sábado, 29 de dezembro de 2018

AOS FILHOS DA TERRA

Filhos da terra,
Abandonem a verdade, as metafísicas e este instrumento ilusório, está fantasia antiga, de uma razão que os inspira e guia.
Esqueçam o deslumbre do céu aberto,
Aceitem o lodo, a terra!
O universo não é uma solução.
Assumam seu próprio corpo como um pedaço de geografia.
Somos um nada em uma paisagem intensa.
Somos matéria, microfisica!
Tudo que somos é pequeno!

EM DEFESA DA EMBRIAGUEZ MUSICAL

Como shopenhauer e Nietzsche já afirmaram de modo tão entusiasmado, à música é a mais elevada e sublime expressão artística. Mesmo hoje em dia, quando a experiência musical se banalizou através da reprodutibilidade técnica, seu dizer direto aos sentidos e ao pensamento, ainda nos embriaga. 


Através da música é possível viajar em silêncio e completa inércia. Ouvir música é antes de tudo um ato de pensamento, um estado de afetação criativa ou uma forma de embriaguez. Como em nenhuma outra época , precisamos de música para pensar com o corpo e libertar a vida de seu torpor racionalista e civilizatório.

domingo, 23 de dezembro de 2018

VERDADE, MENTIRA E SABER

Um dia todos os olhos e ouvidos eruditos souberam as palavras de um velho sábio. Segundo elas a verdade é sempre o lado visível de uma mentira que nos apazigua a consciência de rebanho.

Muitos tratados e ensaios foram redigidos inspirados por esta pequena máxima. O sábio autor de tal reflexão nunca existiu. Ao contrário da sua sabedoria.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Ser corpo

O corpo é a medida do mundo. É onde tudo acontece na coincidência de ser e não ser. Vivemos oscilando entre o nada e o tudo. No final, somos apenas um corpo em sua multiplicidade de coisas vivas.....

ENTRE VAZIOS



Há tanto vazio que nos falta espaço.
Aos poucos sufocamos entorpecidos de signos e símbolos.
Nos conformamos as coisas que nos modelam.

Já não sabemos quem somos.
Estamos muito ocupados sendo o que idealizamos.
Nos tornamos vazios em meio a vazios.
Quase não somos...


UM QUASE


O anonimato define nossa existência.
Cada um de nós quase existe,
Quase vive.

Há sempre este quase,
Uma expectativa,
Algo inconcluso.
Não sei se é uma busca
Ou somente um silêncio.

Apenas seguimos em frente,
Quase invisíveis.


terça-feira, 18 de dezembro de 2018

FALSA REBERDIA

Vejo um mundo ferido onde a moral virou moeda de dignidade e ninguém tem coragem de cuspir contra a ordem.

O maior conformismo agora é a apatia do dizer rebelde. A indignação virou o  teatro de cotidianos palhaços mascarados de indignados.

MEDIOCRIDADE HUMANA



Precisamos assumir nossa precariedade,
Nossa animalidade elementar,
Contra todas as narrativas de progresso,
Contra as ilusões olímpicas que nos inflamam o ego.

Contra toda moral e supostas virtudes da condição humana
É preciso que se diga:
Não há para o universo qualquer distancia entre o humano e o verme.
Não há nada de sublime nas artes, saberes e sentimentos que nos inventam a humanidade.

Somos apenas os mais miseráveis entre os seres viventes, os únicos afetados pela soberba de Ser.
Nada é mais desprezível do que um ser humano....


quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

A ORDEM E O ABISMO


A dança da boa razão de Estado faz o mundo naufragar disciplinadamente. Tudo segue o script da lei e da ordem como se não houvesse no fundo de nós algumas fagulhas de insurgência, de urgências, que nos consomem, que nos transformam, até o transbordamento de todos os protocolos, representações e ilusão vigentes.

