domingo, 30 de novembro de 2008

VERSOS SATÂNICOS


Existo em tudo
Que proibido
Afirma vivo
Meu livre arbítrio.

Toda lei que preciso
É o físico bater
Do meu coração.


Entre caos e ordem
Do mundo
Solitário
Percorro imensidões.

Nada busco,
Nada quero
Alem de um desmaio
De razão
E invenções de liberdade
Contra o céu,
O inferno
E a falácia da criação.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

ANDRE BRETON E OS LIMITES DE EROS...




Embora tenha representado dentro do movimento surrealista uma arbitraria ortodoxia, incompatível com a riqueza de seus expurgados dissidentes, como Artaud e Dali, André Breton é uma incontornável referência desse movimento desafiador de nosso pouco e magro cotidiano.
Reproduzo aqui uma passagem do primeiro manifesto surrealista ( 1924) onde a liberdade é afirmada por Breton como a própria essência do surrealismo, mas não sem um confronto com a imaginação criadora como principio radical além de Eros e o mais profundo irracionalismo:


“Imaginação querida, o que sobretudo amo em ti é não perdoeares.
Só o que me exalta ainda é a única palavra: liberdade. Eu a considero apropriada para manter, indefinidamente, o velho fanatismo humano.. Atende, sem duvida, à minha única aspiração legitima. Entre tantos infortúnios por nós herdados, deve-se admitir que a maior liberdade de espírito nos foi concedida. Devemos cuidar de não fazer mau uso dela. Reduzir a imaginação a escravidão, fosse mesmo o caso de ganhar o que vulgarmente se chama a felicidade, é rejeitar o que haja, no fundo de si, de suprema justiça. Só a imaginação me dá contas do que pode ser, e é bastante para me surpreender por um instante a interdição terrível; é bastante também para que eu me entregue a ela, sem receio de me enganar ( como se fosse possível enganar-se mais ainda). Onde começa ela a ficar nociva e onde se detém a confiança do espírito? Para o espírito, a possibilidade de errar não é, a contingência do bem?”
( Andre Breton. Manifestos Surrealistas/tradução de Luiz Forbes. SP: Brasiliense, 1985, p. 34-35 )

SIMBOLISMO E MUSICALIDADE


O simbolismo representou em fins de século XIX uma profunda renovação da linguagem poética ao afirmar uma poesia que transcendendo os nexos lógicos da linguagem, os formalismos estilísticos e amarras gramaticais, mergulhava em um subjetivismo absoluto. Subjetivismo este que, quanto à forma, flertava com a musica, com a sonoridade das palavras arbitrariamente e simbolicamente dispostas no universo de um poema hermeticamente concebido pela imaginação do poeta/vidente.
Ao lado do símbolo, como elemento de ligação ou intermediação entre a realidade fenomenológica/sensível e o mundo das abstrações e idéias, a musicalidade pode ser definida como a grande peculiaridade do simbolismo enquanto movimento literário.
Radicalizando certas premissas românticas, os simbolistas buscavam a transfiguração da palavra em vislumbre do grande enigma que é a própria vida.

Mallarmé levou tal possibilidade as últimas conseqüências ao construir ou brincar de sentido sobre a falta de sentido evidente e translucida...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

ESCRITA AUTOMÁTICA: EXISTO...

EXISTO
na medida
em que sonho,
em que me faço fantasia
e persona
entre o falso real dos dias
e apostas no outro de sonho
que criança
me desafia ao infinito
do raso de um lucido delirio...

EXISTO...
Virtual e deliricamente
em um estranho gole de realidade....

ARTE E FANTASIA

Toda arte é abstrata fantasia.
Por isso mesmo é meta realidade
Onde a poesia espia
As ilusões do mundo
No banal segredo
De cada dia.

Em tudo enxergo magia,
Desejo e cores
De uma delirante alegria
Que se desfaz
Entre a atemporal infância
E o absurdo cotidiano
De todos os dias...

terça-feira, 18 de novembro de 2008

THEL'S MOTTO... BY BLAKE...

