quarta-feira, 31 de maio de 2017

PÓS REALISMO

Os teóricos do real ainda   sustentam suas seculares cosmologias para negar as tapeçarias do caos.Temem perder de vista o quase invisível inteligível, que se apaguem as luzes da velha razão e todos os apaziguadores enunciados de um mundo ordenado. Mas lhes serve de referencia um mapa cada vez mais apagado que já não revela grandes tesouros ou descobertas. Vagam atônicos por uma paisagem de incertezas cedendo por um conhecimento de museu.

Enquanto isso, Nietzsche e Sade emergem como profetas flamejantes de um futuro avesso  as promessas do progresso. Nenhuma verdade oferece uma realidade ideal e a vontade  embriaga o animal que um dia inventou-se homem.


segunda-feira, 29 de maio de 2017

CONCLUSÕES PRECIPITADAS

Poderia definir minha existência como um desencontro entre meus vários momentos de existência. A criança que  fui  é estranha ao adolescente que me tornei e o adulto que sou lamenta por ambas. O futuro contrariou todas as expectativas. Não que em algum momento tivesse sido acometido pela ilusão do sucesso material ou glorias sociais como uma meta de vida. Simplesmente me desencontrei de mim mesmo, não realizei em profundidade qualquer objetivo que me possibilitasse me reconhecer em minha própria existência, seja no plano social ou individual. Acabei me acomodando a sombra de mim mesmo contemplando as ruínas de meu rosto. O que me define é uma espécie de silêncio ontológico, de vazio existencial definido por uma persona social precária.


Não estabeleci grandes vínculos, não conquistei estabilidade financeira e muito menos me tornei parte de qualquer lugar de mundo. Não realizei nada de significativo, que proporcionasse alguma satisfação pessoal. De muitas maneiras, fiquei a meio caminho de todas as minhas possibilidades.

EM BUSCA DE SI MESMO

De certa maneira, o mundo anda dividido entre os cansados de amar e os cansados demais para amar. Ambas compartilham o mesmo desencanto, o mesmo silêncio. A contemporaneidade tem se revelado um bom tempo para os solitários, para os que buscam apenas um vislumbre de espelho, um golpe de olhar sobre a própria incompletude e narcisismos.


Atualmente temos muito pouco a dizer uns aos outros e muito a fazer por nós mesmos. Relacionamentos não nos acrescentam muita coisa quando estamos mais preocupados em sentir nosso próprio peso,  inventar vivencias, explorar nossa própria intimidade. Sabemos cada vez menos sobre nos mesmos. Só podemos nos superar na medida em que nos esgotamos.

O COLAPSO DA REALIDADE

A realidade anda mal das pernas.
Já não inspira respeito,
Verdades ou boas teorias.
Tornou-se tacanha, medíocre
E sem noção.
Não raramente tem menos valor
Do que o raciocínio de uma criança.
A realidade  tornou-se  um problema.

E nunca os loucos inspiraram tanta razão.

quarta-feira, 24 de maio de 2017

COISAS SEM NOME

Dizem que as coisas sem nome não existem.
Mas elas são as mais essenciais no acontecer da vida.
Falo daquelas experiências mudas
Das quais só nos damos conta quando adestramos a atenção.
Elas habitam o silêncio,
São invisíveis aos olhos e ao coração.
Os loucos as conhecem bem

Pois perderam o próprio nome.

segunda-feira, 15 de maio de 2017

NEM SEMPRE SOU EU

Não existe tortura maior
Do que seguir seu próprio caminho,
Ser indiferente aos ruídos do mundo
E inventar urgente uma vontade alegre
De pular a ponte
Entre o signo e o significado.

Saber o paradoxo da vida
Através do labirinto de si mesmo
É, antes de tudo, um ato mágico e inútil
Contra o aparente sentido de tudo
Que coletivamente nos inventa
Mediante o impessoal e  insustentável ato de ser.

Afinal, quem eu sou quando ninguém me vê

Despido da máscara do meu próprio eu?

sábado, 13 de maio de 2017

O TOTALITARISMO DA VERDADE


É sempre possível conjurar

O absurdo sem fundo

Da insensatez humana,

Organizar o amontoamento

De verdades vazias

Que nos adoecem

Na rigidez de falsas certezas de mundo.

Julgamos e condenamos uns aos outros

Nos fazendo vítimas de nós mesmos.

O bem é uma doença cujo o sintoma é o mal.

Afogados na multidão

Brincamos de absoluto

Vomitando eternas verdades de ocasião.

quinta-feira, 11 de maio de 2017

A MORAL DO PROGRESSO


Todo chão guarda um abismo,

Um fim de caminho

Onde o caos e a vertigem

Inventam o futuro.

Não existe progresso sem sofrimento,

Vida sem morte

Ou vitória sem derrota.

A vida é uma tragédia sem trégua.

