domingo, 31 de dezembro de 2023

SIMPATIA PELO DIABO

Não serei escravo de dogmas e certezas,
um zé ninguém reduzido a obediência e a fé
na prisão de qualquer igreja.

Não serei vítima do poder pastoral,
uma nulidade de rebanho,
submetida a falsa autoridade
de qualquer poder universal.

Sou livre para desobedecer,
para recusar o determinismo
da mentira do livre arbítrio.

Jamais seguirei mandamentos
ou cartilhas.
Pois só eu sei o que diz minha lei.

Apenas  escravos se curvam a senhores
ou servem ao despotismo natural  dos reis.

Quanto a mim,
tudo que sei
é que serei livre e intenso
como uma chama
que não  se conforma se quer
a própria existência.

Como diria o divino Lúcifer 
no Paraíso Perdido de Milton,
Serei senhor do meu inferno
mas jamais um servo do céu.







sábado, 30 de dezembro de 2023

RENUNCIA NIILISTA

O que  me interessa 
é a liberdade de ficar a margem,
de não querer,
de não dizer,
de não gostar,
de não saber,
de não fazer nada,
de não ser parte de nada,
de viver unicamente para nada
quando nada mais importa.

Advogo o desengajamento absoluto,
a radical renuncia de um mundo
que sobre nós desaba
em todas as suas decadentes formas de expressão e desgraça.

Só me interessa 
o devir suicida dos condenados,
o alheamento dos enlutados
e o definitivo silêncio dos meus mortos.




segunda-feira, 25 de dezembro de 2023

ALÉM DO HORIZONTE

Depois de amanhã
a vida será outra coisa
muito além da fantasia do sagrado
e da ilusão do humano.

A realidade das coisas
nos levará a outra parte
de nós mesmos
em uma radical transformação da matéria
e de todas as nossas expectativas.

Depois de amanhã
seremos ultrapassados
pelo nosso próprio horizonte.



sábado, 23 de dezembro de 2023

NO INFERNO COM RIMBAUD



Compartilho da infernal juventude de Rimbaud
oferecendo minha alma ao fogo e ao sol.

Despido de convicções e esperanças
contemplo as peripécias do último homem,
o cadáver  do deus morto
 e a agonia da humanidade moribunda
de uma civilização em extinção.

Reinvento-me na incandescente ilusão de um eu urgente,
no caos impessoal da natureza selvagem,
fazendo do corpo,
inspirado por uma luciferiana determinação,
prima matéria da grande revolta universal.

Trago, assim, do inferno
novos provérbios e iluminações
contra as divinas ilusões
de sua fé e sentimentos cristãos.




terça-feira, 19 de dezembro de 2023

CONTRA A REALIDADE

A realidade nunca me bastou.
Jamais me conformei a ilusão de nenhuma verdade,
autoridade ou divindade.

Recusei mestres, santos e reis.
Desconfiei dos doutos, moralistas
e senhores da lei.
Nunca acreditei na escola, na igreja,
na retórica ou no uso hierarquico da força.

A realidade é o que nos sustenta ilusões, conformismos e convicções.
Ouso buscar, criar e imaginar
qualquer coisa intensa
cuja potência extrapola
a bolha de nossa vil realidade.
Ouso o confronto como estratégia de auto descobrimento e invenção.

Pois estou farto de tanta razão,
mansidão e realidade,
da prisão a qual foi reduzida
nossa domesticada  consciência das coisas.

Queimem o quanto antes toda realidade
antes que seja demasiadamente tarde,
antes que a morte
sobre nós desabe
sem a menor piedade.












quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

PELO FUTURO DA HUMANIDADE


Somos animais miseráveis
que levam demasiadamente a sério
o patético fenômeno de sua auto consciência.
Graças a ela reduzimos nossa própria existência
a um desastre,
a um lamentável atentado contra a natureza.
Tudo em nome da racionalidade,
do progresso e do futuro da humanidade!


terça-feira, 12 de dezembro de 2023

NIILISMO E ANTI POLÍTICA

Nenhuma opinião ou convicção política
vale a lucidez inútil
de uma crise existencial.

Afinal, o mundo
é regido pelo absurdo,
por tudo que não faz sentido
e não tem solução.

Estamos prefigurados
para o desastre.
Programados para a ruína,
para o fracasso,
na consumação de nossa finitude,
de nossa mortalidade.




A PARTE MALDITA

Parte de mim sobrevive
a margem da lei e da ordem.
Quer mudar o mundo
ou fugir de tudo.
Pretende, qualquer dia desses,
de um jeito desesperado, 
perder de vez  a medida, o rumo,
e semear absurdos
contra o mais previsível
do nosso futuro.

Parte de mim é marginal, 
livre , subversiva e amoral,
se afirma além do bem e do mal,
contra tudo que nos assujeita e domina.

Parte de mim
goza do orgulho
de não ser racional.





quinta-feira, 7 de dezembro de 2023

A PALAVRA MALDITA

Reivindico a palavra impura,
maldita,
que nada reivindica,
significa ou glorifica.

Ouso a palavra
que repudia a verdade,
que nega toda autoridade,
resgatando o grito,
o uivo e o grunido
contra a civilização e o feitiche dos discursos e dos livros.

Ouso a palavra que repudia a escrita,
que desaparece em imagens e oralidades,
e que através da transgressão,
do vazio do ser da  linguagem,
rompe todos os limites da imaginação.

Reivindico a palavra
que debocha de nossa vaidade,
que confunde o silêncio,
que se perde na morte da escrita
enquanto  repudia o triunfo da informação.



