quinta-feira, 25 de março de 2021

SERVIDÃO

servidão é obedecer,
aceitar contra o próprio querer
as razões da autoridade,
das identidades, 
moral e verdades 
que diariamente
nos fazem lentamente morrer.

servidão não é  apenas 
a ignorância da liberdade,
é  uma ciência do conformismo 
do medo e da tradição .

É  desconhecer a si mesmo
no desprezivel oficío de viver
para sobreviver.

É  não  imaganar horizontes
além  das grades da propria prisão. 


quarta-feira, 24 de março de 2021

METAS METAFÍSICAS

 

Reinventar a voz,

o corpo e a imaginação

até que o mundo se torne outro

no olhar e sentir das coisas.



Extrapolar os fonemas,

os gestos.

Explore as texturas do grito,

a pele das cores.



Acontecer como uma outra coisa

muito mais que humana

entre o reino animal e vegetal.

Ser plenamente o ambiente

interno e externo.



terça-feira, 23 de março de 2021

TEMPO DE PESTE

 


Em tempos de peste

não há lucidez.

Toda razão é loucura.

A vida não é mais administrável

e toda rotina é morta.

Tudo que importa é a sobrevivência

quando nada mais será

como sempre foi

apesar de toda insistência

em formas de existência

que já não contemplam mais

nossa falta de realidade

CONTROLE

O controle  é  algo que nos atravessa,
que nos comunica em acordos de mútua sobrevivência.
 
Ele nos limita e faz produzir a vida
a sua imagem e semelhança.
 
Ele nos torna prisioneiros do certo e do errado,
da busca de um mundo verdade
onde tudo não  passa de simulacro.
 
O controle pressupõe sua própria recusa,
a subversão como estratégia de dominação. 
 
Ele é o poder que se faz em nós 
através  da prisão do ser e do sentir
nas grades de todo e  qualquer auto controle.


terça-feira, 9 de março de 2021

O VÍCIO DA RAZÃO

Beber sanidade até ficar embriagado de razão não é uma saída para a loucura do mundo, nem uma forma de se encontrar ou arrumar as coisas.
Toda história da filosofia tem sido a vertigem deste lamentável equívoco. Nada faz sentido.

domingo, 7 de março de 2021

O MUNDO ESCAPA

O mundo escapa em cada segundo
e a vida é agora
do lado de fora
da imaginação.

Tudo parece insignificante,
distante.
Beba um pouco de céu
antes de comer o chão.

Não há querer
que saceie a vontade.
A vida é vertigem.

O mundo escapa.
Tudo é vaidade ,
ilusão e desrazão.

sexta-feira, 5 de março de 2021

DIZER REBELDE

Quero dizer
qualquer coisa boa
que corte;
machucar certezas,
ilusões e verdades.

Saber a palavra
vestida de morte 
ou de liberdade.

Quero acordar
diante do outro
criando frases
que rasguem
tudo que nos tornamos.

Quero a radicalidade
de um dizer urgente
que insurgente me transforme
no louco que inventa
uma revolução permanente.



quarta-feira, 3 de março de 2021

INTUIÇÃO DE SONHO

 

Absorto, entre o cansaço e o sono,

vi a vida transluzindo distante,

cada vez mais distante,

enquanto me invadia uma tristeza festiva

que se confundia com o pressentimento de um sonho.

Um sonho que não seria meu,

que seria anônimo,

que seria vontade espalhada

dentro dos sonhos de todo mundo

como um delírio de esperança.

VESTÍGIOS

inventariado minhas incertezas 
catalogando meus medos,
descobri o cadáver de jovens alegrias
na carcaça de antigas rotinas.
seus corpos testemunham que um dia
minha vida não parecia tão triste.

segunda-feira, 1 de março de 2021

PESADELO HUMANO

a propensão a fé, ao poder, e a experiência do verdadeiro dão forma a monstruosidade do entusiasmo na experiência humana....
diante dela o desespero é o maior de todos os antídotos contra o pesadelo da razão.

SOBRE O ATO DE ESCREVER

“Escrever, então, passa a ser uma responsabilidade terrível. Invisivelmente, a escrita é convocada a desfazer o discurso no qual, por mais infelizes que nos acreditemos, mantemo-nos, nós que dele dispomos, confortavelmente instalados. Escrever, desse ponto de vista, é a maior violência que existe, pois transgride a Lei, toda lei e sua própria lei”

(MAURICE BLANCHOT - In: "A Conversa Infinita". São Paulo: Escuta | 2001.)
A ação de escrever é um ato de violência. É uma agressão a tudo que foi escrito antes na solidão da pena diante da brancura da folha vazia.
tudo deve ser esquecido, destruído, na ação de escrever, de criar, e desaparecer de si mesmo, através da linguagem.