quarta-feira, 31 de agosto de 2016

MUITO ALÉM DA METAFÍSICA



Não vejo mais do que os olhos,
Nem sei mais do que o corpo.
Não reconheço qualquer invisível realidade
Por traz das emoções de uma paisagem
Ou algum suposto sentido dentro dos traços de um rosto humano.

Recuso todas as metafisicas e mentiras da imaginação.
Também recuso materialismos, idealismos,
Religiões e utopias.
Transcendo as descrições da realidade ordinária,
Mas não me deixo enganar pelo invisível.
O mundo é mais simples do que os sonhos de uma criança.

Quase não vale uma  reflexão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

NO PAÍS DAS MARAVILHAS

Não me importo mais com a realidade.
Não vejo estatísticas,
Não leio jornais
E muito menos sigo a multidão
Em suas manias de bem estar e consumo.

Tenho apenas o que preciso:
Um pouco de angustias e inanições.
O resto é o vento...

Habito as imaginações das estrelas,
O impossível
Despido de todas as opiniões.

Sei a toca do coelho branco,
O que desde sempre é dito
Na mesma medida que desdito
Enquanto a vida corre em todos nós.


DESLOCAMENTO ONTOLÓGICO

Em um piscar de olhos o tempo sumiu das coisas
E eu já não era em qualquer parte.
Transitava entre pedaços de lembranças
E imaginações soltas
Contemplando o absurdo da vida
No saber minha própria existência.
Eu me sentia tudo e menos que nada,
Provisório e absurdo entre as coisas.
Toda realidade parecia um grande
E escandaloso engano.
A vida tinha sido uma falácia
Convencionalmente aceita.
Em um piscar de olhos

Nada mais existia ....

quinta-feira, 25 de agosto de 2016

A ARTE DE PENSAR

Liberdade, curiosidade e duvidas são as mais caras virtudes que pode alcançar um indivíduo. Mas é adequado que também duvidem disso e, logo em seguida da própria duvida. Pois de todas  as formas é preciso dar corpo ao estranhamento do mundo como  condição natural da própria existência.

Sejam inconformados. Não se contentem com  resposta alguma, com o conforto de qualquer certeza e evitem esta incomoda patologia chamada fé. A incerteza é a mãe severa da sabedoria.
Ousem pensar e não tenham demasiado zelo com suas ideias. As melhores ideias são as sujas e remendadas que mal se sustentam  de tanto desgaste e acabam renascendo em outras que recomeçam o ciclo do conhecimento.


Pessoas inteligentes são insensatas. Perca todos os seus pudores caso queira de fato levar a sério a arte do pensamento.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A ARTE DE PENSAR II

Nunca tive a pretensão de me tornar um pensador profissional, um destes estranhos seres humanos cuja principal atividade é engasgar consigo mesmo e vomitar  o mundo através da linguagem. Sempre me vi tropeçando no entulho da verdade como principio caduco da arte do pensamento.


Dentro de mim existe um abismo entre consciência e existência, entre as  palavras e as coisas. Sempre me confrontei com o inteiramente outro da linguagem como um fantasma, com um outro eu a ser explorado até o limite de toda definição possível de existência. Desconhecer a mim mesmo sempre foi minha mais clara ocupação no simulacro possível de qualquer estratégia de identidade.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

O ABSOLUTO DA VIDA PRIVADA

Não interrompam meus ócios  com  os imperativos da sua ordem capenga e hipócrita.
Meus juízos não são pragmáticos, lógicos ou domesticados.
Sou em todos os sentidos um selvagem.
Careço de conveniente educação, de juízo e bom senso.
Sou impulsivo e vivo do que me vem à cabeça.
Tenho raiva dos dias comuns,
Das soluções de Estado,
Dos protestos e dissimulações corporativistas,
Da Humanidade, da natureza e das lições da Historia.
Quero a paz e sossego do quintal de casa.

Não quero saber do mundo.

NIILISMO ABSOLUTO

Hoje eu choro por banalidades,
Pela cotidiana nadificação da existência,
Pelo  enfadonho das rotinas
E pela inutilidade de qualquer estratégia
De sobrevivência, seja individual ou coletiva.

Lamento cada vez mais a existência da  humanidade,
Todo o edifício da cultura humana.
Nunca foi tão claro o desproposito absoluto
Que funda toda História Humana.
Se houvesse de fato um deus
Ou ele seria um demônio

Ou não inventaria a humanidade.

