sexta-feira, 28 de abril de 2017

ARTE E IRRACIONALISMO

Como afirmado por Nietzsche em Humano, Demasiadamente Humano,

" Mesmo o homem mais racional precisa outra vez, de tempo em tempo, da natureza, isto é, de sua postura fundamental ilógica diante de todas as coisas."

O irracionalismo é aquilo que empresta valor a vida e impregna o mais profundo acontecer humano, seja através da arte, da religião ou das paixões mais perigosas e intensas. Em contra partida,  a razão e o intelecto dizem muito pouco sobre nossa condição humana, sobre  o trágico de nosso existir social e histórico. Apenas a arte nos permite levar as últimas consequências o estranho animal que demasiadamente somos.

O PERIGO DAS CONVICÇÕES E DA EMBRIAGUEZ DA VERDADE

A praga das convicções leva muitos a tomar hipóteses como conclusões, julgamentos subjetivos como juízos absolutos e qualquer asneira como uma verdade preciosa. Quanto maiores as certezas, mas certos são os equívocos. Por isso a indiferença é o mais  autêntico indício de sabedoria.

Duvido profundamente daqueles que  se embriagam de certezas e convicções e estão muitos certos sobre a realidade.

quarta-feira, 26 de abril de 2017

SOBRE O FIM DO MUNDO VERDADE

O mundo verdade inaugurado pelo Platonismo, consolidado pela tradição judaico cristã e secularizado  pelo Iluminismo, está em franca decadência  como já denunciado por Nietzsche. Mesmo que ainda muitos sonâmbulos delirem por ai a razão e a verdade, afirmando qualquer falácia metafísica sobre a vida.

Já faz mais de dois séculos que as representações morais,religiosas, politicas e culturais inspiradas pelo instinto de uma ordem universal e pretensamente "verdadeira" começaram a apodrecer em nossas cabeças, que alguns poetas e filósofos esboçaram uma reformatação radical do existir possível, uma nova consciência de mundo inspirada pela diversidade, a vertigem  e a incerteza.

Atualmente, nossas representações convencionais da realidade continuam enfermas, ainda pretendem a objetivização da realidade e a deificação da subjetividade... substituir o deus morto pelo homem...  

Mas já não é possível um dizer do mundo que tome ainda o humano como medida de todas as coisas, pois todas as coisas  já não carecessem de qualquer medida....

A questão é: Como o mundo ainda pode ser dito?....

sábado, 22 de abril de 2017

SER LIVRE

Ser livre é estar sozinho
adivinhando a vida
em cada esquina,
a cada desvio e busca desesperada
daquela promessa vaga de liberdade
que nos sorriu no início do caminho.
Ser livre é estar sempre por um fio
e entregue a si mesmo
no aleatório movimento
de todas as coisas.

O VAZIO DAS PALAVRAS

As palavras cheias de vento,
razões e verdades,
não me comovem.
São como o ruidoso silêncio onipresente
que inventa o deserto onipotente
da verdade revelada.
Aprendi a dizer o silêncio
e a pensar através do absurdo
de imaginações selvagens.
Recuso todas as conclusões.
O pensamento não passa
de uma ilusão convincente
contra a realidade do nada
que nos diz profundos vazios
existenciais.
Qualquer enunciado possível
nasce semi morto
nos abortos de alguma racionalidade semiótica.

QUANDO SEMPRE É TARDE

É sempre tarde
quando amanheço
inventando o dia
dentro do meu próprio tempo
E do lado de fora do mundo.

Procuro estar em mim mesmo,
mas não me encontro.
Entre  o eu e as coisas
existe qualquer paradoxo.

É sempre tarde, urgente
e inesperadamente...
irrelevante.

CONTRA O HUMANISMO

Caso seja, assim como entendo, o humanismo, uma personificação difusa de uma crença vazia na estupidez de uma natureza humana, caracterizada, dentre outras supostas virtudes, pela  capacidade de razão, me coloco aberta e apaixonadamente entre seus mais ferozes opositores.

