quarta-feira, 30 de setembro de 2015

ANGUSTIA

Tentava abrir uma porta
que ali não estava
adivinhando um outro lugar.
Só não queria estar mais aqui
afogado em pequenas
e cotidianas angustias.
Não suportava mais
aquele peso de mim mesmo,
aquela vontade que me sufocava

sem qualquer explicação.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

SOBRE O 30 DE SETEMBRO OU O DIA INTERNACIONAL DA BLASFÊMEA II

O dia internacional da Blasfêmia foi criado em 2009 pela Center for Inquiry (USA), organização destinada a promoção da ciência e do pensamento racional. A data foi escolhida por ser a data de aniversário das primeiras publicações de charges satirizando o profeta Mahoma pelo periódico dinamarquês  Jyllands-Posten, em 2005, quebrando o tabu religioso, gerando controversias e despertando a ira do fundamentalismo islámico.

Trata-se, portanto, de um dia destinado à liberdade de expressão e manifestação, mesmo que satírica, contra a cultura religiosa e o fundamentalismo. Também pode-se considerar a data como destinada a divulgação científica e ao saber racional.

30 DE SETEMBRO: DIA INTERNACIONAL DA BLASFÊMIA



Cabe esclarecer que Blasfêmia são palavras proferidas contra as crenças religiosas predominantes em uma sociedade, contra algo tomado como “sagrado” pelo senso comum.  Trata-se de atos deliberadamente injuriosos de questionamento a suposta autoridade religiosa e sua reinvindicação a imposição de valores a sociedade como um todo a partir de um dado referencial moral.

No contexto judaico cristão, segundo o livro Levítico, do Velho Testamento e  Segundo o evangelho de São Marcos, do Novo testamento, aqueles que blasfemam estão condenados a danação eterna. Premissa seguida à risca pelas autoridades eclesiásticas e civis da Idade Media e primeiros séculos da época Moderna, como bem sabemos através dos autos dos processos inquisitoriais. Cabe ainda observar que leis contra a blasfêmias ainda vigoram nos países mulçumanos prevendo prisão perpetua e até pena de morte para aqueles que são considerados blasfêmicos.
Neste sentido, o dia da blasfêmia é uma data insurgente contra o pensar dogmático e totalitário, contra o fundamentalismo religioso, destinando-se a troça, a sátira ou, simplesmente, ao humor burlesco e carnavalesco.

Nesta data, ateus do mundo todo fazem questão de lembrar que nada é sagrado e esta acima de critica em uma sociedade democrática. Assim, trata-se de afirmar neste dia a liberdade de pensamento, de critica e a diversidade cultural.

NENHUM DEUS DEVE SER TEMIDO!!!!!

quinta-feira, 24 de setembro de 2015

TEORIA SUBJETIVA DO CAOS

Apesar de todas as leis,
identidades, verdades
e certezas,
a  existência acontece
em grande  parte
inspirada
pelo imprevisível
e o imponderável.
Pois o acaso é insuperável
em suas tramas absurdas,
em sua desrazão  quase absoluta.


SEJA ANTI SOCIAL

É preciso ter  certa má vontade preventiva com as pessoas. Nunca sabemos exatamente o que esperar delas. Logo, não surpreende que o desacordo seja  o estado comum da vida em sociedade.  Somos feitos todos de diferentes desatinos.

Longe de mim a ingênua fantasia de que devemos “amar ao próximo”,  nos esforçar para o estabelecimento de uma utópica fraternidade universal.  Deixo estas tolices para os retardados e bem intencionados.

Viver em sociedade é estar em constante conflito, administrar pequenos e grandes desentendimentos no aprendizado de nossas diferenças. A maioria das pessoas não está disposta  a escutar ninguém. Obedecem apenas as inspirações de umbigo.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

OS DESATINADOS

Os desatinados superam os loucos
Pois transformam a animosidade em virtude
Apagando as luzes da razão.
Aos desatinados pertence a astucia
Digna dos mais nobres demônios.
São eles que questionam
Os riscos da civilização.
Sua liberdade é errante,
Não se curvando
A ilusão do bem e do mal.
Apenas estes, os desatinados,
Sabem tatear na escuridão
E andar sem medo
A beira do abismo.


DESENCANTO

Já estou velho demais
para acreditar no impossível.
Importa-me apenas o dia a dia,
o almoço, o sono
e a roupa limpa.
Me basta o mínimo,
o imediato da sobrevivência.
Não me seduzem utopias
e ideais de sociedade.
Sei que a realidade
está fadada as contradições
e aos erros que definem as pessoas.