VIVA O ABSURDO

Observem o relógio e o pêndulo.
Ele não diz a hora,
Mas as almas que não existem,
O grande simulacro da mente humana
Onde a realidade e a fantasia
Moram no mesmo rosto
De uma vontade indeterminada.
Vamos rir até morrer de tédio.
Esqueçam a razão e o pudor.
Nada dura para sempre.

A realidade não é real.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

UMA CRUZADA CONTRA AS PALAVRAS ( PARTE V)

INTROSPECÇÃO E TÉDIO

Uma multidão forma um texto humano de difícil leitura, uma espécie de romance sombrio na maioria das vezes. Já um pequeno grupo de pessoas não vai muito além de uma frase solta, de um slogan perdido entre muitos outros. Era o caso daqueles oito carecas barbudos vestidos de preto que rotineiramente desfilavam pelo  centro da cidade morta.
Era fácil encontra-los. Frequentavam religiosamente um bar pouco sofisticados onde jovens de variadas tribos se encontravam. No que diz respeito  especificamente aos oito carecas barbudos, tudo o que diziam poderia ser resumido na seguinte frase: Somos melhores do que todo mundo. Definitivamente, não eram nada interessantes, apenas uns idiotas lambendo o próprio umbigo e hostilizando qualquer um que lhes atravessasse o caminho. Havia muitos como eles circulando por ai.
Tudo hoje estava como sempre foi no se refazer constante da voz do mundo. Era o que me dizia o mosaico composto por  fragmentos  de conversas colhidos pelas ruas. As pessoas apenas viviam suas vidinhas presas em suas caixas de textos vivos. De fato, na maior parte do tempo, a voz do mundo era  ruidosamente conservadora. Reproduzia  até o infinito alguns lugares comuns no incoerente roteiro biográfico das multidão urbana.
Acho que apenas minha existência tinha um roteiro coerente. Pois eu não me fixava em memórias, no lembrar de pessoas, experiências e lugares que servissem a coerência e necessidade de qualquer discurso. Eu não  precisava me expressar. Quando dialogava com alguém estava preocupado apenas no bom combate com os enunciados que aconteciam aos outros de modo assustadoramente autônomo. Como vivia sem passados nunca tinha algo realmente a dizer. Nada realmente acontecia além da minha guerra contra as palavras.
Mas hoje não tive grandes temas que me levassem a situações que merecessem algum tipo de intervenção. Antes mesmo do cair da noite me refugiei no quarto que me servia de referência. Eu nunca lembrava direito dele. As vezes demorava para encontrar o caminho. Ia para casa tateando o abstrato agir mecânico inspirado por alguma forma de instinto.
As paredes nuas, o colchão e a janela... Aquilo era tudo que eu tinha quando fugia das ruas. A porta sempre ficava aberta. Mas ninguém nunca invadiu aquele meu pequeno território de existir minimalista. Assim que cheguei  estendi meu corpo sobre o colchão velho e  fedorento. Me sentia particularmente cansado.
As vezes vejo uma mulher nua flutuando no ar dentro da minha cabeça.  Não sei dizer com que frequência. Só sei que sua visão abstrata  me relaxa e induz ao repouso. Ela não vive em nenhuma palavra se quer. Na verdade se quer existe. Não passa de um confortante delírio. Quem sabe, entretanto, os delírios não sejam a verdadeira realidade? Talvez seja por isso que as palavras dominem tudo. .. Talvez por isso eu seja incapaz de derrota-las: ELAS SUSTENTAM NOSSA ILUSÃO DE REALIDADE....
.................................................................................................... LAPSO TEMPORAL E RETORNO ALEATÓRIO AO MESMO MOMENTO EM UMA VERSÃO UM POUCO DIFERENTE DE SI MESMO..........................................................................................................
Estou em meu quarto agora tentando dormir....
Estar dentro destas quatro paredes vazias e encardidas me da a confortável sensação de que de algum modo sai do mundo. Tenho a impressão de que não existe nada lá fora, pois nenhuma palavra me atinge. Infelizmente a janela atrapalha tudo e deixa alguns sons e vozes  ruas invadirem  o recinto. ..
Acho que eu não sirvo para nada. E isso me deixa muito feliz. As palavras não me dizem o que fazer ou o que pensar. Pelo contrário, elas sabem que luto contra elas, que evito situações, que salvo pessoas... É muito bom ser um zero a esquerda...
Mas também tenho problemas com números e as artimanhas diabólicas da matemática. Nada comparado com a ameaça que vejo nas palavras. É diferente. As palavras  manipulam a todos, os números limitam-se ao domínio de grupos específicos como os físicos, engenheiros e outros vivem de personas exóticas.
As vezes gosto de ficar aqui simplesmente olhando para o teto sem pensar em absolutamente nada. Afinal, um dos grandes problemas do mundo  é o fato de que a maioria das pessoas acham que pensam por conta própria e que suas ideias realmente valem a pena.... Que se danem.....
É bom sentir o meu corpo, minha respiração e pulso, o delicioso gosto de todas as inercias sob este colchão velho, mas ainda macio.
Hoje absolutamente nada realmente aconteceu.....
Também não esta acontecendo nada agora....
Percebe como é interessante quando não acontece nada e não há nada a ser feito?
Deveria ser assim o tempo todo... Vivemos coisas importantes enquanto nada acontece.