Sepultados em  diferentes versões de verdades possíveis, seguimos em frente e felizes em direção a múltiplos abismos e silêncios.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

MUNDO E ABSURDO

Não tente entender o mundo.

Toda bibliografia disponível, toda grafia ou saber possível,  apenas lhe fará perceber o quanto tudo é absurdo é sem sentido. 

Só nos resta um pouco de embriaguez e criatividade para debochar da ordem das coisas.

Nada é digno de seriedade, nenhuma convicção pode mudar isso.

Não pense muito. Viva!

segunda-feira, 10 de dezembro de 2018

SOBRE LIBERDADE

Não há liberdade sem a adrenalina de correr riscos. É preciso uma boa dose de ousadia para ir além do imediatamente dado, das situações estabelecidas. E liberdade é ter a coragem de abraçar o imprevisível, a novidade.

Liberdade é sempre lidar com o imprevisível. Por isso a maioria das pessoas é sedentária, conformista e conformada aos seus limites.  É sempre mais fácil abdicar da liberdade.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

TEMPO PERDIDO

A memória do futuro recusa o dia seguinte.
Nada disso era para ter sido.
Os fatos tornaram-se um fardo.
Quem ainda se lembra dos dias que não foram vividos,
Dos tempos que ficaram perdidos?
Sou agora o intempestivo de  memórias sem passado.
O hoje é feito da ausências de tempos perdidos.

domingo, 25 de novembro de 2018

ENLOUQUEÇAM!

Seguimos atravessando cotidianamente o abismo da vida civilizada sobre a corda bamba do simples cotidiano. Aceitamos e naturalizamos o inaceitável e não questionamos sua banalidade. Nada nos parece suficientemente horrível. Nossa educação nos adoeceu.

Mas para onde nos leva esta cotidiana travessia sob o abismo? Naturalmente ao ainda distante fim da espécie. Um dia tudo será pó. Eis nosso maior consolo contra todo este desespero que chamam cultura. Mas enquanto ele não chega, divirtam-se! Enlouqueçam! 

sábado, 24 de novembro de 2018

ESCUTE O CAOS!

Não acredito em narrativas de poder, saber e amor.
Não acredito no dito ou escrito de sua consciência engajada e positiva.
Venero a confusão,
O caos me esclarece.
Minha palavra é o grito.
Quem pode escutar minha abstrata confusão?
Basta que não acredite,
Que não busque o conforto de qualquer discurso,
Que não aceite soluções ou conclusões.

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

AS PESSOAS DA GRANDE CIDADE



Sei conversar com a terra, os animais e as pedras.
Mas não me entendo com as pessoas da grande cidade.
Não me interesso pelos seus jogos mentais,
Pelos seus hábitos e normas abstratas.
Elas são como pássaros que nasceram em gaiolas.
Não sabem seu corpo,
Não percebem suas asas.
Se quer identificam as fronteiras de sua prisão.
Acham que todos  lhe frequentem a gaiola,
que o  mundo é povoado por prisioneiros.
A grande cidade lhes roubou a alma.

O DUPLO


Todos os medos e mentiras que tomei como verdade não me sustentam mais. Meu mundo se tornou vazio e transparente. Já não tenho rosto, identidade. Sou feito apenas de apetites e vontades. Não tenho forma ou conteúdo. Sou apenas uma coisa que se desfaz em mundo.

Não tenham medo e nada esperem de mim. Eu sou apenas aquele que te inventa no espelho.   


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A MISÉRIA DO CONHECIMENTO


Todo conhecimento de todas as épocas foi reduzido à banal condição de informação.  Todo conteúdo é vazio e já não provoca significativo efeito sobre nossa consciência.  


O conhecimento foi reduzido aqueles saberes sem vida exigidos em exames de faculdade, em provas de aptidão profissional ou palavras cruzadas.


Qual a utilidade da sabedoria em um mundo de consumo absoluto? Não há mais  diferença entre um livro é um vestido. Ambos podem ter o mesmo valor . Vista o livro é leia o vestido na arte de inventar sua persona, de ser alguém entre os outros.
Conhecimento não é redenção....

