quinta-feira, 28 de novembro de 2019

VIDA E IMAGINAÇÃO



É preciso sonhar no corpo das nuvens
Enquanto se explora o chão.
Parir mundos no mundo,
Afirmando a vida
Como um ato de imaginação.
Como um exercício de criação,
Desrazão e invenção.
Ou, simplesmente,
como algo que extrapola o humano
Nas desventuras da natureza,
Desvelando o acaso e o improvável
Como matéria prima da realidade
Acima de toda ilusão de certeza.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019

PALAVRA DA SALVAÇÃO



A palavra que encontra o corpo,
que afeta e transforma,
é lúdica e quente
como a vida nova
que ela acorda.

É um desdizer da verdade,
uma musica muda e sensual,
que nos liberta de toda norma e moral.

Esta palavra é  um vazio,
uma ausência que nos preenche de desejo,
que nos ensina a nudez da liberdade.


O FUNDO DA REALIDADE


O fundo mais fundo da realidade,
escapa a objetividade dos empiristas
e ao materialismo dos tolos.
É onde meu rosto derrete
e minha voz
torna-se eco.
É onde o corpo
prova o incerto
do vento dentro d’agua
e multidões escrevem meu corpo
a metafisica fome de eras antigas.

O fundo da realidade é o abismo
superficial e claro
onde toda experiência mergulha.

sábado, 23 de novembro de 2019

A ANTI MODERNIDADE DA POESIA ( ou o retorno do bardo)



Em um mundo onde a experiência  humana foi confundida com a produção das coisas e a política dissociada da liberdade  para converter -se em disciplina, a imaginação tornou-se abrigo para as mentes indomáveis e selvagens, adversárias de todos os poderes & autoridades.

Aquele que permanece marginal ao simulacro do progresso e do utilitarismo, da razão/prisão imposta pela história,  torna-se por vocação  um poeta, um habitante do mundo abstrato das letras tortas de livre linguagem.

A modernidade fez do poeta o rebelde insurgente,  o maldito que a margem dos saberes e ciências,  rearticula as antigas magias  da embriaguez e da reinvenção  dos corpos. Contra as técnicas e engenharias do mundo urbano, o poeta se perde na grande floresta, tal qual um novo Merlin, profetizando o passado contra o futuro.

MARGINAL

Não nasci para trabalhar,
Para consumir
E viver invisivel
Entre os poderes e prédios
Da grande cidade.

Não nasci  para pagar contas,
Ser inteligente e submisso
Diante das opiniões prontas.

Meu ideal é  ser marginal,
Incoerente e nocivo 
Ao seu bem estar social.

PENSAMENTO LIVRE

Nenhum saber, poder ou verdade há de escravizar meu corpo estendido em consciência. Pois todo afeto que me move é  inspirado pela liberdade,
Pela natureza de ser disperso entre as coisas.

Meu pensamento não  cabe em fórmulas,  não representa a tirania de qualquer esclarecimento. 

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

ALÉM DOS LIMITES DO DIZIVEL

Perceber os limites do dizível  é  surpreender-se  preso a coisas que só existem como fato da imaginação. 

O dizer que nos inventa nos desfaz no horizonte do possível. Somos escravos de nossas convicções. 

Mas  um impossível sempre nos espera do lado de fora do silêncio ameaçando nossos limites.

Há sempre um momento no qual as palavras enlouquecem e começamos incêndios ao amanhecer. 

A SAÚDE DOS SÁBIOS



A loucura é a erudição dos sábios
e a desrazão o alimento dos sensatos.

A riqueza de uma vida despida de valores,
do crivo de qualquer moral,
Permite aos mais esclarecidos
preservar a inocência de uma criança
e a espontâneidade e vigor instintivo
de qualquer animal.

Gozar de sabedoria e boa saúde 
É viver em pleno acordo com o ilegível da natureza.

A loucura é a mola oculta da vida,
como sabia Erasmo.

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

MENINA LOUCA



Sou muitas,
mesmo que única
através de cada um
dos meus eus.

Mas isso não é uma confissão.
Não passa de uma constatação inútil
e, talvez, seja apenas uma conveniente ilusão.


O que sei
é que ser qualquer coisa,
prender-se a qualquer definição,
não é uma solução.
cada um dos meus eus 
porta sua própria opinião.

Tudo que, afinal,  me define
não passa de uma quase ilegível confusão.

Estou sempre  fugindo de mim mesma
através de mim... 

Ser mulher não é coisa que não tem nome. 

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

SOBRE O PENSAMENTO

O pensamento não da conta da realidade, pois é  governado pela imaginação, pelo desejo e a potência dos afetos que me transformam em algo indeterminado e em movimento.

O pensamento é  impessoal, em grande parte irracional e amoral. Talvez ela seja algo da natureza do corpo que se opõe a ilusão  da consciência diferenciada do eu como um complexo autônomo.

INDEFINIÇÃO DE LIBERDADE



Liberdade não é uma palavra.
 Mas um modo de existência.
 Uma ética 
que é  a própria vida em sua insistência. 

A liberdade é a imaginação que nos inventa na inconstância das asas de uma borboleta 
ou no fluir das águas em rio e devir.

A liberdade pode ser  um pássaro, 
Mas nunca uma palavra.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

O ANTI TEMPO DA INSURREIÇÃO


A realidade danificada de todos os dias,
perpetuada pelas inercias do mundo,
pode colapsar em um segundo,
calar no impreciso momento do intempestivo
que apenas toca o tempo e o espaço
como quase fato,
como imprevisível  relâmpago
do imponderável.

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

PRELÚDIO AO ALÉM DO HUMANO



O desespero é o pai da esperança.
Quando não resta alternativa,
quando nos surpreendemos privados de tudo,
nos rendemos a violência da mais radical mudança.

Nenhuma decisão racionalóide
resiste ao apelo de vida,
o afeto,
a vontade que nos transforma
em potência viva,
em uma força cega
que nos renaturaliza
em algo além do humano.

O caos funda a arte da vida,
que inspira o devir da poesia.

quarta-feira, 6 de novembro de 2019

BREVE HISTÓRIA DA CONSCIÊNCIA HUMANA



No inicio não existiam palavras.
Eramos envolvidos pela metafísica
de imagens vivas.
Estávamos contidos nelas.
Não havia separação
entre o dentro e o fora.
Eramos um só com o mundo
na composição da pluralidade das coisas.

Mas o “eu” rompeu a primitiva unidade
e se fez um “nós” fora de toda natureza.
Desde então, separados do mundo,
sofremos os horrores da civilização
e a miséria dos humanismos.  


terça-feira, 5 de novembro de 2019

LINHA DE FUGA



Onde existe fuga respira a esperança.
Escapar é movimento para fora de si
no avesso do mundo.

É transgressão biopoética,
desterritoriarização,
que transcende a prisão das palavras
e as gramáticas das interdições do corpo.

TRANSGRESSÃO

Espero dizer o indizível,
Gritar o impossível,
Trasfiguando a linguagem,
O compreensível.

Derrubarei todos os limites
Para chegar ao caos sereno
Do abismo do meu silêncio. 

Quero saber o avesso do mundo,
O inumano em estado bruto do natural.

ANTES DA HUMANIDADE


O mundo era feliz antes da humanidade.
Existia indiferente a si mesmo
Entregue ao caos natural.

Nenhuma consciência maculava  as coisas,
Que não  eram coisas, 
Na diversidade e vertigem 
Sem sujeito ou objeto.

Não  haviam valores, 
Moral ou progresso.

A existência era demasiadamente simples.
Nada tinha rosto ou estava preso a um nome.