terça-feira, 31 de julho de 2018

OS LAPSOS DA PERCEPÇÃO




Percebo entre o eu e a palavra diversas divergências.
Sou o resultado de suas dissidências.
Praticamente não sou.
Pois já não existo como o passado e o futuro.
Não tenho presente,
Sou como um personagem de historias em quadrinhos.
Não sou...
Este eu que fala já passou.
O que agora existe é fugidio.
Não se deixe enganar pela aparente continuidade das coisas.
Nada é como parece.
Todas as sequencias estão quebradas...
Apenas não somos capazes de perceceber
A falta de sentido de tudo.


O ESPAÇO DO OLHAR


sexta-feira, 27 de julho de 2018

ESTUPIDEZ


A SIGNIFICAÇÃO DE UM TEXTO



Um texto preenche o espaço em branco com uma narrativa lacônica. Remete a uma série de referencias externas e experiências abstratas. Eu o compreendo. Mas não há nada nele que me encante. Afinal, sigo outras narrativas e me interesso por outros temas.

Mesmo assim o texto continua alí diante dos meus olhos alheio a minha opinião pessoal. Sei que não sou o leitor ao qual o texto se dirige. Não se estabeleceu qualquer vinculo entre nós. Para mim ele não passa de mais um texto entre milhares de outros.

Neste exato momento centenas de outras pessoas estão lendo outros textos bem diferentes por ai e ninguém realmente se importa com isso. Os textos não mudam o mundo, principalmente os best sellers. Quanto mais leitores pior para o texto, sucumbirá  diante das tantas interpretações e releituras das quais é passivo objeto de inspiração.  

O sentido (ou significado) ao qual os textos remetem não existe nos textos. Trata-se de algo que os antecede, que os pressupõe e ultrapassa. É alguma coisa que acontece no vácuo entre os signos, regidos por suas regras combinatórias, e a leitura. Algo que escapa, assim, ao fato linguístico. A significação é como uma presença que nos afeta e que apenas compreendemos parcialmente através de uma imagem que o texto de algum modo evoca em nossa consciência.


quinta-feira, 26 de julho de 2018

OS LIMITES DA CIVILIZAÇÃO



Estranhamentos desde sempre me definem e posso dizer que cultivo algumas animalidades para permanecer sadio. Não é isso, afinal, o que estabelece nossa condição humana? Um afastamento ou recusa de nossa situação natural através dos jogos simbólicos das codificações culturais?

Somos nas instituições de nossa vida coletiva, através de nosso trabalho de produção e reprodução de mundo, de civilização, ao longo das descondinuidades das épocas históricas e sociedades. Viver é para nós um inconclusivo vir a ser. Nada mais natural que isso produza estranhamentos, vertigens. Nunca estamos inteiramente á vontade diante dos artifícios culturais e seus dispositivos de subjetivação.

Tendemos a conceber o mundo e a realidade como uma multiplicidade orgânica, normatizada e inteligível, mas a o que de fato acontece é um fluxo interminável de experiências nos quais estamos contidos e através dos quais pouco somos. É este deslocamento de nossa auto representação como sujeitos que me parece cada vez mais ameaçado diante do simples e imanente acontecer da existência. É nossa fragilidade que nos define, não as ilusões de nossas realizações civilizatórias. Toda História humana não passa de um grande desastre, de um amontoado de ruinas e sofrimentos. Não passamos de animais mutilados.


INTUIÇÃO ONTOLÓGICA


Busco um reencontro com minha própria existência.

É como se ao longo dos anos as exigências concretas de realização pessoal e adaptação ao mundo tivessem subtraído de mim algo de essencial. Mas não sei dizer exatamente do que se trata. Não é algo passível de codificações muito claras ou determinações conceituais. Apenas é claro que há uma falta ontológica que me define, um vazio, que transcende minha subjetividade. É como se meu próprio eu fosse uma simulação, uma invenção precária que não se sustenta diante das multiplicidades da experiência concreta de viver. Vislumbro alguns lampejos de infâncias. Algo informe as vezes me visita, me busca como um duplo de minha incerta condição humana

quarta-feira, 25 de julho de 2018

RISO E CONHECIMENTO

Nem tudo que vale a pena é sério. As vezes precisamos apenas de uma boa piada é um filme bobo na TV. 

