terça-feira, 30 de janeiro de 2024

ELOGIO AO HEDONISMO

Mas vale um efêmero na mão
do que um eterno voando
na imaginação dos devotos.

Mas vale ser carne, língua,
sangue e osso,
do que alma que não sabe do mundo o gosto.

A existência é o breve tédio
de uma pequena agonia.
Então, não se reprima.
A vida é fogo que arde.
Aproveite antes que se apague,
que o sol escureça em nós.


segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

RELIGIÃO E ESCRAVIDÃO

Toda religião institucionalizada,
transfigurada em Estado,
naturaliza a escravidão,
pois estabelece a superioridade dos eleitos,
a distinção de um clero,
e a autoridade da  lei de um deus autoritário e ciumento.

Toda religião diminui nossa liberdade.

PARTE DE NÓS

Parte de nós
 será sempre grito,
um devir intempestivo,
algo ilegível,
além do compreensível.

Parte de nós
será sempre um outro,
um estorvo,
e algo terrível.

Parte de nós
sempre será morte,
 abismo e anti lirismo.

Pois somos todos apenas
Corpo, tempo e silêncio
contra a consciência
que nos define um nós.




sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

AS PERIPÉCIAS DA FILOSOFIA

A verdade devorciou-se de vez da filosofia,
Abraçou a teologia
e confessou-se fascista.

Culpa de Sócrates, Platão
 e Aristóteles.
Estes delirantes senhores  movidos pela vaidade, 
que inventaram a escola,
alimentaram a cristandade,
e abominaram a democracia.

Mas, longe da companhia da verdade,
hoje a filosofia anda livre, leve e solta.
As turras com a fé , a razão e a linguagem,
 longe da metafísica, materialismos,
idealismos e Iluminismos.
Renunciou finalmente ao eurocentrismo.

Anda francamente frertanto com o irracionalismo.
Afirmando-se como
inimiga de todos os tronos e alteridades.

A filosofia é agora imanente e telúrica.
Nem se lembra de Sócrates, Platão
e Aristóteles.
Deu adeus a Grécia antiga
e vestiu-se de pós modernidade,
inspirada pelo eterno retorno de Gaia.




segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

SOBRE O INOMINÁVEL

Além de todos os discursos,
verdades e identidades,
aquém de toda racionalidade,
há a intuição de algo informe,
ilegível e indeterminado,
que não sabemos direito
se está no fundo do mundo
ou dentro de cada um de nós.

Além da percepção,
existem  absurdos e desrazão.
A vida é um acidente aleatório
em um universo de conflito e caos.
Seja, portanto,  sua própria transgressão.

domingo, 14 de janeiro de 2024

RECOMENDAÇÕES PARA ILETRADOS E AFINS

Duvide sempre do verso,
do verbo,
de quem escreve,
que se desfaz na escrita,
mas acha que, de algum jeito,
se fez sujeito de suas rimas.

Duvide sempre dos livros,
do mercado de livros,
dos eruditos, dos críticos,
e escritores mais bem vendidos.

Não se perca entre as bolhas de opiniões,
entre as massantes conclusões
dos tantos volumes de propaganda do status quo, minuciosamente redigidos para sedução.

Recuse  as gramáticas
 o raso dizer 
dos perfeccionismos dos artesãos da linguagem,
Fuja da grande Babel da Modernidade e dos modernismos.

Pense sempre como um iletrado,
como alguém cujos olhos
recusam a escrita, 
a indústria, a técnica e o mercado,
mas domina com espontânea maestria a imaginação
e tudo que não se reduz ou se traduz
em letras ou cifrões.

Não há saber ou palavra para a
 expressão irracional da  vida e da morte,
para a tradução do mais amplo sentido de tudo que existe,
que não cabe no humano,
nem no divino,
e se perde em caos, natureza
e abismo.
Não há correspondência
entre as palavras e as coisas.
As palavras existem em seu próprio mundo,
além das coisas.
Não seja racional.
É mais proveitoso
empinar pipas em uma tarde de sol.


sábado, 13 de janeiro de 2024

REINVENTAR A REBELIÃO

Temos hoje a urgência
de criar novas maneiras de dizer NÃO,
novas formas de contestação,
estratégias de mobilização e confrontação.

Urge produzir
algo mais do que somos juntos,
do que podemos todos.
É preciso inventar de ser livre
como um dia se foi criança.

De alguma forma, eu sei,
seremos, em um futuro próximo,
uma multidão de indignados,
 niilistas, sem nada a perder,
 contra todo poder e forma de Estado.


Desafiaremos juntos,
como multidão,
as razões do mundo e as as leis divinas
por um pouco de autonomia, dignidade e alegria.

Vislumbraremos no fundo do poço do quintal de casa
 outro chão, uma outra imaginação,
formas de viver, respirar, 
que nenhum sonhar hoje é ainda capaz de ensinar ou conceber.