OUSE UM MUNDO QUE DANÇA

Ouse o outro mundo
que dança 
dentro da sua cabeça.

Tente se perder
entre suas próprias frases,
no meio do pensamento,
ou, mesmo, através da soma de alguns pequenos atos de terrorismo poético.

Seja outro, muitos e ninguém,
através de si mesmo,
pois é sempre o anonimato do nada
o que melhor nos define intimamente.
Prove o doce sabor de algum coquetel de liberdade e loucura.

Invente  silêncios, 
 desobediências e resistências,
até que o mundo se torne outra coisa
além do inferno da mera sobrevivência.

A imaginação é um território fértil 
para sonhos, delírios e versos 
que nos transformam o desejo,
os afetos e micro infinitos
na contramão do possível de nossa macro existência.

Ouse o mundo outro e bailarino
que dentro de ti redefine
toda ilusão de realidade
através da recusa da lei,
da ordem vigente
 e de toda ilusão de verdade.

 Ouse o que desobedece,
o que incomoda,
nega, briga,
brinda, transforma
e nos faz dançar
movidos por uma febre alegre
contra toda forma de inércia e obediência.
















sexta-feira, 1 de dezembro de 2023

A VIDA É O QUE NOS ESCAPA

A vida não está no que eu faço,
no que eu quero, sinto ou gosto.
Não tem haver com o que penso,
aceito a contragosto,
ou finjo que não existe.

A vida não está em nada que imagino.
É delírio e imaginação,
como meu próprio corpo,
enquanto matéria que me transcende.

A vida é, simplesmente,
aquilo que define o morto.
É o que não está mais alí,
o que não se pode dizer.








sábado, 18 de novembro de 2023

NUDISMO VIRTUAL

Visto o lado direito,
mesmo que amarrotado,
para dizer o avesso,
questionar o dizivel,
todas as espectativas,
adestramentos, cartilhas,
hierarquias e conformismos.

Visto a pele,
meu intimo nudismo,
mas me apresento coberto de pano,
como todo mundo,
quando apenas finjo
 que estou vestido,
adornado por um duvidoso juízo
e algum tipo cretino de humanismo.


quinta-feira, 16 de novembro de 2023

DESCRENÇA ENCANTADA

Não acredito em deus,
deuses, orixás, gnomos,
pensamento positivo
ou na força ridícula das palavras,
embora goste de contos de fada,
tarô, astrologia, HQs e ficção científica.

Não acredito em Verdade, verdades,
ou em opiniões bem fundamentadas.
Não acredito em nada.
Nem mesmo em minhas próprias fábulas.
Sei que a vida é uma coisa inventada
que zomba de tudo em que a gente
pensa
 ou acredita ser realidade.






ALIMENTE SUA RAIVA, CULTIVE SUA REVOLTA

Cada um deve cultivar sua raiva,
sua revolta,
como uma energia vital.
Afinal, a raiva é diferente do ódio que alimenta os religiosos,
os autoritários e escravos da verdade,
adoecidos pelo dever ser de qualquer imperativo moral ou Estatal.

A raiva é o que nos liberta,
o que nos leva a autonomia e a independência.
É o que nos faz lutar e viver
quando absolutamente nada mais faz  sentido.




quinta-feira, 9 de novembro de 2023

MERCADO DE LIVROS


Livro são coisas,
como cigarros e doces,
que a gente adquire por hábito
e não valem o ato de consumir.

Livros escondem a parede,
ocupam gavetas.
Livros são apenas livros.
Mas, enquanto fechados,
 são como buracos tapados.

Não se importe com os livros.
Muitos não dizem nada.
A maioria há de virar lixo,
depois de esquecidos em um canto de casa.

Livros são coisas,
uma mercadoria como outra qualquer.

 

quinta-feira, 2 de novembro de 2023

LIXO E HUMANISMO

Tudo que nos afeta é reduzido a dados,
informações e propaganda.
Tudo é simulacro,
lixo acumulado,
 material perecível, descartável
e reciclável.

Tudo que nos define humanos
é porcaria, artifício tosco,
linguagem vazia,
verborragia.



ORGULHO ANIMAL

Sou um animal sem alma,
indiferente a todo preceito moral,
a boa consciência racional.

Obedeço a natureza
através do meu corpo
que se confunde com o mundo
em meu pragmático hedonismo.

Sou absurdo, louco e preguiçoso.
Um pouco egoísta e mentiroso.
Sou um animal sem qualidades
e profundamente orgulhoso.

sábado, 28 de outubro de 2023

O MUNDO

O mundo é o que há.
É o que morre,
o que muda,
o que junta, separa,
e desfaz.

O mundo é o Intolerável,
o incontrolável, o desfavorável,
o incontornável,
o uno, o múltiplo e o absurdo.

É grito, silêncio, verbo.
Incompreensão e conflito.

O mundo é o que escapa.
O que deixa de ser
e nos mata.

O mundo é o que há.
É o que dói, atrapalha a vida,
e o que nos leva a loucura.

terça-feira, 24 de outubro de 2023

POR UMA EXISTÊNCIA NÔMADE

Não sou mais criança,
não sou mais jovem,
mas nunca me tornei um adulto.

Não virei escravo do mundo,
do trabalho, da verdade,
da moral, da fé e do Estado.

