quinta-feira, 29 de outubro de 2020

O AVESSO DA NORMALIDADE

A delinquência e a loucura sempre serão alternativas a normalidade ordeira que nos mata aos poucos.
Viver exige subversão,  sensibilidade ao caos e a possibilidade de criação. 
Além disso, dizer e pensar é  um ato de desconstrução  e destruição  de tudo aquilo que nos prende a segurança das grades de qualquer verdade.

VIVENDO COMO UM LOUCO

Sou um filho do absurdo,
Um inimigo do mundo
E do eu,
Que vive do dizer louco,
Da visão  dos outros 
Como um grande susto,
Onde toda possibilidade de realidade
Se fudeu.


terça-feira, 27 de outubro de 2020

DESAFIO

Antes que o mundo acabe,
Respire e se embriague
Com um pouco de liberdade.

Tome um banho de lama,
De vinho ou de infinito,
Contra toda ilusão  de razão  e humanidade.

Não  pense, aconteça,
Contra a convenção  vigente
De realidade.

A vida só  faz sentido
Quando o mundo se torna ilegível,
Quando nos surpreendemos perdidos.

MUNDO TRISTE

É  triste o modo como o mundo existe,
Como a vida segue
Na reprodução  de uma sociedade sem sentido.

Somos como mortos vivos
No vazio dos signos
Que nos ferem a consciência inquieta.

Somos quase loucos,
Prisioneiros do absurdo
De uma existência incerta.

Existimos no raso da existência 
Afogando na pele de verdades supremas,
Sem saber que a vida nos espera
Sempre do outro lado do hábito,
Das rotinas e dos fatos.





LIVRE PENSADOR

Não serei enquadrado e mutilado
Pela prisão dos discursos vigentes.
Não repetirei os ditos e escritos
Dos autores mais lidos,
Dos formadores de opinião. 

Não  serei mais um iludido 
Pelo mercado das letras,
Pela autoridade dos juízes da razão e do bom pensamento.

É meu corpo quem pensa, 
Quem sabe o afeto
Que bagunça a palavra,
Que transfigura o verbo
Em grito, danças  e vento.

Sou indigno das bibliotecas,
Inimigo dos sistemas,
Da ordem dos discursos vigentes.

A matéria das minhas letras
É  a loucura da vida,
O excesso e a morte
De um existir desmedido e incerto
Na vertigem do intempestivo.





segunda-feira, 26 de outubro de 2020

NA CONTRAMÃO DO MUNDO

Existo para o nada e para ninguém. 
Sei que não  sou
No exército de mim alguém.

Nada me interessa ou prende a existência.
Minha consciência lamenta o mundo.

Sou no acontecer das coisas,
Dos animais e do grito
Que mora no fundo da palavra
Contra a miséria das intenções  humanas.

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

AOS MEUS CRÍTICOS

Aqueles que me julgam e criticam não sabem o tamanho silêncio  dos meus gritos, a vastidão da covardia e o ridículo da normativa de seu juízo domesticado, da miséria moralista e conformista que inspiram seus atos.

A MISERIA DA VERDADE

A irrealidade da verdade sustenta nossa realidade. 
Somos escravos de uma consciência imperfeita de nos e dos outros,
De uma rede de fantasias coletivas que nos conformam ao ardil da verdade, do julgamento e da disciplina.
Somos escravos do certo e do errado,
Dos falsos poderes do céu  e do inferno.

CORPO SONHO

Respirar,
Falar,
Comer,
Cagar,
Dormir,
Suar...
Isso é a vida.
Não  importa o pensar,
O sentir ou o querer.
Viver é o corpo em ato
Que sempre precisa de um banho
Para ser suportável.
Mesmo que o corpo,
Está composição orgânica,
De natureza estranha,
Seja apenas um sonho mágico da matéria. 



segunda-feira, 19 de outubro de 2020

DESAFIO PÓS CIVILIZACIONAL

Preciso encontrar o ponto certo de sincronia entre o nada do não  sentido e o abismo do indizível 
Fazer gritar a existência no corpo fundo do impossível,
Romper com a alma e o pensamento,
Na descoberta do afeto,
Transmutado na delicada e civilizada expressão destilada de um uivo mais do que primitivo.

