sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

A FALÊNCIA DO DESEJO

Como a vida pode ser reinventada como uma inutilidade total? Talvez pela simples hipótese de que a realização de todos os nossos sonhos e desejos transformariam nossas vidas em um pesadelo definido pelo tédio. Seriamos apagados pelo sucesso, esvaziados pela felicidade perpétua a ponto de  viver  não fazer a menor diferença.

Nossa existência pressupõe o desassossego e a fluidez constante da vontade diluída entre os objetos que nos definem rotinas. Somos quem somos através de um cotidiano mecânico estruturado  em função de nossas necessidades e não de sua  satisfação sempre duvidosa.


Somos o produto de nossos desejos, somos seus objetos. 

NOSTALGIA E INFÂNCIA

A nostalgia da infância nasce da simples constatação de que o mundo humano não deu certo, tomando como referência seus próprios valores e ambições. Mas não  podemos voltar a espontaneidade e inocência dos primeiros anos de vida. E , até agora, toda contestação contra  nossa condição humana, tal como socialmente construída, revelou-se insuficiente. As pessoas, de modo geral, preferem a fantasia a realidade. Principalmente quando era não nos oferece nada de positivo.  


quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

AS ILUSÕES DA RAZÃO

A razão contemporânea permanece vinculada ao sonho da verdade. Confundimos, assim, racionalidade e realidade e acreditamos que as coisas precisam fazer sentido. Somos prisioneiros de nossas ingênuas premissas racionais, mesmo que nossos atos sejam condicionados pelo irracional, pelo opaco de nossas compulsões básicas. Uma das maiores limitações da condição humana é a capacidade de acreditar em suas próprias invenções. Mas o fato é que o universo ignora a humanidade...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A POSSIBILIDADE DO IMPOSSÍVEL

Todos os problemas teóricos e filosóficos giram em torno da possibilidade do impossível.

Precisamos do conforto de certas falsas certezas ideológicas, naufragar nos lugares comuns  das convicções, para perpetuar a expectativa de que vivemos em uma realidade que, apesar de suas contradições, é plena de significado racional.


A verdade sempre terá  seus pedintes e mendigos existenciais.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

TRANSBORDAMENTO

Procuro aprender a escrever de modo insensato e inconsequente.
Procuro não ter juízo, ser imperfeito, não dar ouvidos ao premeditado.
Desprezo tudo aquilo que representa o virtuoso.
Cultivo gritos, uivos e agonias.
Engasgo com alguns princípios.
Me rasgo, me refaço.
Não esperem de mim
qualquer explicação.
Não me cobrem motivos.

Apenas não me caibo.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

INAPTO A REALIDADE

Nasci inapto a realidade,
a felicidade e a tudo aquilo
que te faz viver.
Não sou destes
nem daqueles.
Sou livre,
vazio e opaco,
na realização absurda
do meu querer.
Não me siga,
não queira saber de mim.
Apenas respeite minha loucura.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

PELO AVESSO

Vivia de um dia passado
morto e enterrado,
de coisas findas e indefinidas,
vendo paredes no teto
e estrelas no aquário.
Era uma boa vida
que a realidade estragava.

Tente enterrar pensamentos na areia,
plantar uma arvore no mar aberto.
e, talvez, você me compreenda.

Existimos pelo avesso

através das coisas...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

CAOS, COTIDIANO E SURREALISMO

O avesso do sonho é a realidade,
não esta mansa loucura que nos adequa
a um aleatório e trágico cotidiano
onde todos estão perdidos
em suas razões de ser,
e avançam,
Precários e passionais,
em direção a um abismo
que ninguem consegue ver.
O que importa 
é rimos e dançamos
qualquer estranho sentido

que nos anima a vida,
essa doença que inventa a morte.

OS EQUÍVOCOS DO SENTIMENTO DE VERDADE

Meu maior erro foi acreditar naquilo que me parecia certo. Adquiri mais certezas do que precisava. Acabei me tornando escravo de minhas estreitas convicções a ponto de não enxergar as varias possibilidades que dentro de mim mesmo se desenhavam contra o circunstancial das minhas infladas reflexões.

Enganado pelo sentimento de verdade considerei o desnecessário, o equívoco  e o arbitrário como definitiva conclusão. Não existe verdade que não se afirme  lapsos e indeterminações. A parcialidade é inerente a ação e o erro é um momento da verdade.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

O AVESSO DO PENSAMENTO

Não sei em que momento me surpreendi desabrigado e perdido, vazio e descrente diante de todas as verdades e convicções humanas. Sei a necessidade de algo mais do que tudo aquilo que até agora foi concebível, realizável e pensado. O que eu sonho ainda não tem nome ou significado possível. Talvez nunca deixe de ser um delírio dentro de um sonho.


Mas é preciso buscar o impossível contra este tédio de humanidade. Mesmo que não faça sentido...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

EXÍLIO EXISTENCIAL

Estive apartado das minhas vontades,
vazio de mim mesmo
e incapaz de querer qualquer coisa.
Minha vida não cabia no mundo
e meus sonhos transbordavam imaginações.
Sofria a febre de todas as urgências
em minhas necessidades a flor da pele.
Precisava viver...

viver mais do que a própria vida.