Persisto no tempo e no espaço,
provisório e incerto,
no uso dos meus prazeres,
 em busca de liberdade,
despido de certezas, identidades
ego e vaidades.


segunda-feira, 23 de outubro de 2023

A INSURGÊNCIA DO RISO

É preciso rir sempre.
Principalmente,
quando e onde não é permitido.
Rir do que é sagrado,
investido de autoridade
e reverenciado como verdade.
Rir do que exige respeito.

Rir sem pudor ou medida
de toda expressão de poder e opressão,
até que o riso se torne um risco,
algo perigoso , subversivo
e não mais permitido.

É preciso rir contra o sistema,
da nossa impotência,
de toda obediência e conformismo.

É preciso fazer do riso
uma arma de guerra
e um instrumento de resistência.

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

A INVERDADE DE CERTAS CERTEZAS

Vivo certezas que duram como um relâmpago,
mas persistem imprecisas dentro de um sonho,
ou de um sono, distração,
ou engano.

São certezas que não sustentam qualquer solução,
que não levam a qualquer conclusão,
que somem no ar, bailando no escuro,
contra a lógica, a razão e os fatos.

Minhas certezas duvidam de sua própria convicção,
das palavras que vestem
enunciando verdades ocas
contra todas as convicções.





sexta-feira, 13 de outubro de 2023

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Todos tentam explicar os fatos
como se a realidade fosse uma equação a ser resolvida.
Como se fosse possível
arrumar o século na cabeça,
analisar conjunturas,
adivinhar causalidades
e inventar alguma boa  solução
para os impasses de época
e desafios de qualquer sociedade.

Já não basta criar informação,
genealogias, esclarecer tendências e vislumbrar perspectivas.
Todos querem saber,
dominar a situação
indo além da burrice erudita dos especialistas.

Mas o mundo já não vale  nossa preocupação.
Ele apenas segue sem solução
na encruzilhada de tantos desastres
que destrói finalmente toda ilusão de progresso e  razão,


 








segunda-feira, 9 de outubro de 2023

CONFISSÕES DE UM DESAJUSTADO

Dos desencontros entre o eu e o mundo 
Nasce um espanto,
 uma indignação,
 uma vontade de fugir de tudo 
afirmando toda potência da des-razão, 
Do nada e do silêncio, 
 que atravessa tudo que existe
 rasgando minhas entranhas e as paredes da vida 

 Há um abismo entre a vontade e o corpo, 
entre a percepção e a existência
 que escapa ao conceito, 
ao verso e ao discurso
 e se rebela mudo
 entre as sombras das existências abertas em insurgências 
e recusas do mundo.

sábado, 7 de outubro de 2023

FILOSOFIA DO LIXO

Tudo que é humano é perecível, descartável e inútil.
Tudo que produzimos, queremos e  pensamos, na medida em que existimos, não passa de um incalculável volume de lixo, paradoxalmente, quase imperceptível.

sexta-feira, 6 de outubro de 2023

RESPIRE

Esqueça a necessidade,
 a ansiedade e a rotina.

 Esqueça a chave, a senha 
e a identidade.
Toda bobagem sobre ideologia
e sobre o futuro da humanidade.

 Esqueça essa merda toda 
que te ensinaram a chamar de vida.

 Esqueça. 
Feche os olhos 
e  respire. 

Contra tudo que te oprime, 
Risista, 
faça, reaja.
Simplesmente, respire.

quinta-feira, 5 de outubro de 2023

A FRAGILIDADE DAS PALAVRAS

Palavras envelhecem,
morrem e são esquecidas.
Não importa o quanto nos fascina um discurso ou enunciado.

No fundo, toda palavra não passa de ilusão
como toda experiência humana
consagrada a vivência da verdade
ou a ilusão metafísica da razão.

Afinal, o corpo e o ato
antecedem as palavras
como resultado da percepção.
Tudo que realmente nos importa
é o tempo e a ação além do verbo.

sexta-feira, 29 de setembro de 2023

MISERÁVEL HUMANIDADE

Enquanto os vivos enterram seus mortos, e a Terra gira em torno do sol, seguimos indiferentes a expansão do universo e a sua grande noite universal. Nos reproduzimos e sobrevivemos indecentemente sobre a superfície do planeta Acreditando na redenção pela razão, na ofuscação da percepção sensorial pelo poder do verbo e em qualquer bobagem sobre a emancipação da humanidade do julgo da matéria e da natureza. Inventamos deuses para negar nossa irrelevância e miséria.

quinta-feira, 28 de setembro de 2023

O CORPO COMO LUGAR

Meu corpo é um canto qualquer Perdido no mundo. É lugar, sempre em movimento, Um ponto cego de existência Ou um pequeno grão de deserto. Meu corpo é um lugar nenhum Invisível na cidade Onde a vida já não tem mais lugar. Onde todos os corpos Não passam dos número e estatística.

sábado, 23 de setembro de 2023

NOMADISMO

Seguimos sob o signo do efêmero.
Tudo em nós é aparência e
desaparecimento.

Nunca saberemos futuros,
nem seremos perperpetuados
por alguma ilusão de eternidade.

Existimos sem lei ou identidade,
sem fé, ambição ou vaidade,
vivendo a margem das civilizações
e de suas razões de Estado.

Seguimos, livres da prisão de qualquer noção de verdade.
Não cultivamos memórias
nem inventamos fatos.
Vivemos os dias,
além da história,
teologias e teleologias.

Nada em nós faz sentido
nem somos seduzidos
pela presença sacralidade de qualquer discurso.







sábado, 16 de setembro de 2023

ESPÍRITO LIVRE

Não creio em deuses ou reis.
Abomino tudo que fede a poder,
norma e autoridade.