Não reconheço qualquer dignidade na condição humana. Pelo contrário, tomo este patético estado, como deplorável. O Homem é um animal que deu errado, que adaptou-se a si mesmo negando o mundo. Não vejo em sua consciência diferenciada das coisas, nenhum triunfo, mas um trágico fenômeno biológico.

O Homem é o único animal que mata por esporte e , paradoxalmente,descobre-se inumano através do espelho da natureza. 

sexta-feira, 21 de abril de 2017

A MENTIRA COMO VERDADE OU O IMPERATIVO DA NORMA

É sabido que existe uma distância entre a norma e o comportamento que aproximam o falso do verdadeiro. Assim sendo, uma mentira pode adquirir por consenso dos seus seduzidos tanta realidade  discursiva a ponto de converte-se em verdade ou, pelo menos, em norma e comportamento, o que absolutamente significa a mesma coisa. Uma mentira  que conquista credibilidade torna-se, afinal, uma verdade.

Exponho aqui a origem de muitas consagradas verdades que  circularam e ainda circulam pelo nosso inflacionado imaginário  contemporâneo.

quinta-feira, 20 de abril de 2017

IMPASSES ALIMETÁRES

Anorexia, obesidade, dieta saudável e veganismo, não passam de diferentes sintomas de um mesmo estado mental coletivo problemático.Estamos , simplesmente, desaprendendo a comer . Os ritos alimentares sofreram tamanha infração simbólica que passaram a pertencer a ordem moral e até mesmo social identitária. Assim, como comemos , o que comemos, ou o quanto comemos, passou a dizer identidades ocas desnaturalizando o ato elementar da alimentação. Deixamos de entender a fome e apreciar as virtudes da gula.

quarta-feira, 19 de abril de 2017

A SOMBRA DOS IDEAIS MORAIS E DAS UTOPIAS

As boas intenções se tornaram uma espécie de má consciência. Nada é mais ridículo ou patético do que imaginar um mundo ideal onde nenhum de nós seria possível. Afinal, a premissa  de um mundo ideal é o extermínio da humanidade. Ele seria incompatível com os defeitos, imperfeições e contradições da vida concreta. A perfeição não perdoa a existência.  Por isso pessoas inspiradas por grandes ideais morais e reformadores da sociedade são candidatos  a carrascos.

Resumindo: todo fanático é movido por boas intenções...

sábado, 15 de abril de 2017

SOBRE A ORDEM E O ABSURDO DO PODER

O que nos desespera contemporaneamente não é mais o fantasma da velha "ordem" do monoteísmo teológico, mas o fato do humano agora personificar todo o absurdo do antigo deus monoteísta. Lembrando as palavras finais de Elias Canetti em MASSA E PODER:

“O sistema de ordens é universalmente admitido. Ele se solidificou da maneira mais nítida nos exércitos. Mas muitos outros âmbitos da vida civilizada estão dominados e marcados pela ordem.  A morte como ameaça é a moeda do poder. É fácil colocar aqui moeda sobre moeda e acumular grandes capitais. Quem quiser reduzir o poder deve encarar a ordem, frente a frente, sem temor, e encontrar os meios para despojá-la de seus grilhões.”

As relações de poder se converteram, após a morte de deus, no senhor deste mundo.... e ele reina no mais escuro recanto do coração humano, demasiadamente humano....



ALÉM DA RAZÃO E DA VERDADE

Reivindico um estado de incultura
e um horizonte de ficção científica
para definitivamente apagar o futuro
alcançando o equilíbrio
entre o nada e o absurdo.

A vida agora é um jogo de catástrofe,
um estado de vertigem,
de significados e sentidos em curto circuito.

Somos órfãos da Verdade
vivendo da miséria de algum resto de razão.
Nosso estado de espírito é a perplexidade absoluta.

quarta-feira, 12 de abril de 2017

SOBRE SE SENTIR EM EM CASA

Já faz muito tempo que não me sinto em casa. Mas  posso me trancar em meu quarto e confortavelmente me esquecer na cama e, mesmo assim, não me sentir em casa,; por maior que seja o prazer proporcionado pelo momento de franco repouso.

