O VENTO

O vento esta em todas as partes

E não demora em lugar algum.

Mas quando roubado ele desfaz o tempo.

E nos ensina a ser todas as coisas

No aprendizado de ser nada

E quase ninguém.

Por dentro das imaginações do horizonte

O vento é movimento

Na confusão dos lugares e das coisas.

Um dia tudo desaparece no corpo do vento....

SER A SUBVERSÃO

Entre o sonho e o riso,
eu me defino subversivo,
Alegre e impulsivo.

Não tenho lugar no agora.
Todo meu ser é futuro,
Existo como rascunho
De mim mesmo.

Tudo em mim
É  mudança,
Espanto e esperança.

O OCO DA PALAVRA

No oco da palavra
Mora o que não pode ser dito.
Mas não  é  silêncio.
É  sentimento e corpo.

O oco da palavra desde sempre
Está escrito
No vazio da folha.

Ele grita o ilegível,

A soma de tudo que pode ser dito.

COVARDIA EXISTENCIALISTA

Um fiapo de vida velha ainda me prende a rotina,
A ruína da humanidade
E a este desespero de mundo
Em provinciana paisagem de pouca realidade.

Mares  e infinitos  ainda me esperam
Do outro lado do abismo
Na contramão  das civilizações.
Mas me falta coragem para me vestir de louco
E dançar a vertigem de uma existência intensa.

Fui educado para viver morto.

DESEDUCAÇÃO

Não seja responsável por ninguém.

Não tutele, não controle,

Não normalize.

Não tenha filhos,

Não seja professor,

Evite a companhia de crianças.

Não contamine outro ser humano

Com a miséria de qualquer moral.

Deixe livre,

Deixe acontecer.

Cada um se inventa

Através do lúdico de ser gente.

TRANSFIGURAÇÕES TECNOLÓGICAS

O desejo transfigurado em ato e ideia torna-se força material,

Por isso,  espacializaremos o tempo através de nossos brinquedos  tecnológicos, até que toda experiência se confunda com a concretude da extensão.

Computadores  são instrumentos de uma ação anti cotidiana contra toda  realidade temporal.

Sabotamos o futuro através da internet.  É sempre tempo de reinventar o amanhã, transforma-lo em um lugar possível além do horizonte.

O delírio é virtual e viral. Contamina consciências,  sequestra emoções. 

Nossos brinquedos tecnológicos inventaram a profundidade das superfícies. Não há mais limites para imaginação criadora.

Tudo esta em aberto.   

MAQUINAS DO NADA E NOVO BARBARISMO

Criaremos novas maquinas sem função para sabotar o progresso da humanidade. Queremos de volta nossa pureza primitiva, nossa inocência selvagem e bruta. O artificio da cultura moderna e seu industrialismo absoluto produziu o iluminismo, a fantasia do homem como medida de si mesmo, como carrasco da natureza. Agora o planeta inteiro agoniza. Nossas vidas apodrecem entre os escombros de uma civilização falida.

Por isso produziremos, como Picabia,  máquinas sem função para entulhar no caminho do progresso.  Destribuiremos gratuitamente  nossas maquinas niilistas para criação de objetos inúteis e sublimes. Maquinas de nada e poéticas anti mecânicas substituirão computadores, telemóveis e seus caducos códicos binários. Que se danem os augoritmos e sua lógica de programação. 

Seremos novamente  selvagens e livres. 

É hora dos novos bárbaros nos salvarem da civilização!

A MENTIRA ABSOLUTA

É tudo mentira!

A humanidade é uma farsa,

Tanto quanto organizar-se em sociedade

É um desastre.

Mas em  nome da boa sociedade

Tudo que sabemos foi inventado.

Era preciso dar corpo ao rebanho,

Perpetuar a espécie

Em nome da evolução e do progresso.

Contra o controle  universal
O suicídio é  expressão de liberdade.

Só os  não nascidos  conhecem a verdade
pois a tudo  ignoram. 

O MITO DA QUEDA

Tenho saudades de coisas não vividas,

Dos paraísos oníricos de existir perfeito

Que nunca foram matéria dos fatos.

Como é potente a nostalgia

Destes dias impossíveis

Em domínios da imaginação!!!!

Parece mesmo que fui arrancado

Da perfeição de vidas paralelas,

Jogado ao desatre do mundo real.

Mas não me venham com Platão!

Não roubem o credito de minha loucura

Com cristianismo para filósofos.

A verdade é que somos inaptos a vida.

Que não passamos de fetos extrauterinos

Em longo estado de agonia.

A ATUALIDADE DO SURREALISMO

O automatismo psíquico, a escrita automática do surrealismo, é um método ainda válido quando a psicanalise se acomodou a sociedade? A autonomia discursiva e a significação do acaso já não figuram como estratégias válidas  de invenção de novas sensibilidades. Estamos  hoje muito longe da ingenuidade dos “anos loucos” de 1920.

Mas a loucura ainda nos seduz contra os manuais de psicologia e a invenção do doente mental. Ainda há cheiro de caos na avenida principal, ainda há angustias, inadequações e absurdos frequentando o cotidiano. Ainda brindamos o nonsense, o humor e o barbarismo estético.  