DA IMPOSSIBILIDADE DE ESTAR SOZINHO

Despido de todos e de tudo não passo de um corpo isolado entre quatro paredes. No entanto, muitos mundos me habitam. É impossível estar sozinho. Minha consciência é povoada pelos outros que lá fora seguem indiferentes à minha existência. Sou no mundo e o mundo é em mim através dos meus outros mundos. A existência é uma fantasia coletiva onde o próprio isolamento é uma forma de companhia, de presença de um eu que inventa todos os outros.

sábado, 17 de novembro de 2018

A VIDA É UM DELÍRIO!

No fundo eu nunca vi um ser humano na vida. Para mim humanidade não passa de um conceito sem substância. No plano da existência concreta somos apenas um amontoado provisório de moléculas. Só isso. Mas temos a ilusão de que existimos. Na verdade tudo não passa de um sonho absurdo. A vida nãome contagia. Sei que o que convencionamos chamar de realidade não é nada além de um delírio.

quinta-feira, 15 de novembro de 2018

ANIMALIDADE

A fronteira entre o animal e o humano não existe. Ambos são corpos na paisagem.

As civilizações são acidentes existenciais contra os artifícios  biológicos. Mas não passam de ilusão pueril como a falácia do processo histórico.

O animal que há em nós extrapola a linguagem, as convenções e nossas pretensões ao infinito.

terça-feira, 13 de novembro de 2018

CONTRA A REALIDADE



A realidade nunca será para mim suficiente. Seja lá o que for que seja convencionalmente compreendido como real em qualquer época ou contexto cultural. Tenho imaginações selvagens, vontades insanas e apetites monstruosos que jamais serão contidas por modelos e normas de verdade.

Meu coração é selvagem e minha mente tão simples e perversa como a de uma criança que se lambuza com sorvete de chocolate e bolo de baunilha.

CONTRA DISCURSO



O tom solene ou pretensamente verdadeiro de uma narrativa tenta nos impor uma consideração respeitosa. Como se qualquer palavrório rotulado de científico, de pesquisa, fosse merecedor de nossa devoção e submissão.

Mas já faz tempo que aprendemos a duvidar de todos os discursos emancipatórios ou simplesmente atestadores de qualquer autoridade.  Reivindicamos a mais radical liberdade gramatical, o mais sincero e franco nonsense. Não pretendemos dizer a verdade. Nossas palavras são como fumaça, pretendemos a dissonância  cognitiva, a confusão verbal e todas as formas de terrorismo linguístico. Jamais seremos enganados pelos defensores do sentido e da representação. Joguem a fogueira todos os seus livros!

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

O CAVALO


O cavalo é um animal estranho.
Ele nos sugere a ideia de movimento,
De passagem e de deslocamentos.
Há algo de  pássaro na elegância do cavalo,
Algo que transcende o animal,
Como pegasos ou como unicórnio,
Ou ainda como um fauno.
O homem e o cavalo seguem juntos
Inventando seu próprio destino.
Mas o cavalo é um animal estranho.
Que discretamente insinua a superioridade do inumano.

O LEGADO DADAISTA


O dadaísmo surgiu em Zurique (Suiça) como um movimento contra cultural ou como a mais radical das vanguardas artísticas. Seu niilismo visceral atacava as bases de toda a civilização ocidental então mergulhada no drama sem precedentes da barbárie de uma primeira grande guerra europeia. Sua virulenta retorica de destruição absoluta possui uma inspiração pacifista, já que tem como cenário a veemente condenação do conflito que então devastava o velho mundo.  O dadaísmo foi um filho direto da crise moral e civilizacional europeia de inicio de século XX.  Trata-se de um “movimento-grito” sem qualquer horizonte positivo. O surrealismo foi de certa forma seu direto continuador, mesmo que abdicando de seu niilismo apolítico e apontando para uma transformação politica radical da vida através da arte, das pulsões e dos abismos irracionais de nossa condição humana.

