quarta-feira, 29 de julho de 2015

SOBRE OS OUTROS

Não sei direito o que pensar sobre o que as pessoas pensam,
Sobre o que fazem e como percebem o mundo.
Tudo me parece uma porra de um hospício
Onde os internos ostentam sanidade
Enquanto tudo desaba a sua volta.
Não acho que a sociedade funciona a contento,
Que somos o tardio produto
De qualquer coisa que possa ser definida
Como processo civilizatória.
Na verdade tudo me parece ralo, tosco

E cinicamente estupido.

SURREALISMO E QUASE COTIDIANO


As coisas todas que me desenhavam o cotidiano
Não cabiam em qualquer pensamento
Sobre a realidade nua e obscura
Que me diziam os fatos.

A vida transbordava a existência,
As vontades arranhavam o céu
E, na face da manhã que acordava,
Crianças desenhavam embriagadas
Imagem daquele futuro
Que me adivinhou no passado.


terça-feira, 28 de julho de 2015

A POETICA DA INSANIDADE

Meus absurdos me esclarecem
A insanidade do mundo.
Não busco respostas,
Não me rendo a utopias.
A realidade é tudo aquilo
Que me atormenta e me transforma.

Talvez eu me torne pior
Ao sabor dos dias.
Talvez eu nunca aceite
As pessoas e os fatos.
Pois tudo que me importa

É o fogo da poesia.

domingo, 26 de julho de 2015

SEXO MAL FEITO

Acabamos na cama sem muita cerimônia.
Ela esfregava os seios na minha cara e pedia para que eu lhe chupasse a boceta como todas as outras. Usava o recurso do gemido fingido para se excitar. Mas na verdade era frigida.  Sua boceta permanecia enxuta apesar de todos os meus esforços.

Tentava proporcionar algum verdadeiro prazer aquela mulher. Percebia que desesperadamente em meio aquele teatro ela também se esforçava pelo gozo. Mas era inútil. Uma trepada satisfatória estava além de nossas possibilidades.

Sexo não era bem o que ela queria. Mas era a única moeda de troca que conhecia para desfrutar da companhia de alguém. Ao mesmo tempo em que me sentia mal com aquela situação, nutria uma profunda compaixão por aquela mulher. Podia imaginar as coisas terríveis que ele deveria ter vivido para se submeter aquilo.

No fundo éramos parecidos.  Fazíamos o melhor uso de nossos poucos recursos para manter alguma humanidade em nossas vidas. Mesmo que degenerada. Nada vale muito a pena, a final. E a vida é o que pode ser. Não aquilo que a gente quer. Já não se pode esperar muito dos outros. Então a importância das pessoas se resume ao instante de uma trepada. Mas é claro que estamos buscando sempre algo mais que isso.


Fizemos sexo morno a noite toda e pela manhã nos despedimos sem saber direito para onde ir. Não pretendia vê-la de novo. Mesmo assim combinamos repetir a coisa outro dia. Não teríamos certamente nada melhor para fazer.

quinta-feira, 23 de julho de 2015

SOBRE A VIRTUDE DA ÉTICA E A MISÉRIA DA MORAL

Para o religioso monoteísta seu deus é fonte de princípios universais, algo que independe das crenças pessoais e se coloca como um principio absoluto. Para o ateu, tal principio é impensável. Seria insano reduzir nossa humanidade a um único destino impondo um certo caminho contra a possibilidade infinita de outras possibilidades igualmente humanas. Esta mania da moral deve ser superada pela ética enquanto aquele conjunto mínimo de condutas pragmáticas que nos permite conviver com a diferença e o caos cotidiano sem abrir mão do exercício simples do mais generoso pensamento. A ética é a natural inimiga da moral.

SEM SAIDA

Estava sempre ocupado com o lado feio das coisas e os gritantes defeitos das pessoas e da sociedade. Pouco me importava se havia algo de bom acontecendo. O decisivo é que tudo estava se estragando o tempo todo. Nós estávamos nos estragando. Assim se fazia a vida. Tudo não passava de um desarranjo de existência para o qual não via nenhum remédio.