Detesto palavras que viram gaiolas, que nos controlam,
castram e exploram,
a sombra da tirania de qualquer gramática.

Existir é escapar-se,  perder-se,
a margem da lei e da ordem
que tanta desigualdade e injustiça
nos impõem sem piedade .

É certo que amanhã estaremos  mortos
e nossas lutas perdidas e enterradas.

Mas, até então,
seremos livres e impertinentes.
Sabendo a vida como uma porta
sempre  aberta contra a prisão do poder,
das  normas e autoridades,
sejam elas divinas ou humanas.

Seremos, até o fim,
francos inimigos do Estado.


sexta-feira, 15 de setembro de 2023

NO REINO DA LIBERDADE

Deuses, juízes, 
policiais e políticos
 não me dirão como viver, 
o que fazer e, principalmente, 
o que sentir e sonhar. 

 Cada um é senhor de seus dias
 Inventando entre iguais 
 o tempo comum do mundo.

Nenhum poder ou hierarquia
nos castra a imaginação
e a vida acontece leve
e  insensata na mais intensa poesia.

Tudo que existe é livre,
devir e incerteza
na arte de ser, não ser,
acontecer e morrer.



quarta-feira, 13 de setembro de 2023

DEFINIÇÃO DE MUNDO

Entre o eu e os outros
 há uma zona de indeterminações e mutações, 
de potências e virtualidades, 
tensões e confrontações,
 onde nada persiste. 
Isso é o que chamamos de mundo.
 Isso é o que nos devora e sustenta,
o que fundamenta todas as nossas ilusões sobre a existência,
o nada e a consciência.

domingo, 10 de setembro de 2023

NIILISMO INSURGENTE

Nunca estarei ao lado
dos defensores da ordem,
da Razão e do Estado.

Estarei sempre entre os amotinados,
os delinquentes, os bestializados,
que se insurgem contra toda razoabilidade, civilização e autoridade.

Meu niilismo é a recusa de todos os caminhos,
um perder-se em provisórios arranjos de imaginação.
Pois sei que toda verdade inventa mentiras
e a liberdade há  de provar o sangue de  todas as velhas certezas.





quarta-feira, 6 de setembro de 2023

DESERÇÃO FILOSÓFICA

Não prego nenhuma nova moral,
 qualquer mundo novo ou sociedade ideal. 

Estou farto dos reformadores da humanidade, 
dos semi deuses, juízes e donos de qualquer verdade universal. 

 Quero paz, silêncio e preguiça.
 Ignorar a cidade adoecida 
que nos envolve como uma prisão.
 Prefiro não saber de nada, 
não participar de nada e não querer nada.

 Seguirei apartado do jogo de nossa suposta humanidade,
 Indiferente a vontade dos outros e a minhas próprias necessidades. 

A vida, afinal, é um enigma sem solução 
que não vale um mínimo esforço 
do meu corpo 
por sua própria conservação.

segunda-feira, 4 de setembro de 2023

A VIDA NÃO SE APRENDE NA ESCOLA

A vida não se aprende na escola.
Viver é recusar instruções,
é seguir intuições,
ouvir a natureza,
além da ilusão da razão.

A vida é um  por vir permanente.
Ela não cabe em fórmulas, leis,
ou  enunciados fixos.

Viver não é produtivo e nem tem sentido.
Viver é mudança.
E ninguém ensina mudança.
A mudança é algo que se prática
e nos transforma.
A vida não se aprende na escola.
 

domingo, 3 de setembro de 2023

MUITO ALÉM DA UTOPIA

Quero criar com minha angústia
uma outra língua para escrever um mundo novo na pele dos meus melhores sonhos.

Pretendo fugir de vez do cotidiano, da moral, dos outros, do país, do século e do universo.

Vou morar na casa da árvore
onde não existe trabalho
e é possível viver a margem da lei.

DESEDUCAÇÃO EXISTÊNCIAL

Não sei mais o que é ser ou viver.
Desaprendi todas as ilusões da civilização,
fugi as armadilhas da percepção e da linguagem,
e reaprendi o mundo das crianças
redescobrindo a realidade dos animais domésticos.

Sou agora o apêndice das minhas infâncias,
um campo de ficções e ritos de existência,
se desfazendo aos poucos entre o céu e o chão,
imerso em minhas próprias fabulações e angústias,
se ou meu enigma e minha ilusão.

sexta-feira, 1 de setembro de 2023

CONTRA OS VAMPIROS DA VERDADE E DA BOA CONSCIÊNCIA

Aos zelosos condutores de consciências,
guardiões da verdade,
defensores de religiões ou ciências,
dedico meu mais destilado asco,
toda minha ferrenha abominação.

Ao inferno os guardiões da boa conduta,
dos caminhos retos e da moralidade.

Tenho o espírito livre e selvagem,
acima do certo e do errado,
do bem e do mal,
e por nenhum de vocês
ou por qualquer poder soberano
hei de ser julgado ou condenado.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

UMA DOSE DE NIILISMO CONTRA O ABSOLUTISMO MORAL

Não acredito no bem e no mal.
Desprezo polarizações estúpidas,
rejeito com todas as forças o jogo tosco dos binariamos e maniqueismos de toda espécie,
que embriagam a imaginação das massas,
que alimentam a violência moral dos fanáticos e o julgamento dos toscos.

Abomino verdades e princípios absolutos.
Assim como não suporto personas e identidades que reduzem indivíduos a patéticos autômatos, escravos de uma profissão de fé.
Abomino a magia hipnótica de uma boa retórica.