O ideal dadaísta é a liberdade total, o agenciamento da imaginação contra toda forma de linguagem e confissão de verdade. Seu objetivo é provocar vertigens, desafiar e destruir toda norma, todo principio ou hábitos pré concebidos  que sustentam o já arruinado edifício da civilização ocidental. Podemos encontrar seus ecos na contra cultura dos anos 60 e 70 e em toda forma de resistência e contestação cultural que ainda hoje nascem como erva daninha em meio ao jardim pomposo das certezas de manada e das flores da ordem e da razão dominante.

sábado, 10 de novembro de 2018

LITERATURA BARATA

O eu que escreve não sabe o que é dito. É apenas réplica de tantos outros eus perdidos dentro do texto.

Mas o que se escreve que ainda não foi dito? Somos agentes e vítimas de conservadorismos linguísticos, de um dizer gregário que nos conforma a rebanhos.

A palavra é um dispositivo de adequação às ficções de nossa existência coletiva.

A vida não passa de  literatura barata.

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

ESPAÇOS NORMATIVOS


Em muitos lugares estive por muito tempo em fuga. Eram como prisões onde meus pés tocavam por simples obrigação. Nestes lugares eu não era nem mesmo um ponto na paisagem.

Lugares comuns, públicos e solenes que nos cospem sua funcionalidade, seus códigos e regulamentos de postura. Seus percursos são pré definidos e todos os passos já foram dados antes mesmo de nossa chegada.

A escola, o hospital, a cadeia, a repartição pública, a casa da família, etc. são todos espaços que nos conformam a suas atmosferas, que nos roubam qualquer sinal de autenticidade, qualquer suspiro de vivacidade.  

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

MENSAGEIRO DO CAOS

Não trago boas palavras de auto ajuda.
Não faço literatura.
Não gosto de religião.
Não prego o amor,
A paz e a felicidade entre os homens.
Não digo sabedorias,
Filosofias ou ciências.
Tudo é falso.
Tudo passa.
Nada nos define.
Eu me alimento daquilo que morre.

O GRANDE INCÊNDIO

Há fogo no jardim frontal.
O quintal já não é mais seguro.
Fiquem dentro de casa.
Evitem o mundo
Até a próxima primavera.
Esqueçam os sonhos,
A iminência do futuro.
Amanhã é sempre tarde demais.
O fogo consome tudo que somos,
Fomos e seremos.
Nada mais nos será familiar,
Reconhecível ou íntimo.
A casa desaparecerá no incêndio em curso.
Digam adeus as margaridas.

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

O TRANSBORDAR DO MUNDO



Aprendo o meu lado de fora escapando a experiência interna do mundo.
Experimento a grande saúde de estar a margem de tudo.
Apenas me percebo imerso na pluralidade das coisas
Despido de signos e interpretações.

Não passo de um corpo perdido na paisagem
Onde tudo existe ao ar livre.
Existir, afinal, é estar sempre exposto.
Não há significado que nos abrigue,
Que nos oriente.
A experiência de viver nos transcende.

quinta-feira, 1 de novembro de 2018

DESERTO SOCIAL



Os ecos do mundo me conformam a palavra.
Todo dizer é saber conformismos,
Reinventar arquivos.
Não sou mais do que uma função da realidade.
Ela nos inventa na medida em que a produzimos.
Não há saída.
É assim que tudo funciona:
Como um grande simulacro.
A autenticidade é o vazio,
O deserto despido de pensamentos.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

MARIONETE



Não perdoarei os atos que me fizeram de objeto.
Conservarei rancor pelos acontecimentos que definiram minha vida,
Que deram forma ao meu modo de ser e sentir tão peculiarmente a condição humana.

Tenho horror a cada pensamento que me toma como objeto.
Faria qualquer coisa para fugir aos fatos que me domesticaram.

