CONTRA O SEU CONHECIMENTO

Não serei medido, julgado e rotulado.
Não vou me submeter a qualquer juízo,
Ao vazio da prisão do olhar do outro.

Meu corpo expressa o nada que me move.
Meu movimento é incerteza
Que inventa liberdade
E novas formas de vida.

Sou ilegível as velhas sentenças de realidade e cago sobre qualquer definição de verdade.
Sou borboleta no deserto do seu conhecimento.

PALAVRAS LOUCAS

As palavras que fogem a formalidade da gramatica, do dizer medido e previsível dos códigos, aquelas que não se acomodam aos significados formais, que extrapolam os limites daquilo que é permitido pensar e dizer, são fundamentais para o embaralhamento dos significados, dos códigos. São essenciais  para criar confusão, criar novos modos de saber e experimentar a existência.

As palavras que gritam, que ferem a norma culta, que fogem ao gosto do publico, ao bom senso da academia, são aquelas que tornam significativa a vida através do dizer intenso que extrapola as coisas e explode em criatividade e fantasia.   

DESEJO E IMAGINAÇÃO

O desejo fundamenta a existência e instrumentaliza a razão, essa estranha habilidade humana para significar e conectar todas as coisas. É o desejo que expressa o modo como somos, que nos assujeita e define como seres relacionais inseridos em um cenário de símbolos e signos em constante circulação e intercambiamentos. O  desejo é o que constela a imaginação enquanto consciência da realidade, realidade que se faz como  um fluir  de imagens-força que nos atravessam como consciência.

O PENSAMENTO E A VIDA

Quero distância da verbarrogia dos eruditos, do elitismo dos ilustrados. Prefiro a prosa simples e direta das ruas que tem como matéria prima o cotidiano. Mas que também sabe expressar o mais abstrato das angústias e limites que nos define a condição humana.

A vida do pensamento  é feita  dos afetos que nos transformam, não por modelos abstratos que nos conformam a qualquer norma.

ARRISQUE-SE!!

Não se deixe enganar:

Nada está sob controle.

Tudo pode mudar o tempo todo.

A vida é feita de aberrâncias,

Impermanências e impertinências.

Nada é certo e seguro.

Não compreenda.

Aceite o risco,

Não espere qualquer garantia.

Experimente.

Não queira está no controle,

Não queira estar certo!

Rápido! Há pouco tempo!

Apenas faça!

ZEN PARA NIILISTAS

É preciso amar a mudança,

Sentir a impermanência,

A sintonia de todas as coisas juntas,

Saber a imanência.

É lamentável não ser uma “coisa”,

Estar preso à deriva humana,

A falsa consciência das dicotomias,

Dos opostos incomunicáveis

Contra a coincidência de tudo que é manifesto.

Como é inútil a ilusão de nossa consciência!!

ALUCINAÇÃO RELATIVISTA QUASE SURREALISTA

Tudo é tão pequeno que não tem tamanho

E tão grande que parece infinito.

Tudo é uma questão de perspectiva.

O mundo é e não é ao mesmo tempo.

A natureza conspira contra o Ser.

Não imponha leis à natureza.

Não espere equilíbrio,

Justificativas ou justiça.

Nada é como você percebe,

Como a palavra dita.

Nem mesmo como está dito!

Não invente realidades!

Não queira resolver nada!

Fuja de palavras de ordem!

Seja livre de você mesmo,

Dos outros, da pretensão a Verdade,

E, quem sabe,

Alguma coisa algum dia finalmente parecerá possível,

Respirável, aceitável,

Mesmo que as margens de um tenebroso abismo?!

SEDUÇÃO DO IMPOSSÍVEL

O possível nos conforma.
O impossível nos transforma.
É como o sonho
Um outro lado da realidade.

O consumado nos consome
O irrealizado nos alimenta.
O ato é sempre um quase.

Somos feitos para o futuro.
Não nos conformamos
Ao tempo presente.

A imaginação está sempre 
Um passo a frente.

Tudo que é
Será diferente.
Nada nunca está consumado.

SOMOS APENAS UM PONTO NA PAISAGEM

Toda decisão sacrifica outras possibilidades.

Quando somos capazes de compreender todas as alternativas, abdicamos da escolha.  Percebemos que há uma direção imperante no encadeamento das situações que extrapolam qualquer interpretação. 

Tudo acontece aleatoriamente mediante a arbitrária combinação de eventos. Somos seu efeito e não seus criadores. Participar do devir da vida é não se importar com o antes e o depois. Pois nada nos diz respeito. 

Somos apenas detalhes em uma paisagem povoada de muitas coisas em França interação. Não podemos modificar a paisagem, apenas nossa posição bela, descobrindo diferentes perspectivas.

A PALAVRA COMO FUGA

As margens do cotidiano cultivam alguns o ofício de pensar, sentir e escrever o eu no mundo. Buscam curar a existência dos males da civilização, acordar a vida do seu sono racional. 

