Temia a possibilidade de mudar ao
ponto de não mais me reconhecer no espelho.
Não era raro me sentir ausente de
mim,
Estranhar meus gestos, minha voz
e meu próprio pensamento.
Afinal, o que é essa coisa
abstrata e inexplicável que chamam de identidade?
Até que ponto sou este eu que
digo
Enquanto percebo com espanto
O tanto de coisa involuntária que
me define
Em múltiplas realidades ontológicas?
Digam, se de fato existo tão
concretamente quanto suponho?
Nada me parece, assim, tão
definido.
Provei alterados estados de consciência...
Soube o fundo aberto de algumas
fantasias
Que tinham mais realidade do que
este dia,
Esta cadeira ou até mesmo você
agora
Sentada na minha frente.
Há coisas que não podem ser
ditas,
Que o pensamento não dá conta.
Elas nos levam ao limite
E ao maIs profundo da existência.