Inspira-me o mais radical ideal de liberdade.
Sou contra todas as formas de autoritarismo e absolutismo moral.
Pois ando do lado de fora de toda verdade e princípio.





sábado, 26 de agosto de 2023

INIMIGOS DO REI

Todos invejam o poder do rei.
Mas o rei é um mero simulacro do absurdo divino,
 uma pesada carcaça
sobre os ombros dos súditos
que aceitam suas ordens e mentiras como caminho e destino.

Mas o poder do rei 
como todo poder é maldito
e como todo governo é repulsivo.

Contra ele erguemos nossa revolta, nossa descrença,
e oferecemos nossas mais elaboradas heresias.

É certo que um dia sua morte fará nosso alegria
e nosso futuro será a anarquia de uma rebelião permanente contra toda forma de  monarquia.


A MISÉRIA DOS CONFORMADOS

Somos reféns da estupidez moral, 
cognitiva e afetiva 
que nos faz aceitar hierarquias,
autoridades e mentiras
em nome de um dividoso bem comum.

Acreditamos em leis , pactos, 
deuses, verdades e Estados  
que nos tornam submissos,
obedientes e cretinos,
em nome da sobrevivência de cada um.

Não passamos de um miserável rebanho de imbecis 
incapazes de sonhar e criar
sua própria realidade
com liberdade, autonomia  e dignidade.

Somos reféns de uma subjetividade de escravos.
Reduzimos a razão a obediência
e a nefasta incapacidade de transgredir.



sexta-feira, 25 de agosto de 2023

CRIATIVIDADE

A esperança sustenta os covardes,
 o desespero alimenta os heróis. 
É preciso nada ter a perder para criar o inesperado, 
o novo e o imprevisível que nos faz renascer. 

 Para arrancar dos braços do nada qualquer novidade
 é necessário uma vontade desesperada.

O CULTO A ESCURIDÃO

Cultivo a escuridão que me esclarece, alimento a noite que me devora, através das angustias e incertezas que me turvam. Serei silêncio no tempo aberto do anonimato que me soterra para todo o sempre no avesso da eternidade. Afinal, sei as dores do mundo. Não me seduz nenhuma esperança. Tudo que existe busca desaparecer, Parar de sofrer e se desfazer no frio e no silêncio da escuridão cósmica.

segunda-feira, 21 de agosto de 2023

RENÚNCIA A CIVILIZAÇÃO

Renuncio a todos os princípios,
valores, verdades, saberes e autoridades
que norteiam nosso sonho de humanidade.

Recuso-me mesmo como homo sapiens,
esta aberrante fantasia evolutiva que nos situa entre o divino e o humano,
que nos reduz a condição de animal terrestre,
 de sangue quente,
que vaga perdido entre o céu e a terra,
as turras com a natureza 
em defesa de sua suposta inteligência.

Renuncio a civilização!
Vida longa aos matos,
rios , cachoeiras e florestas.
Eu me recuso, definitivamente,
a ter um só pingo de razão.

 

sábado, 19 de agosto de 2023

PREGUIÇA NIILISTA

Opiniões não mudam o mundo,
não derrubam governos,
ou desconstroem poderes, 
verdades e disciplinas.
São tão inúteis quanto a firme convicção
que as inspiram.

O que muda o mundo é a mudez das gentes,
a indiferença , o imbatível cansaço,
descrença, indiferença e indisciplina
que se espalham entre os obedientes.

O que muda o mundo é quando muitos
perdem o rumo, o prumo,
o respeito e o medo,
e se rendem a mais onipotente e universal  preguiça  niilista.



quarta-feira, 16 de agosto de 2023

SOBRE A INCONVENIÊNCIA DO HUMANO

Clones, cyborgs e inteligências artificiais nos levarão além da eugenia, do totalitarismo utópico do mito genuinamente moderno e escatológico de um Novo Homem ou “segundo Adão”, despido de todas as imperfeições e limitações das versões anteriores do Homo Sapiens.

 A hipótese de uma emancipação do gênero humano através da razão é uma ilusão pós iluminista que, infelizmente, ainda embriaga os contemporâneos. Apesar de todas as inquietudes e incertezas que marcam este inicio de milênio, pautado tanto pelo espectro da catástrofe, inspirada pela emergência climática, quanto pelo abismo das novas tecnologias digitais , ainda somos seduzidos por uma fé ingênua no progresso ilimitado do gênero humano. 

No fundo o que realmente nos seduz são os mais perversos ideais de perfeição inspirados por valores duvidosos alimentados por numa série de preconceitos morais sobre o que é normal e estabelecido como padrão de virtude. 

 O humano é aquela criatura única sob a terra capaz de dominar e transformar a natureza, de criar sua própria realidade material transformando o ambiente. Vaidoso ele se vê elevado a intimidade dos deuses que inventa como ideal de plena e potente existência. 

O humano é uma perversão do corpo, do animalesco, da matéria viva que somos inseridos no sistema terrestre.

CORPO , CONSCIÊNCIA E PERCEPÇÃO

A percepção e a consciência são uma parte muito pequena do acontecer do corpo.
 Somos matéria provisoriamente organizada e animada em um universo de coisas inanimadas e sem sentido que não se traduzem em números ou palavras. 
 O corpo não pensa e nem existe. Ele simplesmente é, além de sua auto consciência que insensata mente se imagina metafísica.


