URGÊNCIA

Preciso apenas
Ouvir teu riso
Ecoando no escuro
Do quarto
No aconchego das horas intimas.

Tenho urgência de suas caricias,
Da tua companhia
E tuas  palavras me abraçando
O pensamento

SUGESTÃO DE LEITURA: O PARAISO DE DANTE: UMA JORNADA PELO MERETRICIO CARIOCA by ALEXANDRE COSLEI

O Paraíso de Dante - Uma jornada pelo meretrício carioca
Autor: 
Alexandre Coslei


Editora: Clube de Autores (Tb publicado como E-Livro)
Ano: 2010

Sinopse:
“A ciência se enganou. O Universo não se expande, ele encolhe. Apenas a mente mais tacanha não constataria esse fato após um olhar superficial sobre o mundo. Meus parentes falecem, a família se extingue; meus amigos se dispersaram, dissipam-se; meus amores fracassaram; a maior parte do caminho ficou pra trás e eu estou cada vez mais só neste crescente deserto claustrofóbico. O Universo encolhe até não reconhecermos mais a paisagem que nos rodeia. Acho que a gente morre para não ficar deslocado. Existir é padecer de duas fomes ancestrais, a do estômago e a da genitália. A primeira sustenta o corpo, a segunda perpetua a espécie. A mastigação e a cópula resumem o miolo central do precário sentido da vida. “

ANTI ARTE

Neguemos até o fim
A possibilidade extrema
De uma arte
Ainda capaz de mentir
O belo,
Afirmemos o grotesco,
A mais sincera expressão
Humana
Além da falácia
Das humanidades.
Afirmemos  de todas
As formas a anti arte,
O absurdo declarado
de tudo...

CONTRA O DUALISMO MENTE/CORPO

A vida me corre por dentro

Abstrata e anônima

Como um sonho de consciência

Que me sustenta

Toda realidade do mundo.

Sei que alma

É coisa que não existe,

Um equivoco de tradições

Que negam ao corpo

O direito de pensamento.

Mas a vida é tão simples

E banal

Como um espinho no dedo....

NOVÍSSIMO DEMÔNIO

Minha noite não possui
Estrelas
Ou lua cheia,
Apenas a penumbra suja
De um bar sem nome
Onde me junto a escória,
Aos degredados da sorte
E da morte
Para cantar hinos
Contra a sociedade.
Minha noite exige apenas
A realeza da marginária,
A boemia dos cegos de luz,
Veteranos do inferno
De da invertida cruz.

AMOR VADIO

Por apenas aquela noite
Me abriguei da dor
Em teu corpo,
Entorpeci
Com o prazer
De tuas carícias,
Até  a manhã
Me rasgar  de novo
Longe da tua vagina.

INSANA FELICIDADE

A felicidade me espanca,
Tortura,
Cospe  na cara
E de repente some
Só pra voltar mais violenta e insana.
A felicidade
É o passageiro sombrio
Da minha infelicidade
Que sangra,
Que cospe pús
E se consome  na dor
De um sorriso rasgado
Em meus lábios
Como um desajeitado grito
De liberdade.

PARA UMA PROSTITUTA

Meu inútil magistério
É o avesso da consciência,
O mundo de ponta cabeça
E o caos vivido
Entre tuas pernas abertas
Em quase morte de prazer.
Quero me vingar da vida
Gritar o infinito
E brindar ao absurdo
Até que  nada me reste
Além do abismo
Do teu beijo maldito.
Quero morrer em segredo
Dentro do teu brinquedo
Desfeito no micro infinito
De um orgasmo frio.

PASSEANDO NO INFERNO

Tive um lindo
Fim de semana
Colhendo pérolas
No inferno,
Fugindo de tudo aquilo
Que vocês gostam
E acham importante
Apenas pelo trivial prazer
De não me iludir
Com o mundo.

REVIRAVOLTA (mini conto)

Todas as urgências se voltaram contra mim. As paredes tortas das pequenas rotinas apresentaram, então, suas primeiras rachaduras. O resto era aquela velha agonia  de viver todos os dias a mesma rotina. Parecia sensato a abrir a porta da realidade e seguir ao encontro do nada.

