terça-feira, 29 de maio de 2018

CORPO SEM ÓRGÃOS


O organismo não é o corpo.
Mas o corpo é o organismo é além.
O corpo não tem órgãos.
O desejo não é prazer.
O prazer mata o querer.
Estou preenchido de potência.
Eu não preciso existir.
A vida é corpo.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

IMAGINAÇÃO E REALIDADE

Há tantas formas de dizer a realidade,
De inventa-la no pensamento,
Que acho mesmo que o mundo não existe.
O sentido é um ato de linguagem,
Acontece fora das coisas,
em golpes de imaginação e delírio.
A vida não passa de uma obra de arte.

quarta-feira, 23 de maio de 2018

O SENTIMENTO DO PENSAMENTO



Sentir é pensar.
Assim inventamos escolhas,
Desenhamos certezas
E nos perdemos em enunciados.
Representamos sempre o impossível
Domesticado o absurdo
Através de sentidos esvoaçantes.
A verdade é sempre a outra imagem
De nós mesmos
Que surpreende no espelho.

terça-feira, 22 de maio de 2018

PENSAR O DELÍRIO



Dobras e abismos definem tropeços e escorregões.
Pensar sempre semeia vertigens,
Inventa imensidões rasas
No simulacro de um rosto.

Tudo é possível e em mutação
Nas imaginações acordadas que superam o real.

Beba um pouco de sonho,
Embriague-se de existência.

sábado, 19 de maio de 2018

A IMAGINAÇÃO CONTRA O PENSAMENTO

A existência possui uma zona de inexatidão que escapa a qualquer formulação. Existe um limite para o pensamento que precisa ser preenchido pela imaginação. 

No fundo, estamos tão adestrados pelos códigos simbólicos de nosso contexto sócio cultural, que somos incapazes de conceber qualquer forma diferente de viver e sentir. Não conseguimos passar para o lado de fora do pensamento. 

Por isso um resgate da imaginação é saudável. Acontecemos através de imagens. Por isso a TV e o cinema se tornaram tão essenciais. Entretanto, ainda damos a escrita uma importância maior do que ela tem hoje em dia. O saber escrito já não é sagrado. Não acreditamos no poder do conhecimento. Vivemos tempos niilistas.

MAIO DE 1968


Maio de 1968...
Eu nem havia nascido.
Mas acho que todos os anos depois
Guardam um eco de maio de 1968,
Um gosto de França, Estados Unidos,
Iugoslávia, etc.
Um sabor de espaço fora do espaço
Que traz algo além do tempo e das épocas.
O desejo ainda inventa barricadas,
Imaginações e anarquismo.

SABEDORIA DO SUICÍDIO

Não ser é o que me define.
Meu eu é só um delírio.
Tudo que faço e digo
É coletivo.
Tento fugir disso.
Procuro em mim
Sempre qualquer vazio.
Mas este outro sem rosto
Que me serve de sombra
Sempre me define
Contra mim mesmo.
Mata-lo é o que chamam de suicídio.

sexta-feira, 18 de maio de 2018

INSÓLITA INSÔNIA

O descanso que quase foi
Sabotou o sono
Através da sombra de um sonho,
De um quase pesadelo.
Impôs a vigília
Como um espanto.
A noite virou susto.
Mas não houve grito.
Não existiam horas no relógio.

ISSO


Isso que somos e come,
Caga e goza,
Que fala, que mente e engana.
Isso que somos...
Afinal, o que é?
Respiração, sangue e carne.
Miséria da terra.
Querer informe
Que se devora.

quarta-feira, 16 de maio de 2018

A VIDA EM SEU MOVIMENTO

A vida em ato,
Fato e superposição de planos,
Acontece como hábito.
É sempre interpretação,
nunca se reduz a nudez do acontecimento.
A vida sempre extrapola o pensamento.
Não é representável,
não cabe em definições.
A vida não é o conceito de vida.
Ela contém a morte
Em seu modo de ser devir,
Multiplicidade e repetição.
Ela se duplica ao infinito
E não nos suporta.

sábado, 12 de maio de 2018

O JOGO


Invento um jogo estranho entre o eu e o não eu. Um jogo cuja principal regra é distanciar significante e significado apagando sujeito e objeto.


É um jogo de não sentido que nivela a morte e a vida. Ele não pode ser ensinado. Apenas experimentado.


Para joga-lo é preciso esvaziar-se de si mesmo, confundir-se com a paisagem e ser tão indiferente quanto o próprio universo, saber a molécula e o planeta em um mesmo fluxo de experiencias.

O objetivo deste jogo é a produção de ausências.

sexta-feira, 11 de maio de 2018

SOBRE O CAOS




Ainda estamos aquém da existência.
Nos embriagamos com a ilusão de humanidade,
Com os virtuais valores da civilização
E do culto à consciência das coisas
Ou da transformação instrumental da natureza.

Acreditamos em nossas teleologias,
Em nossas certezas coletivas.
Mas a única coisa que realmente existe
É o CAOS...


quinta-feira, 10 de maio de 2018

ILUSÃO ABSOLUTA



Nada é de acordo como o que dizemos.
Nem mesmo nossos próprios pensamentos.

A realidade é a ilusão da vida,
Um engano em um universo
Que nem mesmo sabe o que é a existência,
Que desconhece que é o universo.

Que estranha fantasia é o acontecer humano...