Sinto que há um outro se debatendo dentro de mim.
Posso adivinhar todas as suas urgências.
Ele me odeia, mas se quer me conhece.
Qual de nós, afinal estará errado?

Ambos detestamos aquilo que somos,
Aquele que nos tornamos.
O tempo foi para nós um castigo.
O que ainda pode ser onde não nos restam alternativas?




domingo, 28 de outubro de 2018

A ARTE DE DIZER

O dizer livre e descompromissado confunde-se com a arte de inventar a si mesmo.
Cultivar palavras, explorar significações, é fazer da consciência do mundo um mundo na consciência sem se perder na ilusão de qualquer verdade.

O dizer já não busca a realidade, mas seu próprio ato contra a fragilidade de tudo que se propõe a condição de verdade na lapidação da consciência como plano de construção da própria vida.
Afinal, o que está se tornando real em um mundo de ilusões transparentes?

O MUNDO COMO LINGUAGEM

O dizer compreende um espaço, uma geografia abstrata, onde inventamos todas as possibilidades do humano.

Habitamos a linguagem. Bela nos movimentamos através de signos e símbolos que circulam entre nós produzindo este estranho artifício que é a realidade.

O dizer é nosso modo de estar no mundo.

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

LUCIDEZ PARANÓICA


Em todas as partes algo esta sempre sendo dito nas entrelinhas. Há um segredo, uma presença invisível que contamina tudo aquilo que pensamos e dizemos. Posso sentir, quase saber.... Não se deixem enganar. Nada é aquilo que parece ser. Não podemos confiar nem mesmo em nossos próprios pensamentos. Eles são implantados de modo sutil em nossas cabeças. Alguém pode mesmo dizer o que é a realidade?

Sei que não irão me levar a sério.... é assim que funciona. A intuição do caos que nos atravessa é  inconcebível. Mas não duvidem: tudo isso que estamos vivendo não passa de um grande e secular  equivoco.  

quinta-feira, 18 de outubro de 2018

OS ABISMOS DO INSTANTE


Escuto as horas que rangem no instante.
Percebo nelas sinais de eternidade,
De devir intenso de corpo e pensamento.

Tudo se resume nisso:
Todo momento é virtual,
Potência.
Habito passados desde antes do nascimento.

O instante transborda, transforma.
Não tenho mais consistência.
Sensualidade e sentido somam-se em meus atos.


quarta-feira, 17 de outubro de 2018

A MISÉRIA DAS CONVICÇÕES


Podemos eventualmente nos equivocar sobre qualquer tema ou assunto. Podemos até mesmo cultivar um equivoco e defende-lo fervorosamente. Afinal, como podemos sabê-lo?  

Por isso dou pouco credito a  firmeza de convicção, a credulidade e a defesa apaixonada de qualquer principio ou tese. Não há nada  que mereça certeza, que não fomente algum tipo de duvida. Na vida do pensamento tudo é provisório e existe sob o signo do inacabamento.

Além disso, há tantas convicções quanto existem cabeças pensantes.  Elas não são relativas, mas redutíveis a incerteza. Apenas os fracos se apegam demasiadamente as suas convicções. 

Uma postura diletante e descompromissada que reúna circunstancialmente as mais criveis formulações vigentes em uma determinada época, pode ser considerado sofisma. 

Somos amantes da boa retórica e da persuasão, mas contraditoriamente amamos demasiadamente as ilusões de verdade . 

O CORPO COMO MEDIDA DE TODAS AS COISAS



Vejo o corpo humano como uma entidade múltipla através da qual o mundo acontece como expressão humana. Desta forma não separo natureza e cultura. Pelo contrario, considero a cultura um apêndice da natureza, um, derivado da interação do corpo com a exterioridade. Viver é um complexo processo de interiorização das coisas, um fluxo entre interior e exterior que atravessa o corpo como processo, como articulação ilusória de um complexo de moléculas, de um ordenamento físico provisório que somos nós.