O conhecimento e a informação não nos transformam tanto quanto o subversivo de uma boa piada. Acho mesmo que o riso é a melhor forma de inventar a vida, de refinar nossas representações do mundo.

sábado, 21 de julho de 2018

A CHAVE DO VENTO

Dentro do vento existe uma chave.
Ela destranca um movimento de pensamento,
Algo que se escreve no corpo
Como um segredo.
É algo que não pode ser dito.
Escapa a palavra.
Apenas corre no vento.
É algo que nos faz escapar,
Que inventa qualquer coisa
Que não faz sentido.

sexta-feira, 20 de julho de 2018

QUANDO RESPIRA O PENSAMENTO


CONTRA O REALISMO LÓGICO


O realismo estreito daqueles que não enxergam além do imediato me irrita! Como é possível arrancar de um mundo tão absurdo regularidades e ordens, viver das superfícies de uma racionalidade magra?

Devem ter medo do absurdo, da morte e do vazio. Como se qualquer formula ou premissa lógica nos salvasse magicamente desta selvagem existência que nos consome. Odeio gráficos e formulas! Não me entendo com matemáticas!


Estamos perdidos! Nada tem solução! Felizes são aqueles que dançam na tempestade! Não se deixem enganar pelo mais raso dos fatos cotidianos. Eles escondem as profundezas do caos....

quarta-feira, 18 de julho de 2018

O CONHECIMENTO COMO AFETO


Considero o conhecimento como uma forma de afeto. Afinal, somos seduzidos por determinados enunciados em detrimento de outros. E isso varia enormemente de pessoa para pessoa. Acontece independente de nossa vontade. Não escolhemos no que acreditar. Não vejo, portanto, qualquer relação direta entre conhecimento e verdade. Pelo menos não em relação a uma verdade objetiva e inconteste que se apresenta como o privilégio de poucos iluminados frente às hordas de ignorantes. Ou como algo sujeito a um convencimento argumentativo e lógico. Considero a verdade um estado de espírito despertado por um afeto (pensamento) que nos frequenta e seduz através de um dado discurso. Cada um deve refletir a partir daquele conhecimento que melhor lhe inspira. O que realmente importa é dizer a realidade de um modo novo, de uma maneira pela qual ela não nos foi dito até agora. O que é equivalente a superar o próprio discurso que nos serve de ponto de partida. É assim que  o afeto se desdobra, torna-se fecundo.

DESNATURALIZAÇÃO


Nada é mais estranho do que aquilo que tomamos por familiar. Estamos mal acostumados à realidade. Acreditamos na estabilidade e regularidade das coisas. Gostamos de ter sempre alguma certeza na palma da mão. Assim, apenas nos conformamos ao modo como o senso comum está acostumado a pensar e organizar as coisas em nossas praticas cotidianas coletivas.

Dois e dois sempre serão quatro. Mesmo quando cinco é a resposta correta, quando ninguém quer saber sobre dois mais dois.

terça-feira, 17 de julho de 2018

SURREALISMO E UTOPIA

Desvelamos através de desejos difusos o virtual do sonho contra a ilusão de realidade.


A materialidade do devir inscreve-se na potência, na quase existência deste virtual que desenha cenários possíveis e alternativos de experiências.

A imaginação nos inventa, o pensamento nos pensa, e a cognição transborda o jogo da significação.

O céu é nosso chão ancestral. Através dele ainda inventamos uma nova terra, um povo por vir. Tudo que somos é um futuro sem passados que dorme no mais abstrato acontecer de uma vida inteira.

segunda-feira, 16 de julho de 2018

ALÉM DAS PALAVRAS


As pessoas gostam de palavras gordas.
Precisam da obesidade das significações.
Gostam de replica-las, troca-las, reinventa-las,
Até o limite da compreensão.

