segunda-feira, 29 de abril de 2019

REVOLUÇÃO MOLECULAR



A descontinuidade está sempre em nós como um potencial, como marco provisório entre um passado e um futuro que nos envolve e forja quase identidades. De que outro modo, afinal, o tempo presente seria definível?

Inquietações e transformações semeiam um pouco de revolução em nossas sensibilidades, afetos e desejos. Tudo é indeterminação e acontece sob o signo do imprevisível.

COMPOSIÇÃO DA VIDA COMO REALIDADE SOCIAL


A eterna sedução do mundo vivido é o que nos define como seres vivos.

Flui através de nós o desejo em seus múltiplos agenciamentos como expressão da nervura da existência como potencia, como virtual acontecimento mergulhado na corrente do porvir. Ininterruptamente rascunhamos nossa existência como experiência semiótica, composição de signos e significados, ato linguístico que fundamenta a composição da realidade.

RESOLUÇÃO



Hoje cedo aprendi que era tarde demais para cultivar verdades.
Era momento de regar vontades e colher sorrisos,
Redescobrir a rua entre amigos.

Imaginar o infinito,
Contra todos os gritos e horrores do cotidiano inaudito.
Tudo há de ser novidade e esperança,
Metamorfoses,  reinvenções da existência!

O mundo será outro em  devires e imaginações!
O sublime será desde agora o signo da estética banal
Do inicio do resto da minha vida.

MISÉRIA HUMANA

Somos movidos por esse inteiramente outro de nós mesmos que é o desejo. Ele nos articula como seres viventes inconformados com a natureza, como animais doentes e delinquentes que escapam a realidade do mundo.


O ser humano é uma anomalia. Mas o universo segue indiferente ao seu acidente, nem mesmo sabe de sua ocorrência em um pequeno corpo celeste. Afinal, saber é apenas um defeito humano.

domingo, 28 de abril de 2019

O CONTEMPORÂNEO COMO UM ATO DE CRIAÇÃO

É inútil enfrentar os desafios do presente com as armas do passado. O contemporâneo exige um esforço de criação onde a história é sempre superada pelas exigência da vida em seu incessante e intempestivo devir.

Nos lançamos sempre e de novo a aventura do imprevisível. Há algo de profundamente estético na existência que não cabe nas fórmulas totalizantes e nas meta narrativas.

A DOENÇA DO PODER

O poder nos impõe dicotomias e dualismo insanos. Inventa a verdade e a mentira, o sim e o não. Ele nos reduz a falsas escolhas. Faz de tudo objeto de um julgamento moral, de uma afirmação totalitária do caminho único e inquestionável do dever-ser.

O poder é uma doença da qual somos todos vítimas em alguma medida.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

OS ANORMAIS

Só acredito naqueles que não tem alma,
pátria, vaidade ou religião.

Amo aqueles que rangem os dentes,
Que se revoltam,
Que não se encontram ,
Que sabem rosnar e gritar.


Gosto dos que fogem a palavra,
A insanidade da ordem
E com todas as forças desprezam o poder,
Os fatos, a glória e as soluções.
Somente eles sabem a potência da desesperança.

quarta-feira, 24 de abril de 2019

A VIDA COMO LABIRINTO


Gosto de formas provisórias e foscas de experimentar a vida.
Não são raros os momentos em que é importante não saber as coisas,
Ser conduzido pelo incerto, pelo ilegível,
E pela imaginação.

É preciso dar voz a intuição
E enfrentar a realidade como um labirinto desarticulado de percepções.

Afinal, o caos governa nossas vidas no fundo do marasmo cotidiano.

terça-feira, 23 de abril de 2019

SOBRE BEM VIVER

O bem estar de simplesmente existir, inerente ao viver de qualquer animal, deixou de ser possível ao macaco humano. Alienado da natureza, ele é incapaz do frívolo e essencial prazer de sua simples existência nua.

