sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

À SOMBRA DO ILEGÍVEL

A razão é a forma sofisticada através da qual negamos nossa inconsciência fundamental sobre os limites de nossa compreensão.

Somos incapazes de aceitar a morte de deus como falência do homem, como agonia do logos.

QUASE EPICURISMO

Não tenho vocação para a sabedoria da vida.
Prefiro degustar a ignorância e o caos,
Viver na mais absurda desmedida.

A vida é curta demais para o rigor da razão.
Celebre a loucura através da dança
No vigor do hedonismo
E , talvez, você descubra algum dia
Toda realidade guardada no corpo
Que nos define a alegria.


A VERDADE SOBRE A ANSIEDADE


MEGALOMANIA

Tenho pena dos que me ignoram,
Dos que não bebem comigo
E não me procuram.

Detesto todo este povo anônimo
Que não me reconhece nas ruas.

Como pode tamanha indiferença
Ante minha presença?!

Afinal, sou aquele que nasceu para ser,
Acontecer e saber mais sobre tudo
Do que toda gente.

Não percebem o brilho do meu espirito?
O que, afinal, há de errado com o mundo?!



quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

DO DESEJO AO SONHO

Ainda que eu seja,
Que eu viva e sinta,
Até o limite de mim mesmo,
Não serei mais do que o quase
Das minhas melhores possibilidades.

Meu desejo não cabe em qualquer realidade,
É feito de sonho e quimera
Como a vontade de uma criança

Que desconhece ainda as dores do mundo.

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

DIAS DE VERÃO

O sol devora a paisagem,
O corpo e os pensamentos.
Reduz toda a existência
Ao calor que derrete o tempo,
A vontade e a própria civilização.

O verão inventa os horrores do inferno.
Nos faz interiorizar desertos
E conhecer a essência de todas as aflições.
O calor revela-se  a medida do absurdo
Sob a agonia do império do sol.

ESCRITA DEVIR E INTENCIONALIDADE ABERTA

Quando o dizer não tem claramente uma estratégia de construção de sentido, de invenção de verdade, ele se faz livre para produzir narrativas de devir. Nestas, o sentido é encadeado por imagens através das quais o texto inventa a si mesmo. Cada enunciado é consequência do outro, seu desdobramento mais natural, na teia viva da imaginação criadora.

Ficção e realidade deixam de estabelecer uma dualidade discursiva inspirada pela pretensão a verdade. O simulacro é a condição da linguagem. O próprio real é uma construção de nosso modo de codificar e dizer o mundo.

A exposição narrativa já não se pretende nem expositiva e muito menos analítica. Não se engaveta nos armários dos conceitos; não estabelece normas, ou pretende reduzir a si mesmo a essência das coisas como representação.

É preciso que haja antes uma consciência das palavras antecedendo o sentido de uma frase. Pois o dizer é uma forma de reinventar significados. E o significado de uma frase pressupõe uma palavra objeto que conduza a próxima frase, expontaneamente ao próximo passo. Quando nenhuma estratégia ou objetivo discursivo se coloca na narrativa.

Não se fala aqui de escrita automática, como faziam os surrealistas. Pois há certa intencionalidade no ato do discurso. Mesmo que não previamente direcionado. Mas improvisado como o fluxo do próprio cotidiano. Não raramente o previsível de nossas rotinas nos surpreende. Isso também serve para um texto.   






quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O PROBLEMA DA CONSCIÊNCIA

Sou a consciência
Que através de mim
Existe como mundo
Que reconhece a si mesmo
Através do meu pensamento.

Mas serei eu esta consciência
Ou ela é a soma da percepção de todas as coisas vivas?

Como pode ela saber-se distinta
Se em tudo é percepção do mundo?

Sou esta consciência
Quase inconsciente
através de todas as coisas
como uma oscilação do nada.
Penso. Mas não existo...

A MEMÓRIA DOS MEUS DESEJOS


PRAGMATISMO

Tenho vivido como um peixe de aquário,
Aprendendo tédios
No acontecer pequeno deste prédio.

Tenho sido formal e cotidiano
Como quem se aposentou da rebeldia
E sucumbiu a velhice dos outros.

O tempo fala hoje mais forte
Do que a vontade
E sigo no raso da sociedade
Em busca de qualquer forma de estabilidade.


MONSTROS


quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

TRANSFIGURAÇÃO

Nunca acreditei em finais felizes,
Em vitórias e felicidades
Em vidas convencionais e regradas
Ou em qualquer forma de reconhecimento social.

Sempre duvidei dos prêmios da loteria,
Do destino, da sorte,
Da ética protestante,
Dos deuses e dos anjos!

Sempre sofri as agonias do trágico,
As incertezas de mim mesmo
E as fragilidades do mundo
Como um segredo que me dilacera  e esclarece.