Sentir-se em casa é esquecer  de si mesmo através da paisagem vivida, estar em total harmonia com  tudo a sua volta de forma direta e concreta. Para tanto, é preciso ficar distraído, não prestar atenção em nada e apagar qualquer preocupação cotidiana. É preciso mesmo parar de pensar.

Estar em casa é poder perde-se em qualquer lugar até o ponto  de ser tão espontâneo quanto uma criança. Acho que essa é uma experiência  que frequentemente buscamos quando, por exemplo, viajamos e nos lançamos em lugares estranhos onde não temos qualquer referência.
Mas seria ridículo buscar a experiencia de estar em casa através do estranhamento e vertigem de uma viagem. Elas apenas  reforçam nosso amargo sentimento de desreaizamento e vazio existencial.
Estar em casa é na verdade uma espécie de não lugar existencial de conforto, uma metáfora. Muitos  lhe reduzem ao beco sem saída de alguma religião ou ilusão metafisica.Mas estar em casa é apenas  um estado de indiferença frente  a realidade objetiva  e, ao mesmo tempo, uma positiva ausência de si mesmo. Não passa de um modo complexo de estar distraído e sensualmente perdido nos cinco sentidos.

UM COPO DE CAFÉ COM LEITE

Tudo que eu queria 
era um copo de café com leite.
Não diminuiria minha angustia,
não resolveria meus problemas,
mas, pelo menos,
eu teria um bom copo de café com leite.
Pode parecer pouco.
Mas, por um momento,
esqueceria de todas as coisas
que não deram certo.

Quando não há mais esperança,
nada melhor do que um copo de café com leite.

terça-feira, 11 de abril de 2017

MANIPULADOS

O absurdo inventa verdades
enquanto me perco perplexo
diante da realidade.

Nada faz sentido,
tudo desmorona
em nossas coletivas mentiras de realidade.

O equivoco sustenta o engano
do socialmente estabelecido
enquanto nos transmutamos
em bonecos de cordas
através da ilusão de nós mesmos...



sábado, 8 de abril de 2017

CONTRA A HUMANIDADE

Não me iludo com a realidade.
Não me engano com sua racionalidade.
Tudo aquilo que é humano
guarda um gosto de falsidade.
É preciso despir a imagem das coisas.
Saber o absurdo,
o ilegível do além do fato.
Tudo que existe
acontece como delírio.
Estou cansado da Humanidade.

sexta-feira, 7 de abril de 2017

A TRAGEDIA DA RAZÃO NA HISTÓRIA

O modelo de racionalidade que herdamos de Kant e do Iluminismo, centrado no sujeito, se mostrou incapaz de proporcionar a vida social um conteúdo simbólico que pudesse proporcionar sentido a o mundo vivido. O prometido espetáculo do progresso da humanidade através da razão e da técnica  revelou-se uma trágica quimera. A obsessão por uma orem politica que nos conduziria ao reino da liberdade  apenas nos lançou as margens do obscurantismo totalitário. Se ainda é possível  dizer qualquer coisa  sobre o processo histórico e a metafisica de uma história universal tais enunciados pressupõe o trágico e a perplexidade diante dos absurdos da condição humana. Desde as duas grandes guerras do último século, o mundo deixou de fazer sentido....

quarta-feira, 5 de abril de 2017

CONTRA ESTRUTURA

O acontecer social é mimético,
impessoal e imagético.
Diz apenas o tempo urgente
das misérias coletivas e imprecisas
entre a  imprecisão do passado
e as  incertezas do futuro.

O nada é sempre tudo
enquanto me falha a palavra
e o atemporal da arte acontece
no limiar da contra estrutura.

Meu eu contempla seu outro
rasgando um risco na folha
inventando um riso de desrazão.

segunda-feira, 3 de abril de 2017

DENTRO DE MIM EXISTE UM LOUCO


Dentro de mim existe um louco,
um subversivo,
que odeia todo ideal de verdade
E sabe que 
Entre a porta da realidade
e a janela da imaginação
um delírio embaralha
todas as certezas do mundo.

Há algo de terrivelmente  insuportável

em todo ideal de sociedade.
Mas dentro de mim existe um louco
que neste instante
passeia lá fora.