DO HUMANISMO AO CAOS

Não somos humanos.
 Nunca fomos humanos, 
mas porta-vozes de um animalidade transfigurada,
 corrompida, 
por uma consciência enferma,
 Perdida entre o corpo e o mundo
 Como representação.

 Não somos humanos.
 Nunca fomos humanos,
 e não há deuses ou leis que governam  a natureza ou o que somos.

 Toda razão é pura imaginação e delírio,
fruto de nossa maldita necessidade de ordem e autoridade.
Intimidados pelo assombro  da morte, inventamos eternidades para o sem futuro da humanidade.


domingo, 13 de agosto de 2023

NIILISMO PÓS EXISTÊNCIALISTA

A realidade engana a verdade.
As duas não  convivem bem
na mesma frase.
Pois todo enunciado é simulacro
e toda consciência intuição de um sonho 
na coincidência da vida e da morte.

Nossa humanidade é uma farsa
além do verdadeiro e do falso.
Tudo que importa é que amanhã
estaremos todos mortos.
Mas a existência é relativa,
um equívoco da matéria em movimento.



sábado, 12 de agosto de 2023

TEMPOS DE TRANSIÇÃO


Jamais me verão entre os mansos e conformados.
Sei  que vale a pena resistir
a força bruta dos fatos 
e a monstruosidade do Estado .

É tempo de protestos, 
de resistências,
 contestações e revoltas.

Precisamos arrancar o futuro
das entranhas do passado
que dentro de nós
ainda não morreu.

Precisamos inventar um mundo novo
em nossos corações e mentes,
transfigurar verdades e cotidianos.

Por isso
não serei razoável,
moderado ou comedido.

Ouso saber o outro lado do tempo
e os limites da vida,
da sorte e da morte.

O dia de hoje não me interessa mais.

sexta-feira, 28 de julho de 2023

DO NADA AO NADA

Nunca pretendi ter sucesso
ou me reduzir a impessoalidade de um ofício.
Também nunca quis ser vitorioso,
um conquistador de títulos e medalhas,
ou servir de modelo a feiúra de carrancudas estátuas.
Não me seduziu a ilusão do querer, do poder e do ser
que tanto encanta os canalhas.

Sei que sou apenas  um nada
que pertence a nada
e se torna cada vez mais nada.

Por isso, a todo instante,
aos poucos desesisto
 sem desistir de tudo,
pois estou ciente que tudo é nada,
que sou nada, 
nada mais que nada,
através do nada.

Em tumultuado silêncio
sigo ,assim, sozinho no vento,
atualizando o nada
indiferente as glórias do mundo.


quarta-feira, 26 de julho de 2023

O FUTURO NÃO SERÁ HUMANO

A realidade do mundo é o indeterminado outro que nos transcende como indivíduos e coletivos, constituindo a indeterminada e atemporal ilusão da espécie, do ambiente, que se realiza através do intercambio entre o meio e todas as formas de vida. Aquilo que de fato existe é o diverso, o inanimado do mundo manifesto que imita o frio vácuo do universo e seu absoluto silencio. Em outras palavras, a realidade do mundo é aquilo que nos escapa em cada fio de razão e sentido que povoa inutilmente nossa insignificante imaginação. Somos um nada na fantasia de tudo. Pouco importam os castelos de areia verbais que nos articulam a consciência e toda as maquinarias absurdas e pragmáticas do pensamento que produzem a mentira da humanidade e da civilização. Que nos resgate de todos os séculos de ilusões qualquer nova catástrofe contemporânea de nosso inevitável declínio. O futuro não será humano.

sexta-feira, 21 de julho de 2023

CONTRA A CIVILIZAÇÃO E A RAZÃO

Não há nada a saber,
descobrir ou aprender.
Todo conhecimento se reduz
desde sempre
as velhas rotinas dos verbos e taboadas.

Há apenas novas formas de decorar e obedecer,
de conformar consciências a norma
de inventar almas para calar o corpo
e reduzir o concreto da vida ao abstrato da lei e da palavra.

A razão é uma velha prisão
onde deuses guardam a cela
de nossa duvidosa consciência.

Quanta estupidez e obediência
nos conserva mansos e servis!!!
Que bizarra alucinação se tornou toda a nossa existência!!!
Quero tirar do corpo o  fedor das humanidades,
ser feliz com meu niilismo, absurdismos e barbaridades!!


NAS BARRICADAS

Não acredito na arrogância dos eruditos,
na hipocrisia e demagogia dos políticos,
na salvação dos santos e iluminados
ou na duvidosa justiça dos  sábios e magistrados.

Não me iludo com a ordem estabelecida,
onde nada vale a vida,
 tudo é absurdo,
e só a morte resolve
nossa intensa melancolia.

Diante da realidade,
minha revolta me fez niilista.
Nas ruas acendo
o fogo da liberdade
entre rebeliões e protestos
calando o cio dos fascistas.



terça-feira, 11 de julho de 2023

O QUE, AFINAL, AINDA SOMOS NÓS?

Afinal, que tipo de animal
ainda pode ser humano?
Que tipo de consciência,
de existência,
ainda nos será possível
dentro de uma natureza
que contra nós se reinventa selvagem?
Qualquer resposta possível
não será uma solução.
Nenhum futuro nos dará razão.
O que, afinal, ainda somos nós?




CONTRA O SILÊNCIO DO MUNDO

Preciso de muitas palavras
para sufocar meus gritos
antes que me devore
o silêncio do mundo.

Por isso, não me calo.
Estou sempre dizendo,
repetindo ou gritando
qualquer coisa inútil
para não ser sufocado
pelo vazio de uma vã consciência.

