domingo, 23 de janeiro de 2022

OS CORPOS

Os corpos circulam pela cidade
em espantosa diversidade.
jovens, velhos,
magros,gordos,
saudáveis, doentes,
pretos ou brancos.

Cada corpo é um corpo,
deselegantemente humano
em composições e decomposições.

Alguns masculinos,
outros femininos,
e há também  os neutros. 

Corpos que andam,
que esperam,
ou que descansam.
Que afetam e são afetados,
em dissonância.

A cidade é feita de corpos em movimento
E não da inércia  dos prédios e avenidas.

A vida é o livre movimento dos corpos, 
entre as palavras e coisas,
que inventam a paisagem.










sábado, 22 de janeiro de 2022

FILOSOFIA DA NATUREZA

Não busque a segurança da prisão de qualquer certeza.
Não tente compreender o mundo,
explicar a vida,
através do dógma de qualquer verdade de ocasião. 

Não se iluda com palavras de fé
e delírios de redenção.
Não  existe salvação. 
Há apenas a terra e o chão. 

Persista radicalmente no concreto exercício de si mesmo,
na luta pela sobrevivência, 
na busca e na resistência,
contra a realidade morta e abstrata
que aprendemos na escola.

Viver é vertigem, movimento,
e incerteza.
Tudo é inconstante, mutante,
experiência de um corpo vivo e intenso
que sabe sentir e criar mundos através dos afetos que nos movem
na coincidência do dentro e do fora,
na invenção do sentido,
e des-sentido,
de um dizer nômade,
que traduz um labirinto de experiências e formas
a coincidência dos opostos.

Seja corpo!
Tudo é o ludico exercício de um jogo entre a percepção e a consciência  das almas das coisas.
A natureza é uma realidade viva
e em um devir infinito que nos trans-forma e informa deliciosos delírios. 



















quinta-feira, 20 de janeiro de 2022

A URGÊNCIA DO FIM DO MUNDO

O fim do mundo de hoje, de tudo que é moderno e antropomórfico, é a condição necessária para sobrevivência de todos os mundos visíveis e invisíveis no devir extra humano da vida.

terça-feira, 18 de janeiro de 2022

A POTÊNCIA DO GRITO

Aprendi a destilar meu grito
entre a prisão da palavra
e os limites da voz.
Agora sei gritar tão  alto
que não  sou ouvido.
Mas todos sabem
que eu grito,
sentem o meu grito
como se fossem agredidos
por qualquer soco invisível. 

O grito está no meu olhar,
no meu modo de andar,
vestir, rir, e falar.

Meu corpo exala o fedor
do grito.
Por onde passo,
tudo e todos
são perturbados
pelo meu grito.

Definitivamente,
não  sou sociável.
Estou sempre vestindo protestos.
E mesmo quando calado,
exibo nos lábios cerrados,
um silêncio que guarda
a potência do grito.


segunda-feira, 17 de janeiro de 2022

ANSIEDADE

A ansiedade é uma espera,

uma fome de qualquer coisa

além do dia seguinte.

É uma vontade contida

de transpor limites,

fechar feridas,

calar angustias,

que ninguém sabe a origem.

A ansiedade é a contra verdade do corpo

que resiste ao simulacro da realidade.



sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

A REALIDADE DA FICÇÃO

A realidade da ficção é mais intensa que a concreta e imediata verdade material e banal da existência cotidiana. Pois ela é palavra e imagem em movimento de afecções e lembrança de coisas impossíveis,  vivênciadas no extra-ordinário da fantasia mais intensa. É música,  artificialidades de outros mundos dentro do mundo, singularidades que desenham a topografia do inexistente que nos frequenta a consciência, que ganha consistência, através de metafísicas percepções do suprareal.
A realidade da ficção  é uma meta existência onde tudo é mais verdadeiro do que qualquer convicção de verdade inspirada pelo material ou pelo ideal. Afinal, a existência é, em seu sentido mais arcaico, uma consciência do assombro e estranhamento de ser corpo e mundo onde tudo foge e escapa através do tempo.

terça-feira, 11 de janeiro de 2022

O ACASO COMO PRINCÍPIO

Nunca acreditei em milagre,
muito menos em destino.
Abomino toda ilusão 
de livre arbitrio.
Aposto em propabilidades,
em acasos encadeados
criando caos e abismos.
Só há liberdade onde nada faz sentido.
.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

QUASE UM LOBO

Aprendi a voar com os peixes,
a andar com os pássaros, 
e a imaginar com as borboletas.

Minha vida é feita de indeterminação e incertezas.

Nada aprendi com os humanos.
E ainda corro entre os lobos 
pelos labirintos de uma antiga florestas.


sábado, 8 de janeiro de 2022

POR UMA REVOLUÇÃO MOLECULAR ANTI ILUMINISTA

Façam qualquer coisa agora!
Há sonhos morrendo
nos porões da realidade
torturados pela Razão,
pela História,
e pela nação. 
Estão matando utopias,
infâncias, e rebeldias,
em nome do progresso da civilização
que capiturou a vida.
Inventem crônicas de tempos intensos
no fundo do presente
através da história pública.
Provem outros mundos em narrativas 
contra a ditadura da Razão Universal.
Enforquem Hegel e os historiadores!!
Sejam, contra o absoluto,
os heróis absurdos
de uma nova mitologia local.

DESPERTAR

Hoje acordei 
vestido de onírico
e despido de mundo.

Despertei sonâmbulo
e entre os malditos e os sem juizo.

Acordei nauseado pela realidade,
rasgando o céu e o chão,
buscando infinitos
no micro universo
do corpo afetado,
transpassado por sensações de febre, 
pensamentos e tempestades de desrazões
no inferno do caos das vontades primordias
onde a duração é devir
e o eu se desfaz.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

O ANIMAL

Sou um animal 
que come, que dorme,
e se move
em impessoal exercício de natureza.

Sou sede, sou fome,
 algo que fala,
que sonha e que morre
em uma terra viva
que me transforma e supera,
pois minha alma é carne.







sábado, 1 de janeiro de 2022

CORPO PALAVRA

O corpo que habita a palavra
é um outro de mim.
É composição de matéria,
espaço  circunscrito a sua própria ilusão. 
É um corpo desanimalizado,
artificializado,
feito imagem e semelhança  de um eu prepotente,
que pensa pensar a si mesmo
inventando um mundo
que só existe na imaginação de si mesmo
como medida de todas as coisas.