sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

FOGO E SILÊNCIO

Onde foge a palavra e a razão, 
escuto a imaginação 
de todas as radicais possibilidades
da existencia. 
Imagino tempestades,
caos, e abismos,
onde o fogo faz arder
o segredo do sem sentido da vida
na filosofia de Heráclito. 

VIDA TRÁGICA

vivendo sob o signo do desastre,
tenho sofrido pequenas catástrofes,
e resistido.
Talvez, eu sobreviva,
a próxima tempestade....

domingo, 26 de dezembro de 2021

O ABISMO DA REALIDADE

 A realidade foge na frase,
no dizer que vomito
em cada palavra
que busca sentido
no ouvido do outro.

A realidade é o que em silêncio 
define meu corpo, meu tempo,
e o abismo eterno do meu silêncio. 

A realidade nunca cabe no ato,
na consciência , ou no gesto,
que traduz um afeto,
ou qualquer carência que me preenche como sentimento.

A realidade é inconsciente,
decifrado enígma que não  compreendo nos fatos
que decoram o dia e a rotina.

Ela é além do mundo,
em qualquer parte 
onde o ser escapa,
mad a nós se oferece
na sombra  dos sonhos
em dobras e desvios
de caos e loucura.

sábado, 18 de dezembro de 2021

CORPO E VIDA

 

No beijo da pele e do vento

o corpo liberto

da prisão da alma

reinventa o dentro

no fora

da consciência do mundo.


A vida alucina e verdeja

entre os sinais fechados

da realidade de concreto e asfalto

e a respiração define o desejo.


Viver transcende o quarto,

a janela e a cidade

nas ciências da Terra e do espaço.


sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

A MARCHA DOS CONFORMADOS

 

Todo dia agora é fim do mundo.

Contemplamos contentes

as vísceras da manhã semi morta.

O cotidiano cheira a ovo podre,

mas ninguém se importa.

Todos carregam flores.


Apesar, de tudo,

há muita esperança,

uma confiança quase infinita

no futuro de nossas catástrofes.


Seguimos conformados a realidade,

enquanto o céu desaba sobre nossas cabeças.


quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

ROMPER O SILÊNCIO DA COMUNICAÇÃO

Romper o silêncio que nos conforma a rotina de rasa comunicação  midiática exige criatividade.
Tal esforço se confunde com o desafio de inventar palavras novas, de saber em tudo um sentir outro e imprevísivel, que nasce no corpo aberto a paisagem, inspirado por mil desassossegos e segredos.
 Inspira à ruptura um sentimento de mundo fundado no prazer do ato mudo de fazer, criar, a si mesmo, como espelho das coisas em composições e multiplicidades.
Produzir sentido é um artesanato da existencia, um calar-se ou um dizer sem palavras que nos reduz a coisa entre e através de coisas que seduzem a imaginação e acorda inéditas infâncias.
Romper o silêncio é redescobrir o mundo, tornar estranho o que nos parece demasiadamente familiar. É preciso desaprender, reapreender tudo que aprendemos a ser, dizer e  sentir, até saber na pele uma extra existência onde tudo se confunde como virtualidade e potência de um devir natureza.
Romper o silêncio, transfigurar todos os enunciados, é deseducar os sentidos, a consciência e o corpo. Afirmar a ignorância de uma sabedoria selvagem e instintiva que reduza o mundo a experiência do assombro e do sublime.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2021

ENQUADRAMENTO

O enquadramento é a coincidência dos gestos,
dos sentimentos,das roupas,
dos pensamentos,
e da consciência,
que nos reduz ao lugar comum do humano.

É um ser outro mais do que si mesmo,
é existir junto na angústia de uma mesma época
através de diferentes mundos.

O enquadramento é a igualdade
que nos faz diversos,
como as personagens de um quadro de Juan Genovés Candel.


sábado, 4 de dezembro de 2021

O DEUS DAS COISAS

Tento escapar do mundo
através do raso profundo sentir das coisas.
Mas sou eu próprio 
a verdade das coisas
na mentira de ser um eu
que cria a ilusão do mundo.
Quando é contra mim
que as coisas existem.