segunda-feira, 15 de agosto de 2016

FANTASIA EM TORNO DE UM DEMIURGO PERVERSO

Vi meus desejos encenados  através do roteiro
De um sonho estranho.
Algum demiurgo narcisista inventava toda realidade da minha vida.
Soube, assim, um desencontro entre liberdade e vontade
Nos desertos da minha felicidade.
Tudo se revelou um transparente nada
Escrito no coração do tempo.
Não fazia diferença minhas vontades.
Todas elas eram tolas e vazias
Diante deste absurdo mundo
Onde estamos enterrados,
Perante o arbítrio daquele perverso demiurgo

Que dentro do sonho me inventava nos dias.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

IMPLOSÃO EXISTENCIAL

Há algo de transgressor na introspecção,
Um transbordamento mental que nos aparta do mundo
Como uma febre, um delírio,
Em convulsões de pensamento e reflexão.
Meu sentimento das coisas quase não cabe em todo universo
E ameaça explodir meu existir em inquietude e excitação.
Nestas horas me surpreendo mais imprudente do que qualquer louco,
Mas interpreto e perspicaz do que qualquer gênio, anjo ou demônio
Que a imaginação dos homens pode conceber.
Dentro de mim encontrei o mais profundo dos abismos
E o mais incômodo de todos os nadas.
Avanço contra os rochedos do infinito
Transfigurando todas as certezas da realidade.

Não me perturbem mais com a existência.

IRRACIONALISMO HOJE

Toda racionalidade é teleológica, um esquema mental destinado à domesticação dos fenômenos que configuram a realidade.  Trata-se de um artifício destinado a construção de sentido e significado que define aquilo que muito inapropriadamente denominamos “objetividade”.

A realidade nos é acessível através da valoração (sentimento) e da intuição ( expectativa subjetiva) mais do que através de nossas abstrações racionais. O que muito nos dá o que pensar sobre o modo como nossa consciência se inscreve no contexto de qualquer representação coerente do real.

O pressuposto de tal reflexão, evidentemente, é uma total desconsideração do conceito de Ser e Verdade, herdados da Metafisica, mas que ainda norteiam as estratégias contemporâneas de racionalização e validação dos enunciados. A razão não passa, no final das contas, de um juízo de valor e de um consenso estabelecido para assegurar sentido a realidade. É apenas um artificio tão limitado quanto a crença ingênua em um principio ordenador do universo.


segunda-feira, 8 de agosto de 2016

UMA CRUZADA CONTRA AS PALAVRAS ( PARTE IV)




ATÉ AS PALAVRAS MORREM


[...] Nada a retinha, nem o medo.
 Más mesmo que agora se aproximasse a morte, mesmo a vileza, a esperança ou de novo a dor. Parara simplesmente. Estavam cortadas as veias que a ligavam as coisas vividas, reunidas num só bloco longínquo, exigindo uma continuação lógica, más velhas, mortas.  Só ela própria sobrevivera, ainda respirando. E a sua frente um novo campo, ainda sem cor a madrugada emergindo. Atravessar suas brumas para enxerga-lo.  Não poderia recuar, não sabia por que recuar
.

Pg 179 ( Perto do coração selvagem.)
CLARICE LISPECTOR


Colher fragmentos de conversas hoje pelas ruas me conduziu hoje a um destino diferente. A voz do mundo tinha por tema ou trilha doença e morte. Depois de muito perambular acabei em uma casa simples onde um velho moribundo jazia em uma cama apodrecendo em vida. Era o que indicava o mau cheiro e as moscas. Era um cômodo de subúrbio. E não me perguntem como acabei ali sentado ao lado do leito segurando sua mão. Ele estava claramente nas ultimas.  Seu rosto não me era familiar, mas podia ser muito bem alguém do meu passado, pois no fundo sentia  certa ternura por ele. Não podia salva-lo, mas por alguma razão era lá que eu deveria estar. Sabia disso.

