segunda-feira, 29 de abril de 2013

CONTRA TODA VERDADE



Superar o horizonte da verdade
E o caminho da humanidade
É o maior desafio da cultura contemporânea.
Nunca antes nos foi exigida tanta criatividade,
Tanta originalidade e inventabilidade
Apenas para viver o mundo
Como uma evasão de gramáticas,
Como uma rendição ao objeto
Através das forças irracionais das imagens....

quarta-feira, 24 de abril de 2013

AFORISMAS PARA TRANSGRESSORES

O comportamento humano é compulsivo.
Por isso tendemos a repetir nossos erros.
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Saber as consequências dos nossos atos não nos impede de cometê-los.
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As limitações de nossas vidas não nos impede de sonhar o impossível.
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Muitas vezes desejamos ardentemente o pior...
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Sempre inventamos justificativas para os nossos erros,
Principalmente quando estamos objetivamente equivocados.
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Apostar no que não vai dar certo é uma compulsão humana.

terça-feira, 23 de abril de 2013

OS DESAPARECIMENTOS DE FAHACIA




“ O mundo externo é um sintoma secundário inoportuno de um estado de indisposição.”

“A vida é um esforço que seria digno de uma causa melhor.”

KARL KRAUS



Fahacia era uma mulher sem grandes esperanças, medos ou expectativas. Seguia a vida cumprindo rotinas de casa e vivendo da renda proveniente do aluguel de três apartamentos que recebera de herança dos pais.

Vivia sozinha, não tinha filhos e nunca quis um animal de estimação. Muito menos  cultivava amigos. Acreditava que o mundo era demasiadamenre caótico  e a vida demasiadamente incerta para perder tempo com  laços afetivos. As afeições não valem uma tarde vazia na beira de uma praia deserta com uma garrafa de uísque. Era o que costumava dizer.

A simples sobrevivência era tudo o que lhe importava. Diariamente ocupava-se  arrumando e e re arrumando a casa, lendo clássicos da literatura e ouvindo rock dos anos 50 e 60 do ultimo século. Detestava as novidades da cultura digital. Nãio usava computador e se quer tinha um celular.  O velho sobrado onde morava parecia perdido no tempo. Os móveis, os quadros e toda a decoração era inspirada nos anos 60.

Definitivamente Fahacia havia parado no tempo... ou inventado seu próprio tempo pessoal, vivendo um pouco as margens do mundo. Era feliz assim. Mas guardava  dentro de si uma ansiedade irracional. Era consumida por uma fantasia que desafiava toda  realidade: Ela queria desesperadamente ir para outro planeta. Acreditava que isso era possível. Que um dia seres extraterrestres iriam até ela e a levariam para um mundo inteiramente outro onde as questões “terrestres”, todo sentido de realidade, valores, filosofias, ciências e religiões seriam desmentidos retumbantemente.

O mundo do outro mundo seria para ela o avesso de tudo e, ao mesmo tempo, o reverso do real, a panacéia do improvável do humano além do humano. Descobri-lo seria o fim da história  da criação e  da teoria da evolução. Tudo até hoje concebido , pensado ou dito ficaria obsoleto neste mundo do outro mundo.

Em uma quente noite de verão Fahacia preparava-se para dormir. Eram quase 11 horas da noite quando a campainha tocou. Assustou=se com aquele suave som de sinos. Afinal, nunca esperava visitas. Ninnguem nunca a procurava. Por isso abriu a porta com cautela.Não sabia o que esperar. Mas certamente aquilo não era de se esperar. Viu-se diante de um simpático anão de barba branca e todo vestido de verde.

Não precisaram trocar nenhuma palavra. Era como se comunicassem por telepatia. Ele entrou tirou as roupas e Fahaia as suas. Então fizeram sexo ali mesmo  sobre o tapete da sala sem  a menor serimonia. A barba do anão arranhavam sua pele, provocavam uma sensação estranha quando roçava em seus mamilos. Mas ela não se importava quando ele a metia entre as suas pernas lhe oferecendo um baile de língua.Durante a copula tinha a impressão de que o anão era maior do que era, uma espécie de gigante que lhe envolvia em uma bruma rubra de puro êxtase.