O relógio já não dizia as horas. Contava os “ais” enquanto a agenda exibia o triste rascunho de uma vida que nunca foi.  Eu  permanecia rarefeito  à sombra da realidade.

Não tinha como fugir daquilo. Também não tinha como adivinhar o que se dizia  no caótico fluxo dos meus pensamentos  enquanto a realidade se dissolvia.

Era absolutamente tarde para qualquer coisa. Não existiam ponderações ou resoluções pendentes. Tudo estava absolutamente decidido, superado ou se mostrava surpreendentemente estranho ao que sempre foi.

Naquele momento eu me dei conta do quanto de alguma maneira estranha estava morto...
todo este breve lampejo de consciencia não era nada mais , nada menos, do que um espasmo celebral. Algo como um sonho e uma sobra de consciência que termina...
exatamente agora.....

SEJA INFELIZ

Não quero viver
Uma vida obvia,
De terno e gravata.
Quero explodir
Em preto e baderna
Afirmando a felicidade
De não ser feliz,
De repudiar o mundo.

SALVADOR DALI

Para Salvador Dali
A arte é pura masturbação,
Paranoia critica
E ilusão,
É estar em terceira pessoa
E dizer o que ninguém entende
Contra o quase absoluto
Da cretinização cotidiana.

CAOS

Era um dia
Sem dor e chuva,
Nada acontecia,
Tudo explodia,
Se desfazia...
Tudo era o absurdo
De um gole de rock,
Entre outras drogas,
Sexo e poesia.

MOÇA BONITA

A moça bonita
Da rua ao lado
Não me vê todos
Os dias,
Não sabe meu olhar
Faminto
Imaginando a vida
Através dos teus olhos,
Adivinhando teu corpo,
Teu beijo,
Sem se quer
Pensar
Em teu nome...

MINI MONÓLOGO DE UM FRACASSADO

Desde que existo me sei sozinho e sem semelhantes na consciência fria do mundo que me cerca. Nada me parece certo ou errado, nada me prende o coração pesado. Vivo de percorrer o ermo do não lugar da minha vida, de não responder as perguntas que o mundo me lança no insuportável do cotidiano.
Definitivamente, sou aquele que não deu certo, que se refez tantas vezes que nunca passou de um borrado esboço de gente contra os lugares comuns da galeria social. Nunca quis ser nada na vida, mesmo com tantas possibilidades me rasgando por dentro no sem direção do mundo como representação e vontade.
Fracassei exemplarmente em tudo. Dei de cara com uma porta que não existia, pois recusava os lugares comuns do outro lado da rua. Jamais me imaginei entre os vencedores e bem sucedidos. Por que haveria de cultivar a ilusão de qualquer sucesso?

DESPERTAR RUBRO (MINI CONTO)

Ela acordou sem se lembrar de todas as coisas da sua vida. Estava livre do seu passado, dos seus erros e das convenções cotidianas do deserto de dia.

Ela acordou inteiramente nua e livre de tudo, de todos, da porcaria toda de seus pensamentos e das vontades descompassadas.

Podia agora ser quem gostaria de ser, qualquer coisa que devolvesse o  gosto a sua  existência vadia.

DESESPEROS

Meus desesperos
Não cabem no grito
Que rasga a voz cotidiana.
Eles são selvagens e desatinados
Ao ponto de transcender
Todos os limites do suportável
E inteligível.
Não respeitam o mundo,
Pessoas e instituições.
Meus desesperos arrotam
Destruições.

MALDITO

FUI PARIDO

PELO ABORTO

DE UM SONHO LOUCO

EM UMA NOITE DE TEMPESTADE.

FUI O ÚNICO,

O INVERSO,

DE TUDO AQUILO

QUE SE ESPERA

DE UM SER HUMANO.

FUI O LOUCO,

O PORTAVOZ DO ABSURDO

QUE E TÃO HUMILHADO

APRENDEU A CUSPIR FOGO

SOB O COTIDIANO....