O corpo é através de seus predicados e de seus efeitos. Ele nos propicia a ilusão de que somos. Toda história da filosofia é o resultado do equivoco do Ser como obscura projeção da realidade do corpo.

NÃO FAÇA DA LIBERDADE UMA PRISÃO


Não há opção onde as escolhas são pré definidas  e os resultados pré configurados. Nesses casos o chamado livre  arbítrio não passa de uma forma de controle.  Este é o grande paradoxo do conceito de liberdade quando o associamos a ideia de criação. Pode-se ser fecundo e criativo  dentro dos muros e grades de qualquer prisão.

Quem pretende ser realmente livre precisa ousar acima de tudo ser livre de si mesmo, dos limites das identidades e de certezas cristalizadas. Ser livre é nunca se limitar ou se conformar a si mesmo.

terça-feira, 16 de outubro de 2018

DIZER ANIMAL


Que a palavra não diga,
Que ela nada comunique,
Mas apenas se faça como ato abstrato,
Como aprendizado de um silêncio mágico.
O som em movimento emotivo,
Como um canto em uma língua estranha,
Encanta sem dizer nada.
A palavra ininteligível provoca,
Inventa gritos e grunhidos.
É uma nota e um tom.
Quase o discurso de um animal ferido.
Ela é monólogo, expressão de uma imagem.
A palavra é símbolo.

IMPACIÊNCIA



Não me queiram correto e equilibrado,
Adaptado a todas as normas, princípios,
E futilidades do senso comum.

Não serei previsível,
Sistemático e analisável.

Sou explosivo,
Impulsivo.

 Tenho tantos maus adjetivos
Quanto tenho raivas e  agonias.
Não me queiram normal!
Não me queiram qualquer coisa!
Que tudo entre nós se defina pela distância.

CORPO TERAPIA



Saber o corpo,
Não pensar o corpo,
Sentir o corpo,
Ser o corpo.

Inventar o eu corpo como consciência,
Vivencia múltipla.

Aprender o  corpo substantivo e plural como acontecimento.

Ser  corpo/movimento,
Como tempo e espaço ontológico,
viver o corpo como o fundamento de ser.


terça-feira, 9 de outubro de 2018

METAMORFOSE AMBULANTE




Nego aquilo tudo que me conformou a mim mesmo.
Não quero saber.
Não quero ser.
Prefiro fugir através de cada pensamento,
Da aventura de cada ato.

Há sempre potência,
Virtualidade de ser e não ser.
Tudo acontece “através de...”
Há sempre um passo a diante,
Uma necessidade de partir,
De estar perpetuamente em transição.

Neste exato instante já estou distante.
Já não sou mais aqui.

O QUE NÃO EXISTE



Há algo de desmedido e urgente,
Algo de loucura,
Na consciência que me queima.

Algo que foge a palavra,
Que ronda os atos
E adestra o sentir.

É algo que não existe,
Mas que persiste
E abala auto retratos
E definições.




segunda-feira, 8 de outubro de 2018

O QUADRO, O PONTO E O CAMINHO


Um ponto dentro do quadro,
Atravessa a parede
E transcende toda representação.

Cria perspectiva, profundidades.
Deixa de ser um ponto
E se transforma em um caminho.

Para onde nos leva?
Talvez nele não exista lugar.
Apenas passagem,
Transição.

