terça-feira, 28 de agosto de 2018

DESEJOS INTEMPESTIVOS



Muitos desejos sem objeto ou forma,
Despidos de qualquer materialidade,
Insistem no campo da consciência
Como delírios, aberrâncias,
Ou simples efeitos de qualquer iluminada  embriaguez.

Por seu intermédio,
O mundo desarticulado em suas sensações e formas,
Reinventa através de cada gole de sentido
Um pouco do caos que a tudo penetra.

Há desejos que escapam ao querer,
Que habitam as órbitas da consciência
Como intempestivos fantasmas.
São eles que alimentam os mais bizarros inconformismos,
Que nos lançam ao desafio de uma novidade permanente e urgente.

.


sexta-feira, 24 de agosto de 2018

COISAS SEM NOME



O alvoroço das coisas sem nome
Povoa o corpo por um segundo,
Por quase um século,
Ou por uma eternidade de afetos.

Pluralidades comovem o tempo,
Misturam o eu e o mundo
e tudo se torna paisagem,
ambiente que escapa a si mesmo
através de suas dobras e  margens.

Tudo é movimento,
Busca,
Fuga....
Onde nada definitivamente realiza o Ser.

A vida é indecifrável.
É múltiplo acontecimento.
É corpo intenso entre corpos.
Ela acontece  através  destas coisas sem nome,
Que não existindo persistem.
.

quinta-feira, 23 de agosto de 2018

CONTRA O REBANHO



Não há benefício em ser mais um entre os outros.
Pertencer ao rebanho,
Sobreviver sem rosto,
Enterrado no ser social.

Por mim fugia ao jogo  civilizacional,
Iria colonizar florestas,
Habitar naturezas,
Desfrutando da companhia dos animais.

Não há humanidade entre os humanos.

quarta-feira, 22 de agosto de 2018

A MISÉRIA DO HOMEM RACIONAL





Os melhores momentos da vida são aqueles consagrados ao ócio, ao desejo pequeno, aos prazeres sem objeto e de gozo indeterminado. 

As coisas banais e ordinárias, que pertencem à esfera do gratuito e do efêmero, são aquelas que dão gosto à existência e, paradoxalmente, nos adestram a sensibilidade para simplicidade do sublime.

Quem precisa de abstrações e grandes elucubrações para viver? Apenas aqueles de temperamento fraco, “os menos robustos”, que fazem da astucia do intelecto um torpe artificio de sobrevivência. Tenho em mente, obviamente aqui, o sarcástico ensaio A verdade e a Mentira de um ponto de vista extra moral de Nietzsche.

O homem racional, aquele que pensa através de conceitos, diferente do homem intuitivo, aquele que vive de sua agudeza, que jaz escravo da necessidade, que não é capaz do gozo de nenhuma felicidade, pois permanece prisioneiro de suas ficções antropocêntricas, sem perceber o quão banal é o conhecimento humano frente a potência da natureza.


ENTRE O SILÊNCIO E O DIZER


FILOSOFIA DO ESPELHO


terça-feira, 21 de agosto de 2018

O BANAL ESCÂNDALO DE NOSSA EXISTÊNCIA



Estou cansado deste dizer convulso,
Destes discursos sem vírgulas,
Mas cheios de pontos e conclusões.

Não quero ser um pote de informações,
Um poço de erudições caducas.

Quero dizer a vida crua,
Nua e obesa.
Expor todos os escândalos,
Excessos e gritos
De nossa existência vã.


ABERRÂNCIAS



Sigo sem segurança
De um pensamento a outro,
Através de emoções rasas,
Para o fundo de abismos profundos.
Renego toda certeza e qualquer esperança.
A existência acontece em lonjuras,
Vertigens e imaginações.
As boas reflexões são sempre aberrantes.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

ELOGIO A INTUIÇÃO



A intuição nos permite sentir o que não pode ser visto nem deduzido. Ela nos comunica um significado que permeia situações, fatos e pessoas, como uma reação física e autônoma do corpo as coisas. Não há como explica-la. É preciso experimentar  tal habilidade para reconhece-la como fenômeno.

