terça-feira, 31 de outubro de 2017

REBELDIA CEGA

Caso tudo fosse perfeito,
O mundo um lugar sério,
E a vida leve e alegre,
Como no comercial da TV,
Lhe confessaria
Do mesmo jeito este segredo:
Nunca fui do tipo que dá certo
E nunca precisei de motivo pra isso
Além do fato de estar vivo.

ABSURDISMO

O que ainda pode ser dito quando todos os discursos parecem iguais?
Quando tudo que foi escrito é menos significativo que o silêncio de uma vida inteira?
Desfeita no vento do tempo presente toda velha sabedoria e quimeras do espírito, tudo que nos resta é um grande susto, uma cruel perplexidade diante do quase nada de nossa existência.

segunda-feira, 30 de outubro de 2017

ESCRITA ABSURDA

Escrevo como quem grita! Como aqueles que amam o silêncio e se calam através de cada palavra escrita.
Escrevo para os embriagados e desesperados que, como eu, desprezam  a vida de suas próprias linhas.
Escrevo porque quase existo.
Porque me sei absurdo.

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

A SABEDORIA DO RISO

Contra a opressão da realidade, temos sempre a disposição a ironia e o riso. O humor é niilista por excelência. Diante dele nenhuma verdade, vaidade ou moral inspira veneração e respeito. O humor é inimigo de tudo que é sedentário, de tudo que é normativo, pois ele é corrosivo, desmedido, Pode-se mesmo dizer que o humor é intimo da embriaguez, do desregramento.

Mas não se deve levar nada demasiadamente a sério já que  tudo é perecível.  A vida é digna de uma boa gargalhada. Rir nos liberta da intimidação que nos inspira o mundo em sua vastidão de pessoas, coisas, pensamentos e acontecimentos sem fim.


O humor nos liberta, inclusive de nós mesmos, de nossas pretensões absurdas ao sucesso, as glorias e ao bom senso. Se existe ainda uma filosofia possível seu princípio certamente é o riso. Esta admirável capacidade humana de ridicularizar e brincar com a realidade vivida e pensada.   

VISÃO

A nudez das nuvens e da terra
Na paisagem de um quadro
É mais real do que o olhar de janela.
O mundo é sempre virtual
Quando os olhos  enxergam
Sem  o privilégio de um cisco.
É preciso se estar confuso
Para enxergar o obvio
Que nossas certezas encobrem.
A maioria das pessoas

Nunca enxergaram o mundo.

SEJA LOUCO

Entre o entendimento e o juízo eu grito.
Sei dançar com meu próprio pensamento,
Saborear o caos do mundo
E me indignar com a existência
Sem por isso ser triste.
Talvez, isso faça de mim
Um louco.
Mas é melhor ser um louco

Do que um religioso.

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

ELOGIO AOS LOUCOS

A verdade é que a realidade nos torna estúpidos.
Vivemos de modo adequado, regrado e calculado,
Seguimos o fluxo,
Pensamos como todo mundo
Na imaginação de nós mesmos.
Nada é mais estúpido.
Por isso compreendo os loucos,
Aqueles que diante de tanta razão

Ficaram surdos aos gritos da multidão.

sábado, 21 de outubro de 2017

PENSAMENTO CRÍTICO

Tudo aquilo que amarga nossa consciência do mundo nos faz reagir a tudo aquilo que cotidiana e sutilmente nos esmaga.  Traçamos estratégias de evasão contra o que nos oprime. Fantasiamos contra a realidade. Isso acontece  o tempo todo. Video game, cinema, televisão precariamente saciam nossa sede infinita de evasão. É preciso fugir da ordem das  coisas, inventar o aleatório, o absurdo e o não sentido contra a norma e a verdade. Sem isso o mundo seria simplesmente insuportável. Mas deixamos este impulso  em direção a margem das coisas acontecer espontaneamente  e de modo  regrado.


terça-feira, 17 de outubro de 2017

A FELICIDADE SOCIAL COMO CRIME PERFEITO

O crime perfeito é aquele no qual a vitima é seu próprio carrasco na onipotência da norma. Assim se faz absoluta a recusa de toda diferença e diversidade através da eficácia da identidade. Quando a norma faz de todos um, a supressão dos indivíduos torna toda ilusão utópica possível. Pois o mundo verdade oprime todas as consciências e reduz todo ato de pensamento a reprodução da norma. A segurança da lei das coisas e dos homens inventa um mundo sem erros e sem liberdade. O crime perfeito é, em uma só definição, a felicidade coletiva.

segunda-feira, 9 de outubro de 2017


O PUDOR DO CORPO

A sombra moral torna o corpo visível apenas quando erotizado. O pecado secularizado torna-se pudor moral, revelando  assim toda a  miséria do “ultimo homem”. Mergulhado na ilusão do cogito ele nega sua própria materialidade, seu devir animal, e se incomoda com o  gato domestico que o observa no banheiro.