Thel’s Motto


Does the Egle Know what is in the pit?
Or wilt thou go ask the Mole?
Can Wisdom be put in a silver rod?
Or Love in a golden bowl?

Mote de Thel


“Sabe a Águia o que há na toca?
Ou a Toupeira perguntarás de que s e trata?
Cabe a Sabedoria numa vara de prata?
Ou o Amor numa taça de ouro?”

William Blake

WILLIAM BLAKE BLAKE PARA PENSAR...



A ESTETICA de Blake é uma estética do desejo e do delírio em mágico e erótico dialogo dos opostos na realização mítica e religiosa do mais profundo desejo do homem através do excesso e realização serena de si...



The Voice of the Devil ( A voz do Demônio)
By William Brake in The Marrriage of Heaven and Hell

“Todas as Bíblias ou códicos sagrados têm sido as causas dos seguintes erros:
1- Que o Homem possui dois princípios reais de existência: Um Corpo & uma Alma.
2- Que a Energia, denominada Mal, provém apenas do corpo; & que a Razão, denominada Bem, provem apenas da alma.
3- Que Deus atormentará o Homem pela Eternidade por seguir suas Energias.
Mas os seguintes Contrários são verdadeiros:
1- O Homem não tem um Corpo distinto de sua Alma,
2- Pois o que se denomina Corpo é uma parcela da Alma, discernida pelos cinco Sentidos, os principais acessos da Alma nesta etapa.
3- 2- Energia é a única vida, e provém do Corpo; e Razão, o limite ou circunferência externa Energia.
4- Energia é Deleite Eterno.”

( William Blake. O Matrimônio do Céu e do Inferno/tradução de José Antônio Arantes.l SP: Iluminuras, 2° ed., 1995, p.19)

PIADA SOCIAL

Toda sociedade sacia-se através do controle das imaginações dos indivíduos além de toda possível real sociabilidade.
Toda sociedade é um espaço doente construída sobre o cadáver de deus e sobre a miséria humana contra a liberdade do indivíduo.
Solução? Seja você mesmo, descubra seu desajustado interior...

ABSURDA MAGIA DO EU

Neste instante habito
o indeterminado espaço
Das coisas pelo avesso.
.
Paises e sociedades,
Vazios princípios antigos
Correm lá fora
Desbotadamente
Entre o jardim da infância
E o céu da velhice.

Guardo asas e infinitos
No bolso perseguindo
A absoluta embriagues
De mundos dentro do mundo
Revelados em um segundo
De um mínimo e estranho “eu”
Entre os meus “eus” mais profundos.

domingo, 16 de novembro de 2008

O SURREALISMO E O MITO DO ORIENTE ASIATICO: UMA QUESTÃO CANIBALISTA...


Uma das questões fundamentais do ideário surrealista é a recusa da cultura e valores ocidentais estabelecidos pela modernidade. Para pensar a questão é muito interessante o seguinte fragmento que nos ajuda a melhor compreender a mítica do oriente que, inerente ao culto ao primitivismo das vanguardas européias, renasceria em fins dos anos 60 através do esoterismo e do psicodelismo.

