-se insuportável. 
Por isso ousei abraçar delírios,
adensando a embriaguez dos meus dias
até devorar o tempo
e desfazer o eterno.

quinta-feira, 28 de abril de 2022

PENSO. LOGO NÃO EXISTO.

A insustentável certeza de mim mesmo
não passa de uma confusão dos sentidos.
No fundo sou consciência das coisas,
uma composição de encontros,
diversidades materiais e oníricas
quase ilegíveis,
um labirinto absurdo de coincidências assignificativas.

quarta-feira, 27 de abril de 2022

DENTRO DA MINHA CABEÇA

Dentro da minha cabeça 
cantam e voam
os alegres pássaros da liberdade.
Eles estão em todas as partes
e em nenhum lugar.

Pois dentro da minha cabeça 
é o único lugar
onde o mundo existe por inteiro
sem a cicatriz de palavras ou conceitos.
E todo pensamento é um ato de liberdade.


quarta-feira, 13 de abril de 2022

SER E NECESSIDADE

Quantas vezes acordei para o sonho
de um amanhã impossível 
e naveguei a deriva pelo oceano de um delírio
até o deserto da realidade?

Tudo que é intenso acorda um vazio.
E este vazio é o que nos preenche o ser,
é o que nos embreaga de identidades e destinos,
Até o limite de quase viver.

Cada um de nós é o esboço
de alguém
que poderia ser,
não fosse a prisão da verdade,
e a necessidade  que nos oprime o querer.

No fundo somos escravos dos nossos habitos,
indígnos do abismo que nossos pés procuram sonâmbulos
pelos labirintos do cotidiano.




sexta-feira, 8 de abril de 2022

MORALISMO

Condenados ao certo e ao errado,
nos conformamos ao ideal,
a miséria do imperativo moral,
e ao punitivismo mais radical.

Aprendemos a julgar,
rotular, segregar,
e a condenar,
em nome da verdade.

O outro é sempre culpado
por não ser um de nós. 

quarta-feira, 6 de abril de 2022

CONTRA A MESMICE DAS NOVIDADES

O tédio das novidades,
a mesmice do novo,
é, definitivamente, 
um paradoxo insuportável. 


Um pouco de caos
e destruição, 
por favor....

Preciso, desesperadamente,
que qualquer coisa aconteça
contra a cotidiana marcha silenciosa
de nossas mais íntimas tragédias.

O BANHO

O banho apaga do corpo
as marcas do dia,
liberta a pele da poeira do mundo.
Mas nunca nos deixa limpos.
Não nos livra do fedor de civilização 
ou da imundice da razão
e do narcisismo.
O banho não nos liberta
da miséria de nossa humanidade.




sábado, 2 de abril de 2022

O DESAFIO DE EXISTIR

Meu único objetivo é existir.
Existir como se deve
e não como nos foi ensinado.

Existir até as últimas consequências da vida.
Contra o tempo do relógio,
do calendário,
e contra as horas mortas do trabalho.

Existir em carne, terra,
e vinho,
até ter o mundo inteiro
na palma da mão.

Existir no beijo,
no passeio,
nas árvores, 
no mar,
e no outeiro.

Existir na dor,
no riso,
e no devaneio,
livre de toda forma de cativeiro.

Existir sonhador e criança,
louco, animal, borboleta,
num banho de mar
ou no cume de uma montanha.

Existir até não saber de mim
no acontecer cego
de tudo que existe e morre!

Existir em todas as formas de liberdade
que nos desvela a intensidade do nada.