Sabia que nunca teria muitas escolhas e a vida jamais seguiria de encontro as minhas vontades e necessidades mais autênticas. Sabia que desde o principio eu estava condenado ao subsolo da humanidade.

quarta-feira, 22 de julho de 2015

QUASE UM CASAL

Todo fim de semana a gente se encontrava naquele motel barato. Era sempre o mesmo ritual. Eu fechava as janelas e as cortinas, apagava todas as luzes, enquanto ela se despia mecanicamente. Depois nos deitávamos no escuro sem trocar uma só palavra.  Não nos enxergávamos, nos despíamos de nossa própria humanidade.
Trepavamos... Ou nossos corpos se realizavam através um do outro na mais franca e despudorada putaria. Era uma foda louca. Mas parecia que não estávamos ali fodendo. Eramos sem rosto um para o outro. Sexo era essencialmente um modo de prostituição, de despersonalização. Não importa o quanto nos sentíssemos cúmplices e comprometidos naquela cama. Não éramos nós. Não éramos pessoas. Apenas dois corpos em alucinada  febre.
Mas na hora isso pouco importava. Não conseguia pensar em merda nenhuma enquanto sua buceta,  untada de desejo, apertava meu pau como nenhuma outra e me fazia gozar antes do tempo passando para minha a língua a responsabilidade de leva-la o orgasmo.
Depois do sexo também não falávamos nada. Nem nos olhávamos. Nos despedíamos friamente e íamos embora. Era assim todo fim de semana.
Aquilo não era exatamente um relacionamento. Mas também não era um encontro casual. Estávamos além de qualquer definição do que pode acontecer de mais intimo entre um homem e uma mulher.
Durante a semana também não nos falávamos. Nada sabíamos da vida um do outro. Tudo que importava era que todos os sábados nos encontrávamos religiosamente no mesmo horário naquele quarto modesto de motel. Era o suficiente. Aquilo era melhor que a rotina idiota de uma vida a dois. Se fossemos um casal não sei se ainda estaríamos juntos.
Se eu gostava dela? Bom.... Não levava em consideração essa porra de gostar. Ninguém gosta para sempre e quando mais se conhece uma pessoa menos interessante ela no parece. O que importa é que estávamos juntos. Trepando exclusivamente um com o outro ao longo de cinco tesudos anos.
Puta que pariu! Quantos casais sabem o que é isso? Eles sabem demais, querem demais, sonham de mais.  Nós não pensávamos em porra nenhuma. Só queríamos trepar e esquecer a merda da vida por algumas horas de prazer vulgar.
Ela gostava de ficar sempre por cima. Costumava me morder, me arranhar e eu tinha sempre que segurar a mão dela em algum momento para evitar uma dedada no cu. Nenhuma mulher  que eu já tive podia ser comparada a ela. Gostava do seu jeito selvagem. Ela sabia colocar um homem em seu devido lugar. Eu fazia quase tudo por aquele corpo.
Mas não. Ela não era bonita. Era até um pouco gordinha. Mas eu  detesto aquela beleza idiota de capas da Play Boy. Gosto de mulheres  cujo corpo foge aos padrões. Sei que elas não são  uma caricatura de Venus. Que não se rendem a vaidade imbecil das mulheres de plástico que adoram elogios, presentes e mais atenção do que aquela que realmente merecem. Não sou deste tipo de homem que se ilude com os falsos atrativos de uma bela bunda. Toda bunda caga. Mulheres bonitas também vão ao banheiro. Mas quem pensa nisso?!!!!!
Não seu imbecil! Eu não sou doido. Você é que não passa de um retardado e um medíocre de merda. Não sabe nada sobre mulheres! Pelo menos não sobre as poucas que realmente valem a pena. Você é como  a maioria e acha que a  bela porcaria do teu pau é o centro do mundo.

Quer saber?! Essa merda desta conversa acaba por aqui! Vai pra puta que te pariu!!!!

RECUSE ALEGRIAS, NÃO VIVA ILUSÕES

A alegria acostuma a gente mal.  Nos torna presas fáceis de qualquer ilusão, nos faz esquecer o mais elementar dos fatos: Estamos todos predestinados ao fracasso. Nem que ele nos surpreenda derradeiramente e de modo incontestável através da morte.

Nada é mais lúcido e natural do que estar sempre insatisfeito, revoltado e querendo evadir-se do mundo e da cínica normalidade que a maioria das pessoas tenta manter no rosto.


Nunca fique alegre, entorpecido por alguma boa nova que não durará mais do que uma manhã de verão. Espere sempre o pior porque todos estão sempre vivendo o mais absurdo de si e isso define os rumos do mundo 

TODO MUNDO CAI NA MERDA UM DIA


Um dia a  gente não escapa de perder o  chão,
De cair na merda
Até esquecer o próprio nome
E perder toda aparente dignidade.
Tudo que é humano
Um dia se fode,
Te fode
Ou, simplesmente, merda a porra toda.
Assim é a vida.