É urgente reaprender a dizer não,
atualizar todas as formas de contestação e rebelião.

É preciso rejuvenescer nossas formas de desobedecer,
desanuviar o olhar que já não é capaz de ver
e perder de vez toda esperança de ser.















sábado, 6 de janeiro de 2024

QUASE FIM DO MUNDO

No relógio do fim do mundo,
estamos a poucos segundos da meia noite.
É muito tarde.
É quase fim da humanidade.

Mesmo assim, ainda nos ilude o tempo do progresso,
do antropocentrismo,
do racionalismo
e do predatório industrialiamo,
que nos disciplina e reduz a produção  massificada das coisas
que governam nossas vidas danificadas.

Seguimos enterrados na  infinita catástrofe da modernidade ocidental 
e em seu narcismo quase divino.
Mas já é tarde,
muito tarde 
É quase o fim da humanidade,
e seguimos felizes e indiferentes
para um iminente 
e quase inevitável desastre.







O NÃO COMO UM ACONTECIMENTO

Tenhamos a enorme ousadia,
a sensacional afronta,
de não apenas dizer
mas fazer acontecer o NÃO,
a radical negação
de tudo aquilo que, sem querer, 
 nos tornamos.

É preciso revoltar-se,
rebelar-se,
erguer o punho fechado,
na praça central do mercado,
dar corpo ao exercício coletivo 
da desobediência e da negação
do que ainda estão entre os vivos.

É preciso, com máxima urgência,
dizer, querer e ser o NÃO
que acontece dentro e através de nós.






CONTRA AOS SEGUIDORES DE CRISTOS (UNGIDOS)

Nunca me iludi com o moralismo barato dos puritanos,
com a hipocrisia cretina dos defensores da caridade,
dos que normalizam desigualdades e
hierarquias
 apregoando amor ao próximo, ao Estado e a família.

Não me convencem os que dobram joelhos
reverenciando a autoridade,
a demagogia e hipocrisia
de deuses, santos e reis.

Não me enganam
os que chamam de pecado 
qualquer indício de senso crítico
e paixão pela liberdade,
que querem a todos impor sua lei,
 submeter cada indivíduo ao clerical  cretinismo de sua suposta virtude.

Digo em alto e bom som:
Todo fascismo é filho do cristianismo e do capital.
Toda fé é inimiga da vida
que só se dá no aqui e agora 
de nosso mundo banal e imperfeito.
Nenhuma moral ou cartilha
há de ditar nossas vidas.

Que os moralistas, virtuosos,
autoritários e elitistas
seguidores de cristos
vão aos raios que os partam
com seu miserável platonismo!











quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

TRÁGICA IMPOTÊNCIA

Não importa o que eu quero,
faço ou penso.
O mundo ruma para uma grande catástrofe
e nossas vidas seguem em franco desastre.

Eis tudo que importa,
enquanto nós entopercemos com a normalidade.

Culpem os sábios, 
deuses, magistrados,
políticos e oligarcas.
Responsabilizem os donos da ordem
pela desordem de nossas vidas.
Não importa.
Continuamos caminhando
coletivamente para um abismo.
Não faz diferença o pensamento crítico,
a revolta e o inconformismo.

Todas as possibilidades afirmam
o pior cenário possível.
Tudo parece mera fatalidade
condicionada a miséria
de nossa mais elementar humanidade.

Assim, afirmamos
nossa falsa impotência,
a ditadura dos fatos e dos acontecimentos.
 






quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

O FUTURO DA HUMANIDADE

Entre pestes e guerras
segue descrente a humanidade
em seu próprio futuro.

Logo será tarde demais para mudar o mundo.
Mas a ambição de minorias
sobrepõem-se sobre as angustias coletivas
e amanhã pode não ser outro dia,
pode não haver mais futuros.

Mas a quem importa
O futuro da humanidade ?
Um amanhã inumano
salvará o planeta.
Não merecemos futuro
no perpétuo devir da natureza.










terça-feira, 2 de janeiro de 2024

A NATUREZA JAMAIS SERÁ HUMANA

A natureza jamais será humana.
Apesar de todo industrialiamo
e avanço tecnológico,
a natureza permanecerá indomável.
Será sempre selvagem,
irracionalmente em devir,
anti divina em sua absoluta liberdade.

A natureza, afinal,não segue leis,
não sabe ciências,
nem se curva ao progresso,
aos mitos da criação,
ou aos excessos de toda civilização.

A natureza jamais será humana
e, muito menos, divina.
Talvez, chegue também o dia,
em que o animal em nós
nos livre de vez de toda essa maldita humanidade, supostamente,
quase divina,
e tudo que existe,
fora e dentro de nós ,
se torne, simplesmente, natural,
além dos limites do dizível e do visível do grande caos universal.