quarta-feira, 27 de maio de 2020

MEU DESEJO

Meu desejo não cabe no agora,
Na caduquice do mundo contemporâneo.

Meu desejo é  maior que o tempo
Na intensidade do corpo.

Ele é  soberano, anárquico
E intempestivo.

Meu desejo é  debochado,
Indomável e imprevisível.

Meu desejo é a aurora
De um acordar dionisíaco. 

sábado, 23 de maio de 2020

CONTRA A REALIDADE E A VERDADE

A realidade não  me comove.
Sou feito de sonho e afeto,
Sou pura vontade,
Entre a imaginação e o corpo.
Existo como palavra
No mistério da poesia
No diário exercício
De superação do humano.
Seja natureza
Contra qualquer ilusão de um mundo verdade. 


UM INSTANTE



O instante não me diz nada
No passar do tempo
Quando a vida revela apenas
A ausência de mundo,
O silêncio das coisas,
E o vazio do pensamento.

O instante é deserto
No vazio deste momento
Em que o sentido dos atos escapa. 




quinta-feira, 21 de maio de 2020

TEMPOS DE LUTO

Não leia jornais.
Todas as notícias estão  caducas
E anunciam a morte do futuro.

O presente é  urgente,
Pois a vida existe
Onde não podemos mais viver.

É tempo de luto,
De velório sem cadáver.
Um minuto de silêncio pela humanidade.




MEU FUTURO

Meu futuro não cabe nos dias do mundo,
Nas misérias cotidianas das incertezas contemporâneas.

Meu futuro é ser livre na imaginação das coisas,
Na produção de mim mesmo
Na contra mão do tempo.

Meu futuro é a posteridade do trágico,
O impossível tão necessário. 

terça-feira, 19 de maio de 2020

MEUS SONHOS

Meus sonhos buscam o absurdo,
Recusam o precipício de um cotidiano raso,
O homicídio do mercado e do sucesso,
O ridículo de ser um bom cidadão. 

Meus sonhos tem o amargor da morte,
O desespero da coragem que nega a sorte,
E a raiva da liberdade.

Meus sonhos não cabem em sociedade.
São de um tempo futuro
Em qualquer outra linha de tempo
Dentro do multiverso.

sábado, 16 de maio de 2020

DEVIR E NATUREZA

Indiferente aos dilemas humanos e aos absurdos da civilização,  a natureza segue em devir no mais amplo sentido da vida.  A Terra gira e nada é para sempre no desvalor  absoluto das coisas na imensidão do universo.
Tudo acontece sem qualquer privilégio entre o orgânico e o inorgânico,  o animado e o inanimado, o macro e o micro. A natureza sempre prossegue em sua multiplicidade irredutível a qualquer unidade  na poesia silenciosa da leveza do caos.
Imersos no ilegível da natureza os dilemas humanos pouco importam, não interessam. Não interferem em seu movimento de ser e não ser.
Tudo desaparece em natureza e devir além de qualquer conceito de história, este ridículo artifício humano, demasiadamente moderno e humano.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

VIDA NÔMADE II

Para onde vamos
Quando tudo se foi?
Onde estamos?

Todos os lugares 
Tornaram-se estranhos.

Sem abrigo,
Sem território, 
Sem mundo,
Nos abandonamos em qualquer canto.
A própria terra nos ignora.

VIDA NÔMADE

Não há mais céu  sobre a vida.
Apenas a terra e o chão
No coração de uma grande noite.
Nenhum abrigo,
Nenhuma esperança. 

Seguimos em bandos pelas mil direções do possível.
Somos os filhos dos tempos sombrios
Engulidos pela terra mãe. 
Nenhum tempo nos pertence,
Lugar algum nos abriga.
Nada é para sempre
No ermo de nossas vidas.

Somos apenas viventes
Descrentes,
Seguindo com o vento
Sem encontrar paz ou descanso.
Mas antes de tudo
Somos sobreviventes
Que transcenderam a esperança. 

segunda-feira, 4 de maio de 2020

A VIDA DESCABELADA

A vida descabelada dança o caos
Na bagunça dos dias.
O tempo provoca vertigens
E toca piano nas janelas.
A música é dodecafonica
É esclarece paisagens de abismos.
Nosso momento é  uma porta para um novo aburdo
Onde futuros desaparecem na boca aberta do passado em surto.
O caos dança  a vida descabelada
Anunciando crianças aladas e embriagadas.
É tempo de movimento no silêncio das horas,
De ânsias desesperadas,
De verdades despedaçadas.