quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

TEMPOS DE FADA

TEMPOS DE FADA

 Sinto saudades daquele que eu costumava ser. 
Nos bons tempos em que o mundo
 era maior do que minhas angustias, 
nos dias claros onde era elementar saber o encanto das coisas vividas como se fossem sonhadas. 

 Sinto saudades da época ingênua em que meu eu cabia no vazio de algumas rotinas,
 e era possível alimentar a pueril fantasia 
 de que era para mim que o sol brilhava 
 e a lua inventava madrugadas.

 Pouco importava a realidade. 
 O mundo era meu brinquedo
e só existiam de fato as coisas que a gente intensamente imaginava ou  sonhava. 

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

NOVO ANO MORTO

O ano termina depois do fim do mundo.
Mesmo que ninguém acredite
e nos iludam as convenções de realidade.
Nada do que é visto ou vivido
realmente existe.
O passado agora é absoluto.
Estamos todos mortos e entranhados
no cadáver do ano novo.
Habitamos um cemitério de seres vivos
apodrecidos pela normalidade de uma terra desertificada.


sábado, 17 de dezembro de 2022

VERSOS PARA UMA DESCRENÇA ABSOLUTA

Apenas o absurdo faz sentido.
Nenhum discurso, ato,
 convicção moral ou racional,
conforma a realidade que nos devora
como uma esfinge furiosa.


Acredite no que quiser,
mas o mundo é filho do caos
e a estupidez define a humanidade.

Não cultive esperanças,
não espere respostas,
ou um futuro melhor.
O mundo não é um enigma.

Existimos apenas para morrer
e o tempo que  nos faz durar
é insignificante.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2022

NIILISMO E COTIDIANO

No fundo nada faz sentido
e a gente só finge que entende o mundo
acreditando  em qualquer coisa
que normalize tudo,
não importa o quanto tudo seja absurdo.

O que interessa é não morrer hoje,
mesmo que a vida seja um acontecimento efêmero e sem propósito,
além do certo e do errado,
e do encolher do dia e do tempo
de uma vida inteira.




segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

CONTRA RAZÃO

Contra todas as certezas, verdades,
determinismos, escolásticas e instituições,
é preciso afirmar a potência do acaso,
o absurdo como método.

É preciso fazer da ética um exercício físico,
 um mover-se entre as coisas e acontecimentos
Através do equilibrio
entre o humano e o inumano,
para que o animal em nós renasça, soberano,
contra toda ilusão de sentido ou razão.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2022

DEPOIS DO MUNDO

O que hoje me falta
é um pouco de mundo
para abrigar o corpo
já quase morto,
deixar transbordar afetos,
imaginações e silêncios.

É justamente isso
que não mais existe
entre nós:
um mundo onde
tudo é intenso, transparente,
e incerto,
um mundo onde de tão inumanos
 nos tornemos iguais e complexos
em nossa mais profunda falta de realidade,
um mundo que seja
algo mais do que um lugar,
mas  um indefinível estado  de paz, 
insensatez e ausência.