quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

MORTE, PALAVRA E MUNDO


Na perene existência do humano
Dentro da fantasia
Que é o mundo,
Tudo é palavra criada e aberta.
Nada é o Ser...

Estou agora no pensamento
Que pensa o próprio pensamento,
Entre sensações e desejos.

A vaga realidade
De mim mesmo
Dissolve-se em nada,
Em decomposta matéria...

Desconstruo palavras
Em delírios de meta pensamento...

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

APOLOGIA DO NADA

Adivinho um céu de vertigens
No abstrato fundo de cada pensamento.
Pois meu repouso mental
É a desconstrução dos fatos
Por intermédio da embriagues redentora.

Sei que tudo
Tende ao nada,
Pára um absoluto segundo
De silêncios eternos
Apesar de todas as piruetas do pensamento...

sábado, 21 de fevereiro de 2009

SOBRE A AURELIA DE GÉRALD DE NERVAl


AURELIA é o mais intenso testemunho da obra de Gerard de Nerval (1808-1855), que poucos meses depois de escreve-la, consumido pela loucura, tiraria a própria vida ao se enforcar à rua Vieille Lanterne em Paris, nas grades da janela de um asilo noturno.
Nerval era uma alma inquieta em busca de uma vida mais verdadeira do que a mediocridade de sociedade a qual somos submetidos todos os dias.
A obra aqui comentada é certamente o mais ousado denmtre seus escritos. Trata-se de um exercício único de imaginação e erudição,de um mergulho no labirinto da sabedoria sob a inspiração do eterno feminino em sua divina multiplicidade interna (Anima). AURELIA inspira-se inegavelmente no canto órfico, mas vai alem dele. Não é exagero classificar essa preciosa obra como a alegoria de uma descida aos infernos da existência e, ao mesmo tempo, uma revelação ou gnose na transfiguração rebelde de todas as tradições e imagens religiosas...


“O sonho é uma segunda vida. Eu não pude transpor essas portas de cornucópia ou marfim que nos separam do mundo invisível sem deixar de estremecer. Os primeiros instantes do sono são a imagem da morte; um entorpecimento nebuloso apodera-se de nosso pensamento e não podemos determinar o instante preciso em que o Eu, sob a sua outra forma, prossegue a obra da existência. Um vago subterrâneo ilumina-se aos poucos, e da sombra e da noite desprendem-se as validas figuras gravemente imóveis que habitam a morada dos limbos. Depois o quadro se forma, uma nova claridade ilumina essas aparições extraordinárias, animando-as: o mundo9 dos Espíritos se abre para nós.
Swedenborg chamava tais aparições de Memorabilia. Ele as atribuía com mais freqüência ao devaneio do que ao sono; O asno de Ouro de Apuleu, a Divina Comédia de Dante, são os modelos poéticos desses estudos da alma humana. Tentarei, a exemplo deles, transcrever as impressões de uma longa doença ocorrida nos mistérios do meu espírito- não sei por que me sirvo deste termo doença, pois jamais, no que me sentia duplamente mais forte e ativo; parecia-me saber tudo, compreender tudo; a imaginação trazia-me delicias infinitas. Recobrando o que os homens chamam de razão, não devia lamentar te-los perdido?...”

(Gerard de Nerval. Aurélia/tradução de Luis Augusto Contador Borges. SP: Iluminuras, 1991, p. 35)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

FRAGMENTOS INESQUECÍVEIS DE SALVADOR DALI III


“A bomba de Hiroshima estourou num céu imaculado. “Pikadom” (luz e ruído), disseram os poucos japoneses que dela escaparam. Eu pintava Gala nua, de costas, e Galarina, todo entregue a meu amor e atração da volutoisade, quando senti a trepidação sísmica da explosão que me encheu de terror. Não pude jamais imaginar os duzentos mil mortos que, aliais, reduzidos a cinzas, não eram facilmente reconhecíveis, mas eu pensava horrorizado que uma explosão em cadeia poderia muito bem se produzir, incinerando o mundo antes que eu terminasse o colo perfeito da minha Galiana, comprometendo assim a minha imortalidade. O fato de depender dos azares da história me enchia de inquietações. Ninguém estava seguro, em qualquer canto do mundo que fosse. Resolvi colocar em estudo, sem mais demora, o melhor método de preservar a minha preciosa existência dos golpes mortais e comecei a me preocupar seriamente com as receitas de imortalidade. A Melancolla Atômica, que então pintei, exprime minhas duvidas e minhas incertezas, nascidas em 6 de agosto de 1945.”