O veneno das conceituações, das normas  e das convicções abstratas, lhe afastou inteiramente da vida. A ficção do bem viver social extrapola o bom senso instintivo.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

O NASCIMENTO DA VERDADE


Antes da verdade ser inventada,  todos os saberes eram práticos. O conhecimento era um modo de lidar com o mundo, de produzir a experiência cotidiana do real e do corpo.

Um dia, entretanto, os menos aptos a sobrevivência, transformaram o intelecto em um artificio de persuasão para seduzir o rebanho. Impuseram a todos a mentira de uma metafisica, de uma essência invisível. Inventaram lideres, deuses e preceitos morais.

Foi assim que mergulhamos nos abismos das civilizações, no jogo do dualismo do verdadeiro e do falso. Tudo depois disso, sucumbiu ao poder.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

O EU E A PEDRA


Sei que não sou mais um eu,
Que me despi de identidades
E me abandonei a paisagem.
Indiferente  ao mundo atravesso o tempo,
Procuro ambiências
Fugindo dos fatos.
Nada acontece em mim.
Percebe-me ausente.
Escapo na primeira pessoa
Da pedra que me observa.
É ela quem diz o verso
Que enfeita o silêncio.
A pedra é o mundo
Que sabe o eu.
Ela é o paradoxo
Do meu corpo transformado
Neste dizer abstrato.
A pedra é sempre outra pedra,
Outro lugar,
Outro tempo.
Ela nunca acontece em si.
O eu está dentro da pedra.

DEVIRES


O CORPO E O PRAZER


O corpo existe para o prazer de seu próprio acontecimento. Isso é tudo que nos move, que nos faz acontecer. Mas nossas carências ontológicas transcendem o desejo. O prazer é um fartar-se de existência que extrapola a vontade e o querer. Quando o corpo fala o desejo cala. Não há sujeito na plenitude do prazer.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

DEPOIS DA HISTÓRIA

Já não vivemos no tempo da História.
O tempo agora é apenas um cemitério de instantes
Onde o  passado é  um clássico do cinema mudo.
O futuro será outra coisa.
Não irá corresponder as nossas expectativas.
Pode até mesmo ser desastroso.
Nossas crianças nunca serão felizes.
Mas estão preparadas para isso.
Irão descansar sorridentes a sombra de nossas distopias.

CASTRAÇÃO MENTAL


Minhas condutas foram podadas.
Não sei o que poderia ter sido
E nem me reconheço no que me tornei.
Apenas percebo que fui feito
A imagem e semelhança da sociedade.
Mesmo em meus questionamentos mais radicais,
Em minhas angustias e rupturas,
Ainda sou, em boa medida,
Uma variação qualquer daquilo que nego.
Não pertenço a qualquer futuro,
Não me encaixo em nenhum passado.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

SENSUALISMO



O gosto da doce fruta tropical,
O sabor de casca e pele,
Que a língua explora sem censura...

Como definir tal experiência?
Como explicar o superficial,
O concreto  e o intenso,
Que faz o prazer transcender o gozo?

Esqueça o que eu disse.
Nada disso importa
Diante de um dilatado instante
Desfeito na fluidez do êxtase.

segunda-feira, 1 de abril de 2019

PARA ALÉM DO HUMANO


Nossa “humanidade” parece agora diluída através de uma consciência mais intensa do mundo animal, vegetal e inorgânico. Já sabemos o quanto existimos na interseção destes três mundo enquanto corpo que habita um eco sistema complexo e diversificado.

Somos uma coisa entre coisas. Mesmo que tenhamos a peculiar capacidade de produzir coisas, ainda somos uma coisa como qualquer outra. Não é a “humanidade” que nos define enquanto parte da natureza. Mas nossa condição de perecível arranjo do moléculas.

Tudo que realmente importa é a experimentação do mundo como matéria pulsante, como movimento, mistura e ato. Não precisamos ser mais “humanos”.