“ ...Robert Danos pede socorro aos bárbaros asiáticos, capazes de seguir as pegadas dos “arcanjos de Atila”. E mesmo os mortos, aqueles que crescem na infinita sabedoria da ásia, como Th. Lessing, alistaram-se nesta cruzada.
Vê-se assim porque esta Ásia ideal devia agradar aos surrealistas. Os sábios do Oriente já não tinham respondido às questões que os surrealistas se colocavam? À custa de uma destruição radical ou de um esquecimento perfeito- mas se pode mas se pode esquecer o que jamais aconteceu?- da lógica, do conhecimento mecanicista, das compartimentações da ciência, finalmente tudo aquilo que deu supremacia ao Ocidente, tais homens pareciam viver em uma comunhão perpétua com a essência das coisas, com o espírito do grande. Todo, se não numa perfeita felicidade- ideal vulgar- ao menos numa liberdade total. Nada de contradições dilaceradoras como entre os homens do Ocidente, nada de lutas fatigantes contra o mundo mal feito. Parecia que eles tinham descoberto de uma só vez o Segredo que os milhares de homens do Ocidente se obstinavam penosamente em descobrir.
O Oriente não é apenas a pátria dos sábios, é também, para os surrealistas, o reservatório das forças selvagens, a pátria eterna dos “bárbaros”, dos grandes destruidores, inimigos da cultura, da arte, das pequenas manifestações ridículas dos ocidentais. Eternos revolucionários, armados com a tocha flamejante e incendiária, eles, sob as pegadas dos cavalos de Átila, semearam ruína e morte, com vistas a um renascimento. E a própria revolução russa, misteriosa porque asiática, já não se apresenta aos olhos de Breton e de seus amigos como “uma simples crise ministerial”. Nela fundirão finalmente todos seus desejos ardentes, mas vagos, de evolução universal, encetado por um Oriente negado e regenerador.”

Maurice Nadeau. História do Sureealismo./ tradução de Geraldo Gerson de Souza; Rervisão e produção de Plínio Martins Filho. SP: Editora Perspectiva ( coleção Debates), s/d, p. 71-72)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

IMAGENS


As imagens que nos cercam no dia a dia, seja em revistas, quadros, certas fotografias, e desenhos aparentemente inocentes, podem ser circunstancialmente vistas como uma manifestação sócio-cultural que mexe com o mais íntimos de nossos pensamentos e princípios, como bem sabem os publicitários. Mas elas também podem ser irracionalmente apreendidas a partir de sua vida própria e secreta, manifesta em seus trans-significados, em seu dizer- algo não verbal a partir do não lugar de suas significações mais profundas; tratar-se-ia do dizer a própria psique enquanto um vasto e ainda relativamente desconhecido território da condição humana.
Toda imagem comunica o meta-lugar de uma outra realidade perdida de nós mesmos nos confins mais longínquos da imaginação.
A imaginação é, em outras palavras, a essência da psique e a quintessência do que chamamos ingenuamente de realidade.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

BREVE DEFINIÇÃO DE REALIDADE


O QUE CHAMAMOS DE REALIDADE É O MEIO TERMO ENTRE O DESEJO E A OBJETIVIDADE EM SONHOS PUERIS DE SIGNIFICADOS.
A EXISTÊNCIA É ESSENCIALMENTE SIMBÓLICA... É UMA ESTÉTICA DE BUSCAS E IMAGINAÇÕES...

O CEU DENTRO DOS OLHOS


O céu dentro dos meus olhos
Faz-me enxergar o infinito,
O distante e errante
De metas realidades
No radical acontecer do corpo
Em nuvens de pensamento.

Rendo-me ao brilho
De um sol psicodélico
Múltiplo em cores e sentidos
Na vitalidade de um sonho
Cada vez mais distante
Na proximidade do desejo.
O ato de olhar
transforma-se em arte...

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

LIVE

Vivo apenas
Do dia, da noite e do acaso
Nos labirintos da embriagues
De um céu negro e distante.

Vivo na violência do vento,
No corpo das tempestades
Que procuram madrugadas
Nos intervalos da vida.

Vivo da violência
De um encanto de vida
Cravado no peito
Da própria realidade.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

SIGNIFICADOS DIALÓGICOS DE CERTAS PALAVRAS INTERESSANTES


EQUINÓCIO: A época do ano em que tanto o dia quanto a noite tem a mesma duração...

SOLSTÍCIO: O mais longo dia ou curto do ano....

PERGUNTA: Em quantos equinócios e solticios se fazem as nossas frágeis biografias em imagens psicológicas e vividas de absoluta matéria e sensualismo?