Não faço ideia do tempo que permaneci ali segurando sua mão sem dizer uma única palavra. Só sei que o vi morrer e depois fui embora carregando luto. A morte não cabe na trama das palavras. Elas estavam ausentes naquela ocasião. Só se interessam por pessoas saudáveis e ativas que possam gerar gestos e ações. Logo, eu deveria estar lá por outra razão. Mas não arrisco nenhum palpite. A morte não é um tema que aprecio.  Mas aquele silencio que compartilhei com aquele moribundo parecia dizer muita coisa sobre a natureza das palavras e sobre o seu jogo de manipulação das coisas humanas.

Tudo só termina quando a vida acaba... E as palavras escrevem o texto na expectativa do ponto  final da morte apenas pelo prazer de poder começar tudo de novo e fazer diferente o sempre igual. A vida delas transcende nossa voz, nossa morte... Somos todos descartáveis desde que o texto seja perpetuo na voz de alguém.

Como aquele velho moribundo tinha chegado até ali? Quais as suas lembranças, experiências e realizações? Eu não fazia nenhuma ideia. Ele para mim não habitava qualquer texto conhecido, não fazia parte de qualquer trama. Mas e se fizesse? Isso mudaria alguma coisa? Ele estaria morto da mesma forma e sem ter  mais nada a dizer. Todas as suas palavras estariam apagadas ou abandonadas em algum passado que desapareceria com a sua memória.
Mas também existem palavras mortas, são aquelas que não são mais usadas por ninguém ... Mesmo as palavras morrem... Não importa quantas vezes são ditas.

A palavra morta é oxítona?
Talvez componha meu epitáfio ....
Meu derradeiro eco de silêncio
Que pouco será ouvido
Porque as pessoas falam demais.

Alguns fragmentos de conversas do  dia de hoje e dos quais não me lembrarei amanhã....
Sei que de algum modo eles ficarão enterrados dentro de mim entre os tantos fantasmas das coisas que esqueci:

“Hoje esta tudo pela hora da morte. Principalmente o preço dos remédios.”
“Não deixe para me mandar flores quando eu morrer. Não saberei o perfume.”
“ Basta estar vivo para morrer.  Afinal, como existiria a noite se não fosse o dia?”
“ Meu pai não durará muito e eu vou morrer um pouco com ele.”
“ A morte dos outros alimenta minha solidão, sabe?



DESESPERANÇADO

Os sonhos sopram sobre o mundo
O  vento de qualquer esperança
Enquanto as flores murcham nos jardins
E a gente esquece a hora do almoço.

Tenho preguiças acumuladas
E desesperanças para atualizar.

Sei que o mundo já não me oferece muito,
Que tudo sempre esteve por um triz.

Não se enganem com o futuro.
Ele não virá.


terça-feira, 2 de agosto de 2016

SITUAÇÃO LIMITE

Quando as coisas não acontecem
E as urgências acendem as vontades
Sob o peso das necessidades
O que resta a subjetividade?
Gritam absurdos junto ao muro das limitações.
Tudo parece impossível, irreal e absurdo.
Nada será  como antes.
A zona de conforto já não mais existe
E não há abrigos do outro lado do dia.
A existência não tem soluções....


AS FRASES MAIS PRECIOSAS

As frases mais preciosas não são aquelas cujo sentido estimula associação de imagens e pensamentos que nos conduzem a qualquer fantasia idiota de verdade. As melhores frases são aquelas que pulam do corpo de um texto e nos rasgam os olhos desconstriuindo certezas e acordando vazios.

As melhores frases são aquelas que as pessoas preferem não ouvir porque são incapazes de aceitar.