Tudo se resume em ir adiante.
Não importa o destino.
Pode ser que o movimento não pare.
Que só exista o devir e o  caminho.
Mas apenas o olhar o percorre.
O corpo permanece estático,
Indeterminado e misturado a paisagem.
O ponto dentro do quadro já não existe.
Ele fez do quadro um caminho
Que nos faz fugir da paisagem.
A parede não mais nos limita.
Tudo é o caminho.

terça-feira, 2 de outubro de 2018

CORPO DIZER




Não tenho qualquer pretensão de dizer algo que lhes pareça significativo. Pois sei que o entendimento de cada um é uma paisagem/imagem singularmente construída na unidade de um corpo que pensa. Corpo que se inventa miragem através de suas múltiplas simetrias orgânicas e vazios abstratos. O corpo vivo é movimento molecular e multiplicidades, é um pequeno caos convulso tentando manter-se contra todas as tendências a auto desconstrução. A própria vida é essencialmente um estado de alegre agonia. Então, qualquer coisa que eu diga enquanto corpo ignorante do acidente de seu proprio pensamento, seria o equivalente de um delírio, de uma consciência menor de si mesmo como potência, como virtualidade que, antes de produzir atos e fatos, artefatos linguísticos e materiais, produz a si mesmo como movimento. Ser é mover-se.... é apenas estar dentro de um instante que não se completa e replica a si mesmo. No fundo o binário tempo e espaço é um estado de confusão.  Um corpo possui um vínculo secreto com todos os outros corpos que já existiram, existem e existirão. O mesmo serve para o ato de dizer. Nunca sou eu quem esta dizendo. Há multidões acontecendo naquilo que estou dizendo.

SER CORPO



Aceitei viver todos os riscos de uma existência  vazia.
Nada de compor qualquer quadro social.
Sou apenas meu corpo e suas necessidades diárias.
Não me rotulem de outra coisa que não seja um corpo,
Apenas mais um adorno vivo na paisagem urbana.
 É só isso. Busco repouso e bem estar,
Mesmo  através do movimento.
Tudo é relativo através do meu corpo.

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

O SABER DAS PEDRAS


Escuto a voz das pedras.
Elas antecedem o dizer humano.
Sabem mais sobre o  tempo do que meu corpo.
São senhoras da sabedoria das inercias.
Conformam a paisagem a sua estática estética.


As pedras falam sobre o imutável,
Sobre as permanências.
Sobre as mudanças guardadas no silêncio.
Elas existem no não ser das coisas.
Elas ensinam resistências.

DO EU E DO MUNDO



O que nos conduz do eu ao mundo é sempre a palavra.
Através dela tecemos sentido, inventamos a nós mesmos.
Somos o movimento de um pensamento,
Um corpo que se rearticula através de um discurso.
Há um prazer em dizer a existência,
Em acumular verdades e sentimentos.
Mas falta realidade no caminho de volta
Do mundo ao eu...

sexta-feira, 28 de setembro de 2018

A MISÉRIA DO HUMANISMO


LAVAGEM CEREBRAL



O dia esta perfeito!
Tudo segue em normalidades.
Há ordem e prosperidades,
Diversão e trabalho.
Apenas os insanos e os delinquentes
Não sabem o quanto.
Eles preferem os vazios,
Os sensualismos das escuridões
Contra o brilho da sociedade.
Mas o dia esta perfeito!
Mesmo que digam o contrário!


QUASE KAFKA



O labirinto das formas perfeitas,
Das normas e certezas,
Aprisionam meus atos,
Prendem meus pensamentos.
Não importa o quanto a loucura me abrace,
O abismo da razão me rouba sempre os pés.
Sou sempre acusado, afastado.
Meu destino é a falha e o erro.
Jamais serei o que esperam de mim.




quinta-feira, 27 de setembro de 2018

A ESSÊNCIA DA MALDADE

Se a maldade realmente existe ela é movida por convicções firmes.
A maldade deve ter algo de absoluto para ser má. Ela não é o oposto do relacional. É isso  que alimenta sua destrutividade, seu poder corrosivo. Toda maldade é um modo de coação.A maldade é antes de tudo um ato radicalmente racional.

A MENTE HUMANA

A mente humana é algo que não existe. Ela acontece através de um corpo e de um cérebro que não lhe percebem se quer como processo químico e físico.

A própria consciência lhe ignora, pois é consciência das coisas e inventora de fatos cognitivos materializados através da linguagem. 

