O PESO DA LUCIDEZ

Sou feito de gritos,

delírios e vazios.

Dentro de mim

levo minha própria morte

e sangro sempre

através de um sorriso

enquanto, pesado de mundo,

meu pensamento apodrece

perdido no brilho da escuridão.

A INSANIDADE DO MUNDO

Toda insanidade do mundo habita em nosso sonho de humanidade,

no pesadelo da vida em sociedade,

na soma de todas as ruínas de civilizações perdidas e futuras.

Tudo aquilo que nos faz humanos é uma produção da loucura.

Nosso único oficio através do tempo e da historia

até agora foi desandar a vida.

LINGUAGEM ENIGMA

Não se escreve para o mundo ou para si mesmo, mas para desaparecer....

A linguagem, em seu uso mais autêntico, é um trabalho de morte, de produção da realidade, que pressupõe o apagamento do autor e do leitor.

A CLARIDADE DA SOMBRA

  

Uma sombra cresce em todas as direções.

Uma sombra que  tudo envolve

e que de tão clara nos ofusca a visão.

Uma sombra que alucina,

que dói em nós,

que se alimenta de angustias,

medos e incertezas.

Uma sombra que vive da morte,

que oculta a vida

e está em todos os tempos e lugares do mundo.

Uma sombra que é a soma de  todos nós.

O DANÇARINO

A elegância do mais sublime desespero 

Me faz dançar sorridente a margem do tempo e da história.

Todo caos do mundo é um chamado a desmistificação da vida humana,

a desvaloração da verdade,

um retorno a natureza

Em sua mais abissal grandeza.

Tudo de humano me é estranho.

Tudo que vive dança.

ALÉM DO HUMANO

Além do eu e do mundo

Sei a intuição de um abismo profundo,

Um infinito fluxo de imagens,

Um povoado vazio,

Sem lei ou principio.

Lá, onde nada existe,

Tudo é possivel,

Tudo é futuro,

E a vida persiste

No ilegivel do inumano.

RE-INFÂNCIA

Quando eu for novamente criança

Provarei o profundo silêncio

Em minhas entranhas

Até impludir o mundo

Na cabeça de qualquer formiga

E reinventar o universo em um grão de areia.

CIVILIZAÇÃO E BARBÁRIE

 

A simulação absoluta é o objetivo do rito civilizacional fundado pelo culto à razão moderna em suas múltiplas configurações como modo de vida.

A racionalidade que mata a Terra na produção de seus artifícios culturais, de suas lógicas de Estado e mazelas anti naturais de co-habitação e sobrevivência, beira a insanidade biológica.

O simulacro e o totalitarismo do artifício técnico científico, que define o modelo ocidental de civilização, não pode ter outro resultado que não seja o colapso da vida biológica senciente.

AUTO CONSCIÊNCIA

 

Beira o absurdo minha consciência das coisas,

minha autoconsciência sem fundo de si

que encanta o corpo,

que não sabe alma.

Quantos de mim existem neste eu cindido,

reinventado a cada frase,

em um estranho jogo entre o sonho e a realidade?

O que desvenda em assombro

a consciência no ato do pensamento?

O ENIGMA DO SILÊNCIO

O ENIGMA DO SILÊNCIO

Há mais dizível no meu falar torto

Do que no vazio

Do falar morto que define todos

Na audiência triste das digitais polifonias dedicadas aos outros,

As falsas alegrias,

Que me matam aos poucos.

Toda palavra é um silêncio

Que guarda um sentido

Em segredo,

Que inventa vida

Dentro das letras nuas

Na vertigem de abismos,

Multiversos, contra ordem

E delírios que me reduziu

A sabedoria bruta do veneno

E do esquecimento.

Nenhuma ordem existe

Ou persiste.

Tudo morre

E o dito quase não tem sentido.