Fahacia despertou no dia seguinte inteiramente nua sobre o tapete da sala. O anão havia desaparecido. Por um momento achou que tudo não tinha passado de um sonho. Mas  sentia intimamente o quanto tudo aquilo havia sido real. O fato de ser absurdo não queria dizer de forma  alguma que não podia ter  sido real. Por isso não ficou surpresa  quando o anão tornou a visitá-la durante todas as noites daquela semana. Sempre no mesmo horário. O sexo entre os dois tornava-se mais intenso  a  cada encontro. Mas nunca trocavam uma palavra. Ele não lhe dizia quem era, de onde vinha, como a descobriu. O sexo apenas acontecia entre os dois.Um dia a casa amanheceu vazia. Fahacia desaparecera. Nunca mais ouviu-se falar dela.

Quando uma pessoa simplesmente  desaparece e não tem ninguém para sentir sua falta. Sua vida simplesmente continua  em sua ausência. As contas continuam chegando pelo correio, os vizinhos achando que  na privacidade da casa trancada a pessoa segue em suas rotinas.

Que curiosa ironia.  Em seus devaneios Fahacia sempre achara que a existência era algo inteiramente relativo, que existimos mais através das outras pessoas do que em nós mesmos.Por isso era uma solitária convicta e uma  sonhadora de outras existências. Agora ela inexistia e os outros que pouco sabiam dela achavam que perpetuava-se existindo em suas rotinas.

Um ano depois Fahacia reapareceu do nada. Mas não foi em sua casa. Foi em um cantinho aconchegante de rua freqüentado por borboletas de todas as cores.Agora ali era seu lugar. Su nova casa, se assim se pode dizer. Não se lembrava de nada que havia acontecido durante o hiato do seu sumiço. Apenas se sentia outra pessoa. Na verdade não se sentia se quer uma pessoa. Também não se sentia um individuo.Ter um nome era tão pouco...

Passava o tempo lendo o mundo com os olhos ali sentada em seu canto de rua. Vendo o vai e vem das pessoas.  Gostava de colher fragmentos de conversas dos passantes. Memorizava-os e com prrodígia habilidade misturava-os de modo a inventar a partir deles  um dialogo maior e mais profundo que dizia a soma  das circunstâncias vividas de todas aquelas pessoas. Em suas colagens de diálogos ela vislumbrava a  fala de uma consciência coletiva impessoal que acontecia através da vida de todas as pessoas. Isso nada tinha de metafísico. Fahacia acreditava acessar desta maneira a própria vida da espécie.

Apesar de viver daquela maneira ela não amargava dificuldades. Sempre  alguém que passava lhe atirava moedas ou lhe deixava algo para comer. Aos poucos foi se confundindo com a própria rua, tornando-se sua personagem, parte da paisagem.

Numa noite qualquer o misterioso anão lhe surgiu de novo por volta das 11 horas da noite. Levou-a para um canto escuro e fez sexo com ela. Assim o fez por varias noites seguidas e, mais uma vez, Fahacia desapareceu...   Desta vez sua falta foi dada pelos costumeiros passantes daquela rua. Mas não demorou muito para que fosse como se ela nunca houvesse existido.

Um ano depois, como da outra vez, ela reapareceu misteriosamente em outra cidade Desta vez tudo era diferente. Ela não era ela. Tinha outro rosto. Era uma menina de dez anos. Uma menina perdida andando a ermo pelas ruas. Não sabia quem eram seus pais, onde morava ou o que estava fazendo ali. Apenas andava sem qualquer destino até passar por uma casa simples que tinha o portão aberto. Entrou sem ter motivo. Entrou apenas por entrar. Logo estava dentro da casa. As paredes eram cobertas de fotografias. Rostos  de tantos desconhecidos  de todas as idades que custava a crer que fossem fotos de uma única família. Não, definitivamente eram fotos da espécie em situações típicas de sociedade.