Nenhum discurso  me define a percepção das coisas,
me faz ter coragem diante de todo absurdo.

Estou sempre fazendo discursos,
criando uma explicação para tudo
e antevendo qualquer  solução 
para problemas que eu mesmo invento.

Sou, afinal, um devoto da boa razão.
Alguém que existe na medida em que explica,
que inventa e se embriaga de verdade e sentido.

Sou alguém que acredita,
que obedece e alimenta coragens cegas
contra o silêncio do mundo.
e contra nossa medíocre existência.

Mas, no fundo, sei que todas as palavras e discursos que tenho
não me bastam contra o caos e o silêncio do mundo.
Tudo que faço, vivo e acredito é inútil.








domingo, 9 de julho de 2023

VIDA E ALQUIMIA

Algum dia a vida será outra coisa
dentro do corpo.
Algo além da palavra,
do verbo e de nossa razão caduca.

Algum dia seremos tão intensos
e diluídos na matéria viva das coisas
que quase não existiremos.
Tudo será movimento e transmutação, uma questão de imaginação,  afetações e composições.
Tudo será uma questão de afinidade
além de todas as identidades e definições.

quinta-feira, 6 de julho de 2023

OS FILHOS DO CAOS

Aos que não guardam esperança, 
Aos que não acreditam nos deuses,
 nas autoridades, 
nos valores e nas verdades de uns poucos eleitos, 
caberá o tenaz desafio de matar de uma vez 
 todas as ilusões de progresso e de futuro das humanidades. 

 Estamos todos fartos dos que defendem a ordem, 
dos que fundam escolas e ensinam a miséria da obediência cega
  enterrando a cabeça em caticismos.

 Ainda não provamos a vida, 
Nada sabemos do mundo ou sobre os corpos
 Que nos definem únicos e irrelevantes.

 Ao longo dos séculos formos apenas humanos,
 animais inúteis 
 entorpecidos pelos próprios delírios de grandeza, 
escravos de seus iguais, habituados as disciplinas. 

Mas hoje acorda dentro de nós a primavera 
de um antigo e inominável caos. Logo, nada será como antes...

segunda-feira, 26 de junho de 2023

O PIOR CENÁRIO POSSÍVEL É O DA SOBREVIVÊNCIA DO MUNDO ATUAL

Não temo a possibilidade de qualquer verossímil versão de fim do mundo. Todo o meu horror está em imaginar a perpetuação do mundo atual, a extensão permanente do tempo presente até os limites das nossas angústias e precarizações.
A mais perversa das distopias, para mim,  é a simples  hipótese de sobre-vivência da civilização e seu maldito ideal de espírito e humanidade ( ou inconveniente delírio antropocêntrico de grandeza).
Meu medo maior é da eternidade do novo como sempre igual, a possibilidade de qualquer garantia de  amanhã para os dias atuais, reduzindo, assim,  a morte a um privilégio exclusivo dos nossos corpos. 

domingo, 25 de junho de 2023

O SEM FUNDO DO CHÃO

Há um pouco de chão
neste céu que esmaga
nossa imaginação
e intorpece a visão.

Chão em que vejo a morte
fazendo o parto dos contemporâneos.
A mesma morte que consome os antigos e nossos sonhos mais introspectivos.
Aquela estranha morte que nos liberta
da terrível doença da vida,
que nos faz adivinhar uma existência mais primitiva e evasiva.

Há um chão sem limites no abismo da imaginação.
Através dele tudo perde o sentido
e se desfaz toda ilusão de razão.



quarta-feira, 7 de junho de 2023

DECADÊNCIA INFINITA

Quase me lembro
do futuro da humanidade,
de nossas ilusões de progresso
e felicidade,
acumuladas entre as ruínas 
das gerações.

Quase me comovo e anoiteço
caído à sombra de um rosto,
adivinhando quem já fui um dia.

O tempo será sempre o senhor dos enigmas, 
feroz inimigo do poder e da glória
e a alma de nossa decadência infinita.
A ruína da cidade será ditada por alguma racionalidade autoritária e fria.

terça-feira, 6 de junho de 2023

CONFISSÃO IRRACIONALISTA

O aleatório somatório de memórias quebradas,
 Afetos, fomes e cotidianas certezas, Traduzidos em um fluxo caótico de experiências, 
 é o que me define como ser vivente e hedonista. 

 Nego a razão, o ingodo da representação, 
Que me reduz a um animal doente, Incapaz de viver o mundo
 Em toda a sua plenitude sensorial,
restrito pelas grades da  fé
em qualquer princípio imaterial.

 Nego tudo tudo que me castra 
A selvagem imaginação.

sábado, 3 de junho de 2023

MANIFESTO LUCIFERIANO SURREALISTA

O que é inumano jamais será desumano.
Pois só é desumano o que é divino, maravilhoso e racional.

Contra a desumana razão do Estado,
avesso a ordem divina e humana,
na contramão das leis e costumes dos rebanhos,
serei sempre intensamente bestial,
anti totalitário e anti policial,
um tolerante espírito livre,
  flamejante portador da luz libertária,
em imanente e hedonista devir pós humanista.



quinta-feira, 1 de junho de 2023

ELOGIO AOS SOBREVIVENTES

Falta-nos hoje a sutil ignorância 
que permite a ingênua crença no mundo,
o cultivo de algumas tristes esperanças.