(Salvador Dali. As Confissões Inconfessáveis de Salvador Dali; texto apresentado por André Parinaud/trtadução de Flávio e Fanny Moreira da Costa; revista por Heloisa Fortes de Oliveira. RJ: Livraria Jose Olympio, 1976, p.198)

VENCE NA VIDA QUEM DIZ SIM...


Diga a vida o SIM da noite do viver de lua, fantasias e estrelas.


Diga a vida o NÃO do dia, cotidiano e rotinas.


Tudo que importa é o sem nome da liberdade das imaginações mais urgentes e absurdas...

TUDO O MAIS É MERO ESCREMENTO...

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

THE OLD MAN

Falo aos loucos da terra
Em palavras
Que não me pertencem.

Já abandonei
Todas as verdades
Em nome do sonho
De uma vida inteira.

O que digo pode
Ser compreendido
Pelo avesso,
Pelo tropeço do pensamento
Entre uma frase e outra...

ESPECULAÇÕES PÓS JUNGUIANAS RADICAIS

Há coisas que existem na condição humana além do tempo e da idade, coisas que remontam ao núcleo da consciência, ao “eu” e seus limites, mudanças e permanências. Falo de uma intuição do desconhecido, de um sentimento de incompletude e vazio que nos confronta com o desconhecido de nós mesmos, esta outra face do desejo... esta presença que é o arquétipo do self em tempos de pós metafísica ou morte de Deus. Hoje em dia, o mito do significado, para usar uma imagem de Aniela Jaffé, remete a imanência e a transmutação materialista dos símbolos...

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

SUBJETIVISMO

Eu amo tudo aquilo que morre sem esperanças de vida eterna.
Eu amo tudo que acaba e se faz intenso no fugaz mais profundo de momentos e escolhas...
Eu amo a vida, a reflexão e o pensamento nas estéticas e sensibilidades que inventam inconsequentemente o mundo...
Eu amo tudo o que não é amor na subversão do sentimento...
Pois desconheço a fé e as ilusorias opções de "verdade"...
MALDITO SEJA TUDO AQUILO QUE É SACRO!
Minha vida é a profundidade do mundo entre silêncios... em pura subjetividade.

NIETSCHE: A MORTE DE DEUS E DO SER

Nietzsche vislumbrou de modo radical o caráter fictício dos conceitos e da própria idéia de realidade estabelecendo, assim, o domínio da arte sobre a vida.
A “morte de Deus” significa apenas a morte da própria metafísica e da moral como princípio, desembocando na imanência como princípio de uma nova busca de significado, um novo mito que não mais se perde no falso labirinto da imagem do Ser... mas afirma a vontade e imanencia como novo principio da experiência e da consciência humana...

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

SAGRAÇÃO DA PRIMAVERA

Sagra-se a primavera
Em orgias,
Vermelho e sangue.

Sagra-se a morte do cotidiano
Em desafio de novidade.

Tudo é movimento embriagado,
Nervoso e desesperado
Do eterno retorno da face em neurose...
Tudo hoje
É natureza e ansiedades...

Sagra-se o sacrifício,
O grito,
O fim e o inicio
De guerras internas,
Externas e infinitas
Em buscas de novidades.


http://www.youtube.com/watch?v=HpUvlT1PnBQ

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

CONFISSÕES DE UM BRUXO


Guardei um pedaço de azul no bolso. Roubei do céu... Acreditem!
Caminhando entre as chamas do centro do chão...
Já Percorri mil mundos tendo apenas meu rosto como destino e ponto de partida na magia de mutações...
Carrego a mim mesmo em minhas costas, como um andarilho em busca do brilho de um sol que não é o sol.
Escuto apenas a sabedoria e incertezas da lua e da noite adivinhando a sombra da luz na luz da sombra...