Não venham maquiar o fato
Com a idiotice de boas intenções ,
Tolices de religiões
Ou pura e simples burrice.
Todo mundo cai na merda um dia.


terça-feira, 21 de julho de 2015

DELÍRIO E COTIDIANO

A vida já não vale a pena sem um pouco de delírio, sem alguma irresponsabilidade. Sempre procuro de extraordinário para suportar o tempo e afirmar meu desprezo pelo tedio cotidiano.
Como poderia ser diferente? Levo uma existência  ilegível, vazia de mim mesmo pelas contramãos do mundo. Quase não sou em todas as coisas e nada espero de nada.

Talvez amanhã eu volte para casa. Ou, talvez, ninguém nunca mais saiba de mim. Não faz diferença. Todo este desesperado esforço de existência um dia acaba sem conclusões.


quarta-feira, 15 de julho de 2015

ESTÉTICA E VIDA

Nunca entendi a vida e muito menos as pessoas. O mais brutal e cotidiano da realidade não cabe no entendimento. Talvez na repulsa que me define os mais sublimes pensamentos. Sempre desejei uma estetização do real que nunca se mostrou possível.

A maioria das pessoas não é digna da arte, não cabem na literatura, naquilo que é mais real do que a própria realidade...


sexta-feira, 10 de julho de 2015

A TRANSFIGURAÇÃO DE TODOS OS VALORES

“Porque preferia descer ao mundo subterrâneo e viver entre  as sombras do passado! Os habitantes do mundo subterrâneo são mais gordos  e mais consistentes do que vós.
A amargura das minhas entranhas  é tanta , que não vos posso suportar nem nus, nem vestidos, homens contemporâneos!
Tudo o que inquieta no futuro e tudo o que pode afugentar  um pássaro espantado, tudo isso, na verdade, inspira mais quietude e calma do que vossa “realidade”. "

F. Nietzsche in ASSIM FALAVA ZARATRUSTRA.

Transfigurados todos os valores,
Superaremos a humanidade,
Inventaremos um mundo novo
Entre tempestades e relâmpagos.
Recuso estes crepúsculos de existência
Onde o humano já não tem lugar ou rumo.
Superaremos todos os absurdos,
Todos os confortos e silêncios
Prometidos pelas verdades sagradas.
Seremos livres no vento.
Até mesmo do cisco da razão
Que nos impede a visão
De seguir o viajante
Em meio a escuridão e a tempestade.
Dançaremos embriagados

Antes do fim desta delirante madrugada!

ELOGIO A LOUCURA

Cultivo o virtuoso defeito de não frequentar lugares comuns.
Sou um espírito livre, libertário e desmedido
No exercício de semear tempestades
Em meus horizontes.
A arte de viver a si mesma é solitária,
Uma ofensa contra a sociedade
E um nobre elogio a loucura
E a insanidade.
Meu barco afunda
Enquanto a maioria das pessoas
Se busca

Em nossas convenções de realidade.

LÁ FORA

Vamos sair pelo mundo,
Fugir desta parcial realidade
Que nos escraviza ao parcial
Do superficial cotidiano
De nossas vidas.

Lá fora há lugares e coisas
Que não ousaram os sonhos,
Os desejos e vontades em agonia
Que todas as noites
Nos roubam o sono.

Abra a janela.
Pule e abrace o desconhecido.
Tudo que mais importa

Nos espera lá fora.

terça-feira, 7 de julho de 2015

PESSIMISMO

Estamos todos hoje expostos a demolição.
Os outros nos estragam as certezas,
Nos revelam que o mundo
É qualquer espécie de delírio
Onde os mais insanos
Reivindicam
O direito a razão.
Sejamos honestos.
A vida está morta
E não me venham com falsas
E otimistas soluções.

Já estou farto de boas intenções.

A SABEDORIA DO ABISMO

Acorde agora para o horizonte.
Não tenha medo do desconhecido.
Pule no abismo.
A vida deve ser vivida
Como um grande susto.
Então grite o futuro.
Ainda é tempo.

Esteja sempre o movimento.

segunda-feira, 6 de julho de 2015

DES- EXISTÊNCIA

Existo a sombra de alguns sonhos,
De tudo aquilo que não foi vivido
E se perdeu nos labirintos do impossível.
Vivo da nostalgia daquilo que jamais será.

Não sou senhor do meu destino,
Se quer sou eu mesmo
No dizer dos meus dias.

Estou sempre anoitecendo,
E desaparecendo em algum silêncio.