Vislumbram outras realidades nas possibilidades do indizível. Inventam um dizer novo, geografias de pensamento, que traduzem o corpo na paisagem do dizível.

Arrumar palavras nas folhas é um jogo lúdico, um esforço despretensioso, através do qual procuramos fugir da banalidade das coisas humanas.

URGÊNCIAS

Há na superfície deste momento

Possibilidades prisioneiras de inercias,

Potências e intensidades

Que tentam alcançar o por vir.

A vida arde,

A rua chama.

Não precisamos ter esperanças!

Basta a vontade que dentro de nós nos queima.

As urgências teimam,

Fazem acontecer!

Elas transbordam nos corpos,

Transformam a paisagem,

Através das vozes que formam um coro!

 Elas estão em todas as partes!

Tudo se move sem tempo.

Trinca, range,

Ao soprar do vento.

CONTRA A EDUCAÇÃO

Aprendi tudo que sei no convívio com os outros.
Tomei gosto pelas palavras,
Pela elocubração,
Pelas alturas do pensamento sem chão.

Foi para isso que serviram os anos de escola.
Eles arrancaram de mim qualquer traço de imaginação.
Perdi a liberdade selvagem da expressão do corpo.

Todo o meu mundo foi reduzido à discursos.
Mas continuo incapaz de pensar sem sentir.
Nunca fui destes que se conformam a escola,
que se conformam as palavras.

TRANSCENDÊNCIA

Não acreditem em nada do que escrevo.

O que digo é bem diferente daquilo que sinto,

Assim como o que vivo não cabe em nenhum sentimento

Nem se revela no que foi escrito.

A experiência das coisas me ultrapassa sempre.

As vezes sou infinito.

Outras quase não existo

Através do dito e do sentido.

Sigo indeterminado sonhando a realidade.

Há dias em que quase acredito que existo.

Mas como seria possível?

O eu é a ilusão do corpo....

VERTIGENS

Procure um ponto cego no cotidiano,

Um silêncio dentro do seu dia.

Fuja da banalidade massificada.

Perca-se para se encontrar.

É sempre tempo de esquecimento.

O mundo não vale um ato domesticado

E muito nos custa o esforço da sobrevivência.

É preciso gritar, embriagar a paisagem.

Existe muita ação latente em nosso silêncio,

Em nossas vertigens.

DESAJUSTADOS

Não é possível viver de acordo com as invenções humanas.

Por isso  o jogo de mentiras que sustenta a verdade cria desajustados.

Despidos de natureza e afetos frente a multiplicidade e a imanência

Nos fazemos desfeitos.

Há uma riqueza de defeitos em nossos atos cotidianos.

Mas bem aventurados sejam os que sonham de olhos abertos,

Os que frequentam a loucura e sabem vertigens.

A vida nos espera outra do lado de fora do cotidiano.

A SABEDORIA DOS LOUCOS

Obrigamos o mundo a significar.
Impomos leis a natureza,
Inventamos valores e princípios.
Exigimos de tudo uma explicação.

De todas as formas possíveis
buscamos escapar a nossa intuição do caos.
Mas ele nos espreita como um fantasma.
Apesar de nossas tantas verdades convivemos com sua presença,
Com a incerteza e o acaso.

Talvez apenas os loucos saibam realmente alguma coisa sobre a vida.
Para eles os acontecimentos mais simples são perigosamente extraordinários.

A CARNE DA POESIA

A carnação poética manifesta o afeto em ato e corpo.

É intensidade,
Movimento e busca concretamente abstrata.

Transcende a sanidade,
Qualquer ilusão de santidade.

A carne da poesia é o mundo como vontade.

Nossa arte revela a vida suja
E inventa aquilo
Que ainda não tem nome.

O TEMPO EXISTE?

Quanto dura um instante?

Quando começa ou termina um momento?

Existe mesmo uma linha entre o depois e o antes?

Ou será tudo um fluxo?

Um único acontecer contínuo

Que se desfaz e refaz

Sempre em busca do outro de si ?

Talvez toda eternidade seja um único segundo

Lutando contra si mesmo.

A instabilidade habilita o caos

Como um efeito da inconveniente duração

De todas as coisas.

O tempo é um defeito do espaço.

Ele é pura matéria em movimento.

LIBERDADE

Não seja leviano ao falar de liberdade. A liberdade não é uma palavra. É um estado de espirito que acorda ação, que desperta em nós a impessoal potência demiúrgica de criar a si mesmo, de inventar a vida.

Liberdade é arte transfigurada em existência, em presença.

Ela não nos pertence. Ela se manifesta e nos atravessa.

Nenhum grande discurso sobre libertação vale um ato de liberdade ou esclarece sua urgência.

A liberdade é uma coisa que transborda...