Sorria durante sua queda.

terça-feira, 9 de maio de 2017

DEBATES INUTEIS

Quando a banalidade das falas
anunciam batalhas verbais
as convicções desnudam os  silêncios
de nossos próprios enunciados.

Entre designações e significações
revela-se o deserto do mundo-verdade
onde nos perdemos entre a palavra e o absurdo
e descobrimos toda certeza como  prisão.

Como são caricatos aqueles que trocam
opiniões e insultos...
que se julgam capazes de explicar o mundo.


sexta-feira, 5 de maio de 2017

AQUELE QUE NUNCA FOI

Sim, nada mais sou do que um viajante, um 0peregrino sobre a terra! E você é alguma coisa mais do que isso?”
Johann W. Goethe in Os Sofrimentos do9 Jovem Werther

Nunca encontrei um canto  de mundo
Onde pudesse mergulhar raízes.
Meu destino sempre foi incerto,
Provisório,
Quase um desastre
À margem da sociedade.

Segui despercebido por vazios e abismos
Existenciais
Inventando silêncios e antecipando naufrágios.
Nunca me importei com os outros,
Jamais fui importante,
E entre os vivos
Frequentei os mortos.
Soube desde o princípio

Que existir não significa Ser.

O QUE É A REALIDADE?

A realidade é um estar entre os outros através da linguagem. O que é o mesmo que dizer que a realidade é um não lugar, é movimento, fluidez ou simples consciência de um permanente vir a ser através das coisas. Por isso me considero indeterminado, provisório e inacabado no exercício do eu que me define para e através dos outros.

Talvez a realidade não passe de um holograma, que existam outras dimensões que ultrapassem nossa percepção das coisas. O que torna inútil e caricata toda representação e expressão simbólica.

Pode ser que não faça o menor sentido interrogar sobre a realidade ou viver de enunciados, que seja inútil toda cultura humana. Quem em sã consciência ainda duvidaria da completa falta de sentido da existência?

A realidade épura e simplesmente tudo aquilo que nos ilude.


DESESPERO E EXISTÊNCIA

Minha vida é um estado de inquietação permanente,
Um desassossego sem limites
E que me transborda em tempo e espaço.
Não caibo no eu que me prende
E aprisiona o corpo aos artifícios culturais,
Ao jogo dos sentidos e do pensamento.
Não me conformo as paredes de um eu
Que me esconde de mim mesmo
Através do social,
Dos sufocantes atos coletivos
De desesperada sobrevivência indiferenciada.
Não tenho alma,
Não faço sentido e não sou razoável,
Pois não sou racional.

Sou pleno apenas em meu desespero existencial.

quinta-feira, 4 de maio de 2017

REALISMO MÁGICO

O real reside nos detalhes de nossas ilusões.
È preciso pensar com os olhos
E aprender o invisível do obvio,
O realismo mais absurdo
Da abstrata  intencionalidade
Que nos seduz
Na imaginação do mais concreto imediato.
Os materialistas nada sabem sobre a matéria

Enquanto os metafísicos inventam seus delírios.

quarta-feira, 3 de maio de 2017

OS LIMITES DA HUMANIDADE

Por mais tempo que se viva nunca se alcança uma consciência complexa de todas as dinâmicas e implicações concretas da própria existência. Pelo contrário, a longevidade apenas nos traz o progressivo declínio de nossas capacidades de entendimento e ação.

É em função do corpo e não do eu que nossas gramáticas de existência  se definem.  A experiência, enquanto conjunto de nossa diversificada percepção da realidade e auto representações, não se esgota nas imagens de pensamento  e enunciados simbólicos de significação das coisas e fenômenos.
Sendo a experiência restrita a uma realidade espacialmente percebida e vivida, o que é o mesmo que dizer, limitada, nunca vamos muito além das fronteiras  daquele pequeno lugar de mundo que habitamos existencialmente.

Somos criaturas extremamente tacanhas.  Uma consciência complexa da existência não é para nós, enquanto espécie, um objetivo.  A humanidade não evolui em um sentido filosófico ou cultural, apenas nos adaptamos cada vez mais a nós mesmos modificando a natureza e negando através dos artifícios da cultura, o animal bizarro que somos. No fundo apenas perseguimos o fantasma de um ideal humano inalcançável.


A VIDA É PERIGOSA

Para manter a sanidade precisamos de uma certa dose de loucura,
Reconhecer que o mundo e as pessoas não são racionais,
Que a sociedade é em grande medida disfuncional,
Que nunca seremos felizes, bem ajustados
Ou abrigados pela realidade vivida.
Viver, ao contrário,  é estar em constante perigo,
Em múltiplos  conflitos e imerso em contradições
Ou, simplesmente, perdido.
Não são raras as ocasiões nas quais
Somente a loucura nos salva do desespero.