A REVOLUÇÃO SECRETA

Os fatos imateriais da imaginação acordam fantasias,
pequenos e preciosos ensaios de vida
que não cabem no cotidiano
acontecem agora do lado de fora do pensamento.
Você pode pensar que
Para tanto seria preciso outro tipo de vida,
qualquer outro mundo
sem o peso de tantas convenções sociais.
Mas um delírio dança agora no telhado.
posso escuta-lo gritando contra todas as convicções.
Ele diz que você esta errado.
Dê  de beber aos seus sonhos.
Há fatos imateriais acontecendo contra a realidade,
uma rebelião em curso que não se vê nos jornais.
Toda a realidade está doente,
doendo dentro de nossas cabeças.
É tempo de um grande incêndio.
As verdades estão todas quebradas
E o mundo não funciona mais....

A MISÉRIA DA CONVICÇÃO

O lado certo de qualquer verdade é sempre o lado de fora. Convicções são inimigas do questionamento, um instrumento da verdade contra o devir irracional da vida. Infelizmente temos fome de certezas... somos animais impróprios à vida. Estamos sempre inventando princípios, causas e justificativas contra o irracional devir da existência. Mas o ato sempre prevalece sobre o sentido enquanto nos afogamos no tempo.

VALORAÇÃO E SUBJETIVIDADE

Cotidianamente, o valor verdade não depende de prova, não se prende ao verdadeiro e falso como na lógica. Sua premissa é o sentimento de verdade. 

A passionalidade que certos enunciados despertam de modo irracional é de natureza psicológica. Não comporta explicações ou justificativas simples. Porque determinada ideia agrada mais do que as outras? Não necessariamente por responder a uma demanda objetiva, mas por proporcionar identidade proporcionando forma a experiência subjetiva. Por isso duas pessoas com opiniões muito diferentes jamais chegarão a um acordo a partir do debate racional. 

Uma convicção é um dado irracional. Não há valores objetivos.

CORPO E VIDA

O corpo se faz mais visível quando sentimos alguma dor, quando nos surpreendemos fisicamente limitados. Na maior parte do tempo simplesmente ignoramos que somos um corpo. Nos identificamos com o que pensamos e sentimos e não com o corpo que demasiadamente somos enquanto organismo vivo. Isso se explica em parte pelo dualismo alma/corpo  que tanta influência teve sobre o desenvolvimento do pensamento ocidental.

Reconhecer-se como um corpo sugere um relacionamento mais sensual com a realidade objetiva fundado na busca de satisfação permanente de nossas necessidades mais elementares. O prazer do corpo, neste sentido, não se relaciona com os protocolos de uma vida saudável, tal como formulado pelo discurso da medicina preventiva. Remete ao desfrute sensualista. Glutões sabem mais sobre isso do que os frequentadores de academias.

CAMINHOS

A vida social nos coloca três opções:

A norma, a loucura e o silencio.

Podemos optar por cada uma delas

Ao sabor das circunstâncias.

Assim procedem os mais espertos,

Os que gozam de imaginação afoita.

A transgressão é um ato de vida

Contra o lugar comum do tempo.

Mas somos todos, em alguma medida,

Acomodados ao tédio dos dias.

No fim de tudo

Só nos sobra o silêncio.

O MACACO NU

O macaco nu tem o dom da imaginação.

Assim, ele inventa seu próprio mundo

E cria a si mesmo contra a natureza.

Imagens inventam o corpo e a realidade.

Nós, os macacos nus, somos feitos de imagens,

De imaginações selvagens.

Todos os loucos, poetas

E toda sorte de  delirantes sempre souberam disso.

Por isso denunciam os equívocos da civilização

E a arrogância do macaco nu.

CONFUSÃO

Troco o dito pelo esquecido

E o sentido pelo ilegível.

Pouco me importa ser compreendido.

Toda palavra é letra morta,

Não dá conta da vida,

Deste vazio,

Desta incerteza

Que me diz o querer e o sentir.

Tento dizer a imaginação e o mundo

Inventando a mim mesmo

Dentro da letra.

Mas tudo que tenho são frases confusas

Gritando dentro da minha cabeça.

As vezes penso em desistir da realidade...