Quase não percebem a importância do silêncio.
Mas é através dele que a vida ganha sentido
Enquanto um profundo vazio existencial
Onde o interior e o exterior se confundem.


Saber o silêncio no fundo de cada palavra é sempre essencial.
Sem isso seria impossível o dizer das coisas.

A REALIDADE DO QUADRO



As flores no vaso inventaram a parede.
Ela só existe porque do outro lado
Há um jardim.

O jardim inventa flores,
Preenche a paisagem com cores.

Mas existe um vazio entre o vaso, as flores e o jardim.
Há a parede, muda e compacta.

Tudo cabe no mundo do quadro,
Na imaginação do olhar que desenha
e espanta a realidade.


quarta-feira, 11 de julho de 2018

O OCASO DO PENSAMENTO


O que nos espera na próxima curva do pensamento?
Pode ser apenas um vazio,
Uma vertigem.
Qualquer coisa sem causa,
Um efeito livre realizado pela simultaneidade de várias situações abstratas.
Pode ser um misto de sentimentos e desesperança.
Talvez um cansaço metafísico de toda História da humanidade.
O próximo passo pode ser um silêncio,
Uma vertigem.
Um simples deslocamento de todas as expectativas.

terça-feira, 10 de julho de 2018

OS INOMINÁVEIS



Sou simpático  ao inclassificável,
Ao que não tem sucesso.
Detesto best sellers ,
Boas letras e escritos eruditos.

Mas também não gosto de garranchos,
Deste dizer fácil e popular,
Superficial e econômico.

Gosto dos que escrevem o silêncio,
Dos que não procuram meus olhos.
Daqueles que moram nas palavras
Despidos de sentido e razão.

O PARADOXO DAS CERTEZAS


O que há de mais certo em uma certeza é seu potencial para a descoberta de outras certezas que ensinam que a própria certeza é um ato criativo e fisiológico, algo que nos aprisiona, que nos seduz na medida em que nos desvela o duvidoso, que nos lança sempre a algum deslocamento. O inacabamento é o que define o exercício do pensamento. Pensar é lidar com a diversidade e a diferença.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

O CONHECIMENTO E O EFÊMERO


Não há causalidade ou racionalidade sistêmica que nos permita objetivamente esgotar a realidade. A realidade, afinal,  é apenas um conceito vago para dizer a pluralidade do existente e sua indeterminação.

Apenas construímos nossas gramáticas de mundo como inocentes sonhadores inventando o possível horizonte de nosso tempo presente. 

Somos reféns das possibilidades de um agora que nos transcende.

quarta-feira, 4 de julho de 2018

O DISCURSO E SEU DUPLO



Hoje nos faremos em um texto absurdamente livre: sem tema, sem propósito ou qualquer pretensão.

Será um texto calado, aleatório, para simplesmente dizer nada em meio a toda tagarelice de artigos e livros que tumultuam estantes, livrarias e cantos de casa.

Há mais discursos do que cabeças no mundo. Mas cada um de nós não é importante para qualquer um deles. Isso também se aplica aos seus pretensos e vaidosos autores.

Este discurso que aqui e agora quase existe e acontece, no acaso de alguma outra folha em branco, apaga-se a cada palavra e se desmente a cada frase em uma outra versão de si mesmo.

Neste exato momento seu duplo é lido por algum desconhecido do outro lado do planeta que não faz a mínima ideia de que exatamente, neste mesmo instante, você ocupa os olhos com  o outro lado daquelas linhas.

terça-feira, 3 de julho de 2018

SOBRE O INSUBSTANCIAL


O insubstancial da materialidade é o que nos foge através da linguagem. 


Há sempre algo de informe em nosso modo de dizer o mundo. É este segredo, este sem nome, que frequenta nossas imaginações, sempre em busca de algo novo e urgente que jamais saberemos. Tudo que conseguimos são algumas aproximações, alguns borrões onde o falso está sempre nivelado ao verdadeiro.