 Nos tornamos todos, 
de um modo ou de outro, demasiadamente rudes,
 Incapazes de sucumbir a ilusão de qualquer tipo de fé
ou fervorosa convicção. 

 Somos seres áridos a construir desertos sobre a terra 
em um mundo que aboliu a infância,
que nos fez rudes e duros
campeões dr uma infecunda sobrevivência.


domingo, 28 de maio de 2023

MINHA PALAVRA

Minha palavra,
bem sei,
é pequena e fraca.
Mas sabe cortar
feito faca
toda forma de poder,
hierarquia e autoridade.

Ela não respeita polícia,
reis ou divindades.
É contra lei, subversiva,
e frequenta os piores muros e ruas
desta triste cidade.

Minha palavra é indigente,
marginal e satírica,
mas antes de tudo é telúrica,
pagã e onírica,
amiga incondicional 
de toda escrita que canta
a  liberdade mais nua
e tudo que é amoral.

Minha palavra é pedra lançada
contra a paz das vidraças.










sábado, 27 de maio de 2023

PÓS CIVILIZAÇÃO

Em todos os lugares
onde fui abandonado pelos meus próprios passos perdidos 
em chão desconhecido,
surpreendo apenas ralos vestígios  de duvidosas realidades,
uma ausência de verdade,
onde tudo cabe
e nada vale.

Já não existo na ordem de um mundo.
Vivo entre cacos de significados perdidos
que me reduzem a nudez de um corpo,
enrugado, precariamente vivo,
e despido de qualquer realidade ou sentido.

A vida hoje retorna, 
descretamente e cada vez mais,
ao seu estado primitivo e selvagem
de caos e loucura onde lugar algum será mais possível.




quarta-feira, 24 de maio de 2023

VELHICE

Que o tempo não me traia
 e minha velhice 
seja um reaprendizado de infâncias, uma deseducação profunda da realidade, 
ou um tributo à ignorância. 

Quero morrer como vento, 
 Bicho, louco,
borboleta e planta.

Quero ser nada
e sentir tudo
na efêmera ilusão de mim mesmo.

sábado, 20 de maio de 2023

LIBERDADE NIILISTA

Recuso a palavra de ordem,
o ideal moral,
toda verdade  e autoridade dos doutos e dos tribunais.

Renego os saberes sequestrados pelo Estado, 
nego toda normativa e ciência universal.

A liberdade é niilista
e cresce louca com o fogo
que queima  os altares
e púlpitos
erguidos sobre corpos cativos
para celebrar a ditadura de qualquer razão patriarcal.


Toda forma de poder é maldita.
Toda liberdade é andrógina, marginal e intransitiva.


sexta-feira, 19 de maio de 2023

MERCADO EXISTENCIAL

Tudo hoje é banal e supérfluo
no grande mercado do desejo
 onde a inutilidade impera
e a troca é impossível.


 A alma das coisas desapareceu no nada da cultura de massas 
 onde a vida se desfez em seus usos entre alegorias e quimeras fúteis.

Não há mais realidade.
Toda existência foi reduzida a um mosaico de Informações, simulacros e banalidades.

Tudo hoje tem preço e valor duvidoso.
Nada mais importa,
e saber disso,
é só o que interessa 
no comércio de nossos vazios
onde a própria experiência das coisas
caiu em desuso.
A civilização não passa de um blefe,
uma velhacaria.



terça-feira, 16 de maio de 2023

ALÉM DA REALIDADE

Caso fosse possível
desfazer minhas ilusões
não seriam elas  substituídas por qualquer  realidade objetiva ou exata,
seria eu surpreendido pela loucura, pela insuportável percepção
do caos e ininteligibilidade
que define a experiência de nossa incerta existência.

Afinal, não existe certeza, verdade
ou razão que sustente nossa realidade.
A vida é o sonho da matéria
através do improviso dos corpos.



sábado, 13 de maio de 2023

SINCERO RETRATO DE UMA ÉPOCA PRECÁRIA

Tudo que temos hoje
é uma vida morna
em uma sociedade morta.

Seguimos mansos,
 entre o certo e o errado,
o trabalho e o tédio
enterrados em dividas,
aprisionados por  obrigações 
quase infinitas
em tempos de fé,
 escravidão e autoritarismos.

Afinal, deixamos levarem nosso desejo
em troca de um naco de pão, 
abrigo e uns míseros trocados.

Agora, seguimos perplexos, disciplinados, desesperançados
 e, principalmente, cansados de tudo.

Seguimos despidos de qualquer futuro
em corpos e entre corpos que pouco pedem ou podem.

Tudo que temos hoje
é menos que nada.
Justamente, por isso,
nada mais temos a perder.
É hora de uma nova revolta 
finalmente nascer.



terça-feira, 9 de maio de 2023

OUSAR CRIAR, TRANSGREDIR , INVENTAR & SONHAR

É preciso acima de tudo inventar.
Ousar criar
contra todas  as convenções,
valores e normas vigentes.

Contrariar a autoridade dos doutos,
padres e reis,
rasgando leis, receitas e tratados,
derrubar altares e pedestais,
sem medo ou pudor de se expor.

Atentar sempre contra o bom senso,
pelo gratuito prazer de recusar o certo
e abraçar o errado
entre os que vivem de simulações e  aparências.

Criar, afinal, é uma forma de estar
acima do bem e do mal,
do tempo e do espaço.
É  torna-se mais real do que o mundo,
transfigurando a si mesmo
na transgressão de todas as formas de ser.

Criar é, acima de tudo, viver a intuição de um sonho louco
 totalmente absurdo e absoluto.