segunda-feira, 30 de março de 2020

NOSSO SILÊNCIO

Estamos engasgados com nossos silêncios. 
Quanto mais falamos mais ele 
se inscreve na ordem das coisas ditas,
fazendo crescer a angustia do quase indizível.

O silêncio é  feito de palavras novas,
da carne de alguns delírios
que fugiram a prisão da gramática cotidiana,
que escaparam das celas semióticas da academia,  da Razão de Estado dos eruditos.

Nosso silêncio é  barulhento
E engravida gargantas
com a semente de um  grito.






sábado, 28 de março de 2020

POESIA E BARBÁRIE

Não é  o belo que define a poesia. Mas o barbarismo que desterriteoriza a linguagem, que perverte todos os valores, normas e verdades. 
A poesia é  filha do mito e da alquimia,
A sabedoria dos xamãs que transfigura a existência.
A poesia é o que nos inspira a queimar o caderno de versos e reaprender a uivar na invenção de uma nova e redentora barbárie.

segunda-feira, 23 de março de 2020

DESUMANIDADE



Os dias lá fora
já não nos habitam.
E as ruas parecem felizes
Vazias de gente.

Quem sente?
Toda beleza da natureza
Presa no fundo da cidade
Reside no fato de não ser humana.

domingo, 22 de março de 2020

MUDANÇA

Tudo segue em permanente mudança, 
Acontece contra nossas certezas,
Contra a economia, O Estado,
A lei e a ordem.

Tudo muda a revelia dos tratados e vontades 
De todos os tipos de sabições,
Contra a opinião pública,
Países, consensos globais
E religiões. 

Tudo acontece contra nossas inércias, 
Contra nosso mísero progresso,
Contra a ilusão  de sucesso de toda civilização. 



MUDANÇA E COTIDIANO PERDIDO

A  angústia, a incerteza,
O descalabro da ordem cotidiana,
Nos libertam das ilusões e prisões 
De realidades medíocres.
Nos obrigam a tempestade,
A liberdade e  ao intempestivo
De qualquer outra forma de vida.
A intuição do caos 
Sempre nos lança a vertigem 
De qualquer novidade. 

POEMA PÓS CIVILIZADO

Por estes dias tenho estado vazio de idéias, 
Abominando certezas e convicções,
Além de surpreso por ainda estar respirando
Em meio a catástrofe da vida civilizada.

Tenho estado isolado,
Com o mundo inteiro gritando,
Dentro de mim e do tempo.

Já não me reconheço.
Desraizado das coisas do agora,
 imune a qualquer ilusão de futuro,
Invento o infinito de um mísero instante
Perdido na pós história da humanidade.

quarta-feira, 18 de março de 2020

CONTRA O HUMANISMO

Sobre o cadáver da metafísica, a moral moderna inventou o triunfo do homem como medida de todas as coisas.  Nos impôs  a história como processo civilizatório e triunfo do progresso técnico e existencial. ´

Mas quão  miserável é  esse humanismo e suas ilusões,  sua vontade de verdade!

Em dois séculos ele materializou barbáries nunca antes sonhadas revelando, através da sua vontade de saber e controlar, um desejo velado de morte é deserto. 

O homem como ideal moral é pura apologia ao suicídio coletivo, uma patologia do poder  no seio de um eco sistema que não  comporta mais seu delírio civilizacional.

terça-feira, 10 de março de 2020

A DOENÇA DA VERDADE

A febre da verdade
Inventa o certo e o errado,
Quando todo enunciado
Não passa de um delírio,
Da dor da consciência que vaga louca
Entre a razão e os abismos do nada.

A certeza adoece o juízo 
Na selva da biblioteca. 
Boas leituras
São  somente aquelas
Que de alguma forma
Restaura em nós 
Algum brilho de selvageria.



segunda-feira, 9 de março de 2020

CONDIÇÃO PÓS HUMANA




Sigo perdido entre o humano e o inumano,
Entre o orgânico e o inorgânico
Em qualquer estado de pós natureza.

Sou artifício,
Corpo,
Composição de diversas coisas,
Um quase objeto
Sujeitado a linguagem,
Em estado de transição permanente
Entre o mundo e o rosto.

Sou biopolítico artifício de sociedade,
Simulacro e sujeito,
Na duvidosa existência de mim mesmo
Em meus atos de fala 
e incerta consciência de mundo.

domingo, 8 de março de 2020

O DESAJUSTADO



Quero ser livre da opinião dos outros,
Não  ser celebrado, nem condenado,
Mas reconhecido como alguém que viveu
Acima do certo e do errado.

Lembrem-se de mim pelo meu desprezo pela humanidade,
Pela minha indiferença a moral, aos princípios e propósitos civilizados.

Fui avesso a toda virtude, 
Inconveniente aos bons sentimentos
E um mestre do maus costumes.

Tenho orgulho de ter contrariado todas as expectativas,
De não  ter correspondido ao que esperavam de mim.

Fui Livre nas metamorfoses da minha inadaptação permanente.







sexta-feira, 6 de março de 2020

O MATERIALISMO DA ALMA DAS COISAS


A alma das coisas está no encanto da experiência de comunhão do eu e do mundo, no prazer táctil e sensível de integrar todo objeto a nossa corporeidade, re-experimentando-os nos cinco sentidos e no pensamento (não representativo) como extensão de nós mesmos no abrigo de determinado ambiente material e familiar.

A alma das coisas pressupõe uma indistinção entre o corpo e a coisa, entre o pensamento e a sensação.

A alma das coisas é uma forma de co habitação simbiótica.

quarta-feira, 4 de março de 2020

A VERDADE DO GRITO



Todo trabalho,
toda verdade
e realização humana,
deveria ser substituída por um grito,
revelando o desespero
que nos habita em segredo.

MARGINAL



Sou inadequado.
estou sempre a margem,
na contramão do vento,
entre os inconvenientes,
os derrotados,
os dissonates e problemáticos.

Não quero servir a sociedade,
abomino o sucesso.
Sei que o mundo nunca deu certo.

terça-feira, 3 de março de 2020

POÉTICA DA INSURGÊNCIA


Cuspam poemas nas autoridades,
nas divindades metafisicas e verdades científicas!
Repudiem toda moral!

A palavra é uma arma
contra toda gramatica.
Não tenha medo de usa-la
contra a prisão da norma.

Afinal, a delinquência é o estado natural da poesia
que aguarda o velório do mundo atual.

SEM SAÍDA


Fechem todas as portas
e explodam todas as saídas,
que não haja mais maneiras de fugir,
ser conformado e adiar a vida.

Que ninguém possa fugir
do seu próximo surto,
do seu desespero,
de sua vontade coberta de sangue.

Todos tem direito a alguma loucura!