Muitas vezes uma boa intuição vale mais do que qualquer conclusão, pois denuncia nossa imersão nas coisas e na vida como uma totalidade múltipla em movimento. A intuição é uma das mais formidáveis funções da consciência. Não deveríamos subestima-la.
  

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

PALAVRAS DE ORDEM ( VISÃO)



Não olhe para nada!
Observe tudo!
Veja o que sentir!

A vida se escreve nos olhos.
Tudo é imagem!
Escreva paisagens dentro de si!

Tudo é o rever do exterior evasivo
Que transforma distância em intimidade.

A LIBERDADE DA PRISÃO



A vida é efêmera
E nossos movimentos concretos não ultrapassam as inercias do acontecer comum.
Vislumbro por isso fugas constantes em relação ao corriqueiro.
Preciso escrever distancias entre o eu e o mundo
Para inventar existências em meu corpo,
Para sonhar desencontros com as coisas,
Experimentar imaginações esvoaçantes e peripécias de pensamento solto.
Livre na cela da minha vida percorro horizontes banais,
Aprendo a simular liberdade até me fazer realmente livre.


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

FICÇÃO EXISTENCIAL




Nossa percepção das coisas é feita de clichês, assim como nossos atos, nossas emoções e desejos. A realidade é puro clichê! Tudo até agora tem sido o sempre do mesmo como eterna novidade.

Sem clichês não haveria sociedade! É preciso que o um se produza como todos, como uma impressão tipográfica replicada em diferentes variações de si mesma. Não há nada de original. Toda novidade deve melhor afirmar o que sempre foi. Vivemos de modelos e formulas replicadas até o limite do suportável. Foi a isso que se reduziu a existência: uma fábrica de falsificações existenciais.



terça-feira, 14 de agosto de 2018

CRIATIVIDADE CONTEMPORÂNEA


Criar já não cabe na palavra,
No quadro, no palco ou na tela.

Criar agora exige vazios internos,
 silêncios extremos.
Criar não é mais inventar objetos, 
materializar imaginações.

Criar é gritar,
É inflação de si mesmo,
Um afrontar-se com o extremo.

Criar é adivinhar o informe.

O PODRE LEGADO DO SÉCULO XX


sexta-feira, 10 de agosto de 2018

O JOGO SOCIAL DA VERDADE




A sociedade nos impõe silêncios quando fugimos ao jogo das máscaras sócias, do comercio de signos que circulam em um dado meio cultural. Ir contra o convencional, o consentido como possível, lança o indivíduo a margem, ao abismo das imaginações. O outro deve ser sempre um igual e jamais o diferente, o diverso que não serve de espelho. A ditadura do falso consenso, da homogeneidade e replicação de falas, define a miséria das sociabilidades e intercâmbios intersubjetivos. Somos sempre reféns de alguma gramatica tribal, peixinhos vermelhos em um aquário invisível.


PENSE COM OS LOUCOS!



Pensar é inútil quando não se tem alma,
Quando o pensamento se confunde com uma prisão,
Com um conjunto de premissas e formulas,
Hipóteses, abstrações e conclusões.

Pense apenas o que lhe der prazer
Contra os eruditos da norma e da grande cultura.

Pense com vinho e poesia,
Com a carne e o sangue.

Seja complexo na simplicidade,
Quase ilegível aos ignorantes do caos fundamental.

Todo pensar é um aprendizado de paradoxos,
Uma experiência de rasas profundezas
e abismas metamorfoses.

Pensar é inútil quando não envolve emoções.