INTIMO CAOS

Há qualquer coisa em mim
que não sinto nos outros,
um modo de perceber,
de viver e saber o mundo
que escapa ao sentimento de todos.
Pode ser que eu apenas seja ridículo,
fraco e bastardo
em relação a cultura estabelecida.
Mas também pode ser
que tudo que existe
esteja em confortável colapso.


sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

ÚLTIMA REVOLTA

Farto de mim mesmo
e da própria consciência
que me define as coisas,
aposto  na evasão dos ébrios,
nos desencontros com a boa razão.
Não serei mais razoável,
medíocre e cotidiano
como todos os demais.
Que a loucura me faça brilhar
os olhos cansados
contra a paisagem da ordem,
das refeições balanceadas
e exercícios de academia.
Não quero gozar de boa saúde
e viver como um escravo.
Estou farto da mesmice dos noticiários.
Deixem-me ir embora.
Estou farto de tudo isso,
do passado, do presente e do futuro!

Adeus a todos e a tudo!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

FILOSOFIA DO CORPO

Meu corpo é a medida de todas as coisas possíveis. Pois é através dele que existo e sei o mundo e tudo aquilo que é concebível pelo pensamento e a reflexão. Sou este corpo e não aquilo que digo sobre todas as coisas no livre exercício da linguagem. Viver é satisfaze-lo em suas concretas e elementares necessidades. Um jogo entre prazer e desprazer que me faz buscar sempre qualquer forma de bem estar.

Esta deveria ser a premissa de toda filosofia futura:  Pensar é a abstração da experiência concreta e sensual de ser um corpo que aleatoriamente acontece no tempo e espaço, paradoxalmente, desinventando a si mesmo através  da consciência das coisas.

Todo o seu objetivo resume-se na transcendência da espécie como singularidade.


A INCERTEZA DA RAZÃO

Na averbal intuição das coisas
persigo os signos do silêncio
contra o raso do instante.
Sei que além de todo significado
me espera o absurdo e o espanto
como única conclusão possível.
Todas as coisas ditas
hão de desaparecer no precipício
do abstrato infinito das imaginações
selvagens.
Tudo está sempre por um fio.
A civilização é um empreendimento

sem garantias.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

INDIFERENÇA...

Guardei na cabeça o encanto
de alguns livros e séries de TV;
além da experiência de uns videogames
nas evasões de mim.

Neste mundo louco,

estamos todos perdidos de nós mesmos
no para sempre igual dos rostos,
massificados  e imprecisos,
nos ritos e fatos 
da hora do almoço...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

À MARGEM DE TUDO....

O mundo existe  na minha vida,
mas minha vida não é o mundo,
mas o acaso do pensamento
através do qual transcendo
a espécie  e a horda,
onde lembranças e sentimentos
me reinventam como recusa.
Nada disso que escrevo
dá conta deste grito que sou.
Não me ofereço ao olhar do outro.
Sou abstrato e indeterminado
no simples acontecer do meu corpo.

Não tentem interpretar minha fotografia.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

POEMA KAFKIANO

A tarde era insípida como um copo d’agua,
mas necessária em seu tédio
aquela pouca realidade que me cercava.
As pessoas me dirigiam perguntas
sobre as entranhas das coisas.
Me tomavam por qualquer outra pessoa.
Eu não conseguia adivinhar as respostas
que as fariam ir embora.
Questionava aquele inquérito sem sentido.
Mas quanto menos eu dizia
mais pessoas surgiam.
Sabia que aquilo não nos levaria
a lugar algum.
As pessoas, entretanto,
sabiam mais do que eu,
me conheciam por outros nomes
e diziam um mundo

que não era o meu.

O PIOR SEMPRE VEM...

Estava acostumado com as dificuldades.
Elas me tornavam mais decidido,
menos propício a me enganar com pessoas
e situações.
Nunca esperava um final feliz,
jamais baixava a guarda.
O tempo todo aprendia
uma nova forma
de não ser enganado
e seguir meu caminho.
Não tenho do que me arrepender.


terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

TRÁGICA LUCIDEZ

Sei que não há escolhas,
que não existem saídas;
estamos de ante mão condenados,
submetidos a tirania dos fatos,
submissos aos nossos desejos
e enterrados em nossas fantasias de verdade.
Oprimidos pela realidade
sucumbimos  desde o inicio

a ilusão de nós mesmos.

EXISTÊNCIA

Existo.
Embora pareça absurdo.
existo.
Como um corpo
composto por diversas vontades
divergentes;
seus desacordos não me cabem
no rosto.
Mas polifônicas agonias
me inventam estranhos pensamentos
que me roubam a direção dos atos.
Que estranha coisa é essa
que chamamos de humanidade!
Quase não me percebo em mim mesmo.


segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

VAZIOS

A questão não é saber se a existência ainda pode ser preenchida pela arbitrariedade  de qualquer sentido racional, mas se somos capazes de conviver com nossos vazios de consciência, com a irracionalidade de nossa necessidade de significados, diante das falsas certezas socialmente construídas e sustentadas pela tradição e inercias de pensamento.