A TELA E A ANTI POESIA

Por todos os cantos vejo anti poesia,
O corpo rasgado em cotidiano,
Em palavras que gritam dançarinas 
Delírios  que desfazem o onírico,
Explodem a realidade,
Criando um duplo da tela,
Um outro da imagem, 
No avesso do tele móvel 
Que  escapa a nervosa fala dos dedos em desvarios.

O MUNDO E A TELA

O mundo de hoje quase não  é  mundo.
Não  tem substância.
É dado e tela 
Até  o limite da informação, 
Da atualização do nada
Contra o real  simulado 
Das redes e fake  news. 
É  um mundo pasto
Onde vagam virtuais rebanhos
Em tendências pré maldades
De sensibidades e opiniões.
Tudo se consome,
Tudo se vomita e recicla 
Até  o limite da exaustão. 

O MUNDO E O UNIVERSO

O mundo sonha o pesadelo da vida humana.
É  indiferente a nossas agonias,
A falência da civilização. 

O mundo, na verdade, 
É  tão  real em nós, 
Quê se quer existe.

O universo segue na harmonia do caos,
Entre a indiferença e o silêncio.  

sexta-feira, 16 de outubro de 2020

SOBRE A VIDA

 

 


O que me transborda é este estar vazio,

este nada que me preenche de tudo

e que me grita na consciência.


O que me transborda é o que me sufoca,

o que me acorda e me faz delirar.

Trata-se aqui, simplesmente,

desta coisa insensata que chamamos de vida.


segunda-feira, 12 de outubro de 2020

CONTRA MUNDO

É  preciso saber rir do mundo,
Sublimar seus absurdos,
Suportar suas grades,
Nossa impotência...

A existência afinal, 
Não passa de um susto
Quê dentro de nós 
Ultrapassa o mundo
E os signos e símbolos 
Quê definem nossa consciência 
Como linguagem do si mesmo,
Como radical exercício  de imanência .

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

O NÃO FUTURO DO PRESENTE

O tempo não  passa como antigamente.
Agora o presente persiste
Contra o futuro
Em atualizações quase infinitas da desordem das coisas
Onde o novo é sempre o  outro do sempre igual.

Tudo que importa 
É a urgência do efêmero
Contra a intuição de iminentes catástrofes.
Tudo é  questão  de embriaguez e informação... 

Celebramos nossa impotência,
O desespero de nossa época, 
Todo absurdo que tornamos possível,
Como se fosse uma grande festa
Do progresso e da civilização. 

Como se nos inspirasse alguma razão,  
Algum propósito,
Ou convincente ilusão valorativa,
Que fosse mais forte 
Do que nossos medos
E angústias,
Do que a falta de qualquer solução ou sentido das coisas.

Apenas a morte  nos sorri
Na janela do caos,
Mas somos pragmáticos, resignados,
Estamos acostumados ao pesadelo do mundo atual,
Ao lixo da vida pós industrial.
Viva as novas tecnologias!
O dinheiro investido!
O celular de última geração!

O que mais importa?!

 O tempo  não  muda os anos,
Não  temos mais futuro.
Nos condenamos a ser como somos
Até  que a vida morra de vez
Nos salvando da mansa agonia 
Da sobrevivência de nossa infinita insensatez.






sexta-feira, 2 de outubro de 2020

A DERROTA DO HUMANISMO

Sonho com o inumano de um mundo possível onde a vontade não  existe, onde a vida, desvencilhada da antropologia de nossas sensibilidades domesticadas, sabe a terra contra a civilização, o corpo e o chão , no eterno retorno de uma existência incerta, dentro da intensidade da imaginação. 
Há algo de profundamente primitivo nisso que ainda permanece vivo no fundo obscuro de tudo aquilo que nos tornamos, que nos é  possível no além do humano.

A PAIXÃO PELO IMPOSSÍVEL

Não  espero nada da vida.
Esmagado pelo passado
Enterrei todo futuro possível 
Na liberdade intempestiva do uivo.

Recuso o presente,
As possibilidades do agora,
Toda certeza e segurança da ordem estabelecida,
Todo absurdismo do bom pensamento,
Os ridiculos delírios de progresso e prosperidade
Que circulam e nos desinformam
Através da magia das telas,
Dos sites e redes sociais
E seu otimismo tosco e banal.

Não espero nada da vida.
Só me contento com a realidade
Do mais radical do impossível.