SENTIMENTO TRÁGICO

Estou agora

Inteiramente condenado

A mim mesmo, aos meus limites,

Aos meus gritos

E inúteis socos no ar.

Sucumbirei as minhas vontades

Mais intimas

A minha fome de impossível

E ao suicídio

De todas as minhas verdades...

INQUIETAÇÃO

Habitam-me vontades

Que pouco conheço,

Desejos  que correm sem rumo

Entre  os pensamentos

E as coisas

Buscando o sem nome

Da vida plena

No provisório

Da existência.

Talvez isso não exista

E todo este meu intimo tumulto

Não passe de uma falácia,

De uma subversão inútil

De gramáticas

Contra o deserto cotidiano.

ESPERA

Esperei a noite inteira
Pela mulher
De vermelho,
Aquebrantado
Pelas caricias e delírios
Do teu corpo.

Ela não veio.
Esteve comigo
Apenas em ânsias
E lembranças
Através das marcas
Que deixou na pele,
Na cama
E no meu desejo.

NOITE VAZIA

Nada espero
No inútil silêncio
De uma noite perdida
Onde esquecido do mundo
Vou simplesmente
Levando a existência
Como me é possível.
O tempo apenas passa,
Me faz perecível,
Enquanto a vida
Demora a chegar
Sem ilusões de abraço...

ENCONTRO CASUAL

Bem sei que

Que não te importa

O que quero,

O que espero

Ou sinto

Neste momento

Em que embriagados

Nos misturamos

Em um copo partido,

Tudo aquilo

Que entre nós

Ainda poderia

Ser dito

Já se encontra

Fatalmente perdido.

Não precisamos

Se quer de um adeus.

Tudo está corrompido....

APOLOGIA A REBELDIA

Não escrevo

Para os bem sucedidos,

Mas para escória:

Para os loucos,

Os frustrados,

Delinqüentes,

Desesperançados,

E toda turba de marginais

Que se agitam

À sombra da sociedade.

Escrevo para os que sofrem,

Para os que se revoltam

E uivam ao cair da noite.

Quero que meus versos

Seja o veneno

Que lhes embriaga e anima.

EM BUSCA DE TESÃO

Tenho errado,
Sabotado meus
Melhores sonhos,
Em busca
Do mais profundo
Da vida.
Tenho negado a lei
E a ordem,
Os fins e os meios.
Tenho estado contra
O vento
E na contra mão.
A pouca existência
De todos os dias
Definitivamente
Não me dá tesão.

CONTRA TUDO E CONTRA TODOS

Pouco me importa
O mundo.
As noticias de jornal,
A moral,
As opiniões
E os vazios da avenida central.
Pouco me importa
O acontecer das coisas,
O futuro.

Não acredito em finais felizes.
Não acredito em nada,
Não escuto ninguém.
Quero apenas
Sair pelas ruas
Roto, torto,
Sem qualquer motivo
Ou  destino.

DESFEITO

O sabor dos sonhos
Embriaga minha boca
Em desmedido delírio,
Tudo se desfaz no brilho
Da imaginação errante
Que procura a vida
Pelo avesso
Entre despedaçadas
Vontades
Espalhadas pela realidade.

VAZIO DE VOCÊ

Vazio de você

Percorrerei  a rua

Do sem fim

Do meu querer,

Buscarei uma porta aberta

Apenas para me esconder

E esquecer,

Talvez viver.