quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

O DIZER ANEXATO

 

Gosto de palavras anexatas.

Odeio números!

Não suporto a precisão do quantitativo.

Ele não me diz nada.

Já o dizer anexato esclarece-me tudo.

Pois não tem conclusão.

Apenas caminhos.

LOUCURA E VIDA

 




Busco uma boa dose de loucura em qualquer coisa. Seja na bebida, no cigarro, na comida, no sexo e até mesmo no banho.

A loucura é descobrir as coisas de um modo que não nos ensinaram. Ela é a criação do novo, do inesperado, do imprevisível. Sem loucura a realidade não seria possível. Não haveria mudança. A própria vida é uma loucura que ninguém explica, onde nada precisa fazer sentido ou obedecer um propósito. 

As coincidências se misturam na tempestade das aparências  e ausências. Isso define a existência.


terça-feira, 26 de janeiro de 2021

DESLOCAMENTOS

O mundo não gira em torno do meu cérebro
Nem a vida em torno da minha existência. 
Sou quase uma miragem  na face da terra.
Sou um estrangeiro no devaneio de alguma pedra
Que testemunha indiferente o passar dos séculos.
Meu corpo é feito de sonhos
Mais do que de realidades.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

PEDRA (S)

 




Comovo-me com as pedras.

Como são resistentes e indiferentes

a todo ambiente!


Toda pedra parece um pedaço perdido

de uma verdadeira pedra infinita

que jamais conheceremos

pois se reinventou a si mesma

como multiplicidade.


Há uma multidão insinuada

em cada pedra.

É como se a natureza da pedra

fosse exterior e infinita

na contramão da essência.


Ninguém sabe o início ou o fim da pedra.

Tudo que sabemos é que elas estão em todas as partes,

Que surgiram antes do mundo ser mundo

no Uno de todas as pedras.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2021

O VIAJANTE DO TEMPO

Venho de um futuro muito distante
Onde o passado ainda da certo
E o fim do mundo é um horizonte.

Toda eternidade cabe no meu presente
Na contra filosofia do uivo
É do avesso da palavra, da verdade, e do instante.

A GRANDE NOITE

 

A noite é iminente.

Quase uma fatalidade.

Pois, para muitos,

não haverá dia seguinte.


A noite será quase absoluta.

Sem lua, estrelas ou esparança

no céu.


Simplesmente, será noite.

Para o desespero daqueles

que amam a luz do dia.


O QUE É A REALIDADE?

A realidade é o dizer do sensível contra o mundo objetivo.
A realidade é linguagem,
Corpo e movimento.
A realidade é tudo que acontece,
Como palavra, assombro, pensamento e delírio.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

SORRISO INSURGENTE


Um sorriso nos olhos
Diz a alegria da máscara
Na ausência dos lábios.
Ele tem gosto de anonimato
E despensa motivo.
É quase anárquico
Em seu silêncio subversivo.

Ele é o mistério dos mascarados,
 não cabe em um único rosto.
É compartilhado, perdido,
Achado, multiplicado, 
E, deliciosamente agressivo,
 No segredo dos lábios escondidos.

Ele passeia, inconsequente, pelos olhos de todos
Anunciando a iminência do caos de grandes gargalhadas
E o tumulto de contra condutas
Frente a caduquice do mundo atual
No deserto da grande cidade.





quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

A DITADURA DA VERDADE

O fim dominante
Fatal e definitivo,
Das convicções
Reduz o pensar a uma prisão
Onde o esperado de uma suposta lei dos fatos
Sustenta previsíveis enunciados,
Determina o possível,
O verdadeiro e o falso,
Reduzindo o mundo e a vida
A ilusão de uma suprema razão
Quê tenta inutilmente banir da vida
O caos e o inesperado.


DELÍRIO COTIDIANO

 



Misturas de infâncias, delírios, angustias e gritos

reinventam a consciência contra os novos mitos

Da mídia, do mercado e do grande egoísmo.