AOS FRACOS




Deixe de lado aquele medo,
Aquele cuidado ou bom senso.
Porque permitir que a razão  
Tenha o poder de lhe impedir?

Esteja a altura dos seus desafios.
Arrisque-se!

Melhor ser derrotado do que conformado.
Não seja moderado, ponderado,
Ou, simplesmente, um idiota.

A vida só vale a pena quando sangra.


quarta-feira, 9 de maio de 2018

MISÉRIA EDUCACIONAL



A educação está longe de nos preparar para a vida adulta ou nos dotar de um mínimo instrumental pratico para lidar com os desafios da vida em sociedade. Ela apenas nos adestra a reprodução das representações ideias que uma dada cultura faz de si mesma. Tudo o que aprendemos não passa de adestramento, de uma doutrina para a vida de rebanho. Mesmo a contestação parte dos mesmos pressupostos do conformismo: a delirante busca pela verdade, a afirmação do principio do deveria-ser.

Mas como diverso é o mundo vivido do mundo ensinado! Nele não cabem nossas preciosas virtudes e alentadoras certezas, nossa vaidade coletivamente afirmada. Nem mesmo nossos questionamentos e angustias que beiram a banalidade de uma subjetividade pré fabricada. 

A educação, mesmo em suas vertentes mais  criticas, não passa de mero instrumento de controle e conformismo social.

A REBELDIA DAS PALAVRAS





Toda palavra é plural,
Ambígua,
Imprecisa,
E não existe ao pé da letra.

Recusa a metafísica do texto,
Não representa a realidade,
Não se faz carne ou espírito.

Afirma-se como labirinto e vertigem,
Diz o silencio que estranhamente define
Nossa tola tagarelice,
Nossa necessidade ingênua
De inventar verdades e referências.
Toda palavra contem sempre o avesso
Daquilo que significa,
Torna inútil qualquer hermenêutica.

terça-feira, 8 de maio de 2018

KANT E O TRIBUNAL DA RAZÃO


O “normatizismo” kantiano e seu tribunal da razão me parece, às vezes, mais perverso do que os modelos platônicos. Afinal, proporciona a razão um falso rigor que justifica a confiança ingênua em nosso juízo. Não é de surpreender que Elias Canetti quase tenha intitulado seu único romance Auto de Fé ( em tradução literal :“Ofuscação”) como “Kant Pega Fogo”.

“Se dizemos do entendimento que ele é o poder de reconduzir os fenómenos à unidade através das regras, deve-se dizer da razão que ela é a faculdade de reconduzir à unidade as regras do entendimento através dos princípios. Portanto ela jamais se relaciona imediatamente nem com a experiência, nem com um objecto qualquer, mas com o entendimento, a fim de fornecer a priori e por conceitos aos variados conhecimentos dessa faculdade uma unidade que se pode chamar racional e que é inteiramente diferente da que o entendimento pode fornecer. 
(...) É o destino comum da razão humana na especulação terminar o seu edifício assim que possível e só depois examinar se também os fundamentos foram bem colocados.” 

Emmanuel Kant, in 'Crítica da Razão Pura' 


segunda-feira, 7 de maio de 2018

O NOVO É SEMPRE PERIGOSO



Pouco me importa aquilo que faz sentido.
Busco o pouco compreensível,
O que é estranho, incerto,
E acorda polêmicas e confusão.
Levo comigo uma rebeldia eterna,
Uma sempre renovada necessidade de novidade.
O que eu sonho não está no dicionário,
É movimento, caso é mudança,
Contra todos os passados que esclarecem o presente.

SABEDORIA HERMÉTICA



Aquilo que é exterior ao significado não pode ser descodificado ou interpretado pelo pensamento. Mas pode ser percebido como uma presença, como uma embaçada imagem. Logo, também pode ser expresso de forma não verbal, pois comunica-se ao corpo e não ao intelecto. Assim se revela algo misterioso e sedutor... é como um segredo a ser descoberto, é como  um antigo tratado alquímico.

É preciso que as palavras digam um silêncio...




sexta-feira, 4 de maio de 2018

DESARRANJO EXISTENCIAL




A rotina transfigurada por um devaneio transborda em imaginações.

Nada mais se encaixa na linha reta onde se assentam os fatos.
O quarto desarrumado expressa o abstrato caos da existência,
E a realidade objetiva não existe mais neste instante impreciso e intimista.

Sei que aconteço fora de mim através de palavras que se dobram sobre si mesmas.
O eu é uma casca oca que da forma ao tédio.
Investigo através dele meu intimo anonimato
Diante da indiferença da vida e do universo.




quarta-feira, 2 de maio de 2018

TEMPO E LINGUAGEM

Meu tempo não é o tempo do pensamento,
Ele é o agora das coisas,
A incerteza dos acontecimentos,
Que sempre desabam sobre si mesmos,
Transformados em fatos.
Meu tempo é imanente,
Breve e fugidio.
É morte e silêncio
Que inventa a vida
Como um perder-se das coisas.
Meu tempo não é o de Cronos,
Não conhece a História,
Razões ou posteridades.
Ele é finito, artístico e criativo.
Comporta mais adjetivos do  que substantivos.
Meu tempo é o abstrato momento do meu desaparecimento,
Minha alienação na linguagem,
Na imagem,
Que me transcende e reinventa
Como dizer do mundo a sombra da eternidade.