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

LÚCIFER COMO HERÓI TRÁGICO


“O inferno — tão exato como um atestado.
O purgatório — falso como toda alusão ao Céu.
O paraíso — mostruário de ficções e de insipidezes...
A trilogia de Dante constitui a mais alta reabilitação do diabo empreendida por
um cristão.”
EMIL CIORAN in SILOGISMOS DA AMARGURA

A mitologia judaico/cristã tem como sua principal premissa não a centralidade do humano no mito da criação, mas sua  redução a apêndice de uma estranha racionalidade megalomaníaca divina.
Afinal, desde  o principio encontra-se o humano  condenado por hereditariedade ( se assim se pode dizer) .  E toda a história da salvação se resume a reaproximação entre a humanidade decaída e a divindade, da qual se distanciou no momento em que lhe foi revelado o conhecimento dos opostos ( bem e mal) e passou a pensar por contra própria. Há neste mito um claro elogio a ignorância  e a servidão que nos faz pensar Lúcifer como um herói trágico e a criação como um grande delírio de uma divindade esquizofrênico.  



SURTO

Alimente-se de insanidade
e beba um pouco de loucura.
O mundo não vale
uma vida inteira
de fingida sanidade.
Exponha sem medo
as contradições dos outros
exibindo sem pudor
seu intimo absurdo.
Viva embriagado!
Exista em sua nudez!

distante...

sábado, 19 de setembro de 2015

O GRANDE TEATRO DA SOCIEDADE


Então eu me sentei ali
E fiquei a observar o vai e vem das pessoas.
Analisava o modo como andavam,
Suas roupas e assessórios.
Me dava conta do grande teatro do mundo,
Do vazio das cosias de sociedade
E dos artificialismos que definem
O comportamento humano.
Eram todos um bando de coitados
Vivendo em um mundo louco.
Mas eram todos algozes
Se fazendo de vitimas.
Não via nenhum inocente,
Ninguém confiável.
Por isso de todos

Me sabia sempre distante.

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

AS RAZÕES DO DIABO

Em um sonho sombrio
De uma madrugada de verão
Via a face tenebrosa do deus cristão.
Soube sua grotesca humanidade,
Seus delírios megalomaníacos de salvação,
De sua aversão a criação e a sua própria condição enferma
De divindade.
Eu vi  a ideia de  bem como um poder nefasto
A  corromper a humanidade.
E ouvi  do diabo as mais lúcidas lições
De desespero
Contra o caos imposto por aquele criador
Ferido de morte pelo tempo e espaço.
Soube que todo universo se voltou contra aquele deus vaidoso,
Que espantado diante da sua própria obra
Recuou medroso e furioso.
Tudo aquilo que existe grita contra este deus

Que se rebela contra a superioridade dos seus próprios filhos.

OBSERVAÇÕES SOBRE A LOUCURA

Há uma distância tênue separando a loucura do mais corriqueiro egocentrismo. Talvez por isso muitas vezes surpreendemos lucidez em um louco e absoluta loucura entre os classificados como normais.

O comportamento humano se caracteriza por bizarrices.


Por isso é preciso cuidado com nossas mínimas convicções. Somos naturalmente dados ao erro. O certo é sempre algo abstrato e indeterminado subordinado a tirania de nossas vontades mais obscuras e sutis.

terça-feira, 15 de setembro de 2015

SEJA UM FRACASSADO!

As dificuldades e frustrações ajudam  qualquer um a pensar, a questionar e se voltar contra todas as certezas do mundo.

A vida não nos oferece muita segurança  quanto a qualquer coisa. Tudo é extremamente instável e a rotina no fundo não passa de uma ilusão para acomodados.

É preciso cair de vez enquanto, visitar abismos. Isso nos torna mais aptos a fatalidade da existência e de nossa  relis condição humana.

O mundo não pertence aos vencedores. Contra eles se insurge a virtude dos vencidos.


A VIDA NÃO FAZ SENTIDO

“A ‘libertação’ do homem? Virá no dia em que, desembaraçado de sua mania finalista, tenha compreendido o acidente de sua aparição e a gratuidade de seus infortúnios, no dia em que todos nos agitemos como atormentados saltitantes e sábios, e em que, mesmo para o populacho, a “vida” se reduza a suas justas proporções, a uma hipótese de trabalho.”
EMIL CIORAN in SILOGISMOS DA AMARGURA


A vida não faz o menor sentido. E afirma-lo serenamente só prova a banalidade de tal afirmação. Não precisamos ser escravos de nenhum significado das coisas, de qualquer gramática da realidade. A existência nos basta em sua superficialidade.


