quinta-feira, 31 de outubro de 2019

PENSO MAS NÃO EXISTO

O mundo não  cabe no pensamento.
Mas o pensamento inventa o mundo.

Tudo é  imaginação,
Desejo, sonho e discurso.

A vida é  uma obra de ficção
Onde nada é  o que parece
E aquilo que é
Muda  a cada segundo.

Penso...
Mas não  sou  eu
Quem existe no pensamento
que nunca é idêntico a si mesmo,
transfigurado em discurso.







A DEMOCRACIA DAS LETRAS VIVAS



Prefiro existir
onde as palavras
não são letradas,
Frequentam as praças
 circulam livres
na boca dos plebeus.

Onde é quase possível
imaginar alguém
por dentro
depois de uma  prosa,
E o dizer é partilhado
como pão com manteiga
na avenida central.

Quero existir onde todos são ouvintes
e qualquer discurso é anônimo
no fluir dos signos e símbolos
que compõe a multidão.



DESVIO URGENTE



Qualquer desvio me espera
Na próxima curva do século.

Não há esperança dentro da ordem,
Nos trilhos do progresso,
Que nos conduz a um futuro deserto.

É mais do que urgente qualquer desvio,
qualquer desespero e sopro de liberdade
que tenha gosto de abismo.




NOVO HEDONISMO


Busco um envolvimento sensorial e corpóreo com a coisidade dos fenômenos. Sei que de um modo intenso minha existência lhes pertence. Sou parte direta e indireta de tudo que é manifesto. Pouco importa o tempo que me define provisório e incerto. Sou uma coisa entre coisas, compondo e sendo composto pelas coisas.  Tudo se relaciona na tessitura do real.  Tudo em mim se reduz a cognitividade do corpo/palavra na reflexiva sensualidade da experiência.  


domingo, 20 de outubro de 2019

A VIRTUDE DO DESESPERO




É preciso uma dose de desespero
Para conquistar a coragem do abismo.
É necessário livrar -se de tudo,
Negar a si mesmo,
Tão profundamente,
Que apenas exista o mundo
Em sua tenaz vertigem.

A percepção do caos profundo
É  a mais autêntica inspiração
De qualquer ato de criação,
De afirmação da vida.

quinta-feira, 17 de outubro de 2019

CIVILIZAÇÃO E FIM DO MUNDO



A civilização naufraga,
submerge em suas próprias quimeras,
enquanto advogamos uma nova terra
na recusa de todo platonismo.

Não mais vislumbramos alturas,
buscamos o mais concreto do rés do chão,
a imanência,
a composição dos corpos,
e o devir do desejo.

Não temos rostos,
somos singularidades múltiplas
entrando e saindo de ambiências
e  paisagens gramaticais.
Anunciamos a urgência do fim do mundo
e o advento do pós humano.

POEMA ALQUÍMICO



Há virtude em frequentar o éter,
a vertigem e a sombra,
saber o caos primordial
que ronda a eternidade.

Solve e coagula!
participe da natureza
em suas mutações infinitas
aprendendo a consistência
do ritmo e velocidades
do devir das coisas.

vida e morte se nivelam.
Tudo se comunica
e nada é o que parece ser.
Busca o arcano do feminino
desvelando o masculino.


terça-feira, 15 de outubro de 2019

DEVIR NATURAL


Em nosso comportamento mais inconsciente sabemos a presença  do arcaico, do primordial, que nos comunica o inumano.


Sabemos a fome, a passionalidade e a ansiedade de um viver primitivo imemorial.

Somos intensos animais apartados do devir natural. Mas em nós  ele persiste nos subterrâneos  de uma consciência domesticada pela razão, que nos inventa sujeitos, quando não passamos de uma multiplicidade de processos biológicos que transbordam a existência banal. Sob a casca do homem há o vivente que nos conforma a natureza. 

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A SOMBRA DO ACONTECIMENTO



Há um acontecer clandestino
No dizer,
No sentir,
No pensar,
No morrer,
Que acorda um outro
Que não  é ninguém,
Mas um quase,
Um talvez,
Que não se sabe,
Que não  pode ser,
Mas persiste
E poderia de alguma forma
Mudar tudo
Através do efeito de acontecer.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

VIVER CRIANÇA


Inventaram infâncias
E roubaram de mim
Toda espontaneidade de um viver criança.

Fizeram de mim um adulto
Que não  suporta o peso
Do próprio desejo
E a intensidade da imaginação.

Mas qualquer loucura acena na esquina
Oferecendo desatinos e um pouco de esperança
Contra este enorme sentimento de castração e normas.

.

sexta-feira, 4 de outubro de 2019

A SABEDORIA DO ERRO


O erro não é o contrário do certo,
Mas uma ilusão do efeito de verdade.
É, também, um estado de espírito,
Um modo de ser incerto,
Transgressor
E amante de paradoxos.

Criar contra a norma
É uma premissa de toda arte,
Uma vocação para liberdade
E para o infinito de possibilidades
Que nos habita como potência.

Errar é sonhar,
Transcender o possível,
A ditadura das escolhas prontas,
Na intuição do indizível caos
Que inventa o novo.


quarta-feira, 2 de outubro de 2019

O POEMA PERFEITO



O poema perfeito jamais será escrito.
Será vivido intensamente
No colo da natureza.

Será revelado quando estivermos todos despidos de certezas,
Limpos da hipocrisia humanista, da razão casta iluminista
E de toda forma de autoritarismo, poder e dogmatismo.

Ele será gritado nas ruas,
Uivado nas madrugadas,
Dançado em todas as festas!

Será, definitivamente, indiferente a letra morta dos eruditos
e aos bancos frios das escola!

Terá o ritmo louco de corpos 
Freneticamente bailando ao sabor do vento.

Acordará a potência de nossos melhores desejos,
dos nossos mais intensos afetos.

O poema perfeito não será um poema,
mas a poesia viva de uma bailarina 
a beira do abismo.


A GRANDE ILUSÃO


Habitamos a palavra que nos corrompe,
Que nos impõe a gramática do mundo,
Contra o silencio cotidiano
Do simples acontecer das coisas.

Sofremos o vazio do letramento,
Dos livros como mercadoria de um saber caduco,
Contra a consciência do corpo e da natureza.

Buscamos as alturas do conhecimento,
A vertigem vazia dos iniciados,
Contra a terra e a imaginação da natureza viva.

Ainda nos destraÍmos com a grande ilusão da civilização.