A POTÊNCIA DA IMAGINAÇÃO




A imaginação é um artificio de constante reelaboração da realidade.
Inventamos a vida em novidades
Desconstruindo sempre de novo os limites do possível.
Por isso somos movidos por questionamentos,
Pela mistura do interior e do exterior da consciência,
Que sempre refaz a vida em múltiplas perspectivas.
Não somos pontos, mas um campo de forças diversas
Pulsando em expansões e re-equacionamentos de um plano concreto de existência.



quarta-feira, 8 de agosto de 2018

A IMAGINAÇÃO É INIMIGA DA VERDADE

A recusa do ideal de verdade é a maior virtude dos espíritos livres, pois nos conduz a liberdade de criar, de apostar na imaginação, como instrumento privilegiado de invenção de nós mesmos.

Por isso considero a arte a mais elevada forma de expressão do acontecer da vida humana. Somos criadores de nós mesmos, não os servos de velhas certezas. A prisão da norma e da boa razão nos castra a ousadia de pensamento.

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

O PEQUENO MUNDO DE NOSSA IMAGINAÇÃO


O pensar e o querer se misturam no sentir e, assim, se estabelecem nossas representações das coisas. Não como uma modalidade de conhecimento objetivo, mas como uma forma de imaginação abstrata e passional. Tomamos as coisas tal como definidas pelos nossos caprichos opinativos embasados por um modo peculiar de ver e perceber. Fazemos do pequeno mundo de nossa imaginação a medida de todas as coisas.

quinta-feira, 2 de agosto de 2018

IGNORÂNCIA ILUSTRADA



O problema identitário é uma questão cada vez mais distante de nosso modo contemporâneo de existência. Estamos longe do conformismo a papéis sociais, a definições ideológicas ou mesmo comportamentais.

Buscamos coletivamente existir em um campo de indeterminações e experimentações alheio a sedução dos grandes discursos. Acho mesmo  que em tempos de internet vivemos de uma ignorância ilustrada.   

SENSUALISMO COGNITIVO




O pensar já não cabe em rebuscadas teorias ou praticas discursivas voltadas para o esclarecimento, para o dizer de uma verdade configurada por estratégias complexas de significação do mundo. É o efêmero do virtual que nos afeta as sensibilidades em tempos em que as grandes explicações totalizantes  caíram em descredito.

O pensar é cada vez mais concreto, sensual e imediato. Ele atravessa o corpo como uma canção, aproxima arte e pensamento, nos reinventa bárbaros diante das ruínas  civilizatórias do velho ocidente.

Já não temos fome de conhecimento, mas de experiências.


UMA NOVA TERRA



Busco uma atmosfera respirável
Livre de velhas certezas,
Distante de convicções vazias e antigas.

Busco a palavra que não é nome,
O discurso do avesso dos enunciados.

Quero o pensamento que é feito de carne e vida,
O grito dos livros no deserto.

Aquilo que não  existe, nesta ficção que sou eu,
É o destino de uma nova forma de sentir e viver.

O pensamento que me pensa será existência
Na velocidade do meu silêncio.

quarta-feira, 1 de agosto de 2018

O ABISMO DO INDIZÍVEL



Desde sempre dependemos uns dos outros. Ninguém é capaz de viver sozinho. Esta é uma limitação intransponível de nossa condição humana. 

Mas, mesmo em situação de isolamento, somos interiormente vários, uma pluralidade de consciências e vozes que nunca se entendem. Dependemos dos outros, mas na maior parte do tempo eles habitam em nós mesmos.

Segundo C. G. Jung, o próprio ego é apenas um complexo entre outros e individuar-se é descobrir-se como uma coexistência do singular e do universal. 

A psique objetiva contém nossa consciência diferenciada, o que faz de nós um paradoxo entre a parte que não pertence ao todo. Em outros termos, não é o Ser que nos define, mas justamente o que o transcende enquanto grandeza absoluta e concebível.

Afinal, o que são os arquetípicos a não ser um vazio, um informe que só existe para nós através das imagens que lhes servem como impressão? Existência e inexistência são categorias que precisam ser reconsideradas a partir de uma nova definição de realidade como um ponto de interseção entre o manifesto e o imanifesto.