A fé é para os tolos e pobres de imaginação. 

domingo, 13 de setembro de 2015

AS ÁGUIAS DA GUERRA

As águias da  guerra
Batem suas asas
Em frenéticos combates
Contra o nada.
Tomam p banal como causa
E inventam heroísmos
Em nosso medíocre cotidiano.
As águias da guerra
Estão sempre prontas a batalha.
Principalmente quando a guerra
Não existe.
As coitadas são cegas.

Não sabem que tudo é quimera.

quinta-feira, 10 de setembro de 2015

REBELIÃO INTROSPECTIVA

Estou farto de boas intenções,
De ilusões de felicidade
E falsas resoluções de consciência saudável.
Não suporto o melhor do mundo,
O vazio dos discursos
E as precárias certezas cultuadas por muitos.
Não cortejo a falácia da felicidade,
As decrépitas ideias inspiradas em nobres utopias.
Sei que o mundo só az sentido pelo avesso
E que as mentiras definem as coisas.
Então não tentem me dizer o que é certo.
Pois sei que estão todos errados.
Ao inferno com suas vidas.

Tenho a minha e isto me basta.

COMÉDIA HUMANA

Vivi na vida tantos insucessos
Que a memória
Já não dá conta deles.
Mas quem disse que o mundo
É feito de vitoriosos?
Talvez de ingênuos e hipócritas
Que não resistiriam um segundo
Sem o cultivo de alguma boa ilusão.
Mas tive a desventura  de me fazer
Lúcido e inquieto
Frente todas as contradições do mundo.
Sei que todos se dizem certos
E atribuem o erro sempre ao outro
Que se considera ainda mais certo.
Assim se define a comedia humana;

Esta insana busca do mais correto.

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

SOBRE O PARAÍSO PERDIDO E O ROMANTISMO

Foi o romantismo alemão e inglês que, no plano cultural europeu,  primeiro propôs uma espécie de redenção da imagem do diabo no imaginário ocidental, comparando-o a Prometeu.  No contexto mitológico cristão, a grande inspiração para esta “conversão” foi  certa releitura do  poema em prosa  O paraíso Perdido de  Milton ( bom lembrar que o autor protestante foi um protagonista da revolução inglesa).
Não  foi intenção do autor transformar Lúcifer em um herói e personificação da liberdade do indivíduo, mas foi assim que sua obra se fez contemporânea dos dilemas contemporâneos de nossa consciência coletiva, onde o bem e o mal já não possuem lugar definido e não questionável.
Mas como se anuncia este poema épico:
“ Do homem primeiro canta, empiria musa,
A rebeldia – e o fruto, que, vedado,
Que com seu mortal sabor nos trouxe ao Mundo...”

É a própria aceitação de nossa condição humana que permite a conversão de lúcifer na figura psicológica de herói no contexto mitológico cristão, por isso nos são tão caros os versos de liberdade que Nilton põe na boca de seu Lucifer:
“É melhor reinar no inferno
Do que servir no céu....”


QUERIA ESTAR ENTRE OS LOUCOS


Nada é mais absurdo e irracional do que uma vida humana.
Este acontecer sem propósitos
Do qual somos todos escravos.
Sei que seria melhor não pensar sobre isso.
Viver feliz como um idiota.
Mas não posso.
Não consigo.
Arde em meu cérebro a fúria de algum pensamento louco,
Uma febre das coisas,
Que me faz buscar o impossível
Contra os imperativos dos fatos.
Queria estar entre os loucos...

domingo, 6 de setembro de 2015

SOBRE HISTÓRIA E UTOPIA by EMIL CIORAN

Obviamente, uma obra como a coletânea História e Utopia de Emil Cioran, não despertará o interesse da esmagadora maioria dos historiadores profissionais. Mas não seria insensato do ponto de vista historiográfico resgatar esta obra  de visceral niilismo e recusa de toda filosofia da história como um ataque muito bem vindo  as utopias e ideologias políticas do século XX.
No ensaio Carta a um amigo longínquo,  Cioran  define com precisão lacônica  a premissa elementar do seu discurso:

“Poderia responder-lhe que sou  um homem desocupadon e que este mundo não é maravilhoso”

Recorrendo a mitologia, Cioran, de modo realmente  sarcástico, recusa  “os restos de tempo que ainda arrastamos”, diagnosticando que “o remédio para os nossos males é em nós mesmos que devemos buscá-lo no princípio intemporal de nossa natureza.”

Assim sendo,

“Não há mais passado, nem futuro, os séculos  se desvanecem, a matéria abdica, as trevas se esgotam; a morte parece ridícula, e também a própria vida.”