A mente é apenas um efeito etéreo do corpo que nos provoca a ilusão do pensamento.

MOVIMENTO E MUDANÇA


O movimento inventa mudanças e constâncias
E as transformações acontecem através das inercias.
Não controlamos o  mudar das coisas.
Ele nos escapa como ato.

As  mudanças nos acontecem.
Mas é impossível determina-las como um ponto no tempo,
Pois elas dizem  processos múltiplos e diversos.

A mudança é como uma presença que atravessa a realidade.
Ela acontece. Mas não existe.


terça-feira, 25 de setembro de 2018

VONTADES CEGAS



Todos os dias do ano,
Todas as horas de vida,
Nunca serão suficientes...

Tenho urgências impossíveis,
Vontades sem objeto,
Fantasias que queimam
No núcleo dos pensamentos.

Não me reconheço em mim mesmo.
Há outros que me habitam
Como fantasmas de outros tempos
E  senhores de estranhas vontades.

Quem eu sou não cabe no tempo.

domingo, 23 de setembro de 2018

SONHOS


Os sonhos guardam a marca de uma realidade impossível, porém desejada e necessária. Eles expressam contradições e conflitos que nos escapam. Mas é sua imaterialidade, sua falta de bom senso racional, que mais lhe aproximam de uma reflexão espontânea e portadora de outros mundos impossíveis e tão necessários. 

Os sonhos são expressão viva da fantasia que no fundo de nós se agitam contra toda contingência do real.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

DES SIGNIFICAÇÃO



Existe um ponto incerto onde não mais me reconheço em minha identidade cotidiana, onde a consciência se torna experiência impessoal de mundo mediante um estranhamento do eu, de toda pratica discursiva.

Neste ponto não há mais qualquer identidade entre significante e significado ou entre a singularidade do individuo e senso de pessoalidade. Há apenas um desconforto, uma nadificação, que produz saciedade e melancolia.  Não há mais a vivência de um significado. Tudo me parece vão, improdutivo e sem importância. Não há mais desejo envolvido no ato de dizer, de sofrer o discurso. Tudo parece, então, uma questão de "quase ser"...




BANALIDADE INFORMACIONAL


Tudo se reduz hoje em dia a informação banal,
A circulação massiva de palavras rasas e previsíveis.

Sei que não há ouvidos que não sejam surdos
Para o pouco sentido dos meus ditos,
Para meus afetos e gritos de existência danificada,
De busca impertinente por qualquer coisa louca
Que me arranque do pouco da realidade.

Busco aberrâncias e desvios contra os vazios que me inventam.
Mas mesmo meus ditos mais loucos não passam de informação.
Não há como fugir do banal que converte todo discurso em ruido.

terça-feira, 4 de setembro de 2018

A ILUSÃO DE NOSSAS CONVICÇÕES

Nossas certezas fundamentam ilusões.
São elas que inventam falsos consensos,
Que produzem a realidade,
Este artifício coletivo através do qual nos enganamos.
A vida e suas multiplicidades,
Em seus fluxos, caos e paradoxos,
Não cabe em nossa precária racionalidade.
Mas vivemos de teleologias,
De discursos e imaginações.
Quase não percebemos a vida.

terça-feira, 28 de agosto de 2018

DESEJOS INTEMPESTIVOS



Muitos desejos sem objeto ou forma,
Despidos de qualquer materialidade,
Insistem no campo da consciência
Como delírios, aberrâncias,
Ou simples efeitos de qualquer iluminada  embriaguez.

Por seu intermédio,
O mundo desarticulado em suas sensações e formas,
Reinventa através de cada gole de sentido
Um pouco do caos que a tudo penetra.

Há desejos que escapam ao querer,
Que habitam as órbitas da consciência
Como intempestivos fantasmas.
São eles que alimentam os mais bizarros inconformismos,
Que nos lançam ao desafio de uma novidade permanente e urgente.

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