O fato é que agora ela era uma menina e tinha vontade de brincar. Caiu para dentro de si mesma em um pensamento. Não precisava de outras crianças para brincar, não precisava de mundo para existir.

Foi ai que Fahacia percebeu que estava dentro da cabeça de uma terceira pessoa, de uma paciente em coma em um hospital próximo. Ela não era ela. Era a lembrança daquela pessoa sem consciência. Não passava de coisa sem substância ,  de uma imagem de pensamento que ninguém sabia, nem mesmo o indivíduo que o teve.

O que era aquilo?

O que era a vida?

 O que era tudo?...

Respostas, entretanto, eram desnecessárias as suas indagações pelo simples fato de não fazerem a menor diferença. Nada fazia diferença....

De repente estava em casa de novo, em seu próprio corpo e com o pau gigantesco do anão em sua vagina em agitada flexão de existência.Tinha orgasmos múltiplos. Seu corpo parecia em fogo.

No momento seguinte, ela e o anão desapareceram calando este breve conto que nunca foi escrito pelo seu autor que sabe que o mundo não vale esse esforço.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

MARQUES DE SADE, NIETZSCHE E A MISERIA MORAL JUDAICO CRISTÃ



A moral dos bons é uma farsa.
Pois a sociedade não é povoado por virtuosos  formatados pelas falácias impostas pelo ethos judaico cristão e sua moral de escravos.
Ela é povoada , ao contrário, por  hipócritas que se curvam a preceitos vazios de falsa virtude  que lhes pacifica a consciência criminosa e religiosa.
A moral cristã não cria santos, mas cínicos, no pior sentido da palavra.
Eis aqui as premissas da critica do Marques de Sade ao conservadorismo do espírito moderno em tempos de reviravolta de todos os valores.
Neste ponto é importante lembrar que

“Entende-se melhor o pensamento sadiano à luz da critica dos valores morais  empreendida por Nietzsche um século mais tarde. O pensador alemão mostra que  etimologicamente  “bom” não vem de “bondade” “Bons” eram os homens distintos , os poderosos que julgavam boas as suas ações  “de primeira ordem”, opondo-se a tudo quanto era baixo, mesquinho e vulgar. Assim, nos romanos, a consciência da superioridade e da distância, o sentimento geral, fundamental e constante de uma raça superior e dominadora, em oposição a uma raça inferior e baixa, determinou a origem da  antítese entre “bom” e “mau”. Por essa etimologia, “bom”, originalmente,  não tem a ver com a ação altruísta e piedosa preconizada pelas ideologias religiosas da tradição judaico-cristã. Para o antigo romeno, bônus (bom) significa “guerreiro”. Eis o sentido dos valores morais  que Sade recupera para o homem republicano. Nietzsche mostra que essa moral positiva dos romanos foi renegada por uma outra, “reativa”, dos judeus que  se “vingaram espiritualmente” de seus dominadores.
Houve assim uma radical  mudança nos valores morais que acabaram sendo invertidos:  os “bons” passaram a ser, na tradição judaico-cristã, os infelizes, os pobres, os fracos, os piedosos e sofredores em geral.”
   ( Contador Borges. A REVOLUÇÃO DA PALAVRA LIBERTINA in  Marques de Sade. A Fiolosofia  na Alcova ou os Perceptores Imorais. SP: ILuminnuras, 2008, p. 236-237.)


domingo, 21 de abril de 2013

BUROCRACIA MATUTINA




A manhã apertada
No tempo
Nasce em silêncio,
 sem pompas de auroras
Ou sol no horizonte.
Apenas acontece
Burocraticamente,
Bucolicamente,
Bukowskimente
Sobre o cadáver  da madrugada....