                                                                                

sábado, 4 de julho de 2015

FILOSOFIA DO TESÃO

Sei seu desejo no meu corpo,
Tua boca no meu pau.
Minha vontade erguida e fatal.
Somos nessa cama
Simplesmente a vida
Que desconhece sentidos
No sentimento de agora.
Somos o não saber do mundo,
A emoção da vontade
Na metamorfose de um beijo
Em agonia e desejo

Que nos refaz em melancolia.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

NOTA SOBRE PROSTITUIÇÃO, ESPAÇO RITUAL E CULTURA CONTEMPORÂNEA

Acredito que relacionamentos afetivos e sexomania não se enquadram na fórmula utópica e conservadora do amor românico e eletivo, mas que de modo muito curioso aproximam-se de um jogo de sedução que revela a prostituição como lugar/vivência privilegiado para a construção da afetividade.

Sei o quanto tal tese pode em um primeiro momento parecer absurda, mas em uma passagem do livro de entrevistas CEM ANOS DE PSICOTERAPÍA: E O MUNDO ESTÁ CADA VEZ PIOR,  onde Michael Ventura entrevista o renomado terapeuta pós junguiano James Hilman encontrei algumas reflexões que  corroboram minha tese.
Parafraseando Hilman, os bordeis clássicos que sempre existiram ao longo da história é que fazia parte da boa cultura, expressavam o sexo como uma experiência sagrada  no cultivo da imaginação  e da vida psíquica.
Em suas próprias palavras:

“ HILMAN- A única forma de se entender alguns casamentos, ou porque algumas pessoas estão juntas, é que elas finalmente encontraram com quem compartilhar sua perversão.
Ventura- Gosto disso. É um bom motivo para alguém se casar e um bom motivo para ficar casado. Porque  o que a sociedade está chamando de perversão, a pessoa sente como uma experiência transcendental.
HILMAN-É o que se deve fazer com os dilemas do sexo: transar num espaço ritual. Em vez de fotografias de vaginas e pênis.
VENTURA- Transar num templo. “Eu vos convoco em nome de Deus.”
HILMAN- Nos antigos bordeis cuidava-se da imaginação das pessoas. O mesmo encontra-se em Sade, cujas histórias são uma série de imagens. Quando não se cuida da imaginação, só resta  o que hoje conhecemos como sexomania e terapia sexual ( que é a tecnologia do século e não a arte do sexo), bem como avós e tios acariciando menininhas. Novamente, molestamento sexual e tudo o mais são em parte função da prostituição reprimida e de toda sexualidade considerada “anormal”.
VENTURA- E reprimir a prostituição, como reprimir as drogas, é instigar e provocar agressões ainda maiores, como a exploração, a violência, as doenças e a escravidão.”


( JAMES HILMAN E MICKAEL VENTURA. CEM ANOS DE PSICOTERAPIA.... E O MUNDO ESTÁ CADA VEZ PIOR. Sp: summus editorial. Trad. Norma Telles, 1985. Pg. 203.)

quarta-feira, 1 de julho de 2015

TEMPO PRESENTE


Vivemos tempos de absurdos e corações partidos.
De esperanças quebradas e desesperos de  vazias ideologias.
Vivemos dias ruins e merecemos afoga-los em goles de insensata e engajada poesia.
O futuro não virá ao nosso encontro realizando nenhuma utopia.
Sejamos todos loucos perdidos pelos labirintos do simples agora.
Sejamos ousados e irresponsáveis
Mergulhando a cabeça em nossos íntimos abismos.
Talvez já seja tarde demais para humanismos

E cedo demais para nossa pós humanidade. 

A QUASE FELICIDADE ATRAVÉS DE UM BOM SEXO ORAL

Ela chupava meu pau como nenhuma outra.
Sabia como poucas lamber meu saco.
Sua língua, definitivamente, provava minha genitália
Como uma fruta doce e suculenta
A ponto de me fazer esquecer de tudo
E sentir meu corpo desfalecer naquele prazer
Que ninguém mais do que ele
Sabia proporcionar a um homem.
Admito ter me viciado com aquilo.
Quase diariamente precisava da sua boca
Em minhas partes
Para suportar as mazelas da condição humana.
Por algum tempo deu certo.

Mas apenas por um tempo...

DELÍRIOS E DESESPEROS

Sempre haverá tempo para o desespero. Estamos condenados a viver e morrer.
Entre os vazios das minhas palavras e os tumultos dos meus afetos existe um grito engasgado na garganta.
Queria qualquer outra possibilidade de existência,
Qualquer outra realidade menos asfixiante e determinada.

Por isso busco alucinações durante o por do sol e faço de cada instante uma piscadela para o abismo.