UMA CRUZADA CONTRA AS PALAVRAS ( PARTE III ): MAIS DOQUE A GUERRA CONTRA AS PALAVRAS: UMA LUTA CONTRA O TEMPO


Ela acordou de repente achando que o dia anterior não tinha passado de um sonho ruim. Demorou a se dar conta do que aquele aparente absurdo não fora um sonho,  resistia a crer no mais elementar dos fatos e acontecimentos.
Até então tudo que havia importado era o fato de que todos estavam mortos e ela não passava de uma velha solitária; que o tempo era uma espécie de assassino metafisico conspirando contra a vida humana. O tempo não era uma coisa, mas um sujeito abstrato e maléfico deliberadamente agindo contra todos nós. Ele era a mais radical personificação do mal. Mas agora tudo estava diferente. Graças aquela mulher nua que pairava  no ar. Ela sabia do tempo... do quanto ele era perigoso. Mas a mulher nua não pertencia ao nosso mundo e a luta contra o tempo. Se quer sabia o que é estar vivo.  O mundo é muito diferente daquilo que pensamos que ele é quando sabemos as coisas através dos olhos daquela mulher nua. Tinha tido essa experiência e, de algum jeito, ainda estava dentro dela.

A velha senhora sabia que  havia saído da consciência do tempo e do espaço mediante algum artificio utilizado pela misteriosa mulher nua. Agora tudo a sua volta era uma espécie de limbo abstrato onde sentia a paz da experiência do insubstancial das coisas. Ali o tempo não poderia toca-la,  pois ele simplesmente não tinha como existir ali onde absolutamente nada acontecia ou podia acontecer.

Também já não carregava a culpa de todos aqueles  que morreram, de todas as vivencias desfeitas e épocas perdidas. Era o tempo o verdadeiro algoz e não  sua falta de cuidado com aqueles que tanto amava . Agora estava livre de tudo. Inclusive do inconveniente peso de si mesma e dos outros.

Seu corpo era agora uma coisa entre as coisas dentro do tecido do universo inteiro. Algo insignificante e, ao mesmo tempo, pleno de sentido em si mesmo. Existir era algo relativo e paradoxal.  Ela sabia que havia se transformado em algo impossível. A realidade era infinita e não passava de um mero grão de areia. Como explicar?

Queria saber o que havia acontecido com aquele maltrapilho que havia encontrado na rua. Percebeu que isso não era difícil. Bastava pensar nele e estaria na sua presença. Foi o que fez. Agora estava diante dele em um quarto abandonado e sujo que fedia a carne podre embora praticamente vazio. Eram só quatro paredes encardidas e uma janela para rua...
-Olá meu filho Encontrei você novamente.- Bastava pensar para que suas palavras estivessem na cabeça dele. Laconicamente o maltrapilho respondeu sem demonstrar qualquer assombro:

-Não lhe conheço.- soube sua resposta sem que qualquer forma de verbalização. Também sabia suas emoções naquele momento e em muitos outros tempos. Percebeu que ele não sabia se quer quem ele era e que de um modo diferente habitava um limbo. Não havia o que conversar. Pelo menos por enquanto. Mas chegaria o momento em que o faria ver as coisas de outra maneira. Pois para ela isso já tinha acontecido em algum lugar. Parou de pensar nele e retornou ao seu limbo.

A INVISIVEL VOZ DE LUGAR COMUM
Aqui o nada encontra o todo
E inexistem todas as coisas.
O segredo da vida
É que ela não está em qualquer parte
E o corpo é mais misterioso
Do que todo o universo.
Não se preocupe com a verdade
Ou com as imaginações dos sonhos,
Há mais coisas em seu pensamento
Do que o pressuposto por sua consciência.



ORIENTAÇÃO PARA INDIVIDUADOS

Tente sempre ser mais realista do que a realidade.
Enlouqueça de alguma maneira,
Não se atenha a regras, princípios
E orientações coletivas.
Fuja sempre da multidão.
Tenha o mínimo de amigos.
O isolamento é sempre
O melhor remédio.
Saiba mais sobre as pessoas
Do que elas mesmas.

Nunca se conforme a qualquer certeza. 

O FUTURO EM DELÍRIO

Todas as minhas incertezas estavam em festa.
Não sabia o que seria do hoje.
Respirar não bastava
E viver era  impossível.

Abram as portas da realidade.
Fora dos trilhos a existência
Se reduz ao corpo, ao uivo e ao frio.

O ego se inflama entre as coisas
E vislumbramos a esperança
Embriagada e mágica.

Há sonhos caindo do céu

Como estrelas cadentes. 

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

OS ABISMOS DE SER

Os desnudamentos da experiência
Me conduzem  de volta  ao essencial da percepção,
Aos anos de infância quando o mundo
Em sua elementar fenomenologia
Tinha as cores do pensar selvagem
E meu corpo compreendia as coisas
Na imaginação inscrita nos cinco sentidos
Com mais intensidade do que qualquer razão
Como é diversa a realidade infantil
Destes simulacros de vida adulta!