BAUDELAIRE: O ESTRANGEIRO

Originalmente publicados em 1868 em Paris os Poemas em Prosa de Charles Baudelaire nos oferece um poeta mais maduro e profundo do que a do seu grande e insuperável clássico As Flores do Mal. Trata-se de um verdadeiro mergulho na natureza humana através de uma poética profundamente universal que traduz o  desenraizamento vivido pelo autor em um mundo em que todo o lirismo já não tem mais sentido...
Segue uma pequena amostra:


O ESTRANGEIRO
“A quem mais amas, responde, homem enigmático: a teu pai, tua mãe, tua irmã ou teu irmão?
-Não tenho pai, nem mãe, nem irmã, nem irmão.
-Teus amigos?
-Eis uma palavra cujo sentido, para mim, até hoje permanbece obscuro.
-Tua pátria?
-Ignoro em que latitude está situada.
-A beleza?
-Gostaria de amá-la, deusa imortal.
-O ouro?
-Detesto-o como detestais a Deus.
-Então! A que é que tu amas, excêntrico estrangeiro?
- Amo as nuvens... as nuvens que passam...longe...lá muito longe...as maravilhosas nuvens!”

In Charles Baudelaire. Pequenos poemas em prosa/ tradução de Aurélio Buarque de Holanda Ferreira. 4° ed.rev. RJ: Nova Fronteira, 1980, p. 19

LOUCURA

Estou acostumado
A correr sem rumo
Pelos dias
Em grito,
Brindar ao caos e a desordem
Desentrelaçando os fios
De realidade.

Sopro a poeira do tempo
Sobre as ruínas do mundo
E não vejo nenhum futuro,
Apenas o manso delírio
Da sociedade
Rubra de sonhos,
Ansiedades, medos
E hipocrisias.

No fundo
Tudo é pura loucura...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

fragmentos inesqueciveis de Salvador Dali II


“Toda a minha vida mental é feita de gravações de visões em vista de uma supervalorização total orgásmica. Há um trecho da rua de Rivoli que acho sublime, do Hotel Meurice, na praça Vendôme. Pois bem, eu faço sempre “sair” no último momento. Mas o mais importante é essa eliminação de imagens inúteis a que procedo, envelhecendo. À medida em que fico mais pobre de imagens, as que permanecem ganham uma força fabulosa e me mantém no extremo limite de mim mesmo, ou melhor, deste alerta sem o qual eu não seria eu mesmo.”

(DALI/ PAWELS As paixões segundo Dali. / Tradução Raquel Ramalhete de Paiva Chaves. SP:Editora Expressão e Cultura, 1968, p.48)

A SOMBRA DO ALQUIMISTA


Sou amante do estranho,
Do desconhecido
Que me apresenta formulas e abismos.

Cultivo trevas e conhecimento
Espalhando almas
Sobre a matéria.

Sou a opus
Que em mim se faz
Como delirante mistério.

Sou demiurgo
E aprendiz de acasos mágicos
Da palavra que explode
Fé e pensamento
Na vitalidade de todas as coisas vivas e mortas.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

GOOD NIGHT

Preciso despir-me
De toda lucidez
Até ouvir estrelas
Cantando
Pela janela aberta
Em noite.

Preciso apagar o mundo
E me fazer mais livre
Que a própria liberdade
Na embriaguez de algum sonho.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

fragmentos inesquecíveis de Salvador Dali I


“Contei que aos seis anos queria ser cozinheiro. Aos sete, Napoleão. Entretanto, a idade da razão mostrou-me que não havia ambição maior do que ser Dali.
Alucinado pela grandeza de Napoleão, misturador de elementos como um cozinheiro, como um alquimista, como um pintor, consegui, portanto, realizar minha vida, continuando fiel à infâncias, com a pequena diferença que Dali nunca foi criança.”

Dali e Pauwels. As Paixões Segundo Dali. Tradução de Raquel Ramalhete de Paiva Chaves. RJ: Editora Expressão Cultural, 1968, p.206.

TRANSFIGURAÇÃO DO REAL


Agarro o rabo
Da realidade
Para percorrer
Embriagado
Abismos e noites.

Levo comigo
Apenas um sonho vermelho
Com os olhos fechados
Em pensamentos de luzes.

O futuro dança
Sob as costas de um abismo
Logo ali em frente...