A BURRICE DA VERDADE

O efeito de verdade é a embriaguez dos dogmáticos, dos fanáticos e egocêntricos. 

Alguns entre nós são viciados no dizer verdadeiro. Cultuam o poder de  revelar aos outros o encanto da dita realidade objetiva. Querem ser vanguarda, pastores de grandes rebanhos. Não sabem o quanto não passam de uma patética variação de idiotas. Cada um esta condenado a solidão de sua própria perspectiva sem qualquer ilusão de universalismos.

FILOSOFIA DO OLHAR

Meus olhos devoram a realidade.

Transcendem a miragem de imagens

E apreendem a energia das coisas.

Sabem o ínfimo, o fluxo e as intensidades.

Nada é concreto.

Não há objetos,

Apenas processos.

Micro arranjos de percepções

Criam a incerteza da consciência.

Tudo acontece nos olhos.

DICA DE PREVENÇÃO A IGNORÂNCIA ILUSTRADA

Para aqueles que buscam a redenção pela pericia de qualquer saber, deixo aqui uma preciosa dica:

Nenhum conhecimento possível irá capacita-lo a resolver a complexa equação da existência. Afinal, a existência não é uma equação e nem mesmo um problema. Ela não faz o jogo de suas representações.

Não há resposta.

Apenas viva enquanto lhe for possível.

Depois tudo será esquecido.

Inclusive a humanidade.

Pode ser uma questão de séculos ou de anos.

FUGIR DE SI MESMO

A existência me embriaga de vazio

E me leva a delirar a vida.

Tento encontrar meu momento de fugir,

De saber  outras lugares e coisas,

Até o ponto de não ser mais eu.

O prazer de ser já não é possível.

Vinga dentro de mim uma agonia,

Um desespero de precisar ir além,

Transcender o verossímil e o possível

De todas as possibilidades de ser.

Preciso fugir, esquecer.

Há outra pessoa vivendo

Do outro lado da minha vida.

Adivinho em seu rosto

A soma de todos os meus passados.

PENSAMENTO E DESEJO

Meus pensamentos não se entendem com a realidade.

Acompanham os caprichos do desejo

Que me conduz sempre

De uma coisa a outra

Até o infinito.

Tudo em mim é instável,

Incerto e mutável.

As coisas me atravessam,

Me transformam

E depois me escapam.

Nunca sou o mesmo.

Nunca sou aquele que sabe

Ou sente.

Sou sempre  aquele que ainda será....

PAREDES

A parede é  uma espécie  de muro que sustenta um abrigo, limites,  inventando prisões.

A parede  nos da segurança, mas nos rouba a esperança, definindo os quatro cantos  do conformismo.

As paredes não  tem rosto, mas nunca são  iguais. As vezes dão sentido a uma porta.

Nos iludem com uma saída. Pois sabem que somos dependentes dos limites do encontro de quatro paredes.

Sempre nos esquecemos entre quatro cantos.

O PENSAR EPIDERMICO

O pensar epidérmico que foge a palavra, é  uma experiência bruta, um saber imediato e direto. Ele nos comunica a natureza que nos envolve e sustenta, apesar de toda moral,  artifícios e precipícios da civilização. 

O pensar epidérmico é  expressão  direta de nossa condição  animal, é  o que nos cura da depressão  causada pela prisão de qualquer tempo ou cultura.

PEQUENO POEMA CONTRA HUMANO

Não existe gente no céu.

Por isso ele nos parece tão sublime.

Onde não há pessoas

A natureza é alegre e majestosa.

A terra seria plena

Se nela fosse como é no céu.

CEGUEIRA

Os olhos gritam,
Mas a paisagem não  responde.

Uma suavidade qualquer
Embriaga a visão.

Os olhos não  servem  mais
Para saber o mundo.

Não há  mais nada a ser visto.

É preciso inventar, imaginar,
A intimidade secreta das geografias

com a habilidade dos cegos.

ANIMAL DOENTE

O homem e um animal estranho que privou sua existência da intensidade da vida.

Ele não  passa de um bicho doente que sofre o tempo,

Que desaparece de si mesmo,

Reduzindo o mundo a abstração da linguagem.

Sua presença é cada vez mais a visibilidade do seu próprio  desaparecimento, do seu domesticado sofrimento.

AS VIRTUDES DA GUILHOTINA

A noiva decapitada dança sobre o piano.

Parece feliz, mesmo não tendo rosto.

Deve fazer bem perder a cabeça,

Saber o mundo no corpo acéfalo

Como  simples epifenômeno.

Arrancarei a cabeça dos behavioristas,

Positivistas e materialistas.

Elas não lhes servem sobre o pescoço.

Tragam a guilhotina, depois de decapitados

Todos os padres, policiais e políticos,

Há sempre mais cabeças para arrancar

Até estirpar de nós o pesadelo da humanidade.

Acabaremos com todas as causas e efeitos

Antes que matem o planeta inteiro

Com o progresso das ciências e das tecnologias.