Somos um corpo, mas o escondemos, porque não nos suportamos. O animal em nós tornou-se fraco em nossas fantasias de humanidade. Tenho muita pena dos seres humanos...eles são os palhaços da natureza que se julgam dignos de uma alma.

sexta-feira, 6 de outubro de 2017


IMANÊNCIA

A imanência oferece a aparência como um critério contra a ilusão da essência, contra a falácia da verdade. O aparente  fala a experiência imediata desqualificando qualquer juízo abstrato ou metafísico.

 A aparência é aquilo que apreendemos quando não julgamos. Ela é a nudez dos fenômenos quando nos predispomos a vivê-los sem qualquer pretensão a pervertê-lo como conceito.


VERACIDADE

A veracidade é a base da norma. Ela define o certo e o errado e constitui uma fonte infinita de segurança.  Dela deriva o coletivo humano como organização socialmente orgânica e articulada por um repertório  de símbolos e significados cristalizados.

Há algo de possessão, de arbitrário, no modo como um indivíduo ou um coletivo sede a um sentimento de veracidade, pois tal adesão ocorre através de um impulso irracional. A veracidade gera certezas demais e conduz a ação a uma atitude coercitiva que visa adequar os fatos  as coisas, ao imperativo da norma. Ela é uma imagem ideal , um dever-ser indiferente a qualquer mediação com a realidade.

O unilateral, o rígido e coerção, são a base da veracidade enquanto codificação autoritária do real . Mas ela é mais do que a exigência de uma  submissão a um dogma. A veracidade é a fantasia de que a realidade obedece a um ordenamento metafísico do qual depende a continuidade e estabilidade da vida tal como conhecemos.  



ZUMBIS

Pessoas semi mortas consomem  sobras
De ilusões de felicidade.
Tudo acontece  sob o sol meio dia
E através da febre das vontades
Que a todos consome.

O mundo agora é habitado por loucos
E ninguém sabe direito
O que anda fazendo.
Todo o bom senso está morto.
e não há esclarecimentos
sobre o que anda acontecendo.


PROFECIA IRRACIONALISTA

O eu teimando em ser pensante
Sucumbe a razão como neurose,
A verdade como sintoma
E a civilização como miséria humana.
Vivemos o progresso a contrapelo,
A decadência como virtude e moral,
Imaginamos um mundo
Que só existe como ideal.
Ainda chegará o dia
No qual nossa sobrevivência
Será definida pela superação

De nossa suposta humanidade.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

AS ARMADILHAS DA RETÓRICA

A retorica é a mais perigosa armadilha do pensamento. Não por nos enganar, mas por nos convencer sobre a validade inconteste de qualquer verdade.  Certezas são mais perigosas do que qualquer mentira. Mas é preciso certa malicia para saber diferenciar uma certeza  de uma mentira ou quando uma mentira se afirma como certeza. Em poucas palavras, é preciso que o certo invente seu próprio oposto para afirmar-se como certeza.



REBELIÃO ONTOLÓGICA

Quando uma singularidade (individuo) se rebela dentro do sistema de sentidos que lhe pré configuram a existência (sociedade) ele se torna naturalmente intransigente, inconveniente e isolado em suas desconstruções dos lugares comuns da vida coletiva.

Aquele que toma a si mesmo como objeto de pensamento e ação, condena-se a solidão. Habita algo mais do que o mundo. Pois descobre o deslocamento, a linha de fuga, como uma estratégia de existência.

Perder-se de si mesmo é o modo próprio daqueles que se rebelam e provam o desassossego e o desabrigo como uma forma de saber o mundo.


segunda-feira, 2 de outubro de 2017

PALAVRAS CONTRA O MUNDO

Tudo que posso dizer sobre o mundo
Redunda, de algum modo,
Em um equivoco.
Pois é preciso tocar a nervura do significante,
Transvalorizar o significado,
Reinventar a linguagem
Como delírio,
Até reinventar a palavra

Como extraterritoriedade das coisas.