Na imaterial realidade da tela e do tempo

toda experiência é simulacro.

Verdades são doses de uísque sem gelo

e toda conversa uma cerveja compartilhada.

Nada mais importa.

Agora a vida é breve e sem sentido.

QUASE REALIDADE

 

Imerso entre signos e afetos,

enunciados e disciplinas,

sou um corpo a deriva

entre o eu e o mundo,

dentro e fora do sentido,

sempre incerto e em risco.


Todos os meus motivos,

expectativas, prazeres e desejos,

são miragens, vertigens,

efeitos de um vazio

rarefeito realizado no tempo e no espaço.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

CONFISSÕES DE UM NIILISTA

 

Sei hoje o mundo como delírio.

Duvido da realidade dos outros ,

da minha própria existência,

de toda razão e verdade

que nos organiza a vida.

Não acredito em nada.

Não penso.

Alucino.

Quero saber quanta loucura

cabe ainda no meu caminho

contra todas as mentiras guardadas nos livros.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

ANTITOPIA


 

 

Deixe a rua dentro de casa

Quando sumir na cama

ao se perder na cidade.


Seu lugar é o incerto do deslocamento

que te faz acontecer em todas as partes

do lado de fora de toda realidade.


Qualquer lugar por onde você passa é distante,

pois tudo que está perto é sempre mais longe.


Seu corpo desconhece o abrigo do chão

que te cobre o céu dos mares.


MALDITO

 

Ainda que morto



vivo os últimos dias

do meu mundo

como um condenado

ao infinito dos outros.


Não sou escravo,

nem livre.

No meu ódio

a todos os senhores

e autoridades.


Sou apenas

mais um maldito.

CONFORMISMO ATIVO

 


 

Como são ativos os conformados,

organizados e determinados em suas inércias,

em suas lutas mudas pela perpetuação da mesmice,

em nome da metafísica ordem dos bens ajustados.

A passividade é a forma de ação da contemporaneidade.

Todos estão sorrindo e se acham importantes.

Todos conhecem a verdade e sabem o segredo da felicidade.


FUGA DA REALIDADE

 

 


Depois do café

fugirei pela porta dos fundos

da realidade.

Visitarei meu duplo

que mora no espelho.

Encontrarei minha amiga

que dorme no fundo do rio

e conversarei com as borboletas

sobre os abismos do nada e da eternidade.

Talvez depois eu retorne triste

ao vazio da realidade,

ou, simplesmente, admita

que ela não existe.


SEM SENTIDO

 

Não quero fazer sentido.

Compartilhar verdades e juízos

em um mundo de insanidades.

Todos os discursos me parecem banais,

assim como toda confissão de verdade.

As pessoas não passam de caricaturas delas mesmas

entre o cinismo e a vaidade



segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

A REVOLTA DAS PALAVRAS

 

 

 

Do lado de dentro de um pensamento

escuto as palavras desfazendo versos e frases.

Elas querem escrever outra coisa

contra a escrita e o sentido

que combinam as letras.


A intenção das palavras

é claramente a morte do autor.

Mas não o encontram.

No fundo sabem que ele não existe.

Apenas as mãos que escrevem ou digitam

persistem em seu exercício inútil

de produzir qualquer texto onde caiba o mundo.


domingo, 3 de janeiro de 2021

ANTI CHÃO

Todo chão que meus pés conhecem
Será, por definição,
Estrangeiro.
Sigo alheio a todos os territórios,
Livre de qualquer lugar.
 
Apenas os mortos sabem a terra.
Os vivos sopram no ar
A matéria de um dizer imperfeito
E alheio a própria linguagem.
 
Não pertenço a nenhuma tribo.
Minha melhor definição de chão é o vazio de um abismo.


ALHEAMENTO

Busquei o gozo da diferença  na pluralidade de discursos.
Assim me afastei da existência
Que transcendia os enunciados
E inventei para mim um corpo que era palavra.
Já não estou vivo  nem morto.
Aconteço alheio a minha  presença no tempo.